Sementes

 

Árvore / Fonte: wall.alphacoders.com

Planta que brota lá no solo dos corações
Flor reluzente que enfeita nossos quintais
Coisa da gente
Broto e semente
Que nasce inocente e não morre jamais

(Eduardo Medrado e Kleber Rodrigues)

Faz tempo que não passo por aqui, que não escrevo nada. Sei lá, tenho me segurado. Não anda valendo a pena dar opiniões públicas sobre o que é importante de verdade, nesse mundo louco e maniqueísta que brotou na internet. Vamos combinar que outras paixões e amores da minha vida não andam merecendo muita atenção e dedicação, como o Flamengo e a F1. Anda rolando uma certa sensação de fastio. E como minha rotina de velejar tem sido tudo, menos uma rotina… pronto. Tá explicado o abandono.

Mas é bom dar uma olhada no cafofo, ver como ele está… Vai que tem ali uma infiltração, um fio que precisa ser trocado. Além do mais, os últimos meses têm profícuos em novidades. Especialmente as últimas semanas.

Não sei vocês, mas sempre que minha vida virou de cabeça pra baixo, foi de repente. Exceto a última. Como a crônica de uma morte anunciada, a coisa começou a se desenrolar há quase três anos, vejam vocês. Todo mundo sabia o que ia acontecer. E assim foram desmontando minhas vidas pessoal e profissional.

Mas o mundo gira e a Lusitana roda. Ou vocês não sabiam disso?

O problema de trabalho, a falta de, ainda segue. A gente vai tentando contornar, até se reinventar. Mas o horizonte ainda está bem embaçado. Cada vez mais, na verdade. E seguimos tentando criar modas pra voltar a viver em paz.

Os últimos quase oito meses foram bem confusos, na verdade. Alojado e com a vida em caixas. Mas chegou a hora de fazer o negócio acontecer. Não tenho nada o que falar da minha família além de agradecer imensamente. É claro que tem todas as maluquices e defeitos de qualquer família normal. Pai, mãe, avó, irmã… Que turma é essa minha…

Na verdade, eu até poderia ter começado o post com a letra de A Casa, do Vinícius. Ok, minha casa não vai mesmo ter penico e as paredes até estão de pé. E sim, foi e continuará sendo feita com muito esmero, mas desconfio fortemente que o trecho de Semente do Samba cabe muito melhor.

Porque nessa vida louca que levamos, que mais separa do que junta, foi fodástico – em certo momento da noite de sábado – chegar no ouvido da moça (que caiu sem paraquedas no meio do furacão e comprou o barulho) e mostrar pra ela quem eram aquelas pessoas que estavam ali, o amigo mais recente, presente na minha vida há dez anos. Outros tantos há 30 ou até um pouco mais. “Planta que brota lá no solo dos corações, (…) que nasce inocente e não morre jamais”.

Sim, havia ali um casal que conheço há poucos, pouquíssimos meses. Mas aquele ponto fora da curva, que se explica fácil quando dizemos que o santo bateu. E como bateu.

Mas voltemos ao busílis. Apesar dos oito meses de preparação, a mudança se concretizou de chofre e até atabalhoada. E se não bastasse a família tornando o negócio possível, os amigos ainda se juntaram.

Não, o cafofo ainda não está pronto. longe disso, na verdade até bem capenga. Mas as crianças abraçaram a casa nova, entenderam a situação e estão amarradonas. Dos amigos e família, já falei. Então confesso que ando um tanto emotivo nos últimos dias. Muito, pra ser sincero. E é por isso que resolvi passar por aqui para, de certa forma, reviver esse negócio de falar da minha vida num blog.

Ou seja, tudo isso é pra dizer obrigado. A todos e por tudo.

Vai dar certo, é claro. Porque o mais importante é que as sementes que joguei pelo caminho que percorri até agora germinaram e cresceram. Fortes. Frondosas.

P.S.: gente do céu, ando tão ausente e desacostumado de escrever que, agora que reli, é que vi que o texto ficou todo truncado. Vou consertar não, o que importa é o espírito da coisa, mas peço desculpas.

Feliz Natal! Feliz ano novo!

Desejo de NatalEntão é Natal. É verdade, é sim, já teve até especial do Roberto Carlos. E como os feriados são longos, com apenas meia semana meio morta entre eles, já fim de ano, preparações pro réveillon, contagem regressiva para o carnaval…

Ou seja, chegou a hora, finalmente, de fazer aquele balancinho que já estou, há alguns dias, empurrando com a barriga.

Um ano que vou te contar… Pra mim, por exemplo, um ano bem estranho com cara de ano meio. Uma bagunça só, vida virada do avesso e de pernas pro ar. Primeiro com a desorganização da vida profissional, depois com as mudanças na vida pessoal. Diria até que, se tivesse um tantinho mais de dinheiro, fosse um pouquinho mais bronzeado e morasse em Santos, poderia até dizer que estou como o Pelé falando do Edson. Ou vice-versa. Entende?

Mas a verdade é que não foi um ano (ou ano e meio, vá lá) de todo ruim. Porque mudanças, mesmo as que parecem ruins à primeira vista, são sempre bem vindas, portas que se abrem, oportunidades que se apresentam. E sim, há que se ser um tanto Polyanna nesses momentos.

Esse tempo estranho que estou vivendo foi, por exemplo, um tempo de muitos reencontros. Alguns, é verdade, bastante estabanados e cheios de mal entendidos. Tanto que, em tão pouco tempo, já há coisas a consertar. Outros, mais próximos ainda que à distância. Mas foram bem divertidos, todos eles.

E muitos bons encontros, gente que passou a fazer parte da minha vida e que, em regra, apareceram de surpresa, sem expectativas, mas com quem já divido muitos sorrisos.

E da família, o que se pode dizer? Que aos trancos e barrancos, como toda família, não posso reclamar de jeito nenhum, muito pelo contrário. Pai, Mãe, Irmã, Avó. Assim, em letra maiúscula mesmo. Até primos e primas, com quem não falava há mito tempo e agora é todo dia, logo eu tão avesso a essas brincadeirinhas por celular. Sem falar nas pequenas, na oportunidade de vê-las crescendo e florescendo, descobrindo e conquistando o mundo ao redor. É possível não agradecer por isso tudo?

Também foi um tempo de alguns desencontros, tanto ou mais estabanados. Alguns até constrangedores. Coisas que prometo tentar resolver o mais breve possível.

E em que pese a vida profissional ainda muito desorganizada, absolutamente indefinida, várias boas experiências ajudaram a colorir esse bendito ano que está chegando ao fim. Portal do Bem, Alma Literária, LM Comunicação, Oga Mitá, Smartia, Conceito/Rede Câncer, Cassará Editora e AG2 Nurun: obrigado pela parceria e confiança.

Enfim, é como disse lá em cima. Chegando ao fim. E, apesar dos tropeços, agradecendo por tudo o que tem acontecido e acreditando que esse caminho cheio de pedras – algumas bem pontiagudas – é apenas para preparar a alma, engrossar o couro. Porque a vida gira. Sempre.

Meus desejos são simples: mais trabalho, muito mais; mais bagunça e menos confusão; mais encontros e reencontros; mais velejadas; mais sólidos, líquidos e gasosos; mais música, livros e filmes; mais brincadeiras infantis; mais beijos e abraços e sorrisos.

Aos amigos (e aos desavisados que passarem pelo cafofo por acaso), um Feliz Natal. E que todos nós consigamos contrariar todas as previsões pessimistas e que sejamos capazes de fazer um 2016 excelente. Muito melhor que 2015, um tantinho pior que 2017.

E pra terminar, um recadinho de um amigo de longa data, na casa de quem, sempre que estive presente, fui tratado como irmão, filho, neto. Um desses reencontros que tive, apesar de ainda à distância.

Jesus é um cara legal e o aniversário dele está chegando. Então, mesmo que você não creia em tudo que contam que ele fez, pelo menos considere que o discurso do cara foi só Amor & Paz. Afaste o máximo que puder do egoísmo, orgulho e vaidade do teu coração e se permita amar plenamente. Comece na noite de Natal, depois por 1 dia, depois 2 dias e assim sucessivamente. Amor & Paz a todos!

Caius Valladares

O idiota e a maioridade penal

menor_infratorNão, não falo do Eremildo. Me refiro a mim mesmo. Isso, isso, Gustavo, o idiota. Vejam se não estou certo. Depois de tanto tempo sem dar as caras por aqui, resolvo aparecer para falar dessa tal maioridade penal que gerou uma bela guerra e, de quebra, uma estúpida manobra do presidente da Câmara.

Vamos em frente. Minhas experiências nos últimos anos me ensinaram a tomar algumas decisões de forma muito simples: um esquerdista é contra, seja a favor; se ele é a favor, seja contra. E no fim, eu estarei certo. Saibam que a prática se mostrou mais que certeira. Mas nesse caso, a coisa é um tantinho mais complexa.

Eu, por exemplo, pelo que vejo e ouço por aí, desconfio que discordo de tudo e todos. Ou quase isso. E olhem que ser o outrista nunca foi uma ambição…

Antes de falar propriamente da “maioridade penal”, trato dos jovens de 16 anos, aqueles que cometem crimes ou não. No Brasil, eles podem votar. Como eu acredito que numa democracia não há direito (dever, no nosso caso) mais importante do que esse, defendo que todos os jovens a partir dos 16 anos tenham todos os direitos e deveres que qualquer um. Ou seja, aos 16 anos o sujeito é maior de idade.

Agora, imagine que um garoto, de 14 anos, descole uma arma (branca ou de fogo) e decida fazer uns ganhos por aí. No meio de um dos assaltos, ele mata alguém. Desculpem, mas não acho que ele devesse ser julgado e punido em função da sua idade, mas do crime que cometeu.

E então reproduzo, porque assinaria embaixo, trecho do artigo de Contardo Calligaris publicado no dia 25 de junho.

Acredito que há crimes que são, por assim dizer, próprios da adolescência, de sua rebeldia, de sua inconsequência e mesmo de sua estupidez. E há crimes que são crimes, e basta. O critério não é só a gravidade, mas também a motivação, as circunstâncias, os precedentes, ou seja, fatores que dificilmente podem ser enumerados num Código Penal. Por isso, acho que um juiz ou um júri deveriam decidir, em cada caso, se um acusado será julgado como menor ou como adulto.

Aparte: se não confiarmos em juízes e júris, melhor desistirmos da própria ideia de poder judiciário, não é?

Por mim, a partir dos 12 ou 14 anos, todos deveriam passar pelo crivo de juízes e júris para decidir como seriam julgados: se com critérios para penas “infantis” ou adultas.

Mas e aí, jogaríamos todos nas mesmas cadeias? Bem, talvez eu até seja radical em algumas coisas, mas louco ainda acho que não. Por mim, há que se ter instituições preparadas para receber jovens e adolescentes infratores separados dos adultos, independente de crimes e penas. E acho até que não os juntaria a partir dos 18, mas dos 21 anos. Ou seja, se condenado, o jovem cumpre parte da pena em uma instituição e, a partir da idade definida como limite, segue para a outra.

E isso resolveria a questão da violência? Claro que não, eu não sou estúpido. Seria apenas um caso, um modo diferente do que temos hoje de se aplicar a justiça para quem comete crimes. Punir correta e duramente quem precisa ser punido.

Mas aí vamos explodir o sistema carcerário que já está mais do que ultrapassado e superlotado.

Também tenho uma ideia sobre isso. Não necessariamente boa, mas é minha ideia. E sinceramente acredito ser mais efetiva do que o que temos hoje. Todas as unidades do país deveriam ser federais, privatizadas e necessariamente colônias de trabalho. Agrícolas, para o autossustento, ou não. E educacionais para os jovens.

Trabalhar e estudar não seria uma opção para os detentos, mas obrigatório. Então, da mesma maneira que cada dia de trabalho (com medidas de desempenho) reduz um pouco da pena, cada nota acima de 7 faria o mesmo pelos jovens.

Pois é, demorei a escrever ou mesmo a dar opiniões por aí sobre o tema porque não achava que valia a pena entrar em discussões sem fim e, ainda por cima, correr o risco de ser xingado. Mas não resisti. Então, se você discordar de mim, basta discordar e conversar, argumentar ou mesmo deixar pra lá. Porque, no final das contas, ser educado é sempre melhor.

A ciranda da vida…

…Que gira e faz girar a roda da vida que gira.

É, eu poderia pegar trechos das canções do cara, escrever, reescrever, talvez até transmutar em algo razoável, mas que nunca chegaria a ficar bom. Porque se você reparar, ouvir com cuidado, tudo o que precisa ser dito já está.

Feliz 2015!

Ah, 2014…

Mussum_KeanuÉ, sei que a piada é velha e que todo mundo já cansou de ver a montagem aí ao lado, mas não resisti. E desde que recebi a imagem no zapzap que ela não me sai da cabeça, que comecei a pensar em como foi de verdade o meu 2014.

Que ano da porra… Não ganhei na mega sena, perdemos a Copa daquele jeito, o Flamengo foi ridículo, não velejei nenhuma vez e a Dilma ainda foi reeleita. Piadas à parte (a Dilma não é piada!), a turma que me conhece sabe que sou um bocado ranzinza, beirando o raivoso. Definitivamente não sou um seguidor de Pollyanna, “copo meio cheio é o cacete, o bicho tá quase vazio”.

Pois bem, resolvi tentar fazer um tantinho diferente e olhar com calma para o que aconteceu neste ano. E vou contar pra vocês, não tem sido nada fácil. Especialmente o segundo semestre. Tudo por conta duma feladaputa duma mentirosa, capaz de dizer uma coisa em cena aberta, com a sala cheia, olhando nos olhos de todo mundo, e depois não cumprir a palavra. Pra terminar o serviço com classe, ainda soltou alguns boatos ‘carinhosos’.

É, estar desempregado é uma bosta, ninguém tem dúvida disso. E eu estou. Mas comecei a olhar com mais carinho para toda a situação. Sim, a moça ainda é uma feladaputa sem palavra, mas não dá pra negar que – no fim das contas e apesar das dificuldades que não parecem estar perto de acabar – ela acabou me fazendo uma espécie de favor. Porque eu já estava há dez anos no mesmo lugar, tentando encontrar um jeito de sair, muito muito cansado. Então, essa confusão não deixou de ser uma espécie de oportunidade pra me mexer.

Vida que segue, pois. E seguiu bem bem, apesar das circunstâncias, vejam só.

Minhas filhas continuam crescendo bem e felizes, apesar do susto que foi a “cavíbula” da Isabel. E da família, pai, mãe, sogro, sogra, e todos os parentes e aderentes possíveis e imagináveis, não há o que falar, não tenho palavras pra agradecer.

De quebra, reencontrei uma turma que nunca saiu do meu coração, mas que não via há anos, décadas até. E os amigos mais próximos e até mais recentes… Definitivamente, não tenho do que reclamar. É claro que não vou nomear todo mundo, não caberia aqui.

Mas tem o Zé Luis e a Mayra e o Giorgio, sempre por perto, tomando conta mesmo. Tem o Alvaro e o Lucas, amigos velho e novo que tem feito todo o possível, o Saulo e a Moema, apresentada pela Alessandra, que mesmo com a distância de Brasília, também tem feito força. Sem contar a Isabela, amiga que virou uma parceira daquelas que aturam até minhas complicações. E a Paula, o Zuzo, o Octavio, a turma do Boteco 1 etc etc etc, e bota gente.

E trabalhos diferentes também apareceram, de ghost writer a professor, papel que não cumpria há muitos anos, quando substituí um amigo, e que definitivamente não posso mais deixar de lado. E nessa onda veio a Elephas e o presente gigantesco do Ricardo, toda a identidade visual da empresa.

Falando nisso, que belos regalos a vida entregou com as chegadas do Luciano (e sim, estou em dívida com Giorgio e Renata) e do Luis, filho do meu irmão MP e da Elísia.

Então é isso, o que comecei com a intenção de um exorcismo capaz de colocar todos os meus fantasmas pra fora, termina como um baita dum agradecimento a Papai do Céu.

No melhor clima tá ruim mas tá bom, até achando que o copo está pra lá de meio cheio, me despeço desse 2014 certamente inesquecível. Que todos nós possamos ter um Natal de paz e sorrisos e um 2015 muito melhor, quem sabe até redentor.

Ônus e bônus

Não tá fácil pra ninguém. Nem pra mim, claro. Essa incerteza diária, em busca de trabalhos, muitas vezes dá um nó na cabeça da gente. Sem falar no coração que aperta e otras cositas más. Mas essa falta de certezas e rotinas, às vezes, também permite que você sorria. Hoje não teve escola, trabalho interno dos caras. E aí as duas estavam com o dia livre e ainda pintou uma amiguinha. Três ao mesmo tempo. Por circunstâncias, passei boa parte do tempo sozinho com as moças. Como diria o grande filósofo, “cacildis!” Não enviei nenhum e-mail, não dei nenhum telefonema, não procurei trabalho e ninguém me ligou também. Nem era domingo e foi ótimo. Fui lobo e fui rei, dei susto e entrei em pânico, contei história, balancei, pulei, corri, dei passos de elefante e de formiguinha, me escondi, fui achado e não achei, invadi um castelo e virei uma torre. Não, não está nada fácil viver de incertezas, ainda estou atrás de trabalhos e empregos, o que vier primeiro ou tudo ao mesmo tempo. Mas tem dias que pagam essa loucura com juros e correção monetária. Hoje foi um deles.Não tá fácil pra ninguém. Nem pra mim, claro. Essa incerteza diária, em busca de trabalhos, muitas vezes dá um nó na cabeça da gente. Sem falar no coração que aperta e otras cositas más.

Mas essa falta de certezas e rotinas, às vezes, também permite que você sorria.

Hoje não teve escola, trabalho interno dos caras. E aí as duas estavam com o dia livre e ainda pintou uma amiguinha. Três ao mesmo tempo. Por circunstâncias, passei boa parte do tempo sozinho com as moças. Como diria o grande filósofo, “cacildis!”

Não enviei nenhum e-mail, não dei nenhum telefonema, não procurei trabalho e ninguém me ligou também. Nem era domingo e foi ótimo.

Fui lobo e fui rei, dei susto e entrei em pânico, contei história, balancei, pulei, corri, dei passos de elefante e de formiguinha, me escondi, fui achado e não achei, invadi um castelo e virei uma torre.

Não, não está nada fácil viver de incertezas, ainda estou atrás de trabalhos e empregos, o que vier primeiro ou tudo ao mesmo tempo. Mas tem dias que pagam essa loucura com juros e correção monetária. Hoje foi um deles.

Feliz ano novo!

Calendario 2014 / ReproduçãoComeçou. E já era hora.

Ok, eu sei que muita gente trabalhou na semana passada, eu também. Mas sei também que os dias andaram a passo de cágado, porque com a quantidade de gente que emendou a semana, não dava pra fazer muita coisa mesmo.

Agora não, hoje é diferente. Primeira segunda-feira de 2014. Não é uma maravilha? Não sei na sua cidade, mas aqui no Rio está tudo maravilhoso, aquele sentimento de algo novo que pode melhorar nossa vida, novos planos, novos sonhos, esperança. Ah, e claro que o trânsito já está uma bosta (mesmo sem as escolas funcionando) e o calor continua maltratando. Melhor, impossível, né não? Afinal, com tantas mudanças previstas e esperadas, é importante ter algo familiar ao nosso redor para nos sentirmos seguros.

A essa altura, todo mundo já sabe que 2014 vai ser um ano daqueles, “especial”, com todo o trabalho de um ano normal espremido nos poucos dias úteis de verdade que teremos pela frente. A quantidade de feriados e eventos vai fazer a alegria do povo e o desespero de empresários de quase todos os setores, especialmente comércio e indústria. Vejam só que maravilha.

Janeiro: o ano já começou com um superenforcamento, o réveillon de terça para quarta, com a quinta e a sexta mortas. No Rio, de quebra, ainda teremos o dia do padroeiro da cidade, São Sebastião, que cai numa segunda.

Fevereiro: ninguém é de ferro e o mês mais curto do ano será devidamente empurrado com a barriga, na preparação para a festa de Momo. E mesmo aqueles que não gostam do carnaval, são atingidos pela marcha lenta da turma ao redor (é bom lembrar que no Rio e em Salvador, isso já está acontecendo desde o réveillon).

Março: o mês começa com o carnaval e quase um terço se perde na festa que começa no dia 1º de março e só termina no dia 9, o famoso domingo de cinzas. O resto do mês, provavelmente, será perdido com o socorro e a solidariedade com aqueles que terão dificuldades por conta das chuvas que, como em todos os anos, pegarão todos os governos de surpresa.

Abril: o mês, provavelmente, começará no ritmo de recuperação das chuvas e na preparação para a supersemana santa. Quatro dias de dolce far niente, de 18 a 21. Para os cariocas, um bônus com o dia de São Jorge, 23, e a emenda do dia 22 porque ninguém é de ferro.

Maio: e assim como março, esse mês também começa com um feriado, viva o trabalhador que está dando tão duro nesse ano. E numa quinta-feira, mais um feriadaço. Além disso, a copa começa no mês que vem e temos que nos preparar, cidades-sede ou não. Enfeitar casas, decorar ruas, acompanhar a concentração da seleção e falar mal do Felipão, avaliar os botecos para decidir onde ver os jogos e outras coisas tão importantes quanto.

Junho e julho: todo mundo sabe que de 13 a 13, só se fala de futebol no país dos feriados. Fora a preparação – que começou em maio – e a comemoração pela vitória ou luto pela derrota, vá saber o que vai acontecer. De quebra, ainda tem Corpus Christi (quinta-feira) e todas as festas juninas, viva João, Pedro e Antônio (que em muitos lugares do Nordeste é feriado).

Agosto: o sujeito que criou a expressão “agosto, mês do desgosto” já sabia exatamente como seria 2014 no Brasil. Não há outra explicação para, em um ano tão atribulado, agosto ser o primeiro, efetivamente, dedicado ao trabalho. É sério, nenhum feriado, nenhum grande evento, 21 dias úteis seguidos só intercalados pelos fins de semana. Não há dúvida que depois de um período tão estressante, todos precisaremos de férias.

Setembro: mais um mês sem feriado (o dia da independência, 7, cai num sábado). Meu Deus, desse jeito ficaremos todos estafados. Ainda bem que as eleições estão chegando, as campanhas vão de vento em popa e – pelo menos isso – temos assunto para a cerveja gelada de sábados e domingos.

Outubro: esse será o mês mais importante do ano, depois do carnaval e da copa. Afinal, estaremos decidindo o futuro do Brasil (é preciso acreditar que temos chance de mudar a história, tenham ânimo). Não haverá feriado, o dia 12 cai num domingo. Mas quem precisa de feriado com dois turnos de eleições para presidente e governador? O país estará fervendo e, ao mesmo tempo, em compasso de espera pelos resultados. Ou seja, nenhuma grande decisão será tomada, nenhum grande esforço será feito até o dia 27, quando será publicado o resultado final dos pleitos.

Mas, independente dos resultados, é bom se preparar, se encher de esperança e amor nos corações. Pois o ano já está acabando, Natal e réveillon vêm aí, 13º caindo na conta, compras e mais compras… E você não vai querer perder isso né?

Novembro: é o penúltimo mês do ano, o auge da primavera, o amor está no ar. Mas, em boa parte do país não haverá feriados, o dia 15 cai num sábado. Ou seja, um mês inteirinho para trabalhar duro e justificar a mixaria do final do mês.

Pelo menos no Rio e alguns outros recantos, teremos a parada do dia 20. Uma quinta-feira para celebrarmos a consciência negra e fazermos loas a um dos maiores símbolos da negritude tupiniquim, líder da luta contra a escravidão, apesar de sabermos que tinha lá seus escravos. Viva Zumbi dos Palmares!

Dezembro: Ufa! O ano chegou ao fim. Todos se preparando para as festas, almoços e jantares de confraternização, corrida aos shoppings, fotos com Papai Noel. E pra compensar as semanas enforcadas de 2013, em 2014 teremos mais duas. Natal e réveillon serão comemorados de quarta pra quinta. Afinal, depois de um ano tão cansativo, é preciso alguns dias de descanso para se preparar para o ano novo.

2015E 2015? Bom, aí é outra história. E ainda falta muito para começarmos a fazer contas de festas, feriados e dias muito bem gastos numa rede. Não tenha pressa, aproveite 2014.

Gente, esse bicho sem importância

Ilustração: G1Gosto muito das baleias, encontrar golfinhos na Baía de Guanabara é do cacete, os pingüins (sempre com trema) são um barato. Curiós, canários, cambaxirras e até urubus – só não faço questão dos pombos – chegam a me inspirar. E também me orgulho de morar numa cidade muito arborizada e local da maior floresta urbana do mundo. Mas, infelizmente, gosto mais de gente.

É, esse bicho estranho que faz um monte de cagadas e estraga um monte de coisas. É que curiosamente é esse o mesmo bicho capaz de criar, inventar, produzir etc etc etc. Enfim, todas aquelas coisas boas e ruins derivadas da sua capacidade de raciocinar (sabem aquele papo de animal racional?).

Infelizmente, parece que nem todo mundo pensa assim. É o caso de uma certa  turma verde em demasia, que nem é tão grande, mas capaz de fazer e provocar muito barulho.

Começou a ser colocada em prática no Rio, em agosto de 2013, parte da lei nº 3273, de setembro de 2001. Quase sem atraso, como podem ver. A lei normatiza o sistema de limpeza urbana da cidade e a bagunça da hora é por conta da parte que disciplina a aplicação de multas a quem joga lixo na rua. Sinceramente, gosto da idéia. Se o sujeito não é educado pela família e pela escola, que seja pelo bolso.

Mas descobri, na semana passada, que uma tampa de caneta ou uma guimba de cigarro valem muito mais (cerca de R$ 150) do que o cocô de cachorro (cerca de R$ 98). Curioso não é?

A lógica do negócio é óbvia. Tanto a tampa de caneta quanto a guimba de cigarro demoram muito mais a se decompor. Se caem no bueiro, vão para o mar e aí já viu né. Se ficar na rua, vai que um pombo engole uma coisa dessas… Em todos os casos, funeral na certa. Muitos, infinitos.

Mas e o cocô? Ah, a chuva leva. Ahã… E ninguém lembra que aquilo ali na calçada atrai bichos (especialmente moscas) que tratam de espalhar doenças e sei lá mais o quê; ninguém lembra que um desavisado pode pisar naquilo e sujar ainda mais as calçadas e ainda levar aquilo pra dentro de casa, para o trabalho, um consultório médico, um hospital. Precisa falar sobre o risco potencial do negócio?

É claro que o risco de gente ficar doente e até morrer não é coisa grave. Afinal, tem muito desse bicho por aí e mais um ou menos um nem vai fazer falta mesmo. Muito mais importante e até urgente é cuidar dos bichinhos que, apesar de irracionais, não têm nada de burros. Ou você já viu bandos de pássaros em banquetes de guimbas e tampas de caneta e de garrafas?

Hora de voltar

Cartoon: OrlandeliTrabalhar (ou se manter trabalhando, vá lá) tem tido, nos últimos anos, um certo gosto de aventura. Depois de férias, trancos e alguns barrancos, hora de voltar à labuta. E já que é inevitável, que seja divertido, pois.

E como escreveu o Orlandeli, autor do cartoon, “triste aquele que nunca viveu uma aventura!”

Andre Dahmer / malvados.com.br

Enobrece e dignifica o homem…