Se o sapo tivesse embreagem…

Como fiquei muito tempo sem publicar nada por aqui, escrevi sobre Brasil e Bélgica e deu no que deu, me senti na obrigação de voltar.

Sou um torcedor tão engraçado e cheio de manias como qualquer outro. Pachecão, sofri um bom bocado na sexta-feira, com muitas e muitas reações – como posso dizer? – superlativas. E moça Flávia chegou a dizer mais de uma vez, durante e ao fim, que estava com medo de mim. De qualquer maneira, rimos um tantinho ao fim de tudo.

Passei o fim de semana sem ler os colunistas ou ouvir os comentaristas. Não sei o quê ou quanto falaram, mas tentei evitar a busca pelo Cristo da vez, todos aqueles “eu falei, não falei?” ou teses filosofo-sociológicas sobre o fim da escola brasileira ou sul-americana ou ambas. Tudo chato e oportunista bagarai.

Primeiro, a Bélgica. Não retiro uma palavra do que disse no texto de sexta. Os belgicanos não são nada demais, Lukaku não ganharia posição de Kita (taí o Miranda pra confirmar, que não perdeu nenhuma jogada no homem a homem) e Hazard não passa de um Bobô ligeirinho. Sim, meus caros, frente à história, perdemos para alguém que tem o peso de um Bonsucesso, quiçá um Serrano.

Mas aquele texto era menos sobre a Bélgica do que sobre o meu jeito torto de torcer e sentir as coisas do futebol. De sempre achar que vai dar tudo errado, o tal cheiro de merda no ar. E justo nos dias que acho que tudo vai bem, a bagaça sai dos trilhos. Como vêem, minha vocação pra mãe Dinah é nula.

Também é fato que times pequenos, às vezes, montam bons times. E também é verdade que o número de zebras na história é tão grande que é a sua possibilidade que dá graça ao futebol. E sim, a Bélgica ganhar do Brasil é zebra, gente. A ponto de ter certeza que se os times que se enfrentaram na sexta – mesmo com os erros de escalação – jogarem um contra o outro mais dez vezes, ganhamos sete, empatamos duas e só perdemos mais uma.

E é agora que voltamos a falar do sapo.

…não pulava tanto
Não, meus biólogos de estimação e congêneres, sei que a assertiva não é real. Que os sapos seguiriam pulando mesmo com embreagem. Vamos nos concentrar no “se”, pois.

Se o Tite tivesse convocado certo (apesar de mais de 90% de aprovação à sua lista quando anunciada), se o Neymar tivesse brilhado como o esperado, se o Philippe Coutinho tivesse jogado como nas partidas anteriores, se o Marcelo não deixasse uma avenida às suas costas, se a bola que bateu na trave tivesse entrado… Se quisermos, podemos encontrar um monte quase infinito de mais “ses”, mas precisa?

A boa seleção brasileira perdeu uma partida para outro time médio-bom. Deu azar quando saiu atrás no placar e se arvorou a partir pra cima, deixando aberto o contra-ataque. Levou mais um e poderia ter sido mais. Depois que se reorganizou, encurralou a Bélgica e teve trocentas chances de gol. Não teria sido estranho se fizéssemos com eles o que eles fizeram com o Japão. Pelo contrário. E aos 650 minutos do segundo tempo, ainda houve a bola caprichosa de Neymar, que o goleiro de 8 metros de altura se esticou para tirar do ângulo a que estava endereçada.

Gente, perder acontece. E a leitura dessa partida é muito simples, óbvia.

O Tite deveria ter convocado melhor? Sim, claro. Por exemplo, não havia armadores de verdade entre os 23, e Taison e Fred (nem chego a Cássio, pra não me aborrecer) foram a passeio. Tite poderia ter escalado melhor? Sim, claro. Tite poderia ter mexido no time de forma diferente, quando fez as substituições? Sim, claro. Tite poderia ter mantido o time e a forma de jogar que terminou as eliminatórias voando? Claro. Mas isso é voltar ao “se”.

Futuro
Há, no Brasil, técnico melhor que o Tite? Não. Podemos ter um “novo Telê”, com duas copas seguidas perdidas? Sim, pode acontecer. Mas acho que ele deve ser mantido, acredito que temos uma bela geração para as próximas duas copas (além dos que ainda não apareceram) e que, no Catar como sempre, chegaremos como favoritos.

Quem ganha a copa?
Sei lá, ué. Vou torcer pra Croácia, mas acho difícil passar pelo time de moleques da Inglaterra depois de duas prorrogações seguidas. Entre França e Bélgica? Se equivalem, dois times rápidos com meia dúzia de dois ou três mais habilidosos. E se não der pra Croácia, passo a torcida para a Bélgica, porque seria legal ver um time novo campeão.

Europa X América do Sul
Já encontrei matéria no El País falando sobre a derrocada do futebol sul-americano, porque (2018 incluída) já são quatro copas com campeões europeus, que não há mais aquele equilíbrio, etc.

Preciso contar um segredo pra essa turma: nunca ouve equilíbrio continental. A América do Sul tem nove conquistas porque nós, Brasil, ganhamos cinco! Para registro, é bom lembrar que o Uruguai ganhou duas em milnovecentosevovôzigoto: 1930 contra a Argentina e 1950 contra o Brasil, duas copas na América do Sul contra adversários sul-americanos. A Argentina ganhou em 78 (em casa, com Quiroga e os generais) e em 86 (com Maradona, mas bem roubadinha e sabe-se lá quanto doping).

Ou seja, só o Brasil (desde o terceiro lugar em 1938) figura com regularidade entre os finalistas. E – é bom repetir – ganhamos cinco!!!

E como além dos três, ninguém na América do Sul faz nem cócegas, a tese é furada. Além disso, a copa na Rússia é na Europa. Então, é natural que os times que jogam “em casa” levem vantagem. Para registro, vejam a relação de forças nos cinco últimos mundiais disputados por lá (deu preguiça de conferir as outras): Alemanha 1974: 3 europeus + Brasil; Espanha 1982: 4 europeus; Itália 1990: 3 europeus + Argentina; França 1998: 3 europeus + Brasil; Alemanha 2006: 4 europeus.

Agora, apenas como curiosidade, vejam a relação de forças quando a Copa foi disputada na América (relativizando modelo de disputa e o pós-guerra): Uruguai 1930: 2 sulamericanos + EUA + Iugoslávia; Brasil 1950: 2 sul-americanos + 2 europeus; Chile 1962: 2 sul-americanos + 2 europeus; México 1970: 2 sul-americanos + 2 europeus; Argentina 1978: 2 sul-americanos + 2 europeus; México 1986: Argentina + 3 europeus; EUA 1994: Brasil + 3 europeus; Brasil 2014: 2 sul-americanos + 2 europeus.

Catar 2022 tá logo aí, rumo ao équiça!

Não digam que não avisei

Mineirão / Foto: Alex Grimm - FIFA/FIFA via Getty ImagesÉ, estou ansioso. O que explica, pelo menos em parte, estar acordado e escrevendo às duas e meia da madruga.

Estou acordado porque estamos aqui arrumando a casa, preparando as coisas. Isabel completa dois anos hoje e a família vem pra cá. Jogo, almoço e velinhas. Tudo ao mesmo tempo.

A ansiedade é por conta do jogo.

Tirando Itália e Alemanha, que me desculpem os céticos, hipócritas , politicamente corretos e/ou cautelosos. O Brasil é favorito contra qualquer outra seleção do mundo. E isso inclui o Uruguai (que depois de 50 só ganhou o mundialito de 81 e mais nada) e a Argentina com sua copa roubada em 78 e Maradona e a mano de Dios.

Por incrível que pareça esse é o problema. E há um certo clima de vitória certa sobre o Chile, afinal sempre que nos encontramos passamos por eles. E desde quando história ganha jogo? Aí fica o seu Galvão Bueno, o maior secador do esporte mundial, gritando que “se tem crise, chama o Chile”. Como assim?

Mas não é só ele. Em trocentas mesas redondas de todos os canais de esporte tupiniquins, neguinho, branquinho e azulzinho continuam comparando e analisando Brasil e Argentina como se os dois já estivessem na Final.

Podem elogiar à vontade, até eu já fiz isso. Mas o time do Chile é um timinho comum, com alguma correria e meia dúzia de dois ou três jogadores pouco mais que medianos. E não me venham com a história que não tem mais bobo no futebol, porque estamos todos aqui.

Sim, quem me conhece, ao vivo ou só por aqui, sabe que tenho um quê de profeta do apocalipse, mas a verdade é que estou com um medo danado desse jogo. Se em 2006 e 2010 foi um vexame cair nas quartas e terminar em quinto lugar, imagine se – jogando em casa – sairmos nas oitavas.

E mesmo que tudo dê certo hoje no Mineirão, esse medo que me pelo continuará ali, pronto pra dizer “eu não falei?”, até que encontremos um time grande de verdade pela frente. E isso só é possível na semifinal e só contra a Alemanha, pois a Itália já está em Roma, Milão, Turim e por aí vai.

Não, não tenho medo do Chile. Tenho medo desse jogo de amanhã, especificamente. Como terei – imaginem – se chegarmos na final para encarar a Holanda que jogou três finais e perdeu todas. O mesmo com o time de Messi, freguês de carteirinha. Numa copa em que a Costa Rica despachou dois campeões mundiais, a Argélia se classificou e a Suíça goleou, dá pra negar que os deuses da bola resolveram fazer graça? E esses possíveis cenários não são ideais pra eles aprontarem?

É, só resta torcer pra que tudo dê certo. Se não, depois, não digam que não avisei…

Bolão

BolãoComeçou a Copa. Grupos definidos, peladas marcadas, assassínios previstos com jogos às 13h pelo Norte e Nordeste e, como é mais que tradição, palpites começando a ser feitos.

Sem placares nem nada, marcando apenas quem seriam os primeiros e segundos de cada grupo, e sem esquecer algumas zebras, também arrisquei meus cruzamentos. E aí, deu o seguinte.

1ª fase
Grupo A: Brasil e Camarões
Grupo B: Espanha e Chile
Grupo C: Costa do Marfim e Grécia
Grupo D: Itália e Uruguai
Grupo E: Equador e Suíça
Grupo F: Argentina e Nigéria
Grupo G: Portugal e Alemanha
Grupo H: Bélgica e Coréia do Sul

Oitavas
Brasil X Chile
Costa do Marfim X Uruguai
Equador X Nigéria
Portugal X Coréia do Sul
Espanha X Camarões
Itália X Grécia
Argentina X Suíça
Bélgica X Alemanha

Quartas
Brasil X Uruguai
Nigéria X Portugal
Espanha X Itália
Argentina X Alemanha

Semi-finais
Brasil X Nigéria
Itália X Alemanha

Daí, quem será campeão? Sei lá. Hoje, a Alemanha é minha favorita. Mas se todos esses resultados acontecessem, como cada time chegaria à final? Além disso, como a Alemanha sentiria o Maracanã em dia de final? E o Brasil? Enfim, só uma brincadeira, só a primeira.

E aí, quer brincar? Deixa aí os seus palpites.

Ocre Marajó*

Eu tinha oito anos de idade e morávamos na Souza Franco, em Vila Isabel. Um apartamento quarto-e-sala, em que a sala de tamanho mais que razoável era dividida do chão ao teto por uma persiana de metal. De um lado, sala; do outro, o quarto das crianças, eu e minha irmã. Nossa vitrola era um lindo móvel de madeira com espaço para guardar os dicos. Era comum passar férias em Guarapari e, na volta, meu pai lavava o fusquinha 73 Ocre Marajó com o Chico, no posto em frente, geral com óleo de mamona por causa da maresia.

Meu pai e eu jogávamos botão numa mesa Estrelão, com bolinha de Bombril. Raul era meu goleiro e Zico, claro, meu camisa 10. E nessa época ele ganhava todas. E torcíamos para o Brasil. E nos encantávamos com o Brasil. Era a copa do Naranjito, do Pacheco, do “bota o ponta Telê” e do “voa, canarinho, voa”. E a cada gol do Brasil, meu pai vibrava em pé, em cima da cama.

Era a copa do Zico, Sócrates, Falcão, Leandro, Júnior, Éder. Era pra ter sido a copa do Reinaldo, mas destruíram o joelho dele. Era a Copa de Platini, Tigana e Six; Schumacher, Rummenigge, Breitner e Littbarski; Dasayev e Bezsonov; Lato e Bonieck; Pfaff e Van Der Elst; a copa de estréia de Maradona. E foi a copa de Paolo Rossi.

Antognoni, Gentile, Graziani, Scirea, Tardelli, Cabrini, Altobelli, Conti, Zoff. Nenhum destes interessa, porque – pelo menos pra mim – aquela foi a copa de Paolo Rossi.

No dia 5 de julho de 1982 aconteceu a tragédia do Sarriá. Um dia em que um time capaz de fazer sonhar perdeu para um time muito bom. Um dia que é apontado por muita gente como o início da discussão ‘futebol arte X futebol de resultados’. Uma injustiça com times excelentes que foram às finais daquela copa, inclusive a Itália.

Ainda recito a escalação do ‘meu’ Brasil. Waldyr Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Junior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho (e o Roberto no banco…!) e Éder. Sim, o ‘meu’ Brasil. Foi com esse time que aprendi a torcer pela seleção, que aprendi a aproveitar cada jogo de cada Copa do Mundo, foi com esse time que aprendi que o melhor não ganha sempre e que essa é apenas uma das graças da coisa.

Faz 28 anos. Já não moro em Vila Isabel mas estou sempre por perto. E cada vez que desço a Souza Franco em direção à Teodoro da Silva, me lembro do fusquinha, do álbum duplo de Simon & Garfunkel no Central Park, da minha Monark, da bolinha de Bombril, do Sítio do Pica Pau Amarelo, do Maverick azul e do Puma conversível e vermelho que ocupavam vagas na garagem do prédio (o Veca está lá até hoje). E lembro do meu pai falando de um jogador italiano desesperado e com as mãos na cabeça quando empatamos em 2 a 2. E lembro daquele time e como, apesar daquela derrota tão doída, como ele é capaz – até hoje – de me ajudar a lembrar de tanta coisa boa.

*Post publicado, originalmente, no dia 5 de julho de 2010.

De volta pra sala de aula

Teve gente que reparou que não escrevi nenhuma linha sobre a Copa América que, para o Brasil, acabou ontem. Por duas razões: porque é um torneio que não me empolga mesmo e porque não via a seleção brasileira bem. Com (mais) uma baita renovação no elenco, é claro que o time ainda está em formação, é claro que vai tropeçar, é claro que vai oscilar. Ironia do destino, o time de camisa amarela caiu justamente quando fez sua melhor partida e perdeu trezentos gols sem levar qualquer susto em 120 minutos.

Perder quatro pênaltis é ridículo, patético? Com certeza, e não há buraco do campo que possa ser culpado por um desempenho como esse.

Sobre nosso time, é preciso dizer algumas coisas. Mano fez cagada ontem? Claro, mexeu errado durante o jogo e escalou os cobradores. E o que mais? Não gosto dele, acho fraco, mas diga aí um técnico para colocar em seu lugar. Muricy? Deus nos livre. Mano, ao menos, tenta armar o time pra frente.

E os convocados? Já tem gente querendo queimar os garotos que até a semana passada eram os maiores craques de todos os tempos. Mas diga aí se sua lista de convocados seria muito diferente da que foi à Argentina. Talvez, três ou quatro? Pois é. Não temos nada melhor não.

Mano precisa entender que para jogar com três atacantes, é preciso que dois meias de verdade estejam em campo para distribuir jogo, dividir marcação e fazer triangulações. Ou dois volantes, cães de guarda com pedigree, para liberar os laterais e fazer as triangulações (olha elas de novo).

E é preciso parar de mimar esses garotos que mal saíram da adolescência e já se acreditam a última cereja do bolo. Porque não são. Talvez, se entenderem que não podem tudo, que não são os donos do mundo, que é preciso ralar pra conseguir as coisas, que é preciso ter personalidade e assumir as responsabilidades, cheguem lá um dia.

Abaixo, trecho do post Tia Bola e as lições da Copa América. Leitura obrigatória.

– Meninos, meninos, que tristeza é essa? Não se pode ganhar todas, seus papais técnicos não ensinaram isso a vocês? Vamos para a nossa atividade de hoje. Quero que cada um levante e conte pra tia Bola o que vocês aprenderam com a Copa América.

Pequenas observações sobre quase tudo ou quase nada

Globalização

Com toda a deferência à liberdade poética, com todo o respeito ao Arlindo Cruz. Mas acredito que para tudo há limites. Sou o único que acha uma vergonha (e, de certa forma, até um desserviço) o verso “o povo escolheu a Globo, isso é globalização” da vinheta da emissora, que já vem sendo atualizada há alguns anos?

 

Duelo

A Lotus Renault resolveu promover um duelo entre Bruno Senna e Nick Heidfeld pela vaga de Kubica. Cada um vai andar um dia inteiro nos testes de pré-temporada em Jerez, nesta semana. Por toda sua experiência e blá blá blá, o alemão é franco favorito. Mas os grandes pilotos aparecem em momentos difíceis. Será que Bruno é um grande piloto?

 

R$ 50 bilhões

Esse será o valor do corte no orçamento da união para 2011. Serão canceladas desonerações criadas para combater a crise que estourou em 2008, durante os anos de 2009 e 2010. A promessa é não cortar nada dos programas sociais e dos investimentos públicos. Só que não vi, em lugar nenhum, alguém assumir que vai haver cortes no custeio do governo. Curioso né?

 

Tragédia e amnésia

Faz pouco mais de um mês que o mundo desabou na região serrana do Rio. Passada a comoção, e como previsto, ninguém mais fala sobre o assunto. Podemos entender, então, que ninguém mais precisa de ajuda, as cidades já estão reconstruídas e prontas pra outra? Ou será que vai acontecer o mesmo que em Niterói, em que quase um ano depois do desabamento do morro do Bumba, ainda há trocentas famílias vivendo em abrigos em condições pífias?

 

Uniforme

Queria entender como é que a CBF, vira e mexe, autoriza seus fornecedores a destruir a camisa da seleção brasileira. Mesmo que não seja declarada ou reconhecida oficialmente, a camisa amarela (e a azul também) é patrimônio cultural.Se não bastassem outras invencionices anteriores (não só da Nike, é bom que se diga), que culminaram na horrorosa camisa azul com bolinhas amarelas da última copa, agora apareceu uma tarja sem qualquer sentido na altura do peito. Em contraste, vocês repararam na camisa usada pela França no amistoso de Paris?

A volta dos cabeças de área

Foi preciso um dia inteiro para me reacostumar à rotina de trabalho, cidade grande, poluição, trânsito, metrô apertado e problemas congêneres.

E no recomeço das bobagens que costumo publicar por aqui, resolvi falar de Mano Menezes. Afinal, quando foi ‘confirmado’ o nome de Muricy, tratei de baixar o sarrafo. Mal sabia eu que o circo estava apenas começando. E infelizmente falarei o óbvio. Que falta de habilidade, que presunção, que prepotência de seu Ricardo, achando que bastava estalar os dedos e todos cairiam a seus pés.

No fim, por conta de uma briga política, o Fluminense fez questão de segurar seu técnico. E por falta de garantias de que seria o técnico da seleção até 2014, não importando os resultados do caminho, Muricy não fez muita força.

Para mim, como todos vocês podem ver dois posts abaixo, o que aconteceu foi muito bom para a seleção.

Se é verdade que não tenho grandes elogios a Mano, também é fato que não tenho grandes aversões. E até que me prove o contrário, é apenas um pouco menos retranqueiro que seu colega de profissão que trabalha no Fluminense.

Enfim, saiu ontem sua primeira lista e foi realizada sua primeira coletiva. E independente das minhas impressões sobre o sujeito, sua convocação e seu discurso (educado e simpático) apontam para uma melhoria significativa no modo de jogar do time nacional, se preparando – inclusive – para desmentir a mim e a muitos outros que o tem como retranqueiro.

Nomes estranhos à parte, como Jucilei e Renan (goleiro do Avaí), sua convocação e seu discurso prometem um time com meio de campo talentoso, substituindo brucutus e cabeças de bagre por armadores de verdade e cabeças de área (versão original, daqueles que sabem tocar a bola e sair jogando).

É claro que, como sempre, ninguém nunca estará satisfeito com todos os eleitos do técnico e, principalmente no início do trabalho, teremos de nos acostumar com alguns personagens estranhos. Apenas reflexo do período de testes natural. Deixemos o sujeito trabalhar.

Mr. Antigoleada

Muricy Ramalho foi confirmado agora há pouco como o novo técnico da seleção brasileira, que será responsável por renovar o time e por resgatar o jeito brasileiro de se jogar bola. Parece incoerente pra você? Pois é…

De quebra, ainda há a questão de relacionamento com a imprensa, que passou a ser quesito importante depois da passagem do anão pelo comando do escrete canarinho.

Continua incoerente?

Na verdade, apesar de haver vários bons técnicos por aí (eu disse vários, não muitos), graças ao histórico vencedor, os tais bons resultados, a escolha ficou entre Felipão, Mano Menezes e Muricy. E justamente o menos indicado para a função foi o escolhido.

Muricy Ramalho foi um bom meio-campo. E como técnico já colheu belos resultados, como o tri brasileiro no São Paulo. Mas e daí? Por que não seria um boa escolha?

A seleção brasileira não participa de campeonatos por pontos corridos, onde o planejamento e a constância são as chaves para o sucesso. Todos os torneios têm a fórmula 1ª fase em grupo pequeno + algumas fases em jogos eliminatórios, os mata-mata. E Muricy nunca soube ganhar competições com esse formato.

Muricy não gosta de futebol, gosta de ganhar. Não importa como. E isso, claro, se reflete na maneira como arma seus times. Fechados, quase como o ferrolho da seleção suíça, em busca de um gol e, a partir dele, segurar o resultado. Os times de Muricy não sabem jogar pra cima, não sabem agredir seus adversários, não os envolve com toque de bola e jogadas rápidas e tabelas. Porque Muricy não gosta de futebol.

E para manter seu estilo, ele não se preocupa em ter os melhores jogadores de futebol em seu time, ele quer os que melhor se adequam ao que entende por futebol.

De quebra, o sujeito é um bronco, igual ou pior ao Dunga quando precisa se relacionar com a imprensa, só que por razões diferentes. Dunga sempre foi contestado, desde o primeiro dia, por ser uma aposta. E apesar dos resultados, continuou apanhando. Além disso, Dunga é rancoroso e nunca aceitou o fato da seleção derrotada em 82 ser mais respeitada que a de 94, apesar do título capitaneado por ele. Pode até ser torta, mas a lógica está lá. Muricy é só mal educado mesmo, apesar de ser incensado pela imprensa esportiva (especialmente a paulista).

Esse texto todo foi apenas para mostrar a incoerência do seu Ricardo ao escolher o novo técnico da seleção brasileira. O problema é que pode piorar. Porque Parreira pode assumir um cargo na CBF. E aí teríamos duas figuras que sabidamente não gostam de futebol comandando o time que deveria ser a expressão máxima do esporte no país que mais conquistou títulos mundiais na história.

Então, se você torce pelo Brasil e gosta de futebol de verdade, bem jogado, prepare-se para se aporrinhar e até se desesperar com a nova seleção que vem por aí. Porque vamos passar os próximos anos jogando pra ganhar de 1 a 0 ou 0 a 0 (não perder já é considerado vitória pelo novo técnico).

Agora, se você é como alguns amigos meus, como o Octavio (que em breve assumirá os comentários sobre o Flamengo no blog Os 4 Grandes e diz que sou exigente demais só porque cresci vendo o Brasil jogar bola de verdade), é possível que você seja um torcedor feliz com o novo técnico e sua filosofia.

Mas podem ter certeza que começo a rezar desde já para que eu me engane, morda a língua. Garanto que assumirei o erro feliz, publica e escandalosamente.

Eu te disse, não disse?

SE tudo der certo, seremos campeões mundiais. SE tudo der certo, Kaká não terá nenhum problema físico ou técnico e será o grande maestro do Brasil. SE tudo der certo, Robinho vai enlouquecer as defesas adversárias, da Coréia à Inglaterra, passando pela Espanha. SE tudo der certo, Júlio César vai ficar bem até a final e não teremos problemas sob as traves.

O grande problema dessa lista que poderia continuar quase indefinidamente é que há muitos ‘se’ para que tudo dê certo. E SE alguma coisa não der certo?

SE Julio Cesar se machucar ou não estiver bem? Doni é uma vergonha e Gomes… O que falar dele?

SE precisarmos da lateral esquerda para desafogar e resolver um jogo, dependeremos de Gilberto!!!!

SE Kaká tiver algum problema, não há ninguém capaz de substituí-lo à altura. Já pensaram no que vai acontecer SE precisarmos, em um jogo decisivo, de um meio campo formado por Gilberto Silva, Kleberson, Felipe Melo e Elano (ou Josué ou Ramires ou Júlio Batista).

No ataque, SE Robinho – apesar do bom início de ano ao lado dos meninos da Vila – jogar o que jogou normalmente nos últimos anos, teremos um atacante a menos. E SE, além de Robinho jogar seu normal, algum outro estiver machucado? Não poderíamos, ao menos, começar a Copa com quatro atacantes?

Esse pedaço de texto aí em cima é um trecho do post Se sapo tivesse embreagem…, publicado no dia 11 de maio, data da convocação da seleção para a Copa que acabamos de deixar. Eu sei que é terrível esse negócio de jogar na cara dos outros o que você falou e acabou acontecendo, mas a grande maioria das críticas feitas ao Dunga e seu time – principalmente nos últimos tempos – eram mais ou menos as mesmas e até óbvias.

A sensação após a partida de hoje é que o excelente primeiro tempo da seleção brasileira foi como aquela pequena melhoras que os moribundos e terminais apresentam pouco antes de morrer, uma espécie de último suspiro.

O curioso desta copa, diferente de outras, é que em volta de você tem um monte de gente chateada, decepcionada, tem até uns caras que estão muito putos da vida. Mas repare se alguém está surpreso? Pois é. Agora é esperar para ver quem será o substituto do anão e começar a se preparar para 2014, que jogaremos em casa.

Na copa, minha torcida fica para a Argentina e o Pibe, mas não ficaria incomodado de ver uma final entre Espanha e Holanda.

Para tomar fôlego

A Copa do Mundo chegou ao momento em que há dias sem jogos. Apesar de necessária, essa parada é uma bosta pra quem espera quatro anos pelo evento. Tudo bem, é sempre assim e ninguém nunca morreu por causa disso.

Até agora foram 19 dias seguidos de jogos, às vezes dois, três e até quatro partidas num dia. É por isso que dá esse vazio. Daqui pra frente, a rotina de dois dias com bola, dois dias sem, até a final em 11 de julho. E depois, quatro anos até a partida de abertura da torneio que será no Brasil.

Enquanto isso, algumas risadas não caem mal. E já está no ar o terceiro episódio da saga ‘Dunga – Um Dia de Fúria’.