Por que #agoraéHaddad

Sobre o texto anterior, recebi (de forma privada) duas respostas – como posso dizer…? – interessantes.

“Pronto Sirelli, já pode votar no PT. Foi de Ciro só pra disfarçar”.

“Mas os erros do PT só começaram a aparecer depois de 2004”.

Desde a minha primeira eleição, votei no PT. Especialmente, claro, no Lula. Até 2002. Mais que isso, era militante mesmo, de andar com estrela no peito, de vender materiais pra ajudar a arrecadar etc. Até 2002. Por quê?

Porque depois de dois anos de governo, já havia o cadáver de Celso Daniel, já conhecíamos Waldomiro Diniz e, na preparação para as eleições de 2004, abriu o leque de alianças que deu no que deu. O cheiro do ralo já estava instalado.

Sim, os “erros” do PT só apareceram depois de 2004 se falarmos do mensalão e tudo o que soubemos depois. O que, convenhamos, não foram “erros”. Foi uma cagalhopança do tamanho do Brasil, pra dizer o mínimo. E sim, meteram a mão. Como “nunca antes na história destepaiz”. Depois de passarem décadas dizendo que tudo estava errado e fariam exatamente o contrário.

E, por enquanto, nem vou entrar no mérito do perfil hegemônico que assumiu, da busca incessante pelo poder a qualquer custo, das sabotagens a qualquer um que não se aliasse, entre muitas outras coisas.

Então, como já disse um dia, é bem fácil explicar o ódio ao PT: nós fomos muito enganados.

E como podem ver, sei muito bem do que se trata o PT. “Ah, mas eles fizeram isso e aquilo…”. Pois é, todo governo faz alguma coisa boa. Eles fizeram algumas mesmo. Mas não compensa, não justifica, aquele chavão de fins e meios…

E não, não disfarcei nada. Das opções dadas, acredito que a melhor era o Ciro, apesar da Kátia Abreu. Mas gostaria mesmo é de ter votado no Eduardo Jorge.

Mas, então, por que cargas d’água vou votar em Haddad? Porque a alternativa a ele é inimaginável na minha consciência. Por tudo o que escrevi no texto anterior e muito mais.

Porque, se necessário, contra o PT, o país consegue lidar por meio de suas instituições e leis. Mesmo que aos trancos.

E, basicamente, porque tendo estudado um bom bocado de história, tenho a percepção de que nossa frágil democracia está em risco com o outro candidato. E não pelo que vai acontecer, mas pelo que já está acontecendo. E não dá pra achar normal.

“Se acha que os dois são ruins, anula o voto!”
Não! Porque lavar as mãos não resolve nada. Lavar as mãos não absolve minha consciência. Porque entendo que anular o voto é dizer “fodam-se vocês aí” enquanto eu faço parte, para o bem e para o mal, de tudo o que venha a acontecer a partir de 29 de outubro.

Porque se eu anular o voto com o espírito “vocês que arrumaram essa confusão que a resolvam”, um dos dois será eleito da mesma forma e eu vou sofrer as consequências do mesmo jeito.

Não é só porque eu e você votamos no Ciro, Amoedo, Marina, Alkmin, Boulos, Daciolo ou Eymael que não fazemos parte do problema em que estamos.

E se eu ligar o foda-se, não vou poder olhar para minha amiga gay e tentar consolá-la depois de sofrer uma violência. Se eu ligar o foda-se, não poder olhar para minha colega de trabalho negra e tentar consolá-la depois de sofrer uma violência. Se eu ligar o foda-se, não vou poder tentar ajudar a vizinha que deixou de ser contratada ou foi demitida por ser mulher e poder engravidar. Porque se eu ligar o foda-se, não vou poder olhar nos olhos da professora das minhas filhas que perdeu o seu filho (negro) quando o policial “confundir” um guarda-chuva com um fuzil.

Porque se eu ligar o foda-se, não vou poder viver com vocês. Nem vou poder reclamar quando vocês ligarem o mesmo foda-se para mim.

Porque #elenunca

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Eu não gostaria de votar no PT. Não votei no PT no primeiro turno. Não voto no PT desde 2004. Por tudo o que sabemos. Mas essa eleição não é mais sobre o PT. Nem sobre o PSDB, PDT, PSOL, MDB, DEM, PROS, REDE, PV ou qualquer um dos mais de 30 partidos (mais de 30 partidos!!!). Essa eleição não é mais sobre ideologias. Essa eleição se transformou num plebiscito sobre em que ambiente se quer viver. Sobre se vamos viver em um ambiente de diálogos ou de força. Sobre se vamos viver em um ambiente democrático (com todos os benefícios e malefícios possíveis) ou não. Se vamos viver em um ambiente humanista e diverso ou não.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Não vou listar aqui todas as suas declarações, desde sempre, em vídeos, áudios ou textos. Todo mundo já conhece.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque acredito no direito de todos, cada um, dizer o que pensa e viver da forma como desejar. E arcar com as consequências de suas decisões, estejam elas – as consequências – nas leis ou nas regras construídas em cada grupo social onde se integra.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque, apesar de ter no meu pai o melhor companheiro que poderia imaginar, cresci rodeado de mulheres e me tornei o homem que sou hoje graças a elas. E é nelas que confio para melhorar tudo o que ainda falta em mim.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque tenho filhas e enteada. E o futuro que eu desejo para elas – e para todas, por óbvio – é um futuro seguro, livre e igualitário. Um futuro em que elas tenham sobre si o poder real de decidirem o que querem fazer da vida, nos seus relacionamentos pessoais e profissionais. Em que elas possam dizer sim ou não, sem sofrer nenhum tipo de ameaça. Em que elas sejam reconhecidas por suas competências e pelo amor que têm a distribuir. Em que elas não sejam julgadas e subjugadas por serem mulheres.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque sou bisneto da Vovó Mulatinha, neto da D. Helósia, filho do Paulo e pai da Isabel. Todos nós, negros. Mesmo que um ou outro tenhamos a pele clara. Porque Helena, minha mais velha, é amiga da Julia que é negra. Porque minha enteada loura dos olhos claros é aluna da Carol, que é negra. Porque o vovô Pedro das minhas filhas é negro e nordestino. Porque um dos melhores amigos do meu pai é o Carlos Alberto, o Negão, que desde quando eu era criança no seu colo me fazia gargalhar só por abrir seu lindo sorriso. E porque todas essas misturas não deveriam ter peso em qualquer julgamento ou classificação. Porque, simples assim, somos todos gente.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque não sou gay. Mas tenho um primo gay, tenho amigos e amigas gays, tenho colegas de trabalho gays. Também tenho amigos e amigas bi. E provavelmente alguns pansexuais. E tenho amigos que têm filhos e filhas gay. E já tenho amigos que têm netos gays. E sabem o que isso importa na minha ou na sua vida? Nada. Mas todos eles, amigos, amigas, colegas, pais e avôs, sofrem muito. Não pela sua orientação, mas pelo medo que sentem diuturnamente da violência e do preconceito que pairam sobre eles.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque vivi mais de 20 anos na igreja católica, em movimentos da pastoral da juventude. E nesses anos todos, conheci um sujeito chamado Jesus, que morreu por um julgamento preconceituoso. Que morreu depois de ser torturado. Que defendeu e valorizou as mulheres sempre. Que passou a vida falando de amor e lutando contra qualquer tipo de preconceito e injustiça. Porque nesses anos todos, houve momentos duros como quando virei as costas a uma paróquia depois de uma discussão com um padre sobre liberdade. Porque nesses anos todos, em outra paróquia, com um padre (que por acaso era negro), tive as melhores e mais profundas conversas sobre a mensagem de amor daquele tal Jesus.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque, já há quase 20 anos, sou da Umbanda. E isso, tudo o que isso significa, já é autoexplicativo.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque o estado deve ser laico. Porque aborto, laqueaduras, vasectomias e consumo de drogas são temas de saúde pública e de direitos individuais, nunca de polícia, violência, bala ou tutela do estado.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque me formei jornalista, já fui ator (muito) amador, porque faço e amo música, porque escrevo. Porque gosto de arte e a arte precisa ser livre. E porque sem a liberdade para se expressar e criar e romper padrões e quebrar paradigmas e expor tabus, não se pode dizer que se leva uma vida livre e em paz.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque ele está cagando para o meio ambiente e isso é um problema do tamanho do nosso futuro. Porque sustentabilidade não é uma palavrinha descolada em um power point bem construído. É algo muito sério e sobre o quê ele fala com escárnio e desprezo.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque eu estudei Moral e Cívica na escola, mas aprendi o que é moral, civismo e civilidade dentro da minha casa. Porque meu avô foi da Marinha e meu pai foi do Exército. E nenhum dos dois jamais compactuará ou compactuaria com o que esse sujeito prega e representa.

Jamais votarei em Jair Messias Bolsonaro.

Porque é uma questão de princípios e valores.

Hora da escola (3)

Na escola das minhas filhas existe racismo. Também existe homofobia. E bullying. E roubos ou furtos, sei lá o nome correto quando alguém tira algo de alguém sem ninguém ver. Tudo isso entre outras coisas.

Isso é supreendente?

Não deveria ser. Porque se você tem filhos e eles estão na escola, lá também acontecem essas coisas. É, não adianta torcer o nariz não. Ou você acredita que, mesmo pagando caro ou muito caro, está livre do que acontece no mundo, que aquela sacrossanta instituição à qual confiou a educação de suas crianças é uma ilha da fantasia?

Caiu em si? Então, a pergunta seguinte é o x da questão: o que a escola dos seus filhos faz, como ela trata desses problemas?

Enquanto você pensa a respeito, vou aproveitar pra contar o que aconteceu na escola das minhas pequenas nos últimos meses, até ontem à noite. E o tema é racismo.

O fato

Pouco depois do início das aulas, um garoto do ensino fundamental começou a ser mal tratado pelos colegas. Começou com alguns e a coisa cresceu. O moleque foi chamado de mendigo e colocado nesse papel. Daí pra baixo. E pelo que sei, só não se chegou à violência física. Ele é negro. E tem um belo black power.

Por uma enorme inabilidade da escola no que diz respeito à comunicação, combinada com o sentido de urgência da família diretamente atingida, a coisa deu uma boa degringolada, a história correu a escola e houve certa (e não indevida) comoção. Também houve um erro de coordenação, admitido pelo próprio diretor da escola, em uma das muitas reuniões que aconteceram desde que tudo veio à tona.

É, foram muitas reuniões. Particulares, com as famílias envolvidas, e nas comissões da escola. Em que pese os tropeções, trancos e barrancos no início do processo e uma grande dose de cagaço (desculpem o termo, mas falo de um medo estranho e superlativo) ‘empresarial’ por medo de expor a instituição e até perder alunos, a escola não fugiu do assunto. E chegamos a ontem.

Envolvimento

Fórum de Pais e Professores. Tema: Racismo na Oga Mitá.

Já estava marcado há um mês ou quase. E eu sinceramente estava preocupado com o risco de tudo ser muito tempo perdido. De sair do foco, que é o problema ocorrido na escola e ver a discussão descambar para um tropel de opiniões desconexas ou cair na velha discussão racialista.

Sim, passamos perto disso. Entre duas acadêmicas convidadas para falar a respeito e meia dúzia de três ou quatro pais e mães militantes da causa negra, cheguei a pensar na possibilidade de abandonar o debate e chegar em casa mais cedo. Porque quando alguém sofre algo assim, não é a militância nem a teoria nem o sindicalismo de causas que vai resolver o problema. Especialmente quando se trata de uma criança.

Mas no todo, o fato é que o debate foi muito, muito bom, com uma troca de experiências riquíssimas (em que pese triste às vezes) e o surgimento de várias ideias (das piores às melhores) para não deixar o assunto morrer, muito pelo contrário.

Foram muitas propostas de ações para as crianças e para os pais das crianças. E isso é algo importante, porque apesar da sala muito cheia, nem todo mundo foi (claro), nem todo mundo tomou conhecimento do problema (sim, há gente que vive em outra dimensão).

De visitas a quilombos com as crianças a atividades inspiradas no documentário Olhos Azuis, de Jane Elliot. Mais e mais encontros e reuniões e discussões. Porque infelizmente o assunto não acaba, não vai acabar.

#SomosTodosDiferentes

Felizmente somos todos humanos (com trocadilho e sem hashtag). Felizmente somos todos diferentes em infinitos aspectos. Brancos e negros, cabelos lisos e toin-oin-oins, magros e gordos, princesocas ou bichos-grilos etc etc etc etc.

Estamos falando de crianças, de seres humanos que, em seus vários estágios de desenvolvimento, estão descobrindo e constatando as diferenças, todas elas. Simples assim. Mas, no final das contas, depende de nós, da forma como valorizamos e nos relacionamos com a existência de todas essas diferenças, a forma como nossas crianças lidam e lidarão com o mundo de diferenças ao seu redor.

Escola dos sonhos?

Por que contei essa história e escrevi esse texto monstruoso? Porque acho importante, ora bolas.

A escola das minhas moças é a escola dos sonhos? Claro que não, isso não existe. E ando até insatisfeito com algumas coisas que acho importantes, ontem mesmo avisei a coordenadora que quero uma reunião com ela e a professora da minha mais velha. Sobre algumas coisas que saíram ou mesmo nem entraram nos trilhos.

Mas diga aí, conte ou confesse, sei lá: o que a escola dos seus filhos faz pra tratar de temas espinhosos como racismo? O que acontece na escola além de, eventualmente, apresentações de grupos de capoeira no dia da consciência negra ou tentar correlações muito inexatas entre Zumbi, Machado de Assis e Luther King? E você, como participa da escola dos seus filhos?

Ser reaça é ser contra aqueles regimes onde você pode sair fuzilando quem discorda de você

Vire à direitaO texto de Flávio Morgenstern é longo. Para os padrões da internet. Ao menos, da internet brasileira. Isso significa que, provavelmente, será pouco lido. O que é uma tristeza, mas diagnosticado pelo próprio texto. E não por entrelinhas.

Além de longo, é um texto que requer reflexão, um tantinho de conhecimento e mais um bocado de não-preconceitos. Taí um outro limitador.

Mesmo assim, vale a pena. É um texto para bons leitores, aqueles que lêem textos ao invés de pessoas. Aqueles que não só não se preocupam em discordar, mas que entendem que isso é maravilhoso e ajuda a mover o mundo. É um texto para aqueles que entendem a diferença entre progresso e progressita. E que sabem que o real significado de progressista não tem qualquer relação com o significado adotado.

É um texto grande e um grande texto. Sobre o quê? Se o título do post (que está no texto) não ajuda, seguem alguns trechos. Para ler inteiro (o que recomendo fortemente), clique aqui.

É por isso que conservadores olham para o passado: para não precisar seguir caminhos que os antigos já sabiam que dariam errado no futuro. É por isso que os conservadores conservam tradições e lêem livros antigos, de Platão a Montaigne, de Shakespeare a Solzhenitsyn – o revolucionário, por outro lado, acredita que suas boas intenções bastam para “consertar” o mundo, sem esperar nenhuma reação da dura realidade.

 

Os reacionários não seguem um bloco de pensamento fechado, como crêem e evangalizadoramente querem fazer crer Gregório Duvivier e outros seguidores do pensamento único hegemônico sendo instaurado no Brasil. Kuehnelt-Leddihn, Chesterton, Xavier Zubiri, Miriam Joseph, Mário Ferreira dos Santos, Olavo de Carvalho são pensadores católicos. O grosso dos “reaças” americanos, por óbvio, são protestantes. Alguns, judeus (essa turma que foi vítima do nazismo e que a esquerda odeia pelo mesmo motivo, mas jura que o nacional-socialismo nada tem a ver com socialismo): Dennis Prager, Ben Shapiro, Mark Levin, Michael Medved. Outros são muçulmanos, como René Guénon, Frithjof Schuon ou Hossein Nasr. Alguns são ateus, como S. E. Cupp, P. J. O’Rourke, H. L. Mencken, Jillian Becker.

Foi assim durante toda a história, para quem conhece os fatos antes de engolir o supositório de idéias e disparar a metralhadora da cagação de regra: Eric Voegelin, que não parecia acreditar na transcendência, a defendeu por ser a origem da ordem política e da moral social. René Girard já via no mito bíblico, de Caim a Jesus Cristo, o cerne da sociedade que não precisa mais de “sacrifícios” para se purgar, vendo a realidade do cristianismo tão fortemente quanto teólogos como Bernard Lonergan. Mircea Eliade via na esquerda não mais do que tentativas de reviver Cião através de mentiras, sendo o mais importante mitólogo do mundo. Já Emil Cioran, que viu o socialismo juche na sua própria pele, odiava a Deus e o mundo (literalmente para ambos), tal como se vê no reacionarismo furioso de Arthur Schopenhauer ou no materialismo total de Ayn Rand.

Ser “reaça” é defender o individualismo e a responsabilidade individual perante o coletivo – por óbvio, portanto, que eles discordem bastante entre si. Ronald Reagan era a favor de anistia para imigrantes ilegais. William F. Buclkey Jr. era a favor da legalização das drogas (como o são todos os “libertários”). Barry Goldwater era a favor da descriminalização do aborto. Ser “reaça” é defender a liberdade de pensamento individual – por exemplo, alguém não defender o casamento gay porque acredita que o casamento é instituição de formação da sociedade, e acredita que não se deve tratar como “casamento” uma união que não é formação de família.

 

Quer ver um direitista pobre? Fale com Marco Mattei, gari italiano que vivia com a família num subúrbio e teve o apartamento no terceiro andar incendiado por Achille Lollo, da organização terrorista de extrema-esquerda Potere Operaio (dá pra ver como gostam das classes baixas). No incêndio, um dos seis filhos de Mattei ficou preso no quarto, enquanto duas filhas pulavam pelo balcão. Um filho resolveu voltar para tentar salvar o irmão menor e ambos morreram abraçados e carbonizados. O caso ficou conhecido como “Rogo di Primavalle” (incêndio de Primavelle) na Itália. Achille Lollo fugiu para a Argélia e depois para o Brasil, onde foi um dos fundadores do PSOL, junto com Heloísa Helena. Outro terrorista italiano fugitivo, o mais conhecido Cesare Battisti, também fugiu após assassinar quatro pessoas, entre elas um carcereiro (que não deve ganhar muito).

 

É a “fé metástica” de que nos fala Eric Voegelin: a fé que odeia a realidade, tendo mais amor pela opinião (filodoxia) do que amor ao saber (filosofia) e que quer reformar toda a estrutura da realidade – para tal, não pode senão repudiar a realidade com medo dela, achando-se por isso “crítico” do que é simplesmente verdadeiro.

 

A esquerda chama todo mundo de quem discorda de “racista”, de “homofóbico”, de “fascista” justamente porque sabe que os xingados odeiam racismo, homofobia, fascismo – e se calarão quando tiverem sua opinião associada a estas coisas das quais têm nojo mortal (vide Kuehnelt-Leddihn acima). Se fossem de fato racistas, homofóbicos ou fascistas as pessoas simplesmente diriam “Sim” e continuariam na mesma. Não é o que a esquerda planeja.

 

Ser reaça é mó legal – basta parar de querer ter auto-estima apenas através do grupinho, jurando que com isso é “crítico” e auto-pensante. É saber que o mundo não tem soluções fáceis e prontas, e que há muito mais livros a serem estudados demoradamente antes de tirar conclusões apressadas do que jamais sonharam nossos progressistas.

Samir escorrega?

Samir escorrega? / Foto: ReutersTaí a torcida arco-íris toda feliz, mais preocupada em deitar falação sobre a desgraça dos outros do que sobre suas (mui parcas) alegrias. Ah, os ignaros… Não entenderam até hoje que, quanto mais se dedicam a nós, mesmo com todas as suas energias negativas, maior e melhor ficamos.

Vejam essa piada óbvia, infame e preconceituosa que dá título ao post. Foram trocentas vezes publicadas e compartilhadas em todas as redes sociais de ontem. Até em um dos meus grupos do Whatsapp. Tsc tsc tsc.

Pois eu respondo: três vezes.

Esses pobres de espírito até agora não entenderam que tudo o que está acontecendo com o Flamengo nessa superestimada copa continental faz parte de um plano maior de educação coletiva. Portanto, não se vangloriem, pois há um prato frio sendo preparado para nossa degustação.

Vocês, que tanto se dão ao desfrute ao invés de cuidar de suas próprias vidas, já prestaram atenção à tabela e aos nossos adversários? Já viram a classificação? E até agora não entenderam onde tudo vai acabar?

Em abril de 2012, aos 196 minutos do segundo tempo de sua última partida da primeira fase, esse mesmo time equatoriano com quem somos obrigados a nos bater na competição atual, fez um golzinho que nos eliminou da edição daquele ano. Então, Lanús somou 10 pontos e terminou em primeiro na chave. Esse tal de Emelec, por conta desse fatídico gol nos descontos, chegou aos 9 e terminou em segundo. E nós, representantes reconhecidos das forças do bem, terminamos em terceiro (e eliminados) com 8 pontos.

Pois sou obrigado a revelar que todo o nosso plano original está sendo seguido à risca. Aquele prato frio que vamos comer. O Flamengo, agora subestimado por seus adversários, os surpreenderá e vencerá seus dois últimos jogos, chegando aos 10 pontos. O León também chegará aos 10. E o onze equatoriano alcançará os mesmos 9 pontos daquele ano de triste memória e, em terceiro, será eliminado.

Duvida? Acha que estou louco?

Bom, não vou tapar o sol com a peneira. É claro que haverá sofrimento e suspense dignos de Hitchcock. Mas tudo já está escrito e partiremos serelepes e fagueiros rumo ao título. Preparem-se e não duvidem. Eu sei.

Tem limite

Vocês, provavelmente, já viram o comercial abaixo na TV.

“E daí, o que é que tem limite?”, devem estar se perguntando a meia dúzia de três ou quatro leitores que visitam o cafofo. Viadagem tem limite. Burrice tem limite. Ou pelo menos deveriam ter, né não?

Depois de ver o filme, resta alguma dúvida sobre a intenção do roteiro, de fazer uma piada com o Neymar fugindo de um homem depois de se exibir para as moças? Resta alguma dúvida de que é apenas uma brincadeira, sem qualquer conotação mais profunda? Resta alguma dúvida de que os Trapalhões faziam um humor muito mais pesado?

Pois está o maior bafafá nas redes sociais e no site da Lupo, com acusações de preconceito, de homofobia.

Será que não fica claro que o Neymar (heterossexual) foge de um homem (heterossexual)? Pois, afinal de contas, ele não quer se exibir, aparecer quase nu para outro homem.

Tem muita gente por aí sem nada pra fazer e com tempo demais pra pensar e falar merda, né não? E o pior é que, com o barulho que fazem por nada, estamos muito próximos de sermos todos proibidos de nunca mais falar nada sobre nada, nunca mais podermos sorrir ou rir de qualquer coisa.

Essas ‘minorias organizadas’ e suas pseudoditaduras do bem estão passando dos limites. Há muito tempo.

P.S.: será que eu preciso explicar que o termo ‘viadagem’ não tem nada a ver com ser ou não ser gay?

Que merda de democracia é essa?

Quem merda de democracia é essa que estamos vivendo no Brasil? Que merda de democracia é essa em que minorias barulhentas exigem que todos passem a concordar com elas, sob o risco de ter sua reputação destruída? Que merda de democracia é essa em que, se você pensa diferente, você não é um adversário de idéias mas um inimigo que deve ser destruído?

Ando meio de cara com o tratamento dado a duas figuras, pastores. E o que me anda deixando pasmo, além das reações furibundas de figuras e grupos específicos, é o tratamento que a ‘grande imprensa’ tem dado a eles: Silas Malafaia e Marco Feliciano.

Malafaia

Pastor Silas Malafaia / DivulgaçãoO primeiro já leva porrada há muito tempo, e já está até acostumado. O último episódio de grande repercussão foi sua entrevista à Marília Gabriela. Aliás, mais combate do que entrevista. E  aí eu pergunto: por quê?

A turma acusa o pastor, entre outras coisas, de roubar seus fiéis. É isso mesmo? Alguém obriga o sujeito a entrar no templo dele, alguém obriga o incauto a dar seu dinheiro para ele? Assim como em qualquer outra igreja, a opção é pessoal, a fé é pessoal. Então deixa o cara e sua turma pregar o que quiser.

As outras acusações sobre o pastor tem a ver com as idéias muito tortas, para mim e um monte de gente, sobre questões como homossexualismo, casamento gay etc. É preciso entender que temos de respeitar o que o sujeito pensa e fala a respeito, ele – como nós – tem direito de falar o que quer. E por mais que discordemos, sua pregação é fruto de sua leitura e interpretação da Bíblia.

Se não concorda, pare de atacar, de querer destruí-lo, e parta para o embate de idéias. Sem ataques ou agressões, com respeito. Ele tem o direito de pensar, acreditar e falar o que quiser, assim como qualquer um de nós. E que cada um arque com as conseqüências do que falar. Mas nunca a violência ou censura.

Feliciano

Deputado Marco Feliciano / DivulgaçãoEsse pobre de espírito é o crucificado do momento. Tudo por causa de uma frase sua fora de contexto e por ela o acusam de racismo (o sujeito é mulato!!!), e por conta de uma declaração mais do que infeliz que levou à acusação de homofobia.

O sujeito é pastor evangélico e, como todos os outros, não importa seita/igreja/congregação a que pertença, vai sempre falar e pregar contra o homossexualismo. Casamento gay, então, nem se fala. E as pessoas precisam entender que ele tem o direito de pensar assim, de falar sobre isso.

Uma pergunta simples: desde quando não gostar e não achar bom o verde é desrespeitar o verde? Desculpem, mas são coisas, sentimentos e atitudes muito diferentes. E vale para o azul, amarelo, vermelho, preto, negro, gay e o raio que o parta. Nós temos o direito de não gostar disso ou daquilo e deixar isso claro. Nós temos o direito de não querer chegar perto disso ou daquilo e deixar isso claro. O que não podemos é desrespeitar ou violentar isso ou aquilo.

Talvez seja incômodo para os democratas dessas minorias que só aceitam quem e o que concordam com elas, mas isso é uma via de mão dupla.

Acho que as idéias de Feliciano são absolutamente estúpidas. Mas é bom lembrar que ele foi eleito e representa boa parcela da população. E o parlamento é justamente o local onde o embate de idéias deveria ser sagrado. Por mais que não concorde, ele tem o direito de defender o que acredita. E o resto do mundo tem o dever de deixá-lo falar sem agredi-lo.

Então, por que ele não tem direito de estar no congresso e participar dessa ou daquela comissão? Quem disse que, para participar da comissão de direitos humanos da câmara, o sujeito tem que concordar com tudo o que essas minorias barulhentas e descoladas querem. Isso é totalitarismo, é ditadura meus caros.

Como é que essa turma faz discurso de tolerância se eles são os primeiros a não tolerar a diferença? E como é que nossos fabulosos veículos de comunicação reverberam essa tendência totalitária como se tudo estivesse bem e em seu devido lugar?

Então, que merda de democracia é essa em que só o que eu penso está correto e tem que ser impingido a quem discorda de mim?

P.S.: não sei de eventuais processos criminais contra os dois sujeitos, falo sobre idéias e democracia. Se eles estão sendo processados por alguma razão – evasão de divisas, por exemplo, tem sido comum entre pastores mais famosos – a discussão é outra e não invalida nada do que disse acima.

Banheiros

Tentei evitar o tema que é pra lá de espinhoso nesses nossos tempos estranhos, politicamente corretos na marra, em que falar o que pensa pode dar até cadeia, a despeito de vivermos numa democracia em que a liberdade de expressão é garantida pela constituição. Mas sabem como é, fui provocado. Recebi um e-mail de um amigo, que também é pai de uma menina, que termina com a seguinte pergunta: e aí, como é que faz?

Não sei se vocês acompanharam, aconteceu em São Paulo na semana passada. Uma menina de seus 10 anos entrou no banheiro de uma pizzaria e voltou correndo pra mãe com a novidade, “tem um homem vestido de mulher”. A mãe chama o dono ou o gerente e reclama; o sujeito, por sua vez, vai até o/a cliente e pede para que ele/ela use o banheiro dos homens. Está armada a confusão.

Como o/a moço/moça, ainda por cima, é alguém reconhecido, com espaço garantido em grandes meios de comunicação… Nossa personagem é Laerte, cartunista mais que reconhecido e que há alguns anos resolveu mudar de vida. Até aí, problema dele, a vida dele, corpo dele, opções dele. Mas e quando o negócio começa a afetar quem está em volta?

Nessa matéria da Globo, Laerte diz que a discussão não é nenhuma bandeira, apenas luta por seus direitos. E, nesse tempo de ONGs e minorias superprotegidas, quem é que luta pelo direito dos outros, da maioria? Aqui há um bom texto do blog/coluna para entender Direito. E aqui, outro.

Mas o que importa é que até agora não respondi à tal provocação.

Provavelmente, se passasse pela mesma situação, estaria preso. Afinal, que papo é esse de homem no banheiro de mulher, mesmo que esteja travestido? E o constrangimento de minha filha? Tenho quase certeza que sairia da mesa furibundo em direção ao banheiro e tiraria o/a moço/moça de lá a tapas.

E, além da agressão, seria acusado de homofobia e otras cositas más que não fariam sentido. Estaria apenas reagindo contra um despudor – um homem no banheiro feminino, seja vestido de palhaço, um cross dresser ou um gay travestido – ao qual não quero minha filha de dois, oito ou quatorze anos, exposta.

Mas levei a questão para casa e a dona da minha vida, muito mais sensata e – pelo visto – menos conservadora sai com a pérola: “e daí? Ele não está lá de sacanagem para ver mulher pelada. Ele se sente mulher, se veste como mulher, não tem problema em ir ao banheiro de mulher. Há coisas muito piores por aí”.

Pouco depois, Helena (que tem apenas dois anos) vê a mulata globeleza e pergunta: “mamãe, ela tá pelada?”. A gente sabe que, além da sambista, coisas muito mais chocantes estão à disposição na TV , inclusive aberta. E o óbvio discurso do controle remoto não tem muita valia em tempos de internet, ao menos para crianças mais velhas. Um tanto complicado esse nosso mundo moderno, né não?

Mas, voltando ao caso do banheiro, como é que faz? Na verdade, as escolas de samba do Rio resolveram esse problema há uns trezentos anos, sem alarde, sem bandeiras, sem justiça envolvida. Bastou criar um terceiro banheiro para o público LGBTXYZ (essas siglas sempre mudam e nunca sei a que vale). A iniciativa não foi só aprovada, mas aplaudida. Simples e direta. Apenas bom senso de ambas as trocentas partes.

E agora que bostejei sem chegar a conclusão alguma, será que alguém aí tem alguma solução? E o que acham de toda a situação?

Racismo oficial

Ainda (ou de novo, sei lá) as cotas. Está aqui na minha a frente a notícia de que passa a valer a partir de hoje um decreto assinado por Sérgio Cabral no dia 6 de junho que define a reserva de 20% (!!!) das vagas nos concursos públicos para negros e índios.

Pelo que li por aí, apenas mais dois estados – Paraná e Mato Grosso do Sul – têm legislação semelhante, mas com cotas bem menores.

E por que sou contra as cotas? Primeiro, porque quem está vivo hoje não tem culpa do que aconteceu com negros e índios há alguns séculos atrás, escravidão e extermínio por exemplo. Segundo, porque ao criar sistemas de cotas para tudo – concursos, universidades etc. – o Estado não cuida do que deveria: dar oportunidades iguais de educação para todos e criar a cultura do mérito.

Outro detalhe desses sistemas de cotas é que, ao invés de debelar, incentiva a discriminação e o preconceito. Duvidam?

“Minha nota é muito melhor, mas aquele cara passou nas cotas, porque é negro. Preto filho da puta!”.

Ei, calma, é só um exemplo. Mas você duvida que isso possa acontecer? Duvida que esse sentimento possa ser disseminado? Pois agora, imagine a mesma situação da maneira inversa, em um país em que as cotas fossem “necessárias” para os brancos.

“Minha nota é muito melhor, mas aquele cara passou nas cotas, porque é branco. Branquelo filho da puta!”.

Pois é… Agora, imaginem como seria o mundo se para tudo existisse cotas para questões de raça, gênero, orientação sexual, idade, tamanho do pé etc. Não, não é piada não. É que ao criar o precedente, as opções são infinitas.

Por fim, como decidir quem é índio, preto, pardo ou coisa que o valha? Baseado na autodeclaração ou na percepção de um funcionário público qualquer, contratado para olhar para um candidato e vaticinar sua condição? Como classificar, por exemplo, o Neguinho da Beija-Flor? Ele é negro? Tem certeza?

Pois há alguns anos, a BBC Brasil fez um estudo genômico, em parceria com o laboratório Gene, com nove personalidades negras. Vejam os resultados abaixo.

Pois então, a partir desse estudo, quem garante que eu ou até aquele louro de olho azul que você conhece não seja negro? Como seriam as cotas, então? Por proporcionalidade? Vamos exigir DNA de todos os inscritos?

Ou será que, em pleno século XXI, o Brasil corre o risco de se transformarem um Estado Racial?

Färskhet och utbildning paj*

E foi notícia ontem, no portal de um grande conglomerado de comunicação, a história de que uma pré-escola sueca luta contra estereótipos de gênero, dizendo às crianças que todos são iguais, homens e mulheres. Vejam a declaração de uma das professoras:

A sociedade espera que garotas sejam frágeis, gentis e bonitas, e que garotos sejam machões, ásperos e extrovertidos. A Egalia lhes dá a fantástica oportunidade de serem quem eles quiserem.

Devo ser burro, por favor me ajudem. Sempre acreditei que a melhor maneira de evitar preconceitos, ao contrário de esconder as diferenças, era apresentar as diferenças e mostrar que elas – as diferenças – não tornam ninguém melhor ou pior. Estou enganado?

Tentar dizer que homens e mulheres (e neste caso, meninos e meninas) são iguais não é um crime contra o conhecimento, justamente porque eles não são iguais? E qual o problema de homens e mulheres serem diferentes?

E é claro que não estou me referindo aos estereótipos da menina frágil e do garoto machão, porque eliminar estereótipos não elimina as diferenças. E qual é o risco, ao tentar fingir que todo mundo é igual, de provocar mais discriminação quando essas crianças se derem conta (porque é claro que elas vão perceber) que as diferenças existem.

Mas a tal escola é notícia e arrisca virar referência por educar de maneira torta. Daí pra virar moda e chegar por aqui, é um pulo. Não é uma maravilha?

*Frescura e educação torta