Só vai piorar

Pivete preso em poste no Rio  /  Foto: Yvonne Bezerra de Mello/ Arquivo Pessoal  /  Reprodução G1Foi só eu reclamar que andava faltando assunto, e pronto. A bola quicou na minha frente. Eu, que sempre fui um baita perna de pau, corro o risco de mandar a redonda na lua. Mas vamos em frente.

Primeiro é preciso dizer que não sou nada a favor da ‘justiça pelas próprias mãos’, ‘olho por olho, dente por dente’ e congêneres. Simplesmente porque posturas e comportamentos do tipo só fazem girar e acelerar a roda nada virtuosa. E, afinal de contas, somos pretensamente civilizados e temos leis.

Agora, antes de começar, peço a todos que me xinguem: facista, nazista e quaiquer outros nomes nada bonitos do tipo são aceitos. E sim, façam por antecipação.

Eu tenho ódio mortal dessa turma bonitinha e corretinha que vive a gritar por direitos humanos. Só porque em 95% dos casos, estão preocupados com os algozes ao invés de pensar nas vítimas. Nada demais, como se vê.

A grita do momento no Rio é por causa de um garoto que foi levemente surrado, perdeu um pedaço da orelha e foi amarrado nu, com uma tranca de bicicleta, em um poste. O garoto, que é menor (!!) e suposto praticante de roubos, já tem três anotações na polícia – justamente por roubos e furtos – e fugiu do hospital para onde foi levado. Um anjo de 15 anos que, é claro, não sabe o que faz. Mas nada disso justifica a violência com que foi tratado, embora um pouco de esforço permita entender porque aconteceu.

Fui jovem no Rio de Brizola, o que diz muito sobre o tipo de cidade que conheci. Fui assaltado com arma na cabeça, sem arma na cabeça, meu prédio foi atacado naquele esquema de render geral e fazer a limpa. Mas a última vez foi um assalto que sofri num ônibus quando voltava da faculdade, há mais de 20 anos.

Toda cidade grande tem violência, claro. Mas o perfil do Rio, com o apoderamento do tráfico, mudou. E a cidade se desacostumou a enfrentar essa violência de rua. Mas hoje, só na zona Sul, esses eventos quase dobraram. E não achei os dados sobre o resto da cidade (a Tijuca, onde moro, e os bairros ao redor estão perigosíssimos).

Pois viva as redes sociais. Apesar dos números oficiais não retratarem a realidade (porque ainda é pequeno o número de pessoas que faz o registro), é alarmante perceber que dia a dia só aumentam as histórias e postagens (boa parte com fotos) de roubos e furtos. E cada vez mais violentos, pontencializados pela praga do crack. E agora chegamos ao ponto.

Por causa da droga, tudo virou um problema social. Desculpem meus amigos, mas não é. Nem todo toxicômano é bandido, nem todo pobre é bandido, nem todo bandido é viciado, nem todo bandido é pobre (Brasília que o diga, mas isso é outro assunto).

Então, uma coisa é problema social. Outra é o problema de polícia, a violência. São sim coisas distintas que, muitas vezes se permeiam. Mas não necessariamente. O Rio, hoje, sofre com as duas coisas.

Sobre o problema social, muito discurso, debate e programas inteiros em vários canais de TV. Mas pouquíssima ou nenhuma ação. E a violência é problema de polícia, que também não é eficiente. E por isso estamos correndo o risco de chegar à barbárie.

Sobre a droga, quando o estado não age, a população não tem muito o que fazer. Mas sobre a violência…

O garoto que foi preso ao poste não é um caso isolado. Em vários pontos da cidade, há grupos se organizando para dar corretivos em marginais. Isso está certo? Claro que não. Mas se a polícia não age… A diferença do caso que foi parar no jornal é que amarraram o garoto e tudo aconteceu no paraíso da esquerda-caviar-politicamente-correta que adoram posar de salvadora e defensora da massa ignara, desde que ela nunca deixe de ser a massa ignara. E, de preferência, pobre pra justificar o discurso. Só por isso virou notícia de jornal.

O número de assaltos e agressões nas ruas, invasões de casas e condomínios, roubos de carro, assaltos a ônibus, roubos de bares e outros eventos do tipo só faz aumentar. E quando o estado não resolve, abre espaço para a reação da sociedade. Que pode ser a melhor possível, mas também pode ser a pior. Foi o que aconteceu com o menino do poste e vai continuar acontecendo enquanto as coisas não forem resolvidas. Infelizmente, é “natural”.

Enquanto o estado e a sociedade (ongs e outras entidades) continuarem a confundir problema de polícia com problema social, romantizando as coisas como se compusessem um belo samba, o horizonte vai ficar cada vez mais negro. Tenho dito que estamos no limiar dos anos Brizola e amigos dizem que sou apocalíptico. Sei não. Toda vez que ouço essa gracinha, infelizmente acerto. E agora, temos o agravante da reação. E a roda gira.

P.S.: sempre disse que as UPP eram um achado de marketing e que o Rio não tinha política de segurança séria. Pois agora que as meninas dos olhos já começam a fazer água – basta ver que o número de tiroteios e ataques a unidades de polícia em favelas ‘pacificadas’ só aumenta –, alguém viu por aí os srs. Beltrame e Cabral dando alguma explicação ou se importando com o aumento da violência? Pois é, apocalíptico…

Olha o arrastão entrando no mar sem fim

Arrastão em Ipanema / Foto:  Marcelo Carnaval - Agência O GloboVoltamos a ter arrastões nas praias do Rio. E a tendência é que, assim como o calor, a situação piore nas próximas semanas. O movimento deu uma boa caída em algumas favelas e suas bocas, a turma precisa garantir o Natal. Sabem como é né…?

Pelo andar da carruagem, o bagulho (com trocadilho) vai ficar esquisito.

Boa parte da população não anda satisfeita com muita coisa (quase nada, na verdade). E surtos de violência passaram – de certa forma – a serem considerados normais desde que começaram as manifestações de junho. De quebra, a massa que faz arrastão, que dá a cara a bater, é formada por menores de idade (dos 10!!! aos 17) que, mesmo quando grampeados, são liberados em seguida. E aí a sensação de impunidade…

Junte tudo isso com cadeiras e pés de barracas de praia, tudo à mão, fácil de usar e brandir a esmo. Como diz uma amiga, vai dar merda, alguém vai morrer. E quando aparecer a turma indignada dos direitos humanos, ninguém vai bater palmas ou apoiar os caras. E olhem, já vi muita gente por aí torcendo para que isso aconteça.

Agora, uma perguntinha: onde está o querido e incensado secretário de segurança, o bravo Beltrame? Ninguém sabe, ninguém viu.

Arrastão em Ipanema / Foto:  Marcelo Carnaval - Agência O GloboPra terminar, vale dar uma olhadinha nas duas fotos aí em cima. Reparem no modo de atuação da Guarda Municipal, os marronzinhos do Eduardo Paes que têm largo histórico de sair no tapa com camelôs e congêneres. Reparem em como eles estão correndo e distribuindo cacetadas a torto e a direita. Na primeira, há um guarda pronto para arremessar uma cadeira. É ou não é de dar orgulho?

Resta, afinal, desejar boa sorte aos ratos de praia.

O que vale um professor?

Sala de aula / Foto: Marcos Santos/USP ImagensEu ainda não consegui digerir direito o que aconteceu no Rio, na noite/madrugada de sábado para domingo.

Pra quem não sabe: os professores do município e do estado estão em greve desde agosto. Há algumas semanas, o alcaide apresentou algumas propostas e como sinal de boa fé, os da cidade voltaram a trabalhar. Como nada do combinado, foi cumprido, retomaram a greve.

Em nova rodada de negociações, o prefeito voltou à carga e apresentou um modelo de plano de carreira. Eu li a proposta que, em quase todos os aspectos, é indecente e alcança menos de 10% dos profissionais de educação da cidade. Mesmo assim, como sujeito democrático que é, enviou o plano para tramitação na câmara dos vereadores – onde tem maioria absoluta e aprova o que bem entende. Só pra se ter uma idéia, dos 51 vereadores, 41 (de 20 partidos!!!) formam a base de apoio. Os 10 da oposição são 4 do PSOL, 3 do DEM, 2 do PSDB e 1 do PV.

Na pauta, o tal plano recebeu 27 emendas, todas de vereadores da situação. E no meio da semana passada, os professores foram à câmara para tentar negociar com os vereadores. Em meio às discussões, o negócio desandou e o plenário foi ocupado por cerca de 150 dos 200 educadores presentes à sessão. E lá ficaram até sábado à noite, sem quebrar um copo sequer.

Porque apesar de sindicalistas, são professores. E aí está a questão: são professores.

Talvez isso seja besteira pra você. Mas ainda entendo que o professor cumpre uma função sagrada – em que pese todos os muitos problemas existentes.

Registros

Se procurarem por aí, encontrarão mil vídeos e fotos do que aconteceu no Palácio Pedro Ernesto: sem qualquer ordem formal, sem qualquer anuência do poder judiciário, sem qualquer documento, a PM foi enviada para a câmara pelo governador do estado que, teoricamente, atendia a pedido do presidente da casa – numa ação que foi contra o que o próprio Jorge Felipe disse dias antes.

O pau comeu na casa de Noca. Apesar da polícia afirmar que a ação não foi truculenta, 20 foram parar no hospital e até vereadores foram agredidos pelos policiais (foi registrada a frase “vereador também apanha”). Um dos professores, cardíaco, desmaiou. E caído no chão, foi chutado por policiais. E esse é só um exemplo.

Não, eu não sou a favor da ocupação e acampamento na câmara ou coisas do tipo. Mas há o jeito certo e o jeito errado de se resolver os problemas.

O nosso governador, abraçado ao prefeito e ao presidente da câmara, escolheu o errado. E nem preciso falar a respeito dos policiais, especialmente seu comando, que podem (e devem) se recusar a cumprir uma ordem ilegal, e não fizeram isso.

Indignação

Outra coisa curiosa, ainda que triste, pode ser vista nas redes sociais. Alguns discursos e imagens fazendo referência à “indignação da sociedade”. Infelizmente, uma baita duma mentira.

Boa parte da cidade nem sabe o que está acontecendo, não viu o que houve no sábado à noite. Não por acaso. Ao menos a parte da sociedade que é capaz de fazer barulho e até se organizar quando quer, não tem seus filhos em escolas públicas. Assim, não são afetadas pela greve nem tomam conhecimento de como as coisas estão caminhando. Ou você vai dizer que aí no seu trabalho ou na academia ou seja lá onde for não se fala em outra coisa?

E é claro que a chegada da polícia no sábado à noite, quando os jornais de domingo já estão fechados, quando a televisão não tem qualquer noticiário, quando boa parte das pessoas está na rua se divertindo ou até viajando, não foi por acaso. Como também não foi por acaso que a única matéria de O Globo no domingo falava sobre como as famílias estão tendo de apertar os cintos para cuidar das crianças sem aula (como se os alunos da escola pública estudassem em horário integral e não tivessem férias).

Perguntas

Por fim, de tudo isso, me faltam algumas respostas. Se alguém se sentir apto a respondê-las, sinta-se em casa.

  1. Em que tipo de sociedade vivemos e qual queremos construir ao violentar (em todos os sentidos) os professores?
  2. A escola pública, em greve, atende à maior parcela da população, mas a menos capaz de fazer barulho organizado. Qual a atuação do sindicato junto às escolas particulares? Por que os professores, todos, não entram em greve?
  3. Por que o Sepe e o SinproRio não trabalham em parceria?
  4. Com tantas imagens (vídeos e fotos), além dos relatos e hematomas de quem viveu e viu aquela noite, como é que governador, comandante da PM e presidente da câmara tem a desfaçatez de falar que tudo o que aconteceu foi legal e normal?
  5. Com tantas imagens (vídeos e fotos), além dos relatos e hematomas de quem viveu e viu aquela noite, como é que os principais órgãos de imprensa (a “mídia golpista”) continua apoiando e até defendendo (vejam as manchetes, interpretem as manchetes) prefeito e governador?
  6. Mais do que quanto, o que vale um professor?

Para quebrar o tédio

SpyFox / ReproduçãoÉ, a idéia era voltar ao trabalho e, ao mesmo tempo, recolocar o cafofo pra funcionar. Mas as coisas andam um tantinho sonolentas e as notícias do mundo nem são as melhores, um baita mais do mesmo: a polícia do Cabral que desce o cacete até em professor, o Amarildo e um montão de desaparecidos que não aparecem, fora um e outro escandalozinho político. Enfado não?

Aí, pra melhorar um pouquinho o humor da tarde, SpyFox. Um espião que, inspirado em Bond e congêneres dos anos 60, salva o mundo da terrível ameaça de um tubarão martelo e suas sardinhas.

O filme foi produzido por Yoav Shtibelman, Taylor Clutter e Kendra Phillips, na Ringling College of Art and Design. E não deixem de assistir o making of.

A verdade que emana da cerveja

David Luiz / Foto: Jasper Juinen/Getty ImagesNoite de sábado, véspera da final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha. Estávamos lá. Eu, Marcos, Alexandre e outro Gustavo. Muitas latas depois, discutindo sobre o tudo e sobre o nada. Cerca de mais ou menos 6min38seg depois de resolver todos os problemas do Brasil, o país, surge a grave questão: “e aí, como vai ser amanhã?”

Dadas as condições gerais das últimas semanas, com discussões políticas intermináveis pelos motivos que todos conhecemos, andava até evitando falar de futebol. Principalmente sobre a possível “final que todos queriam ver”. O único sujeito que li e ouvi falando que o Brasil colocaria a Espanha no bolso foi o Rica Perrone. De resto, “a Espanha é (inclua aqui qualquer adjetivo igual ou superior a fodástico)”

Tenho um amigo querido, Rogério (sem sobrenomes, por favor) que desde as vésperas da última Copa chegava a orgasmos múltiplos a cada jogo da Roja. Imagina, então, se eu – logo eu! – ia ser do contra.

Mas a verdade que emana da cerveja…

Entre as observações e interjeições que ouvi (algumas nada decorosas), estavam:

– Você é louco

– Bebeu?!

– Tá de onda…

– Interna!

Basicamente, o que eu disse, é que ganharíamos da Espanha sem maiores sustos. E que se déssemos a sorte de um gol logo no início, enfiaríamos um saco de gols nos caras (foi por pouco). E que se jogássemos 18 vezes contra a Espanha, ganharíamos 17 (e só aqui eu admito um tantinho de exagero, mas era pra defender posição em meio à discussão encharcada).

Não, eu não sou louco. Pelo menos oficialmente. Mas há coisas sobre a Espanha que nem são tão difíceis de observar. A primeira, por óbvio, é que é um timaço sim. Com grandes e inteligentíssimos jogadores. Agora, o resto.

O toque de bola absurdo do time é baseado no Barcelona, algo que todo mundo sabe. Mas há uma diferença crucial entre o clube e a seleção. O Barça tem a possibilidade de contratar qualquer grande atacante do mundo, e faz isso há já há décadas. E só formou, craque mesmo, o Messi. A seleção não tem essa possibilidade e os artilheiros espanhóis não seriam titulares em metade dos 20 clubes do nosso Brasileirão. Não por acaso, ganharam a Copa de um a zero do início ao fim (fora a derrota pra Suiça). E é tão bonito de ver jogar que pouca gente se deu conta do quão fora da curva foi a goleada sobre a Itália na final da Euro.

O toque de bola, então, que é maravilhoso sim, na esquadra nacional, assume o papel de melhor sistema defensivo do futebol mundial. Afinal, sem a bola, ninguém faz gol. Pela qualidade e inteligência acima da média do time, os caras botam os outros na roda, extenuam os adversários com seus 65, 70% de posse de bola, e matam as partidas com um, dois gols no máximo. Quase sempre no segundo tempo. Peguem as estatísticas. De outras vezes, poucas, acham um ou dois gols no primeiro tempo e os adversários, com metro de língua pra fora, não conseguem reagir.

E por que eu tinha certeza que venceríamos o jogo? Pela intensidade com que o time veio jogando e crescendo, porque o time não é ruim (apesar de saber que não é a escalação ideal), porque a Espanha tem pontos fracos óbvios (como as laterais), porque eles não são tão velozes sem a bola (especialmente os zagueiros). Ah, e um detalhezinho, besteira, bobagem: camisa.

E sim, acredito que se jogarmos 10 vezes com eles, ganhamos 7, empatamos 2 e perdemos 1.

Os caras, donos do mundo que a geração Playstation acredita ser a melhor de todos os tempo (ah, os jovens), estavam há 29 jogos oficiais invictos. Mas alguém já se deu conta de quem foram os adversários? Vejam (e analisem) a lista, com resultados, de trás pra frente. São jogos de Copa, Eliminatórias, Euro e Confederações. Os negritos para os times de (alguma) camisa, os vermelhos para os resultados ridículos (pro bem e pro mal).

Itália, 0-0 (7-6 nos pênaltis)
Nigéria 3-0
Taiti 10-0
Uruguai 2-1
França1-0
Finlândia 1-1
França 1-1
Bielorrúsia 4-0
Geórgia 1-0
Italia 4-0
Portugal 0-0 (4-2 nos pênaltis)
França 2-0
Irlanda 4-0
Itália 1-1
Escócia 3-1
República Tcheca2-0
Liechtenstein 6-0
Lituânia 3-1
República Tcheca 2-1
Escócia 3-2
Lituânia 3-1
Liechtenstein 4-0
Holanda 1-0
Alemanha 1-0
Paraguai 1-0
Portugal 1-0
Chile 2-1
Honduras 2-0

O Brasil será campeão do mundo ano que vem? Não sei. A própria Espanha pode repetir a dose. E até pode nos vencer na final, por que não? E ainda há Alemanha (minha favorita hoje) e Itália. Por fora, correm como sempre a Holanda e a Argentina. E sempre há a questão dos cruzamentos, uma surpresa africana, uma zebra norte-americana, uma Bélgica que vem jogando muito bem e pode atrapalhar.

Basicamente, o que estou tentando dizer é que o bicho nunca teve sete cabeças. E lazaronis a parte, Brasil é Brasil. Ou vocês acham que eles queriam se bater com a gente por acaso?

P.S. 1: “E se o David Luiz não tivesse salvado o empate, se a bola entrasse?” O ‘se’ não joga, se sapo tivesse embreagem não pulava tanto. Pois digo que mesmo se fosse gol, venceríamos o jogo.

P.S. 2: Dilma, Cabral e Paes encastelados, ausentes no Maracanã? Não tem preço

1,3 bilhão

brasil-inglaterraTodo mundo sabe, todo mundo viu. O Maracanã foi reaberto ontem, de verdade, com a partida entre Brasil e Inglaterra.

O carioca (nascido ou não por estas plagas), com o seu jeito fanfarrão de sempre, inundou sites e redes sociais com fotos e vídeos sobre o estádio, especialmente sobre as falhas de acabamento.

Apesar de todo o tempo do mundo, desde que sabemos que seríamos sede da Copa do Mundo, a obra foi feita a toque de caixa, principalmente a última parte – justamente a fase de acabamento.

Também não é preciso falar do entorno, que ainda não está pronto. Nem dos imbróglios sobre o Célio de Barros, o Julio Delamare, a Escola Municipal Friedenreich e o antigo Museu do Índio.

O que me deixou pasmo é ver o governador, ao entregar a obra como pronta, avisar que o Maracanã ainda tem muitos problemas. Oi? Depois de mais de três anos e mais de um bilhão de reais, o sujeito dá o estádio como pronto e avisa que tem problemas? E todo mundo acha normal?

P.S.: dado o histórico, o que aconteceu com o autódromo, alguém ainda acredita que – depois de demolidos – o Célio de Barros, o Julio Delamare e Escola Friedenreich serão construídos em outro lugar? Jura? Pois caso dinheiro: nunca serão, jamais serão.

Ligações muito perigosas (pra nós)

O Lessa é um cara legal, apesar de discordar dele em quase tudo – Flamengo e Beatles são algumas exceções. Infelizmente, para quem gosta de ler, é um blogueiro quase bissexto. Mas hoje resolvi dar uma olhada em seu cafofo e encontrei lá um belíssimo post, publicado há exatamente um mês.

Sobre Paes, Cabral e suas ligações muito mais que perigosas (e olhem que a Delta nem é citada). No texto, uma provocação com que Lessa nos obriga a pensar na cidade em que vivemos e em que tipos temos votado, há um link para a Revista Piauí que é fundamental.

Nilton Claudino, o repórter fotográfico d’O Dia que foi descoberto e torturado enquanto fazia uma matéria sobre as milícias (ao lado de uma repórter e um motorista), finalmente rompeu o silêncio e contou sua história, publicada em agosto de 2011. Não vi a revista na época e, sinceramente, lembrava muito vagamente da história.

2012 é ano eleitoral e, mesmo que você não esteja disposto a dedicar muito tempo ao assunto, pense um pouquinho. Paes, candidato à reeleição, anda de mãos dadas com Cabral (e uma turma muito esquisita). Cabral é o cara que, ao lado de Beltrame, criou a UPP, a invasão que não prende ninguém e ainda empurra a turma expulsa de nossas favelas para Niterói, baixada e região dos Lagos.

Ah, e só pra lembrar, nunca houve uma UPP instalada em área dominada por milícias.

Num quarto escuro, só iluminado por telas de celulares, que usavam para que pudéssemos assistir uns aos outros serem subjugados. O motorista pedia para que eu afastasse escorpiões que subiam por suas costas. Não podia ajudá-lo. Ouvíamos passos de muitos PMs. Tiraram nossos capuzes e substituíram por sacos plásticos, parecidos com os de supermercados. Com eles, produziam asfixiamentos temporários. Mas dava para ver as fardas quando olhava por baixo do plástico (Nilton Claudino).

P.S. 1: vamos muito mal na Guanabara e, pelo jeito, teremos uma terrível “encruzilhada de três pernas” pela frente. As principais opções que se apresentam à eleição para prefeito são Eduardo Paes; a chapa que resolvi chamar de ‘Os Maiazinhos’ – Rodrigo Maia e Clarissa Garotinho, herdeiros de clãs que dispensam apresentações; e Marcelo Freixo, do PSOL – o partido que abre seu programa com o seguinte texto: “o sistema capitalista imperialista mundial está conduzindo a humanidade a uma crise global. A destruição da natureza, as guerras, a especulação financeira, o aumento da superexploração do trabalho e da miséria são suas conseqüências. Sob o atual sistema, o avanço da ciência e da técnica só conduz a uma mais acelerada concentração de riquezas.”

P.S. 2: ou seja, estamos fodidos e mal pagos.

Nulum die sine linea

Já fui um fiel seguidor dessa espécie de lema. “Nenhum dia sem uma linha”. Achava que, mais do que manter um hábito, fazia um exercício. E se fosse capaz de escrever quando não tinha o menor saco ou inspiração, seria capaz de produzir em qualquer situação.

Pois, como podem ver a meia dúzia de três ou quatro amigos e leitores que freqüentam o cafofo, meio que abandonei o lema. Não é por acaso que não pingava nada por aqui há quase um mês. E naqueles dias em que – nem profissionalmente – não precisava juntar palavras para formar frases, resolvi tirar folga.

Também sou obrigado a confessar que as atuações do Flamengo no final da temporada, aquele monte de corridas de F1 que não valiam nada, a vergonha em que se confirmou o governo – a manutenção de Pimentel e Negromonte em suas cadeiras é surreal – e a certeza de que as chuvas de verão arrebentariam tudo de novo, como sempre e como já está acontecendo, colaboraram bastante para aumentar o meu enfado. Parece que, de novidade mesmo, só o fato de Sérgio Cabral não estar em Paris ou sei lá onde na hora do aperto.

De quebra, as festas e toda sua rotina extenuante de compras e correria e jantares e obrigações de festas e comemorações mil… No final das contas, o mesmo de sempre. Virou o dia, virou o ano, e nada mudou. Mais ou menos como os fogos de Copacabana. Ou será que vocês realmente acreditam naquelas promessas de ano novo, que se repetem a cada 365 ou 366 dias?

É, não ando muito otimista mesmo, ao ponto de ter percebido numa frase dessas ouvidas por aí e publicadas em revistas (acho que foi na do Globo) a melhor definição sobre o estado geral de coisas que vivemos hoje: “se é verdade que o Natal aproxima as pessoas, no metrô é Natal todo dia” (reproduzo de memória e pode haver algumas diferenças em relação ao original).

Bom, daqui a pouco retomo a produção em ritmo normal. E enquanto não chegamos à conclusão sobre se o mundo vai acabar mesmo no dia 21 de dezembro, se a data marca apenas o fim de uma era ou se o calendário maia parou aí porque os caras ficaram com preguiça de continuar, desejo a todos – com quatro dias de atraso, eu sei – um feliz ano novo.

A força da grana que pode destruir a cidade mais bela

E as barcas que ligam o Rio a Niterói? Mais uma cagada, um acidente que machucou um bom bocado de gente (ainda bem que nem tão grave). E no dia seguinte, o anúncio do aumento de preços. Não é brilhante?

Aqui nesse meu cafofo, já cansei de dar porradas no metrô, já falei de ônibus, de trem e de barcas. E tudo continua igual ou pior.

E aí o Lessa trouxe para seu blog a charge do Chico, publicada no Globo. Brilhante. E escreve um texto um tanto raivoso – com razão demais e raiva de menos – sobre o tema. Vejam um trecho:

E o carioca vai sendo torturado a olhos vistos: enquanto o mundo maravilhoso da Copa e das Olimpíadas é evocado em nome do Rio de Janeiro, metrô, trem e barcas nos tratam como vermes. Vermes que ainda são obrigados a pagar mais pela tortura.

Vale clicar aqui para ler o texto completo, mas eu tenho um tanto de discordância do que está lá quando ele diz que O Globo “ultimamente tem sido uma extensão dos Diários Oficiais”.

Na verdade, na verdade, não é que eu discorde. É que lendo o texto, vejo um tom de crítica política (pura) nesse tipo de colocação quando, na verdade, a questão – penso eu – é comercial.

As organizações Globo são as detentoras dos direitos dos dois grandes eventos que a cidade vai receber. E se analisarmos o modus operandi de seus veículos, poderemos perceber que nunca é veiculada qualquer tipo de crítica sobre qualquer evento ou programa ou seja lá o que for que tenha cobertura dos caras. Não é por acaso que, de modo geral, tudo anda às mil maravilhas por aqui.

Até há problemas na cidade, mas assistindo ou lendo seus canais e publicações, descobrimos que tudo estará perfeito em muito pouco tempo. E isso tem a ver com grana e não por amor a Cabral e Paes.

Confusão

E a política de segurança do Sr. Cabral, se ainda não faz água, já está próximo disso. Todo mundo viu o que aconteceu no Alemão na semana passada. E o pau já quebrava por lá há muito tempo, apesar de não ser noticiado.

Agora, começam a pipocar aqui e ali as notícias sobre problemas nas UPP. A última, sobre Santa Teresa. O comando da unidade do Fallet foi afastado e 30 policiais estão sob investigação. Episódios que andam acontecendo apesar da prática preventiva de despejar nessas unidades apenas os recém formados, sem os vícios das ruas.

Em tese, opção correta. Só esqueceram que boa parte desses vícios já existem muito antes dos moços e moças entrarem na academia e se tornarem cadetes.

Outro problema das UPP não é culpa das UPP. Não adianta, por exemplo, os caras colocarem a polícia nas favelas sem que estado e prefeitura assumam suas outras responsabilidades. Assim como não adianta invadir as favelas sem invadir de verdade, prendendo a turma e partindo para o confronto. É ridículo, por exemplo, em setembro o sujeito avisar que a UPP será instalada no Alemãoem março. Pombas, porque não manda a frota da Granero de presente pros caras? Assim, não quebra nada na mudança…

É, eu sei que esse texto está um tanto confuso, misturando até alhos com bugalhos. Mas esse é exatamente o problema da política de segurança do estado. A médio e longo prazo, o cenário desenhado é muito, muito confuso.

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P.S.: só pra não perder a oportunidade, lembrei que ninguém mais fala nada de milícias. Parece até que acabaram, que está tudo bem. Não está nada bem, os caras continuam tocando o terror por aí. E ninguém fala nada, nada é feito.