Lágrimas de crocodilo

Essas fotos foram tiradas na última visita ao Museu Nacional. 8 de julho, Dia Nacional da Ciência. Levei Helena para encontrar uma amiga da escola. Dia de festa e muitas atividades no museu.

Cheguei em casa comemorando com a Flávia, que o museu estava lindo, as exposições incríveis, o clima era ótimo, que a quantidade de boquinhas abertas e exclamações por todos os lados era incontável.

Mas havia lá, à vista de todos, um monte de coisas erradas, como fios aparentes, por exemplo. E um monte de coisas que não se via. E várias faixas e impressos em protesto contra a falta de investimento.

Daqui a pouco, bem pouco, teremos eleições. Todos os candidatos, TODOS, vão tentar pegar carona na tragédia, não tenham dúvidas. Já começaram, na verdade. E fazer todas as acusações imagináveis, uns contra os outros, claro.

E pra ficar só no óbvio, vale lembrar que o governo FHC foi uma lástima para a educação em geral e as universidades em particular. Vale lembrar que Lula abriu trocentas universidades Brasil afora, mas que não cuidou das que já existiam. Dilma… Bom, Dilma foi a Dilma. E Temer foi o cara que fez o teto dos gastos e bloqueou os investimentos. Aprovado por esse fabuloso congresso que – pelas estimativas – terá 75% de seus integrantes reeleitos. Ou seja, como disse o Ricardo no outro dia, pode até eleger Jesus que não dá jeito.

A situação no estado do Rio é ainda pior. Acreditem.

Não vou tentar convencer vocês a votar em A ou B, não é esse o caso. Até porque, se contar a meia dúzia de 3 ou 4 leitores que passam por aqui, não muda nada. Mas tentem, por favor, fazer um esforço de pesquisa e de consciência na hora de decidir seu voto. Tentem olhar menos para onde seu calo aperta e pensar um tico mais no mundo ao redor, desenvolver um senso de comunidade, identificar o que seria bom para todos.

E filtrem as lágrimas de crocodilo que estão rolando neste momento, porque a verdade é que todos, TODOS, sempre cagaram e andaram pra esses negócios que só servem pra perturbar, educação, história, ciência, memória, essas merdas.

O Maraca

MaracanãJá não lembro mais quantos anos eu tinha, se 8 ou 9, quando fui ao Maracanã pela primeira vez. Meu primeiro jogo foi América e Internacional. Fazendo uma conta simples, comecei minha aventura no maior e mais belo estádio do mundo há mais ou menos 30 anos.

Nele eu vi bola, música e até papai Noel. Vi grandes jogos e imensas peladas de muitos times e da seleção. Vi o Zico voltar, fazer lançamento para Renato de bicicleta e, depois, e se despedir de novo. Vi o Maradona acertar o travessão do meio campo e Bebeto e Romário ensaiarem o que fariam em 94. Estava lá quando a arquibancada caiu.

Nele, pisei do gramado à tribuna de honra, passando pela querida geral. Só não fiz o que esses caras aí da foto fizeram. O vivi com mil e com 120 mil pessoas. Tomei banho de pó de arroz ao lado do meu pai, torci pelo Botafogo com amigos. E com o Flamengo… Quantos sorrisos, quantas comemorações, quantos dramas e lágrimas pelo quase conquistado. E na minha memória, aquele urro que começava baixinho e crescia apoiado no eco do concreto até tomar conta de todo o anel: Meeeennnnngooooo, Meeeennnnngooooo…

No complexo, fiz aula de natação e vôlei, treinei e experimentei a pista de atletismo. Joguei bola no portão 18 quando estudava ali em frente, joguei bola na quadra da escola Arthur Friedenreich.

Amanhã ele será reaberto. E tenho a impressão que muita gente, como eu, terá dificuldade de chamá-lo de Maracanã de coração aberto, de chamá-lo de Maraca com a intimidade típica de quem era da casa. E ontem dei de cara com o texto abaixo, no blog do Arthur Muhlemberg.

Ai de ti, Maracanã

1. Ai de ti, Maracanã, que deste tuas costas ao clamor de tuas arquibancadas e soterraste tua geral humilde em busca das glórias vãs; céus e terra te negarão o sono, e 200 mil vozes hão de assombrar-te pelas noites.

2. Ai de tuas poltronas acolchoadas, ai de teus camarotes de luxúria, ai de tua soberba para poucos, porque para muitos te quis e para muitos foste erguido. Porque nem tua cobertura há de te esconder os teus inúmeros pecados quando minha ira se lançar contra ti.

3. Acaso não te lembraste do silêncio que te dei quando nasceste? Que te fiz carioca, mas te inaugurei paulista, para que soubessem que não és lar de ninguém? Acaso não te conduzi até a final do Mundial, para que fosses profanado pela Celeste estrangeira e calasses tua ambição desmedida? Não te testei timaços e timinhos pela régua das vitórias?

4. Não te consignei eu aos clássicos, porque eras neutro e palco perfeito, um lugar a ser conquistado no grito e no campo pelas quatro forças que ao teu redor orbitam, e pelos ídolos que desfilaram tantas cores? Pois hoje vejo que te prostituis a consórcios que não te conhecem, e não mais serás informado pela Suderj em teus vindouros telões de LED.

5. Enorme era teu campo, e encolheu-se; ampla era tua capacidade, e apequenou-se; agrandaste teu estacionamento e será imensa tua final, mas não como sonhavas quando aprenderam a te amar. Ai de ti, Maracanã, pois culparás os cabrais que não te deram dimensão exata nem te fizeram olímpico e pagarás com teu orçamento estraçalhado, teu parque aquático em deserto e tua pista soterrada.

6. E aqueles que te cantaram hinos aos domingos, ao se sentarem em tuas cadeiras numeradas, não te reconhecerão; e a nova torcida que terás tampouco tu hás de reconhecer. E eu hei de emudecer teu eco catedral à sombra de tua intrepável lona cobertora, para que sejas silencioso e ordeiro como um shopping de aeroporto.

7. E a própria bola te há de boicotar, e sobre teu tapete sentirás as dores de parto de inúmeras peladas que negarão a honra do teu nome. Pois serás Maracarena, serás Maraca-Não, serás rebatizado e deserdado em tuas tradições: os gentios rasgarão tua rede véu-de-noiva e vendê-la-ão aos pobres.

8. Ai daqueles que combinarem de se encontrar no Bellini, pois se perderão, com suas camisetas piratas e seus ingressos falsos repassados por cambistas torpes a custo de quatro dígitos, indo parar na Uerj. Nem assim teu banheiro será mais limpo do que foi nos dias de tua glória.

9. Selarei teu portão 18, e não mais se concederá tua imensa cortesia aos múltiplos conchavos, quando traficavas influência em teus corredores e escadas rolantes. Perpétua será tua dor, cativa será tua vergonha.

10. Desfraldai vossas bandeiras, uniformizados, porque só assim recordareis o espetáculo que fazíeis: tuas faixas darão lugar aos camarotes da luxúria, e teus cânticos não serão ouvidos no isolamento perfeito dos proseccos, mojitos e DJs, numa publicitária orgia no templo que virou programa.

11. E tu, Maracanã, com teus ouvidos de concreto lamentarás aqueles palavrões que sentados não bradamos, mesmo com o grito molhado na cevada, e gemerás em cada viga, em cada solda, em cada rejunte, no chapisco de teus muros, nos parafusos dos mais buchas, em cada cu que assentares (78 mil lugares?), na tua escassez de gigantismo a flagelar-te com a memória de quando eras mais nosso porque cabiam mais de nós.

Márvio dos Anjos

(d’apres Rubem Braga)

E daí?

Bombeiros retiram corpos de vítimas da chuva em Petrópolis / Foto: Gabriel de Paiva/Agência O GloboEm abril de 2010, só no Morro do Bumba, em Niterói, foram 267 mortes. Em janeiro de 2011, na região serrana do Rio, mais de 900 pessoas perderam a vida. De ontem pra hoje, foram 13 (e três desaparecidos) em Petrópolis.

Só 13? E daí?

Daí que não surpreende. Daí que é bom dar graças a Deus por terem sido só 13 vítimas (até agora). Daí que, três anos depois, ainda tem gente do Bumba dependendo da esmola do estado e encostada por aí. Daí que ninguém foi punido pelo desvio de verbas e doações na tragédia da serra. Daí que quase todo o dinheiro enviado para a reconstrução e investimentos em segurança nas cidades afetadas sumiu e quase nada foi feito.

Só 13 mortes. E daí?

Daí que todo ano chove muito no verão. Daí que todo ano um monte de encostas vem abaixo. Daí que a ocupação desordenada, ilegal mas permitida, não para de aumentar. Daí que todo ano vai morrer um monte de gente. Daí que todo mundo está cansado de saber disso. Daí que nunca, nenhum responsável foi obrigado a pagar indenizações a cada vítima e puxar uns anos de cana.

Mas ontem foram só 13 mortes. E daí?

Crônica de uma tragédia anunciada

Há muito tempo não falo de futebol por aqui. Nem Fórmula 1, duas de minhas paixões. Mas hoje não tem jeito, dado o que aconteceu ontem na Bolívia.

Se você é um ET e não sabe de nada, um torcedor do Corinthians disparou um sinalizador de navio (!) que atingiu e matou um garoto de 14 anos.

Galeria da tragédia de Oruro / Montagem: Globo.comEntre tantos discursos muito bonitos, inflamados, dramáticos etc. que surgem em momentos como esse, o mais comum é esperar e até pedir a eliminação do clube da competição, jogar com portas fechadas e coisas do gênero.

Há 12 corinthianos presos em Oruro por conta do ocorrido. Deles, alguns nem estavam por perto quando a polícia agiu, mas ficaram para – em grupo – se defenderem e se protegerem. Reza a lenda que o sujeito responsável (?) pelo disparo não está entre os 12. Pode ser verdade, e nesse caso a Polícia Federal tem que entrar no circuito. Mas pode, também, ser apenas jogo de cena para que os detidos sejam soltos no clima “o culpado já foi embora mesmo”.

É claro que há que se investigar. E o sujeito tem que pagar pela cagada. Homicídio. Culposo que seja, partindo da premissa que não teve a intenção de acertar ninguém, que apenas operou mal o dispositivo. Mas ele tem que ser preso e julgado. Na Bolívia, claro.

O grande problema é que é uma tragédia anunciada. Porque entre tantos e tantos problemas que já aconteceram nos estádios brasileiros e de toda a América do Sul, nada foi realmente feito para dar solução. A questão não é proibir faixas, camisas e bandeiras de torcidas organizadas, mas implantar sistemas de vigilância que permitam a identificação dos marginais e bani-los dos estádios. Mas ninguém tem coragem de fazer isso.

Sobre o futebol, propriamente dito, e a possibilidade de punição ao clube, o texto abaixo diz tudo.

Me engana que eu gosto

Torcida La Temible, do San Jose / Foto: Diego RibeiroVocê ai, sentado em seu PC, está realmente pensando em justiça ou querendo que o Corinthians se foda? Vamos falar a real, sem viadagem. Não tenho censura de editor, posso falar com você as vezes nesse tom. Somos íntimos, nos vemos todos os dias por aqui, podemos ser honestos um com o outro.

Teu problema é o Corinthians, o corintiano ou a “justiça”?  Se fosse do seu clube, um incidente, como tudo indica ter sido, você acharia justo seu time ser punido por um erro isolado?

Vamos separar as coisas de forma clara.

Quando se pune um clube de futebol por sua torcida é na tentativa de evitar que camuflados no meio de tantos eles façam algo coletivamente sem controle. Quandos se identifica o torcedor que atirou um copinho no campo o clube não é punido, mas sim o torcedor. Porque? Porque acharam o culpado e portanto não precisam mais fazer “terrorismo” para impedir que outros façam igual.

Uma situação é “justiça”, a outra é pra causar medinho. Clube de futebol não tem que ser punido por ação nenhuma de torcedor nenhum. Existe uma lei e ela precisa ser seguida. Ela diz que o cidadão que comete um crime responde por ele. Ponto. Se ele torce pro Vasco, pro Osasco ou pro Manchester é problema dele.

Se um sujeito nervoso porque brigou em casa quebra tudo na rua e machuca alguém, a mulher dele vai presa por tê-lo irritado? Não. Então, o clube não tem que pagar por atos de violência isolados, ainda mais fora de seu estádio, onde sequer a segurança é de sua responsabilidade.

Até onde sabemos, foi um incidente. O rapaz não teve intenção de machucar ninguém e errou o disparo do sinalizador.  Permitida a entrada de fogos no estádio, ele errou, vai responder, e deve responder. Mas entre cometer um erro fatal e ser criminoso existe uma diferença.

Na praia, no ano novo, se seu pai errar o rojão e acertar alguém ele é responsável, não um criminoso. E o rapaz que fez isso ontem, pelo que todos relataram, é responsável, não um marginal afim de machucar alguém.

Sendo preso, como foi, não tem nada que o clube ser punido. Se querem justiça, vamos questionar porque tinha 20 mil fogos dentro do estádio? Vamos falar sobre segurança, sobre polícia, revista, regras do que pode ou não entrar no estádio. Mas não vamos falar em assassinato, Libertadores, Corinthians.

Que importa o time do sujeito? Que diferença faz se ele é corintiano ou se vendia pipocas? Ele errou, vai responder, foi identificado, ponto.  Levar isso até o clube e tentar atrelar uma coisa a outra me parece mais uma forma de torcer pro rival ser eliminado de um torneio do que por justiça.

Injustiça seria um erro, ou mesmo se fosse um crime brutal, individual condenar 30 milhões de pessoas a pagar por ele.

Justiça? É isso mesmo que estamos discutindo? Ou é clubismo barato em busca de foder o rival?

A pessoa foi detida. O estádio é fora do Brasil, ao que tudo indica não foi um ato de vandalismo, mas sim um incidente.

Cadê a justiça em tirar um clube de futebol de um torneio por isso?

Sejamos honestos, e menos burros.

Amanhã, meu caro, se o Joãozinho atirar um copinho e acertar a testa do jogador adversário, quem não vai mais ao jogo ver seu time é você. Porque ao invés de pedir justiça, estamos cobrando atitudes de grande impacto.

São coisas diferentes.

Que se faça justiça com o responsável pela morte do garoto. Seja ele corintiano, judeu, negro, nordestino ou alemão.

Mas justiça é quando o responsável é identificado e responde pelo que fez. Não quando na falta de um culpado resolvem culpar todos que estavam em volta.

Isso é covardia, não justiça.

abs,

Rica Perrone

Da séria série…

… Pensamentos soltos e quase sem sentido.

Muitos dias de muito trabalho, entremeados com alguns dias de parte da família de cama. E quem é habitué do cafofo – se é que eles existem – notou que o negócio andou meio abandonado por aqui.

O curioso desses dias muito corridos e um tanto atribulados é que, ao nos tirar de nossas rotinas, nos permitem pensar em coisas – muitas vezes – pouco usuais. E acabei lembrando do fim do mundo.

E sempre que lembramos dele, o mais comum é imaginarmos um grande holocausto. E é claro que a imagem dos cavaleiros do apocalipse combinada com todos os fins do mundo produzidos em Holywood – quase sempre em Nova Iorque – ajudam nisso.

E lembrei dos maias e de que falta pouco mais de um ano para a suposta data fatídica apontada por eles, 22 de dezembro. E lembrei que já há uma pá de gente que insiste em dizer que, ao contrário do fim do mundo – pura e simplesmente -, teremos o fim e, claro, início de uma nova era. Algo como o fim do mundo como nós o conhecemos.

Aí, pensando na grande merda em que está prestes em se transformar a Europa e a cagalhopança em que está metido os EUA e a seqüência de tragédias que tem atingido a Ásia – especialmente o Japão, seu país mais desenvolvido -, comecei a me perguntar: será que o ‘fim do mundo’ não está mesmo próximo e sua preparação já não está a pleno vapor?

Um exemplo

Hoje foi realizada uma audiência pública na assembléia legislativa do Rio de Janeiro para falar sobre os bondes de Santa Teresa. Não, a reunião não foi marcada por conta do acidente que matou seis pessoas e feriu mais de 50 há algumas semanas. Estava marcada há cerca de dois meses, por conta da morte de um turista francês.

Sabem que não apareceu, alegando compromisso em Brasília? Julio Lopes, aquele secretário de transportes que tentou culpar o motorneiro (morto) pela última tragédia.

Não é um exemplo de homem público?

Homicídio doloso

A verdade é que é a frota dos bondinhos é uma frota sucateada. Ela é uma frota onde foram reformados alguns bondes e outros não. A verdade também é que não há controle de passageiros. (…). Me parece que era um problema de gerência. De gerência desse tipo de controle

Tai a declaração de Sérgio Cabral sobre os bondes de Santa Teresa. As palavras do sujeito estão publicadas no G1, do jeitinho que coloquei aí. Basicamente, nosso digníssimo governador admite que o estado que comanda cagou e andou para um equipamento de transporte público, que atende a população do bairro e um enorme número de turistas diariamente.

Vou tentar tentar traduzir o muito claro em óbvio ululante: o dono da bola, o cara que manda no estado (e no serviço) sabia que tudo estava péssimo e resolveu deixar ao ‘Deus dará’.

Advogados e juristas em geral que, por ventura, passem por aqui podem tirar nossa dúvida: não é essa uma confissão de homicídio doloso? Para um leigo, como eu, sim. O que fará agora o ministério público?

E o que acontecerá com o fabuloso secretário de transportes, Júlio Lopes, um humanista sem igual e que sempre assume todas as suas responsabilidades, como se viu pela tentativa de jogar a culpa no motorneiro do bonde acidentado, um dos que morreu no acidente?

Rotina

Um tanto absurdo o acidente que aconteceu com o bonde em Santa Teresa. Mas reparem nos detalhes e vejam se, na verdade, não é apenas mais uma tragédia de rotina que após a comoção natural cairá no esquecimento.

– a associação de moradores já reclamava do estado dos bondes há tempos, dizendo inclusive que mortes aconteceriam (a presidente é engenheira);

– havia uma sentença de não sei quantos anos atrás obrigando o estado à manutenção/reforma/modernização dos bondes sob pena de multa diária em caso de não cumprimento;

– o repasse de verba para a manutenção dos bondes foi suspenso há dois ou três anos e empresa responsável, secretaria de governo, agência reguladora e tribunal de contas do estado tentam jogar as respectivas responsabilidades no colo do outro;

– como pouco mais da metade dos bondes existentes têm condições de circular, a superlotação é praxe;

– a secretaria de transportes tenta responsabilizar o motorneiro (que morreu e não pode se defender);

– o governador está viajando e não se manifestou sobre o assunto;

– os moradores de Santa Teresa e usuários dos bondes já estão agendando protestos para a próxima quinta-feira, após o acidente. Mas não pararam de usar o serviço antes da tragédia…

Existem algumas coisas sobre os bondes que nunca entendi. Por quê, por exemplo, nunca foram substituídos por modelos fechados, como os utilizados em várias cidades européias? Pois, além de uma frota nova, moderna e com todas as garantias, a superlotação seria evitada. Outro detalhe é o gradil que deveria proteger a passagem sobre os arcos da Lapa. Por que não foi substituído por placas transparentes como as utilizadas em estádios? Na verdade, não importa.

Porque daqui a pouco acontece uma nova confusão, outra tragédia anunciada ou algo assim. E ninguém vai lembrar mais dos bondes. Até a próxima morte.

O fim está próximo

Ufa, não é dessa vez que o mundo como o conhecemos acabará. Pelo menos, era o que prometiam os profetas do apocalipse caso os Estados Unidos fossem obrigados a dar o calote. O anúncio do acordo entre democratas e republicanos foi feito ontem à noite por Obama.

Pânico e exageros à parte, é certo que se o tal calote acontecesse, seria desencadeada uma baita duma crise. Nada mais que isso. Mas ando desconfiado que a tal previsão dos maias não está tão errada assim e estamos cada vez mais próximos do dia do juízo.

Enquanto um novo terremoto atingiu o Japão, um tufão passou pela Rússia e a Grécia – berço da civilização ocidental – está prestes a levar toda a Europa (e boa parte da economia mundial junto) pro buraco. É tragédia de todos os tipos, naturais ou não.

De quebra, a neta de Lula conseguiu incentivos fiscais (dinheiro seu, meu, nosso, como diz o Ancelmo) de até 300 mil, pela Lei Rouanet, para montar uma peça de teatro. Provem-me que o fim não está próximo…

Violência característica

Não gostaria de usar a tragédia de hoje, em Realengo, como pretexto para qualquer coisa. Mas é impressionante como, às vezes, é inevitável.

Entre todas as cenas do pós-tiroteio, entrevistas coletivas de nosso governador e prefeito nitidamente compungidos, o ministro da educação idem e nossa presidenta chegou a chorar em um evento em que devia fazer um discurso. Na verdade, de muito bom tom, todo o cerimonial foi cancelado e substituído por um pronunciamento breve de nossa mandatária, encerrado com um minuto de silêncio. Parabéns.

Mas sabe aquela história de que “se não tem o que falar o melhor é ficar calado”? Dilma bobeou e disse o crime de hoje “não é característica do país”. Certamente, se referiu às várias edições de tiroteios escolares que aconteceram nos EUA nas últimas décadas. E ela tem razão. Porque a violência característica do Brasil pode ser traduzida por alguns números e pela falta de atuação de todas as instâncias de governo para dar fim ao problema.

Apenas como exemplo: 46 mil pessoas são vítimas de homicídio todo ano do Brasil, média de 126 por dia. Em um triste ranking mundial, estamos na sexta posição entre 91 países, com 25 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Que tal? Mais: nos últimos cinco anos, temos uma média de 160 mortes diárias no trânsito. Números muito, muito piores do que qualquer guerra.

Então, presidenta, governadores, prefeitos, ministros e secretários de segurança, o que vamos fazer para mudar a nossa característica?

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Sobre o que aconteceu, propriamente dito, tenho a impressão de que o sujeito – louco, sem dúvidas – decidiu se matar e resolveu chamar atenção. É impossível não ligar o caso, não vê-lo como uma imitação das trocentas chacinas escolares estadunidenses que sempre viram notícia e chocam o mundo. Pois ele conseguiu, o Brasil está parado e a notícia correu o mundo.

Mesmo o fato de trechos divulgados da tal carta de despedida do assassino fazer alusões à pureza e à castidade, dando um certo ar religioso ao fato, não me convence. E alguém lembrará que entre mortos e feridos, são 20 meninas e quatro meninos. Uma disfunção, um trauma, uma questão religiosa ou só uma cena construída? Sei lá, não sou ninguém, não fiz qualquer estudo sobre o tema, mas acredito na última hipótese.

Se, por acaso, estiver certo, provavelmente não teremos mais casos como o de hoje. Pelo menos, não em breve. A não ser que algum outro maluco resolva se inspirar pela cobertura massacrante que enfrentaremos nos próximos dias em todos os meios de comunicação.