Durante esses mais de 20 dias em que estive sem paciência para atualizar o cafofo, dei-me o trabalho de tentar entender algumas coisas sobre as quais se fez muito barulho e em que o x da questão seria justamente aquela postura de time pequeno que tanto nos irrita (pelo menos aqueles que gostam de futebol).
“O empate é um ótimo resultado”, “a classificação é como um título para nós”, “quem disse que entrar em campo com três zagueiros e cinco volantes é sinônimo de retranca?” Time pequeno é aquele que não tem coragem para enfrentar a vida, não anda pelo mundo de cabeça erguida e peito estufado (silicones fora, por favor), não assume sua verdade nem para si.
E pra fazer o contraponto, juro que tentei mas não consegui fugir do óbvio. Vejam o que o Arthur Muhlenberg escreveu na semana passada:
Ser Flamengo envolve uma irresistível atração pelo risco, um eterno desafio ao infortúnio e um completo desprezo à segurança e à estabilidade cultuados pelos medíocres. Ser Flamengo é tudo ou nada.
Biografias
O que falar do papelão de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil? Gigantes que disputariam os grandes títulos só fizeram arranhar as próprias biografias, além de revelarem um absurdo sentimento de time pequeno. E aí é pior ainda. Gente grande que pensa pequeno é muito pior do que o pequeno que nunca teve a chance de ser grande e não tem a noção de como se comportar.
E cito os três, óbvio, por serem os nomes mais ilustres e – não por acaso – justamente quem deu a cara a bater em nome do tal grupo Procure Saber. E não falo de Roberto porque esse passou a vida inteira tentando esconder a vida e pelo menos foi coerente. Mas os três?
Não foram eles que construíram suas carreiras e viraram referência justamente porque passaram o período da ditadura brigado pela liberdade? E o argumento mais clichê dessa discussão: não foi Caetano que escreveu, gritou, cantou “é proibido proibir”?
Lembro do Inter de Porto Alegre. Tricampeão brasileiro nos anos 70, berço de Falcão. Mas que desde 79 não fez mais nada. Todo ano é um dos favoritos, mas nunca chega a lugar nenhum, no máximo o brilho regional. Uma espécie de ex-grande., quase médio. E é impossível não lembrar que os três grandes artistas não produziram nada muito fabuloso depois da redemocratização do país.
Aí, alguém vai lembrar que o Inter ganhou a Libertadores e o Mundial. Então né, o Gil ganhou o Grammy por Quanta. Santa semelhança, Batman…
Eike
A essa altura do campeonato, precisa falar mais alguma coisa? Alguém duvida de que foi um brilhareco digno de um Madureira em final de carioca ou, pior, Inter de Limeira campeão paulista? A única diferença é que nenhum dos dois ficou devendo os tubos e mais um pouco para o BNDES.
Eduardo Campos
O cara está lá, todo pimpão. Não sabe se é, não sabe se não é, cheio de “ai meu Lula”. Aí, num movimento mais do que inesperado, surge o acordo com Marina e sua estranha Rede. Pois bem, oficialmente foi a moça que se juntou a Eduardo Campos, mas é ela quem tem mais eleitores. E aí, numa espécie de “quem manda aqui sou eu” da primeira hora, criou um baita dum problema com os ruralistas.
A gasolina de nosso triste PIB é a produção rural, mas Marina acredita que eles são o problema do Brasil. Vá entender… Agora, a turma que produz comida e dinheiro, e que tendia a apoiar Campos, vai se reunir até com o Lula e, quem sabe, bater palmas para Dilma.
A confusão nessa chapa me lembrou o Paraná Clube, fruto da fusão de Colorado (mais torcida) e Pinheiros (mais gestão). Quando nasceu, pensou e até pareceu que seria grande. Mas hoje todo mundo sabe que é só um time pequeno que virou iô-iô entre as divisões do campeonato brasileiro.
Diego Costa
A reação e discurso de Felipão foi vergonhosa, enquanto Parreira, Marim e os advogados da CBF foram apenas risíveis mesmo. Qualquer um que entenda um tantinho de futebol sabe que o técnico da seleção canarinho queria mesmo era atrapalhar a Espanha.
Não cabe nem discutir se o cara é essa coca-cola toda mesmo. Mas ele foi convocado para dois amistosos mequetrefes no início do ano e não agradou. Tanto que sequer foi lembrado pela comissão técnica ou jornalistas na época da Copa das Confederações. Aí o sujeito resolve jogar por outro time e o caso vira a pantomima que vimos.
Concordo que a (falta de) regra da FIFA é bisonha, mas o sujeito tem o direito de escolher. E isso não é nada demais. Mas será que a turma acredita que, com Diego Costa, o time que foi bicampeão europeu e campeão mundial sem ele será, agora, imbatível? Medinho de perder? Quem vergonha.
E se você duvida de que isso é atitude de time pequeno, basta lembrar do que o Vasco fazia com os clubes contra quem iria jogar e tinha atletas da colina no elenco (o Olaria que o diga). Sim, eu sei que o clube de São Januário é um gigante do Rio. Mas é inegável que Eurico Miranda fez muita força pra mudar isso. E Roberto vai pelo mesmo caminho…
Rei do camarote
É possível imaginar um sujeito como esse fora de São Paulo? Sim, coloque essa pergunta na conta de todos os preconceitos possíveis. Mas onde mais uma garrafa de champagne, uma Ferrari e duas ou três subcelebridades agregam tanto valor à imagem de alguém? E o statis? E a mulher que o cara comeu no banheiro? E, no futebol, quem mais faz questão de se dizer rico, competente, bem gerido, limpinho, cheiroso e macho?
Ok, eu sei que o São Paulo não é time pequeno. Mas esse jeito de ser é de uma pequenez enorme (com trocadilho, claro).
Massa (e Nars) na Williams
Sua história está cheia de grandes vitórias, títulos e heróis. Até semi-deuses já fizeram parte do time. Mas já faz 16 anos que não ganham nada, nem campeonato de construtores nem de pilotos. Daí pra chegar a 21, não custa nada. E agora vocês já sabem de quem estou falando.
Massa saiu da Ferrari e gritou aos quatro ventos que só ficaria na F1 se fosse em uma equipe capaz de lhe dar um carro competitivo. E aí fecha com a Williams? Ok, o time tem história, como sabemos. E, apesar da grana cursta, também está com as contas em dia. E o regulamento quase vira de cabeça pra baixo a partir do ano que vem, do motor à asa dianteira, tudo muda. Mas daí é ser muito otimista achar que isso basta para inverter a relação de forças da categoria.
Porque é básico: quem tem dinheiro paga os melhores (e mais caros) profissionais. Eles podem errar? Claro que sim. Mas daí uma equipe sem grana para desenvolvimento se transformar na rainha das pistas? Não, meus amigos, aí já é esperar milagre mesmo.
E Nars, o que tem com isso? Pela foto de Massa no site da equipe, Banco do Brasil ao fundo, é o garoto (seus patrocinadores, na verdade) que paga a conta. Ele será o reserva da equipe, o que é quase nada hoje em dia. Mas quando surgiu a notícia do acerto com Massa, falaram em cinco anos. Anunciaram três. Será que, como divagou Flavio Gomes, que não seria um contrato de 3 + 2 anos, uma venda casada dos dois felipes?
Voltando ao futebol, já faz 18 anos que o Botafogo ganhou seu único brasileirão. E nos últimos anos (e é claro que não levo os estaduais em conta), uma vocação para cavalo paraguaio floresceu. Será que isso pode acontecer com o time de Grove. Por conta das mudanças, um coelho da cartola e a Williams pula na frente. Mas sem a grana pra continuar desenvolvendo, fica pra traz na reta final da temporada. Quem sabe? Afinal há coisas que só acontecem…
Enfim
Como todo mundo está cansado de saber e mais uma vez foi comprovado, time grande não cai.