Crônica de sexta-feira (21)

Lewis Hamilton foi o líder do primeiro dia de treinos em Melbourne / Foto: Clive Mason/Getty ImagesSabia que o Rodrigo não me deixaria na mão hoje, logo hoje. E o ‘ufa’ dele é sinceramente igual ao meu, ao do Zé, do Ricardo, Luiz Octavio, Davi etc etc etc. e eu poderia ficar fazendo uma lista quase infinita só dos meus conhecidos que esperavam por esse fim de semana pelo mesmo motivo. Gente que passou a última madrugada ou boa parte dela assistindo 22 carros darem voltas no circuito australiano só pra tentar entender o que, como e quanto mudou tudo.

Coisas dessa primeira noite, dois treinos livres, que anotei relevantes ou simplesmente gostei:

– depois de uma pré-temporada pífia, todo mundo dava a Red Bull e Vettel como descartados para o ano. Pois ontem o sujeito ficou só a 0,7s do líder. Estou curiosíssimo para ver a diferença na classificação e se conseguem terminar a corrida. Se conseguirem confirmar a pouca diferença em velocidade e terminarem em boa posição, começarão a temporada europeia em alta e brigarão pelo título. Newey não é Newey à toa e ninguém é tetracampeão por acaso;

– acho que vou na contramão da maioria, mas gostei do ronronar dos novos motores de mãos dadas com o silvo (inspirado, inspirado…) do turbo;

– os pachecos que só estão preocupados em torcer por um brasileiro não gostaram dos resultados da Williams. Culpa da expectativa criada e da falta de explicação da vênus platinada e suas afiliadas. Primeiro é preciso entender que o time não será uma nova Brawn, mas vai sim brigar por boas posições e até vitórias. Ninguém se deu conta que Massa e Bottas fizeram long runs, com quase o mesmo número de voltas e pneus completamente diferentes. É o acerto, tolinho;

– Alonso já está tentando engolir Kimi desde já. Só não sei o finlandês está preocupado ou se vai entrar nessa pilha. Pelos pneus que usou e o número de voltas que deu, desconfio que estava mais preocupado em acertar a F14T para a corrida;

– Lewis largará na pole, Rosberg vencerá a prova;

– foi lindo ver os carros rabeando a torto nas retomadas. Viva o torque!

– Kobayashi merecia mais;

– a pintura da Williams ficou mais bonita na foto do que no vídeo;

– tiraram a Lotus da tomada?

– piada do dia: “Guessing @MassaFelipe19 was shaken, not stirred by that trip on the rocks”, da Lotus no Twitter sobre uma imagem de Massa rebolando numa zebra. Se você não entendeu, é porque não assitiu tantos filmes de James Bond quanto deveria.

E chega. Vamos à leitura que interessa.

A vida volta ao planeta terra

Ufa! Terminou o longo, tenebroso e detestável período anual de ausência de vida, de emoção, de tristeza, de sensação de um vazio chato, incômodo, feio e outros adjetivos piores. Todo ano é a mesma coisa, alguém precisa mudar isso, não pode continuar assim. Nós, humanos, não merecemos isso, ninguém merece sofrer assim, todos os anos, por semanas e semanas.

Nós, aqui nos trópicos, não podemos fazer muita coisa e eu estou contribuindo, faço a minha parte, dedicando uma sexta-feira a este assunto e, se não me engano, não é a primeira vez que escrevo sobre isso. O título “A vida volta ao planeta terra” é simplesmente muito mais que a pura verdade, a mais sincera realidade para mim e para tantos outros cidadãos comuns, em tantos países mundo afora, cada um do seu jeito e do seu modo, mas todos, tenho certeza, aliviados, a partir de hoje, pelo fim do citado período negro e início de mais um tempo florido, belo, emocionante, cheio de vida, motivante, incentivador, exemplar.

A alegria é contagiante, a emoção nos faz arrepiar, todos os sentidos se manifestam ao extremo e às vezes a gente até perde o controle, o corpo e a mente não aguentam, mas isso faz parte do jogo. Se não fosse assim, seria rotina sem graça. A adrenalina faz parte do nosso organismo e de vez em quando penso que o liquidificador que temos dentro da gente deve mesmo dar umas boas sacudidas.

Então, homens, mulheres, crianças, idosos, papais, titios, mamães, vizinhos, sobrinhos, primos e amigos, rejuvenecei-vos, pois 2014, de fato, a partir de agora, nos traz de volta à vida que tanto gostamos, que tanto batalhamos para conquistar, que nos dá tanto prazer, que proporciona aquele brilho nos olhos, os sorrisos de propaganda de dentifrício, os pulos incontidos, as batidas fortes e às vezes exageradas do coração. Agora, sim, voltamos a nos orgulhar por sermos seres humanos, vivendo na graça e plenitude desta benção que Deus nos deu, que é a vida e que, apesar de tanta coisa tentando atrapalhar, a gente, no fundo, sabe que nada, nada pode impedir a nossa incessante busca pela felicidade, pelo amor, pela bondade. Viva! Hip hip urra! Começa mais uma temporada da Fórmula 1!!!!!!!!

Rodrigo Faria

A trilha de hoje não poderia ser outra: George Harrison.

 

Tensão pré-temporada

Grid MelbourneComeça hoje. Daqui a pouco, mais ou menos uma hora. E estou ansioso, muito ansioso.

Há muitos e muitos anos não acontecia tanta coisa, não tinha tanta novidade entre uma temporada e outra que justificasse tamanha expectativa?

Não adianta eu tentar explicar aqui tudo o que mudou no regulamento, nos motores (que agora são híbridos de verdade e se chamam unidade de força) e qualquer coisa mais técnica. Existem trocentos sites e outras publicações especializadas, que já se deram ao trabalho, ao redor do mundo.

A grande questão que começará a ser respondida hoje é se o que aconteceu nos 12 dias de pré-temporada foi real. Será que os favoritos são realmente favoritos? Será que alguém escondeu o jogo? E será que, sendo tudo real, será só para a primeira corrida?

Algumas respostas só teremos no domingo, outras só nas próximas corridas.

Daqui a pouco. Será só primeiro treino livre. Mas a expectativa só cresce…

As mudanças são muitas, muitas mesmo. E o nível de imprevisibilidade é altíssimo. Mas não podemos esquecer que é a F1. Isso significa que, no mais tardar, até o meio da temporada, todos os problemas estarão resolvidos.

Pra esquentar, resolvi recolher algumas frases da última semana, todas proferidas por envolvidos com a categoria.

“Agora, nesse momento, você vê algumas equipes. Por exemplo, a Mercedes, a Williams, a Force India, a McLaren e talvez até a Ferrari. Talvez essas equipes possam ter uma possibilidade igual de vencer” (Felipe Massa, Williams)

“Prevejo uma temporada de tartaruga e lebre. Acho isso por dois motivos: um é a confiabilidade dos carros perto da parte final das primeiras corridas, e o outro por conta do consumo de combustível e do desgaste dos pneus.” (Ron Dennis, McLaren)

“Dois anos atrás, Fernando estava 1s5 mais lento que a pole-position e ficou muito perto de nos derrotar na última corrida. Tudo pode acontecer” (Sebastian Vettel, Red Bull)

“Vir para cá sabendo que é a melhor chance dos últimos anos, eu não sei… Eu nem entrei no carro e fui para a pista ainda” (Lewis Hamilton, Mercedes)

“Honestamente prefiro liderar a corrida por 20 voltas e aí quebrar, do que ser 4s mais lento e terminar a corrida” (Romain Grosjean, Lotus)

“Os diferentes tipos de pneu têm efeito muito maior no estilo de pilotagem do que as novas regras” (Kimi Raikkonen, Ferrari)

“Com base no que vimos na pré-temporada, não seria surpresa se eles [Mercedes] terminassem duas voltas na frente da concorrência em Melbourne” (Christian Horner, Red Bull)

“Este ano ele terá a real oportunidade de mostrar seu talento e fazer o melhor. Massa será um forte adversário este ano” (Fernando Alonso, Ferrari)

“Rezo para que seja uma nova Brawn, para falar a verdade” (Felipe Massa, Williams)

“Então eu diria que nosso maior concorrente é a Williams, ainda que a Force India tenha andado bem também. Das cinco simulações de corrida que fizemos, terminamos duas. É claro que é satisfatório ser rápido, mas isso não significa que estaremos na frente no sábado ou no domingo” (Toto Wolff, Mercedes)

“Precisaríamos de dois ou três meses para encontrar as soluções diante de tantas mudanças. Fazer isso em 12 dias de testes é uma missão impossível” (Roberto Dalla, chefe da Magneti Marelli)

“Somos uma grande equipe e vamos ganhar corridas neste ano” (Ron Dennis, McLaren)

“Todas as equipes estão receosas, não apenas as que usam motor Renault. Todos sabem que podem levar de duas a três horas para resolver um problema” (Nick Chester, Lotus)

“Eles [Ferrari] claramente esconderam o jogo. Se você olhar as parciais, há marcas muito boas e algumas ridiculamente ruins no mesmíssimo setor. Eles camuflaram o ritmo e ninguém sabe ao certo do que são capazes” (Mika Salo, ex-piloto e comentarista da TV finlandesa)

E aí, será que alguém arrisca um palpite para a primeira corrida? E pra temporada inteira?

Fim de férias

Alguém sabe aí de quem foi a bela idéia de voltar das férias em Spa? Sei lá, tava pensando em enviar um presente, mesmo que um regalo bobo tipo caixa de bombom, só pra não deixar de agradecer. A melhor pista do campeonato, quase sempre imprevisível (por causa do clima e porque é pista de verdade) e sempre promessa de corrida boa.

O final de semana tinha, a princípio, dois personagens óbvios: Schumacher, pelos 20 anos da estréia, e Senna. No final das contas, outras figuras acabaram aparecendo. Afinal, era Spa e a corrida, se não foi um espetáculo, cumpriu sua sina de nunca ser ruim.

O sobrinho

Começo, então, pelo brasileiro que – finalmente – pilotaria um F1 de verdade numa corrida. Já li por aí que no balanço final, a estréia de Bruno na Renault teve dois dias ruins e um excelente. Não concordo.

Na sexta-feira molhada e típica do circuito situado entre os vilarejos de Spa e Francorchamps, Bruno escapou no primeiro treino (nada estranho), em um ponto onde outros também saíram da pista, e fez um discreto 17º tempo à tarde. No sábado, sem dúvidas, brilhou. Não bastasse andar à frente do companheiro que já está a ano e meio na equipe, foi ao Q3 e abiscoitou a sétima colocação em dia de asfalto difícil por conta do molha-seca tradicional. Hoje, bobeou na largada, perdeu o bico, pagou penalidade e terminou numa comum 13ª posição, mas andando sempre no mesmo ritmo de Petrov.

É claro que poderia ter um resultado muito melhor e até conquistado pontos, mas eu diria que foi um cartão de visitas acima do esperado. Daqui a duas semanas, sua segunda prova será em outro circuito mítico e de largada muito difícil: Monza. Dependendo do resultado da briga da equipe com Heidfeld, na justiça, será sua última chance de se mostrar bom o suficiente para ter lugar no grid em 2012. O mais importante, agora, é não tirar conclusões.

O cara

Há 20 anos, a Mercedes colocou uma grana do bolso de Edie e o moleque apareceu pela primeira vez. Colocou o Jordan pouco mais que mequetrefe em sétimo no grid, mas a embreagem quebrou na primeira volta. Na prova seguinte, já estava na Benetton e o resto todo mundo já sabe.

Aí, chega o final de semana da festa. Festas, presentes, comprimentos de todos os pilotos, capacete especial e tal. Mas alguma coisa sai errado e o cara vai largar em último num carro que, como aquele, é pouco mais do que mequetrefe. E termina em quinto! Dizer que foi sua melhor corrida desde que voltou é óbvio. Dizer que, apesar da idade, pode fazer muito mais do que o carro permite, idem. Agora, tente se imaginar só por um segundo no lugar dele, ao final da corrida de hoje. Você acha que ele se divertiu?

Se durante as quatro semanas de recesso não foram poucos os boatos que poderia se retirar definitivamente ao final deste ano, não ficarei surpreso se – a depender dos resultados e do carro que tiver na mão em 2012 – acabe alongando seu contrato por mais uma ou duas temporadas.

Bicampeão

Acho que já não resta mais dúvidas né? Se alguém ainda achava que o jogo poderia virar depois das férias, o moço fez um corridaço e tratou de tirar as dúvidas. E desconfio que a foto dele no pódio nos mostra que a ficha já caiu pra ele também. Faltam só sete corridas e o que falta é a definição matemática da bagaça.

Button

Sempre foi um bom piloto, mas nunca foi muito longe. O que, de certa forma, mascarou bastante suas qualidades. Até que um dia, estava no lugar certo na hora certa e um foguete lhe caiu no colo. E foi campeão. E mudou de equipe. E tem nos dado várias aulas de pilotagem, em que pese não brigar pelo título de novo. E hoje não foi diferente. Saiu de 13º para o pódio. E apesar de brigar por posições durante muito mais tempo que seus adversários diretos, chegou ao fim com o carro mais inteiro. Se a dupla Vettel-Red Bull não estivesse em um ano abençoado, quem sabe o que poderia acontecer?

Eau Rouge

Desconfio que a ultrapassagem de Webber sobre Alonso, por fora, na curva que justifica quase todos os clichês de Galvão Bueno, já está na galeria das maiores da história.

Fun-förmigen autorennen

Ando um tanto preguiçoso para escrever. Triste ironia, justamente o que gosto mais tem me dado mais preguiça. Enquanto isso não passa, lembro que domingo teve corrida. Um corridaço na Alemanha.

A Fórmula 1 voltou a ter na Alemanha uma daquelas corridas com um nível alto de emoção e incerteza que duram do início até a bandeira quadriculada. A corrida em Nürburgring trouxe um verdadeiro jogo de gato-e-rato entre três pilotos de equipes diferentes: Lewis Hamilton da McLaren, Fernando Alonso da Ferrari e Mark Webber da Red Bull.

Este aí é o trecho de abertura do post do Ico sobre o GPem Nurburgring. Vale ler inteiro, belo comentário.

E no próximo domingo já tem corrida de novo, agora na Hungria. Traçado apertado e travado, mais um cenário em que a Red Bull deve ter dificuldades de novo. Sinceramente, pela diferença que já tem, pelas vitórias conquistadas e pelo carro excelente, acredito que os títulos de piloto e contrutores já têm dono. Pode até mudar, mas acho improvável.

Ou seja, a partir de agora, vale assistir as provas apenas para se divertir. Porque tenho certeza que serão muito divertidas.

Enquanto isso…

…Massa foi combativo e tal, mas nunca teve a chance real de brigar por nada além do quarto lugar que perdeu na última volta. Foi um erro da Ferrari, um problema de porca. Mas ele não estaria naquela situação se não tivesse perdido tanto tempo atrás de Rosberg, se não tivesse chegado quase 50 segundos atrás de Alonso. De quebra, se Vettel não tivesse cometido um erro no início da prova, o brasileiro já estaria em quinto desde o início. E o locutor oficial ainda fica naquela de Brasil-il-il, tentando enganar a audiência no “limite extremo” (sic).

…Webber renovou com a Red Bull.

…Senna andará no primeiro treino livre da Hungria, mas se Heidfeld for substituído definitivamente, o escolhido é Grosjean.

…Para encaixar todas os circuitos no calendário gigante mas ainda apertado de 20 corridas por ano, Valência e Barcelona podem passar a se revezar como GP da Espanha como já acontece na Alemanha. E para voltar ao calendário, a França propõe solução semelhante, em alternância com a Bélgica. Enquanto isso, Coréia do Sul, Bahrein, Abu Dhabi e China (além da Índia, que estréia nesse ano) seguem firmes e fortes. E a Turkia, um dos únicos Tilkódromos que prestam (ao lado da Malásia), ameaça deixar o campeonato.

Vale soprar

Pois é, teve corrida no último final de semana. Grande Prêmio da Grã-Bretanha, Silverstone. A corrida foi muito boa sim, apesar de um tanto menos movimentada do que média das provas do ano (à exceção de Valência). A Red Bull errou e Alonso venceu. A primeira dele no ano, a primeira da Ferrari desde a Coréia do Sul no ano passado. A 27ª de sua carreira, igualando o número de vitórias de Jackie Stwart.

E depois de nove corridas, Vettel continua líder com muita folga e o campeonato no bolso depois de seis vitórias e três segundos lugares.

No final da corrida, uma polêmica provocada pela turma do touro vermelho com a ordem para que Mark Webber não atacasse Sebastian Vettel na luta pelo segundo lugar. Apesar da justificativa, dizendo que se as posições fossem inversas a mesma ordem seria dada como precaução para que os dois terminassem sem acidentes e garantissem os pontos do time, Christian Horner meio que jogou fora o discurso esportivo de que a Red Bull não dava ordens de equipe e que corridas eram decididas na pista.

Mas o fim de semana foi meio chocho, sem graça, político e técnico demais por conta da discussão dos tais difusores soprados. Primeiro a proibição total, depois libera um pouquinho, quem vai levar vantagem, quem vai perder… Basicamente, por quê mudar as regras no meio do jogo?

No final das contas, a (teoricamente) maior beneficiada venceu a prova. Mas por um erro da (teoricamente) maior prejudicada, nada a ver com o tal difusor.

Agora, depois de muita discussão, as equipes chegaram a um acordo para que tudo volte a como era antes, tudo liberado. E a FIA ratificou.

Pra comemorar o fim das discussões, uma coleção de fotos que andam circulando por e-mail. Imagens de um tempo em que a Fórmula 1 era menos política e artificial. Não, nenhuma ode ao passado, nenhum arroubo saudosista. Apenas uma maneira de mostrar que dá pra ser muito legal sem os cenários absurdos de Bernie, os cotovelos óbvios de Tilke, a pasteurização de assessores e consultores, a assepsia extrema. Cenas curiosas e impossíveis de se assistir hoje, como o lanche de Stewart dentro do cockpit. Quem me enviou foi o amigo Mauricio Lopes, um amigo que também tinha um blog, mas ficou preguiçoso.

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A regra errada

Foi um baita dum corridaço, como há muitos e muitos anos não se viaem Mônaco. Graçasaos pneus e às diferenças de estratégias, como é desde que a Pirelli voltou. E graças a alguns pilotos, que resolveram arriscar manobras onde, até ano passado, ninguém tinha peito de tentar.

Assim, Hamilton fez o diabo e chegou a ser punido duas vezes. Schumacher quase provocou orgasmos múltiplosem Galvão Buenopor fazer duas ultrapassagens na Lowes. Curiosamente, mesmo lugar onde Lewis tentou passar Massa, não conseguiu e Galvão disse que não dava…

O que importa é que entre todas as idas e vindas do GP, durante muitas voltas Vettel segurou o mais rápido Alonso que segurou o ainda mais rápido Button. A razão para isso era o rendimento dos pneus. Vettel fez apenas um pit stop, contra dois do espanhol e três do inglês. E as últimas voltas prometiam ser de almanaque.

Mas um acidente grande com Petrov provocou a primeira bandeira vermelha do campeonato, a cinco giros da bandeirada. O que, provavelmente, salvou Vettel.

Eu sei que está no regulamento que é permitido trocar pneus, entre outras coisas, quando em bandeira vermelha. Mas tenho a impressão de que isso é uma falha da regra. Afinal, os caras não escolheram parar, foram obrigados. E os caras que pararam antes da interrupção obrigatória ficam em desvantagem, pois perderam cerca de 20 segundos e a vantagem técnica conseguida nos pits.

Com pneus novos, após a relargada, Vettel não só parou de correr riscos como ainda abriu vantagem. Ficou sem graça e o cara ganhou pela quinta vez em seis corridas. Estou curioso pra ver como vai ser no Canadá, daqui a duas semanas, numa pista onde sempre acontecem grandes corridas.

E a asa móvel? Liberada apenas na reta dos boxes, não fez a menor diferença.

Nazar boncuk

Então é isso, né. O cara vai lá, faz a trocentésima pole seguida e entra para o grupo dos maiores de todos os tempos, já aos 23 anos de idade. Depois, ele larga na frente e já completa a primeira volta mais de um segundo à frente do segundo colocado. E vence, claro. E aí, ninguém mais pergunta quem será o campeão, mas com que antecedência aquele garoto abusado que dá nome de mulheres sacanas aos seus carros decidirá a temporada. Só posso estar falando de Sebastian Vettel.

E na Fórmula 1 de 2011, com KERS e asa móvel, as corridas são animadíssimas. Ontem foram mais de 80 pit stops e sei lá quantas ultrapassagens ao longo das 58 voltas. Divertido. Pra quase todo mundo. Vettel, por exemplo, não participou da bagunça. Se usou a tal asa para superar retardatários, foi muito. E ninguém o ameaçou em nenhum momento.

Se fosse um brasileiro, a TV oficial já estaria fazendo uma festa danada, que o sujeito é isso e aquilo. Como não é, mesmo timidamente já começa um conversê inútil sobre o campeonato ficar sem graça. Bom, não será a primeira ou a última vez que um dos melhores pilotos dentro do melhor carro da melhor equipe domina uma temporada. Se isso acontecer. Porque ainda estamos na quarta de 19 corridas.

Assisti o GP, finalmente em horário decente do lado de cá do Equador. E o que mais me impressionou foram as patacoadas da transmissão. Falo do Galvão, claro. Que disse, entre muitas bobagens, que na famosa curva 8 os pilotos sofrem com uma força de 5 Giga de gravidade no pescoço. Hã? Depois, ainda ameaçou chamar a polícia porque a Ferrari fez besteira nas paradas de Massa (que começou muito bem mas caiu muito de rendimento ao longo da disputa). Afinal, há sempre uma grande conspiração contra os brasileiros, na Ferrari ou em qualquer lugar em que são derrotados. Não sei porquê, mas ele não falou muito sobre a cagada que a McLaren fez com Hamilton nem que ele é apenas um inglesinho contra esse mundão todo. Só para constar, Lewis terminou em quarto (perdeu 12 segundos em apenas uma parada no box) e Massa foi o 11º (perdeu 13 ou 14 segundos, ao todo, em relação a Vettel).

Sobre o resto da corrida, nada muito especial apesar da intensa troca de posições. Se houve uma surpresa, foi ver Alonso no pódio e andando quase no ritmo das Red Bull. Digo quase porque já tem gente animada, dizendo até que ele esteve mais rápido em vários momentos, mas essa turma não lembra que Vettel não precisou forçar e que Webber, apesar da resistência do espanhol, o superou com relativa tranqüilidade. Nem que as McLaren não foram bem, de maneira geral. Ou seja, o terceiro lugar com o carro de Maranello ainda é fortuito. Por mais que essas situações façam parte do jogo.

A próxima corrida será em Barcelona, onde foram realizadas duas seções de testes na pré-temporada. Todo mundo está cansado de conhecer etc. e tal. Quer dizer que não devemos ter maiores surpresas. E o garoto de 23 anos deve fazer a festa. Outra vez.

Chili com vodka

Juntem uma corrida que terminou às quatro e meia da manhã, uma boa dose de decepção, um domingo de muito calor com a família e pronto. Sinceramente, não deu vontade de parar em frente ao computador para escrever sobre Fórmula 1. Acho que, como todo mundo que gosta do negócio, esperava muito da corrida de Melbourne. Afinal, um monte de novidades e uma pista que geralmente nos oferece bons espetáculos. Mas não foi o caso. Vou por partes.

– Asa móvel: o que prometia transformar as corridas em um festival desmedido de ultrapassagens acabou não fazendo nem farofa. Entre carros com desempenho semelhantes, a geringonça acabou não influindo em nada e quem defendia posição levava sempre vantagem. Para se livrar mais rápido de retardatários, talvez seja útil. Mas aí é preciso dar sorte de encostar no carro mais lento na área que o uso da asa é permitido. Talvez, em pistas com retas colossais, como o GP da Malásia que acontecerá em duas semanas, o dispositivo faça alguma diferença real na briga por posições.

– Pneus: o asfalto liso das ruas de Melbourne acabaram não surtindo o efeito esperado. A maioria dos pilotos fez duas paradas (o que já era habitual), alguns fizeram três e um conseguiu chegar ao fim da prova com apenas um pit stop. O rendimento dos pneus têm, realmente, quedas bruscas – principalmente os mais macios – mas as disputas de posição acabaram não acontecendo. Quando alguém se aproximava, o da frente logo jogava seu carro no box para a troca, sabendo que o outro sujeito também teria que parar e tudo voltaria ao normal. Resta saber se também haverá uma espécie de comportamento padrão em Sepang, onde o calor promete ser altíssimo e o asfalto é muito mais poroso.

– Massa: parece que o piloto que lutou pelo título de 2008 se aposentou. Sua classificação foi ruim, prejudicada por uma rodada bisonha quando saía dos boxes com aquele que deveria ser seu melhor jogo de pneus na briga pela pole. Na corrida, começou com uma largada brilhante, em que ganhou quatro posições, mas logo perdeu rendimento e acabou sumindo depois da boa briga com Button. Foi engolido por Alonso. Apesar do mesmo número de paradas, nunca conseguiu andar no mesmo ritmo do espanhol e terminou em uma melancólica nona posição. Se mantiver o padrão durante o ano, teremos mais um brasileiro desempregado em dezembro.

– Ferrari: para o que prometeu durante a pré-temporada, desempenho abaixo da crítica. Mesmo Alonso, que terminou em quarto, nunca teve condições de brigar pelo pódio. Alonso largou muito mal, enquanto Vettel e Hamilton dispararam desde o início. Apesar de uma boa recuperação, o espanhol chegou à quarta posição sem qualquer chance de atacar o russo Petrov, que levou sua Renault (ou Lotus Renault, já não sei mais) ao pódio.

– McLaren: impressionante a virada que a equipe deu em tão pouco tempo e sem a possibilidade de testar. Saiu da Austrália como a grande rival da Red Bull para o ano. Se outros times vão entrar na briga, ainda não se sabe. Mas o time de Woking, especialmente Lewis Hamilton, será a pedra no sapato dos touros vermelhos.

– Red Bull: falar o quê? Que foi estranho o tamanho da diferença entre Vettel e Webber? Tá foi, mas isso não deve ser tão comum, acho que foi uma circunstância. Que Adrian Newey é fodástico? Todo mundo já sabe. Pois é tanto que até o boato sobre ele é duca. A equipe não confirmou (nem vai), mas o projetista desdenhou do KERS e, dizendo que só faz diferença mesmo na largada, teria criado um ‘mini-KERS’ que só funcionaria quando as luzes se apagam. Se é verdade, além de não gerar tanto calor durante toda uma corrida, ainda permite que a diferença de peso entre o aparelho tradicional e a tal invenção sirva como lastro distribuído para melhorar o equilíbrio do carro. Será que isso é verdade?

– Barrichelo: fim de semana para esquecer, desde a rodada infantil na classificação até o acidente que provocou em uma tentativa de ultrapassagem otimista demais (para ser educado). Foi possível confirmar que a Williams é um bom carro, que pode incomodar. Mas a falta de grana crônica do time não permitirá um ritmo de evolução como de outras equipes e deve acabar ficando um pouco pra trás.

– Chili com vodka: os grandes destaques da corrida foram o mexicano Sergio Pérez e o russo Vitaly Petrov. O primeiro, estreante com a pecha de piloto pagante, mostrou que não tem nada de bobo. Fez andar o bom carro da Sauber e, com apenas uma troca de pneus, terminou em sétimo, à frente do companheiro Kamui Kobayashi. Uma pena a desclassificação da Sauber por medidas erradas na asa traseira. Petrov é outro que chegou à F1 como pagante. É verdade que foi discreto (ou pior) no ano passado, mas andou bem desde o início do final de semana. Engoliu o experiente Heidfeld e chegou ao pódio. Talvez, o bom desempenho seja reflexo da ausência de Kubica, de sua sombra de grande piloto e líder da equipe. Enfim, olhando para o resultado de ontem, impossível não imaginar o que o polonês não seria capaz de fazer com o mesmo carro.

Agora resta esperar por Sepang, por saber do que a Ferrari é capaz de fazer para melhorar, por saber quanto tempo a Hispania irá existir, pela desculpa de Massa por não conseguir andar sequer em ritmo parecido ao de Alonso, por saber qual o tamanho da surra que a Red Bull aplicará nos outros no próximo GP.

Já era hora

Finalmente, começa daqui a muito pouco a temporada 2011 da Fórmula 1. Sim, adoro esse negócio, sinto falta de assistir treinos e corridas, de tentar entender as estratégias de corrida e suas conseqüências, de prestar atenção em um pit stop e perceber onde está a diferença que faz um ou outro ganhar ou perder uma posição etc etc etc.

Quem está acostumado a visitar esse meu canto deve ter percebido que não falo no assunto há dez dias. Simplesmente porque não aconteceu nada de relevante. Mas a aproximação da primeira prova revela alguns detalhes e ainda alimenta alguns boatos que valem registro.

A primeira coisa é uma entrevista em que Vettel, ainda discutindo o número de botões no volante e asa móvel, disse que os pilotos até poderiam se unir e não correr. Besteira, eles simplesmente não tem a união necessária para um movimento como esse, a maior parte não tem personalidade para assumir compromissos desse nível e, desconfio com quase certeza, nem autonomia para levar algo assim à frente.

De quebra, Schumacher (o cara que mais modifica o carro durante uma volta) e Alonso disseram que tudo isso é besteira, que pilotos de F1 tem capacidade para lidar com todos os botões do volante e que a pré-temporada serve para fazer esse tipo de adaptação.

Outra notícia é o quase arco-íris que a Pirelli resolveu instituir para identificar seus pneus. O esquema é o seguinte: laranja, chuva; azul, intermediário; vermelho, supermacio; amarelo, macio; branco, médio; prata, duro. Talvez dê um pouco mais de trabalho para nos acostumarmos do que com o sistema usado pela Bridgestone, mas a idéia é muito legal. O único senão foi a escolha do prata, que pode ser confundido com o branco. Poderiam ter escolhido verde ou violeta, só para citar duas cores do arco-íris.

Outra notícia que pintou por aí é que a Hispania está a um passo de quebrar. Ok, agora me digam uma novidade. Já me surpreendi com o fato dela dizer que vai correr esse ano, até apresentou um carro. Será que termina a temporada? Será que, com a regra dos 107%, conseguirá largar para alguma corrida?

Já a McLaren prometeu um carro quase novo para a primeira corrida. Tudo porque teve muitos e muitos problemas – principalmente hidráulicos – de confiabilidade durante os testes. Essa falta de confiabilidade certamente é fruto de um carro novo com tantas inovações, problemas que Red Bull e Ferrari não tiveram. Mas além do que vai por baixo da carenagem, que a equipe tentará resolver, haverá novidades à vista de todos, como um novo escapamento inspirado na Renault. O negócio é ver se vai funcionar.

Outra curiosidade é que, com o início das programações das equipes em função de GPs, também começaram as programações estranhas dos patrocinadores. Não é que mandaram Vettel pastorear e tosquear uma ovelha. Será mesmo que uma ação dessas, tão fora de propósito, alavanca os negócios? Publicitários e marqueteiros, favor discorrer sobre o tema.

Por fim, um pouco da corrida propriamente dita. A FIA definiu a área de monitoramento dos carros (entre as curvas 14 e 16) e ampliou a área em que será permitido o uso da asa traseira móvel para toda a reta dos boxes (contra os 600 metros iniciais). O interessante nessa história é que como é um trecho de média e baixa velocidade, há a possibilidade de quem estiver atrás forçar um pouco mais as freadas, principalmente na 15, para colar no carro da frente. Assim, poderia usar a asa para fazer a ultrapassagem. Em resumo, nada mais artificial, pois enquanto o carro de trás pode ganhar algo entre 10 e 14km/h, o da frente não usa a asa e vira presa fácil.

Outro ponto de atenção é que o desgaste dos pneus vai provocar estratégias diferentes e, em vários momentos da prova, veremos carros com rendimento muito díspares. Assim, naturalmente, o número de ultrapassagens já cresceria. Mas como essas manobras vão se misturar com as provocadas pelas asas, a corrida tem tudo para virar uma zona. E aquilo que era tão difícil, tão esperado e tão comemorado, vai perder a graça por sua banalização.

Mas o que importa mesmo é que, no final das contas, o favoritismo continua com a Red Bull. A Ferrari, ainda atrás, deve estar bem próxima. Daí pra trás… Mas se há uma corrida no ano que, mesmo sem chuva, pode provocar boas e grandes surpresas, é o GP de Melbourne. Vale se programar.

Foto do dia: F150

É impossível para um sujeito que gosta de carros não ficar impressionado com uma Ferrari. É um mito e não é à toa. Para quem gosta de Fórmula 1 então…

A nova Ferrari, como sempre, é linda. Se vai andar, é outra conversa. A pré-temporada dá a partida na semana que vem e vamos começar a descobrir. Mas Luca di Montezemolo já deu seu recado: “neste ano temos que vencer”. Recado para a turma dos boxes e os dois motoristas.

O nome do carro é F150 em homenagem ao sesquicentenário da unificação da Itália. Homenagem que também aparece na pintura da parte de trás da asa traseira. De frente, dá pra notar um carro com menos curvas, muito mais agressivo. E que, como sabemos, vai evoluir muito durante o ano.