Bocas

Tagliatelle Foto: Ange KritsasHá quanto tempo não falo de F1 por aqui? Nem lembro mais. Ainda gosto da bagaça, muito. Ainda acordo domingo de manhã só pra ver corrida. Mas as corridas e o campeonato têm sido tão previsíveis que nem dá vontade de gastar tempo pra escrever a respeito.

Mas eis que Massa foi saído da Ferrari, Raikkonen largou a Lotus e voltou para Maranello, Felipe Nasr nem vai tão bem assim na GP2 e, depois de 40 anos, corre-se o risco de ficar sem pilotos brasileiros na categoria.

Sim, o risco existe mesmo, e já foi tema de conversas preocupadas entre Galvão Bueno e Bernie Ecclestone. E isso não tem nada de novidade. Porque o Brasil é sim um mercado importante. E porque, com o jeito ufanista que a Globo nos acostumou a seguir qualquer esporte, se nenhum piloto tupiniquim estiver na categoria o negócio (estimado hoje em R$ 40 milhões em cotas anuais) vai para o brejo.

No entanto, reza a lenda, o futuro não dá pinta de ser tão negro quanto parecia.

Bocas nem tão pequenas dizem que a Renault vai retomar a Lotus. Bocas enormes, além do número de carros vendidos nos últimos anos, garantem que o Brasil é um mercado fundamental para a montadora francesa. Bocas muito pequenas dizem que uma certa grande e inspiradora empresa brasileira vai entrar no negócio (já andam até testando produtos em conjunto em um grande laboratório de motores no sul do país).

Boatos indicam que haverá um grande jantar de comemoração. Além de representantes das empresas francesa e brasileira, haverá dois convidados especiais: Galvão Bueno e Bernie Ecclestone. Não consegui descobrir a data e o endereço do banquete, mas parece que o prato principal será massa.

Um cowboy bem diferente

Madrugada de domingo e já tem corrida de novo. E nem falei do que aconteceu na semana passada no, Japão.

Além da óbvia confirmação do bicampeonato de Vettel, a prova em Suzuka não foi lá essas coisas. Na verdade, tão tediosa quanto pode ser um grande prêmio numa pista excelente. Ou seja, melhor do que muitas outras que aconteceram durante o ano.

Button venceu, Alonso foi o segundo e Vettel, o terceiro. Todo mundo já está cansado de saber disso, notícia mais do que velha. Mas a corrida teve um detalhe muito interessante.

O time dos energéticos mostrou seu ponto fraco, o alto desgaste de pneus. E a McLaren realmente evoluiu muito. A começar pela Coréia do Sul (que já teve seus primeiros treinos livres sob chuva forte), serão quatro provas ‘amistosas’. Como as regras não mudarão (pelo menos em tese), poderão nos apresentar um bom cheiro do que vem por aí em 2012.

A Red Bull ainda é o carro a ser batido, mas a turma de Woking está cada vez mais perto. Até a Mercedes andou um pouco pra frente nos últimos tempos, mas a Ferrari segue estagnada.

Neste fim de semana, torço para que a chuva se mantenha, seria uma boa chance de ver Schumacher de volta ao pódio. E daria uma boa graça a uma corrida que vale pouco. A ver.

Já de olho em 2012, o vídeo abaixo é muito legal. Não é exatamente uma novidade, mas mostra um F1 em condições nada usuais. Além disso, o passeio pelo que será a pista de Austin já revela que a promessa de uma pista interessante e bem dinâmica por seu relevo parece que vai mesmo ser cumprida.

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Abstinência sem crise

É curioso, irônico talvez, que um dos piores circuitos da Fórmula 1 tenha sido a casa daquela que é considerada a maior ultrapassagem da história da categoria: Piquet sobre Senna, por fora. Se nunca viu, vale a pena procurar por aí, não é difícil de achar. Reza a lenda, inclusive, que ao final da manobra, Nélson teria colocado a mão para a fora e acenado com o dedo médio levantado. Vale pelo chiste.

Se você gosta de corrida, já sabe como foi a prova na Hungria, já leu um monte de comentários, já ficou cansado de ler todas as manchetes que exaltam a grande capacidade de Button em guiar em situações adversas e como ele é mágico ao cuidar de seus pneus. É claro que ele não é um piloto comum, ou não seria campeão do mundo mesmo com um carro imbatível nas mãos (ahhhh Rubinho…), mas descontem os exageros.

A corrida foi excelente graças à indefinição climática e condições de pista que variaram muito durante todo o tempo. E foi decidida pelo erro de avaliação cometido pelo conjunto McLaren/Hamilton. Uma bela duma cagada, na verdade, que jogou no colo de seu outro piloto a vitória em dia bem especial para ele: comemorava suas 200 largadas. E, bela coincidência, foi justamente no circuito magiar, em condições parecidas, que ele conquistou o primeiro de seus 11 troféus de vencedor.

Ao final da corrida, apesar de não estar no alto do pódio pela terceira vez consecutiva, Vettel tinha ainda mais vantagem sobre o segundo colocado no campeonato, seu companheiro Mark Webber. E ainda tem gente que não percebe que o campeonato está decidido.

Agora, férias. Serão quatro semanas de abstinência, um período pior que o intervalo entre o final de uma e o início de outra temporada, pois que temos as festas de final de ano e os primeiros testes de pré-temporada para nos entreter. Agora, dificilmente haverá até boatos.

A próxima próxima acontecerá na Bélgica e é claro que todas as equipes aparecerão com muitas novidades. E saberemos quem e como evoluiu mais. Para McLaren e Ferrari, a possibilidade de um último suspiro. Para a Red Bull, a percepção de que ainda são os melhores ou que devem colocar suas barbas de molho. Uma vez que a recuperação rápida e acentuada das rivais neste ano deverá ter resultados concretos no ano que vem.

Fun-förmigen autorennen

Ando um tanto preguiçoso para escrever. Triste ironia, justamente o que gosto mais tem me dado mais preguiça. Enquanto isso não passa, lembro que domingo teve corrida. Um corridaço na Alemanha.

A Fórmula 1 voltou a ter na Alemanha uma daquelas corridas com um nível alto de emoção e incerteza que duram do início até a bandeira quadriculada. A corrida em Nürburgring trouxe um verdadeiro jogo de gato-e-rato entre três pilotos de equipes diferentes: Lewis Hamilton da McLaren, Fernando Alonso da Ferrari e Mark Webber da Red Bull.

Este aí é o trecho de abertura do post do Ico sobre o GPem Nurburgring. Vale ler inteiro, belo comentário.

E no próximo domingo já tem corrida de novo, agora na Hungria. Traçado apertado e travado, mais um cenário em que a Red Bull deve ter dificuldades de novo. Sinceramente, pela diferença que já tem, pelas vitórias conquistadas e pelo carro excelente, acredito que os títulos de piloto e contrutores já têm dono. Pode até mudar, mas acho improvável.

Ou seja, a partir de agora, vale assistir as provas apenas para se divertir. Porque tenho certeza que serão muito divertidas.

Enquanto isso…

…Massa foi combativo e tal, mas nunca teve a chance real de brigar por nada além do quarto lugar que perdeu na última volta. Foi um erro da Ferrari, um problema de porca. Mas ele não estaria naquela situação se não tivesse perdido tanto tempo atrás de Rosberg, se não tivesse chegado quase 50 segundos atrás de Alonso. De quebra, se Vettel não tivesse cometido um erro no início da prova, o brasileiro já estaria em quinto desde o início. E o locutor oficial ainda fica naquela de Brasil-il-il, tentando enganar a audiência no “limite extremo” (sic).

…Webber renovou com a Red Bull.

…Senna andará no primeiro treino livre da Hungria, mas se Heidfeld for substituído definitivamente, o escolhido é Grosjean.

…Para encaixar todas os circuitos no calendário gigante mas ainda apertado de 20 corridas por ano, Valência e Barcelona podem passar a se revezar como GP da Espanha como já acontece na Alemanha. E para voltar ao calendário, a França propõe solução semelhante, em alternância com a Bélgica. Enquanto isso, Coréia do Sul, Bahrein, Abu Dhabi e China (além da Índia, que estréia nesse ano) seguem firmes e fortes. E a Turkia, um dos únicos Tilkódromos que prestam (ao lado da Malásia), ameaça deixar o campeonato.

Vale soprar

Pois é, teve corrida no último final de semana. Grande Prêmio da Grã-Bretanha, Silverstone. A corrida foi muito boa sim, apesar de um tanto menos movimentada do que média das provas do ano (à exceção de Valência). A Red Bull errou e Alonso venceu. A primeira dele no ano, a primeira da Ferrari desde a Coréia do Sul no ano passado. A 27ª de sua carreira, igualando o número de vitórias de Jackie Stwart.

E depois de nove corridas, Vettel continua líder com muita folga e o campeonato no bolso depois de seis vitórias e três segundos lugares.

No final da corrida, uma polêmica provocada pela turma do touro vermelho com a ordem para que Mark Webber não atacasse Sebastian Vettel na luta pelo segundo lugar. Apesar da justificativa, dizendo que se as posições fossem inversas a mesma ordem seria dada como precaução para que os dois terminassem sem acidentes e garantissem os pontos do time, Christian Horner meio que jogou fora o discurso esportivo de que a Red Bull não dava ordens de equipe e que corridas eram decididas na pista.

Mas o fim de semana foi meio chocho, sem graça, político e técnico demais por conta da discussão dos tais difusores soprados. Primeiro a proibição total, depois libera um pouquinho, quem vai levar vantagem, quem vai perder… Basicamente, por quê mudar as regras no meio do jogo?

No final das contas, a (teoricamente) maior beneficiada venceu a prova. Mas por um erro da (teoricamente) maior prejudicada, nada a ver com o tal difusor.

Agora, depois de muita discussão, as equipes chegaram a um acordo para que tudo volte a como era antes, tudo liberado. E a FIA ratificou.

Pra comemorar o fim das discussões, uma coleção de fotos que andam circulando por e-mail. Imagens de um tempo em que a Fórmula 1 era menos política e artificial. Não, nenhuma ode ao passado, nenhum arroubo saudosista. Apenas uma maneira de mostrar que dá pra ser muito legal sem os cenários absurdos de Bernie, os cotovelos óbvios de Tilke, a pasteurização de assessores e consultores, a assepsia extrema. Cenas curiosas e impossíveis de se assistir hoje, como o lanche de Stewart dentro do cockpit. Quem me enviou foi o amigo Mauricio Lopes, um amigo que também tinha um blog, mas ficou preguiçoso.

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A pior do ano

E a Fórmula 1 em Valência, o GP da Europa, que bosta…

Quem se deu ao trabalho, assistiu ontem à pior corrida do ano. A pista – projetada por Tilke em meio à fantástica marina – é tão vagabunda que não houve pneu de farelo nem asa móvel suficiente pra fazer milagre.

O que houve de notícia mesmo, nos últimos dias, foi a FIA tentar acabar com o domínio da Red Bull e de Sebastian Vettel. Do jeito que as coisas vão, não será estranho se o campeonato for decidido na Bélgica ou Itália. Com medo de que isso afugente a audiência, mudaram as regras no meio do jogo. Duas, pra ser exato.

Desde Valência já não é mais possível utilizar um mapeamento diferente de motor, entre classificação e corrida. Ninguém nunca vai admitir, mas o objetivo era evitar que Vettel conquistasse suas poles de maneira tão fácil. E não adiantou nada, o alemão saiu na frente. E lá continuou, sem dar qualquer chance a ninguém, até a bandeira quadriculada.

A outra mudança vale a partir de Silverstone, próxima corrida. Uma mudança bem radical na aerodinâmica dos carros, com a proibição do difusor soprado. Basicamente, os gases do escapamento são jogados pra frente, passam por baixo do assoalho e – ao ser expelido pelo difusor – geram mais downforce. Como os carros de Adrian Newey são os mais eficientes aerodinamicamente, em tese são os que perderiam mais. Mas, não sei por quê, estou desconfiado de que o cenário não vai mudar nada.

A essa altura, oito corridas, seis vitórias e dois segundos lugares. E ainda tem gente que acredita que o campeonato está aberto.

Motores

A novidade do dia é uma tal carta assinada por 17 dos 19 circuitos do calendário, contra a mudança dos motores imposta pela FIA e corroborada – depois de alguma negociação – pelas equipes.

Quem gosta do assunto deve lembrar que a FIA instituiu novos motores 1.6L turbo com quatro cilindros a partir de 2013. Os objetivos, oficialmente, eram reduzir o custo, ser um pouco mais verde e atrair novas fabricantes. Extra-oficialmente (tem hífem?), uma negociação com a Volkswagen e sua eterna promessa de um dia entrar na F1, fosse com a Porsche, fosse com a Audi.

Depois de um bom bocado de boatos, birras e picuinhas, além do fim das conversas com a montadora de Ingolstadt, ficou acertado que a mudança acontecerá em 2014: motores 1.6L com seis cilindros em V e limitação de 12 mil giros.

Acontece que Bernie Ecclestone (de mãos dadas com Ferrari e McLaren) é contra e costurou a rebelião dos autódromos (dos organizadores, na verdade), que reclamam – entre outras coisas – que o barulho diminuirá, que isso faz parte do show e que isso afastará o público. Entre as exigências, que sejam liberados os 18 mil giros.

Basicamente, mais uma novelinha…

Será que vai ficar sem graça?

Então teve corrida ontem. E está provado que a pista de Barcelona pode ser excelente para equipes e pilotos, técnica e tal. Mas para o espetáculo, é uma bosta. Não deu jeito nem com pneus de farelo e asa móvel. Uma prova muito inferior às outras.

Sobre o campeonato? Parece que estamos mesmo a caminho de um daqueles anos históricos, como 92 e 93 (Mansell e Prost na Williams) ou 2002 e 2004 (Schumacher na Ferrari). Aliás, se Webber estivesse em forma – no mínimo – razoável, a Red Bull poderia repetir o que fez a McLaren em 88. O detalhe é que os pilotos que venceram 15 de 16 corridas eram Prost e Senna.

No mais, destaque para Alonso que anda muito mais que sua Ferrari. Outro detalhe é que a Lotus (a verde) já começa a andar – de verdade – no meio do bolo, e não apenas como uma das três nanicas. Se continuar evoluindo nesse ritmo, já será uma boa média na próxima temporada. Por fim, parece que Hamilton (e a McLaren) são os únicos capazes de dar trabalho de verdade à dupla Vettel-Red Bull. Minha impressão é que até pode vencer uma aqui, outra ali, mas não tem condições de disputar o título de verdade.

Domingo que vem é a vez de Mônaco e a polêmica será a asa móvel, liberada para uso na reta que sai do túnel. Risco de muitos acidentes sérios. A ver.

Nazar boncuk

Então é isso, né. O cara vai lá, faz a trocentésima pole seguida e entra para o grupo dos maiores de todos os tempos, já aos 23 anos de idade. Depois, ele larga na frente e já completa a primeira volta mais de um segundo à frente do segundo colocado. E vence, claro. E aí, ninguém mais pergunta quem será o campeão, mas com que antecedência aquele garoto abusado que dá nome de mulheres sacanas aos seus carros decidirá a temporada. Só posso estar falando de Sebastian Vettel.

E na Fórmula 1 de 2011, com KERS e asa móvel, as corridas são animadíssimas. Ontem foram mais de 80 pit stops e sei lá quantas ultrapassagens ao longo das 58 voltas. Divertido. Pra quase todo mundo. Vettel, por exemplo, não participou da bagunça. Se usou a tal asa para superar retardatários, foi muito. E ninguém o ameaçou em nenhum momento.

Se fosse um brasileiro, a TV oficial já estaria fazendo uma festa danada, que o sujeito é isso e aquilo. Como não é, mesmo timidamente já começa um conversê inútil sobre o campeonato ficar sem graça. Bom, não será a primeira ou a última vez que um dos melhores pilotos dentro do melhor carro da melhor equipe domina uma temporada. Se isso acontecer. Porque ainda estamos na quarta de 19 corridas.

Assisti o GP, finalmente em horário decente do lado de cá do Equador. E o que mais me impressionou foram as patacoadas da transmissão. Falo do Galvão, claro. Que disse, entre muitas bobagens, que na famosa curva 8 os pilotos sofrem com uma força de 5 Giga de gravidade no pescoço. Hã? Depois, ainda ameaçou chamar a polícia porque a Ferrari fez besteira nas paradas de Massa (que começou muito bem mas caiu muito de rendimento ao longo da disputa). Afinal, há sempre uma grande conspiração contra os brasileiros, na Ferrari ou em qualquer lugar em que são derrotados. Não sei porquê, mas ele não falou muito sobre a cagada que a McLaren fez com Hamilton nem que ele é apenas um inglesinho contra esse mundão todo. Só para constar, Lewis terminou em quarto (perdeu 12 segundos em apenas uma parada no box) e Massa foi o 11º (perdeu 13 ou 14 segundos, ao todo, em relação a Vettel).

Sobre o resto da corrida, nada muito especial apesar da intensa troca de posições. Se houve uma surpresa, foi ver Alonso no pódio e andando quase no ritmo das Red Bull. Digo quase porque já tem gente animada, dizendo até que ele esteve mais rápido em vários momentos, mas essa turma não lembra que Vettel não precisou forçar e que Webber, apesar da resistência do espanhol, o superou com relativa tranqüilidade. Nem que as McLaren não foram bem, de maneira geral. Ou seja, o terceiro lugar com o carro de Maranello ainda é fortuito. Por mais que essas situações façam parte do jogo.

A próxima corrida será em Barcelona, onde foram realizadas duas seções de testes na pré-temporada. Todo mundo está cansado de conhecer etc. e tal. Quer dizer que não devemos ter maiores surpresas. E o garoto de 23 anos deve fazer a festa. Outra vez.

Corrida (quase) maluca

E então haverá uma folga de três semanas até que o circo chegue à Turquia. E teremos, então, um pouco mais de tempo para tentar entender tudo o que aconteceu nas três corridas realizadas até agora e o que seus resultados podem significar para o andamento do campeonato.

Porque, para um desavisado qualquer que tenha parado para assistir ao GP da China, ontem, a Fórmula 1 está muito parecida com uma certa corrida maluca criada por William Hanna e Joseph Barbera.

Apesar de ainda um tanto confuso, é impossível dizer que o negócio não está mais divertido. Durante todo o GP da China houve disputa de posições, fosse pelos diferentes estágios de degradação dos pneus, pela asa móvel, pelo KERS ou por tudo junto.

Sobre o resultado em si, apenas algumas observações: Webber foi o cara da corrida, saindo de 18º para o pódio. Apagou a imagem ruim, de desmotivado e pré-derrotado das duas primeiras corridas e da classificação horrorosaem Xangai. Mostrou, mais uma vez, que a Red Bull tem o melhor carro. Da mesma maneira que Vettel, segundo, mostrou que o KERS da turma da latinha ainda é um problema. O equipamento fez muita falta durante a prova, especialmente na largada em que perdeu posição para as duas McLaren.

A largada ruim fez a equipe a mudar a estratégia e, com pneus duros e muito desgastados, permitiu a ultrapassagem de Hamilton a cinco voltas do final. O inglês, como quase sempre, pilotou o fino e não deixou mais dúvidas sobre a capacidade de recuperação da equipe que promete mesmo ser a pedra no sapato dos touros vermelhos.

Sobre a Ferrari, algumas ambivalências. O que Massa está largando bem neste ano é sacanagem. Em compensação, Alonso só anda largando mal. O brasileiro fez uma corrida bem honesta, acompanhando o ritmo de Vettel e Hamilton e boa parte da corrida, mas com os pneus duros a Ferrari ficou pra trás. De um pódio quase certo, Massa foi ultrapassado por uma fila de carros para chegarem sexto. Oúnico lado bom é que, mais uma vez, à frente do companheiro espanhol.

Outros destaques: a Mercedes ainda vai apanhar muito, não vai brigar por vitórias mas pode incomodar e tem potencial para beliscar alguns pódios. A Williams, que chegou a prometer, parece que não vai cumprir. Kovalainnen, quem poderia imaginar, chegou com sua Lotus à frente de Perez (Sauber) e Maldonado (Williams).

Para a corrida na Turquia, o início da temporada européia, quase todas as equipes devem apresentar muitas novidades e a Pirelli já avisou que em Istambul e Barcelona, logo a seguir, levará os mesmos pneus das três primeiras corridas. Em compensação, em Mônaco (circuito de rua, asfalto liso, pista curta, baixa velocidade), os carros calçarão – pela primeira vez – os supermacios. A outra opção será o macio.

A Red Bull tem potencial para bater todos os recorde possíveis e imagináveis. Mas terá que resolver o problema do KERS se não quiser passar aperto

Chili com vodka

Juntem uma corrida que terminou às quatro e meia da manhã, uma boa dose de decepção, um domingo de muito calor com a família e pronto. Sinceramente, não deu vontade de parar em frente ao computador para escrever sobre Fórmula 1. Acho que, como todo mundo que gosta do negócio, esperava muito da corrida de Melbourne. Afinal, um monte de novidades e uma pista que geralmente nos oferece bons espetáculos. Mas não foi o caso. Vou por partes.

– Asa móvel: o que prometia transformar as corridas em um festival desmedido de ultrapassagens acabou não fazendo nem farofa. Entre carros com desempenho semelhantes, a geringonça acabou não influindo em nada e quem defendia posição levava sempre vantagem. Para se livrar mais rápido de retardatários, talvez seja útil. Mas aí é preciso dar sorte de encostar no carro mais lento na área que o uso da asa é permitido. Talvez, em pistas com retas colossais, como o GP da Malásia que acontecerá em duas semanas, o dispositivo faça alguma diferença real na briga por posições.

– Pneus: o asfalto liso das ruas de Melbourne acabaram não surtindo o efeito esperado. A maioria dos pilotos fez duas paradas (o que já era habitual), alguns fizeram três e um conseguiu chegar ao fim da prova com apenas um pit stop. O rendimento dos pneus têm, realmente, quedas bruscas – principalmente os mais macios – mas as disputas de posição acabaram não acontecendo. Quando alguém se aproximava, o da frente logo jogava seu carro no box para a troca, sabendo que o outro sujeito também teria que parar e tudo voltaria ao normal. Resta saber se também haverá uma espécie de comportamento padrão em Sepang, onde o calor promete ser altíssimo e o asfalto é muito mais poroso.

– Massa: parece que o piloto que lutou pelo título de 2008 se aposentou. Sua classificação foi ruim, prejudicada por uma rodada bisonha quando saía dos boxes com aquele que deveria ser seu melhor jogo de pneus na briga pela pole. Na corrida, começou com uma largada brilhante, em que ganhou quatro posições, mas logo perdeu rendimento e acabou sumindo depois da boa briga com Button. Foi engolido por Alonso. Apesar do mesmo número de paradas, nunca conseguiu andar no mesmo ritmo do espanhol e terminou em uma melancólica nona posição. Se mantiver o padrão durante o ano, teremos mais um brasileiro desempregado em dezembro.

– Ferrari: para o que prometeu durante a pré-temporada, desempenho abaixo da crítica. Mesmo Alonso, que terminou em quarto, nunca teve condições de brigar pelo pódio. Alonso largou muito mal, enquanto Vettel e Hamilton dispararam desde o início. Apesar de uma boa recuperação, o espanhol chegou à quarta posição sem qualquer chance de atacar o russo Petrov, que levou sua Renault (ou Lotus Renault, já não sei mais) ao pódio.

– McLaren: impressionante a virada que a equipe deu em tão pouco tempo e sem a possibilidade de testar. Saiu da Austrália como a grande rival da Red Bull para o ano. Se outros times vão entrar na briga, ainda não se sabe. Mas o time de Woking, especialmente Lewis Hamilton, será a pedra no sapato dos touros vermelhos.

– Red Bull: falar o quê? Que foi estranho o tamanho da diferença entre Vettel e Webber? Tá foi, mas isso não deve ser tão comum, acho que foi uma circunstância. Que Adrian Newey é fodástico? Todo mundo já sabe. Pois é tanto que até o boato sobre ele é duca. A equipe não confirmou (nem vai), mas o projetista desdenhou do KERS e, dizendo que só faz diferença mesmo na largada, teria criado um ‘mini-KERS’ que só funcionaria quando as luzes se apagam. Se é verdade, além de não gerar tanto calor durante toda uma corrida, ainda permite que a diferença de peso entre o aparelho tradicional e a tal invenção sirva como lastro distribuído para melhorar o equilíbrio do carro. Será que isso é verdade?

– Barrichelo: fim de semana para esquecer, desde a rodada infantil na classificação até o acidente que provocou em uma tentativa de ultrapassagem otimista demais (para ser educado). Foi possível confirmar que a Williams é um bom carro, que pode incomodar. Mas a falta de grana crônica do time não permitirá um ritmo de evolução como de outras equipes e deve acabar ficando um pouco pra trás.

– Chili com vodka: os grandes destaques da corrida foram o mexicano Sergio Pérez e o russo Vitaly Petrov. O primeiro, estreante com a pecha de piloto pagante, mostrou que não tem nada de bobo. Fez andar o bom carro da Sauber e, com apenas uma troca de pneus, terminou em sétimo, à frente do companheiro Kamui Kobayashi. Uma pena a desclassificação da Sauber por medidas erradas na asa traseira. Petrov é outro que chegou à F1 como pagante. É verdade que foi discreto (ou pior) no ano passado, mas andou bem desde o início do final de semana. Engoliu o experiente Heidfeld e chegou ao pódio. Talvez, o bom desempenho seja reflexo da ausência de Kubica, de sua sombra de grande piloto e líder da equipe. Enfim, olhando para o resultado de ontem, impossível não imaginar o que o polonês não seria capaz de fazer com o mesmo carro.

Agora resta esperar por Sepang, por saber do que a Ferrari é capaz de fazer para melhorar, por saber quanto tempo a Hispania irá existir, pela desculpa de Massa por não conseguir andar sequer em ritmo parecido ao de Alonso, por saber qual o tamanho da surra que a Red Bull aplicará nos outros no próximo GP.