Agosto

Acho engraçado as reclamações e lendas e sei lá mais o quê. O “mês do cachorro louco”, “o mês interminável”… Bom, isso ele é mesmo. 31 dias, sem feriados. A partir do momento que o sujeito tem de trabalhar e pagar contas, isso tem o peso do mundo.

Por outro lado, tenho mãe aniversariante em 1º de agosto. Ou seja, meus caros, sem agosto eu não existiria. Salve agosto! Ave agosto!

O agosto de 2018 tem um quê a mais para se reclamar, pois não ganhamos a Copa e ainda temos eleições. E que eleições, não é mesmo? E que candidatos…

Mas vamos ao que importa. Lendo Xico Sá, fui parar em Caio Fernando Abreu. E reencontrei o texto que, à moda da época, viralizou. E ele está aí embaixo, vale a leitura. Publico, a 24 dias de terminar o mês, um texto que já tem 23 anos. Saiu (ainda era a época em que as coisas saíam no jornal) originalmente no Estadão, no dia 6 de agosto de 1995. Então é bom lembrar que a internet (mal) engatinhava e tudo o mais que se torno possível por conta dela.

Também, pela data, a referência a FHC. A ele, nos dias de hoje, somaria uma renca de gente: Temer, Lula, Aécio, Moro, Mendes, Dilma, Renan… A lista é praticamente infinita, com destaque especial para Bolsonaro. Ah Brasil, onde foi que lhe metemos?

Sugestões para atravessar agosto

Para atravessar agosto é preciso, antes de mais nada, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso, quem sabe, ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente “ah!”, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções – úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade… Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancun ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem se vingar, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não deem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

Ser reaça é ser contra aqueles regimes onde você pode sair fuzilando quem discorda de você

Vire à direitaO texto de Flávio Morgenstern é longo. Para os padrões da internet. Ao menos, da internet brasileira. Isso significa que, provavelmente, será pouco lido. O que é uma tristeza, mas diagnosticado pelo próprio texto. E não por entrelinhas.

Além de longo, é um texto que requer reflexão, um tantinho de conhecimento e mais um bocado de não-preconceitos. Taí um outro limitador.

Mesmo assim, vale a pena. É um texto para bons leitores, aqueles que lêem textos ao invés de pessoas. Aqueles que não só não se preocupam em discordar, mas que entendem que isso é maravilhoso e ajuda a mover o mundo. É um texto para aqueles que entendem a diferença entre progresso e progressita. E que sabem que o real significado de progressista não tem qualquer relação com o significado adotado.

É um texto grande e um grande texto. Sobre o quê? Se o título do post (que está no texto) não ajuda, seguem alguns trechos. Para ler inteiro (o que recomendo fortemente), clique aqui.

É por isso que conservadores olham para o passado: para não precisar seguir caminhos que os antigos já sabiam que dariam errado no futuro. É por isso que os conservadores conservam tradições e lêem livros antigos, de Platão a Montaigne, de Shakespeare a Solzhenitsyn – o revolucionário, por outro lado, acredita que suas boas intenções bastam para “consertar” o mundo, sem esperar nenhuma reação da dura realidade.

 

Os reacionários não seguem um bloco de pensamento fechado, como crêem e evangalizadoramente querem fazer crer Gregório Duvivier e outros seguidores do pensamento único hegemônico sendo instaurado no Brasil. Kuehnelt-Leddihn, Chesterton, Xavier Zubiri, Miriam Joseph, Mário Ferreira dos Santos, Olavo de Carvalho são pensadores católicos. O grosso dos “reaças” americanos, por óbvio, são protestantes. Alguns, judeus (essa turma que foi vítima do nazismo e que a esquerda odeia pelo mesmo motivo, mas jura que o nacional-socialismo nada tem a ver com socialismo): Dennis Prager, Ben Shapiro, Mark Levin, Michael Medved. Outros são muçulmanos, como René Guénon, Frithjof Schuon ou Hossein Nasr. Alguns são ateus, como S. E. Cupp, P. J. O’Rourke, H. L. Mencken, Jillian Becker.

Foi assim durante toda a história, para quem conhece os fatos antes de engolir o supositório de idéias e disparar a metralhadora da cagação de regra: Eric Voegelin, que não parecia acreditar na transcendência, a defendeu por ser a origem da ordem política e da moral social. René Girard já via no mito bíblico, de Caim a Jesus Cristo, o cerne da sociedade que não precisa mais de “sacrifícios” para se purgar, vendo a realidade do cristianismo tão fortemente quanto teólogos como Bernard Lonergan. Mircea Eliade via na esquerda não mais do que tentativas de reviver Cião através de mentiras, sendo o mais importante mitólogo do mundo. Já Emil Cioran, que viu o socialismo juche na sua própria pele, odiava a Deus e o mundo (literalmente para ambos), tal como se vê no reacionarismo furioso de Arthur Schopenhauer ou no materialismo total de Ayn Rand.

Ser “reaça” é defender o individualismo e a responsabilidade individual perante o coletivo – por óbvio, portanto, que eles discordem bastante entre si. Ronald Reagan era a favor de anistia para imigrantes ilegais. William F. Buclkey Jr. era a favor da legalização das drogas (como o são todos os “libertários”). Barry Goldwater era a favor da descriminalização do aborto. Ser “reaça” é defender a liberdade de pensamento individual – por exemplo, alguém não defender o casamento gay porque acredita que o casamento é instituição de formação da sociedade, e acredita que não se deve tratar como “casamento” uma união que não é formação de família.

 

Quer ver um direitista pobre? Fale com Marco Mattei, gari italiano que vivia com a família num subúrbio e teve o apartamento no terceiro andar incendiado por Achille Lollo, da organização terrorista de extrema-esquerda Potere Operaio (dá pra ver como gostam das classes baixas). No incêndio, um dos seis filhos de Mattei ficou preso no quarto, enquanto duas filhas pulavam pelo balcão. Um filho resolveu voltar para tentar salvar o irmão menor e ambos morreram abraçados e carbonizados. O caso ficou conhecido como “Rogo di Primavalle” (incêndio de Primavelle) na Itália. Achille Lollo fugiu para a Argélia e depois para o Brasil, onde foi um dos fundadores do PSOL, junto com Heloísa Helena. Outro terrorista italiano fugitivo, o mais conhecido Cesare Battisti, também fugiu após assassinar quatro pessoas, entre elas um carcereiro (que não deve ganhar muito).

 

É a “fé metástica” de que nos fala Eric Voegelin: a fé que odeia a realidade, tendo mais amor pela opinião (filodoxia) do que amor ao saber (filosofia) e que quer reformar toda a estrutura da realidade – para tal, não pode senão repudiar a realidade com medo dela, achando-se por isso “crítico” do que é simplesmente verdadeiro.

 

A esquerda chama todo mundo de quem discorda de “racista”, de “homofóbico”, de “fascista” justamente porque sabe que os xingados odeiam racismo, homofobia, fascismo – e se calarão quando tiverem sua opinião associada a estas coisas das quais têm nojo mortal (vide Kuehnelt-Leddihn acima). Se fossem de fato racistas, homofóbicos ou fascistas as pessoas simplesmente diriam “Sim” e continuariam na mesma. Não é o que a esquerda planeja.

 

Ser reaça é mó legal – basta parar de querer ter auto-estima apenas através do grupinho, jurando que com isso é “crítico” e auto-pensante. É saber que o mundo não tem soluções fáceis e prontas, e que há muito mais livros a serem estudados demoradamente antes de tirar conclusões apressadas do que jamais sonharam nossos progressistas.

Crônica de sexta-feira (18)

A trilha sonora de hoje é do Bermuda Acoustic Trio. Quem me fez lembrar deles foi o André Lopes, amigo do tempo do ronca, do tempo em que Dondon era praticamente um recém aposentado do Andarahy.

O vídeo é a reunião de dois shows da turma em sua formação clássica, a que eu gosto mais. Desde 2012, se apresentam com o reforço de percurssão, bateria e a bela voz de Luciana Buttazzo.

O grupo se reuniu por acaso, em 1995 e sua formação original tinha Giorgio Buttazzo e Gabriel Mountains (violões) e Jordan Kamsin Urzino (baixo). Em 2012, Jordan – com problemas de saúde – foi substituído por Andrea Atto Alessi.

Além de tocarem demais, os caras têm um bom gosto para o repertório. Mesmo misturando rock, folk, jazz e blues, com referências que vão do flamenco ao clássico, passando por trilhas clássicas de todos os estilos e especial deferência a Enio Morricone, os arranjos – mesmo com espaço para algum exibicionismo – não deixam ninguém cansado. Muito pelo contrário.

Coloquem o fone de ouvido e aproveitem para embalar a leitura.

Crônica de uma sexta-feira

Uramaki– Alguma carta perdida, Seu Edmar?

– Chegou nada, não. Quer dizer… carta nenhuma. Chegou, sim, foi a menina bonita! Ê, sexta-feira!

O sotaque debochado do porteiro apressou meus passos cansados. Minha viagem cotidiana ao oitavo andar demorou a eternidade do nosso último beijo (na menina bonita, não no Seu Edmar). E quando eu abri a porta de casa, ela já me esperava toda sorriso.

Chegara não havia cinco minutos, me abraçou com cuidado e mostrou as unhas recém esmaltadas. A amargura de mais um dia exaustivo tão logo se dissipou quando mergulhei naqueles olhos de avelã. Minha pele ardia em brasa por causa do sol paulistano, mas o atrito ainda tímido dos nossos corpos amaciava os ombros e os braços castigados pelo calor.

Estávamos com fome, tesão e saudades. Transamos na pia do banheiro feito adolescentes famintos. Depois, recompostos, partilhamos uramakis à meia-luz enquanto passeávamos por nossos fantasmas e nossos futuros. Ela pediu saquê com frutas vermelhas. Para mim, por favor, apenas uma água com gelo e limão. Tanto fazia a bebida: estávamos embriagados de poesia e virtude. Ambos.

Olhos em chamas, ela descreveu as primeiras impressões da cidade nova – e assumiu tamanha doçura na voz que pude visitar as ruas da planície enquanto ela falava. Perguntei sobre os costumeiros versos muito além da minissaia, mas ela me contou que morre depois de cada rascunho. Explicou que o texto machuca por dentro, desata em vômito e demora a cicatrizar. Eu, não. Eu gozo, renasço. Vivo mais do que nunca depois de cada palavra escrita. Brindamos. Discorremos sobre nossas paixões e nossas clarices. Somos um rabisco, afinal, de Falcão e Lispector. De ingenuidade ensaiada e sentimentos herméticos.

Mais tarde, dedilhei o violão abafado pelo silêncio da madrugada. Li, baixinho, uma crônica manauara quando nos deitamos. Ela alcançou minha estante e retribuiu. Buscou o presente que me deixara na última vez e recitou a dedicatória: “Eis aqui uma lembrança, um recado, um socorro, se preciso. Pra que não lhe falte inspiração na vida, nem sorrisos, nem amor. Pra que você tenha mais um motivo pra não se esquecer da menina que mais te quer bem e, então, nunca se sinta só”.

Acordamos no dia seguinte, satisfeitos e apressados. Com tesão e saudades, de novo. Cada qual, de novo, no seu próprio caminho. Abotoei o uniforme conformado com a ideia de que meu sábado mais uma vez estaria de luto, roubado, vestido de azul. Quando ela também se vestiu e foi embora, percebi que ela não deixaria apenas a lembrança de uma única noite. Parecia uma vida inteira. Uma história a ser repetida quantas vezes permitissem nossos destinos quase sempre incongruentes.

Thiago Crespo, do blog literatofonia

Livros

Dois desses artefatos ultrapassados, analógicos, fabricados com papel e cheio de folhas, mobilizaram as minhas primeiras semanas de janeiro de 2014.

Sàn Guermin / ReproduçãoO primeiro é Sàn Guermin (Luiz Octavio Bernardes, Multifoco). Por razões que vocês vão descobrir quando o lerem, estou envolvido com o primeiro livro de Luiz desde meados do ano passado. Mas foi lançado agora, há alguns dias.

Trata das primeiras eleições em um país que fica ali pela América Central, perto do Caribe, depois de uns 80 anos de ditadura militar. Parece familiar? Pois é. Mas acreditem, está longe de ser mais do mesmo.

Na história, ficamos conhecendo um sem número de personagens muito interessantes e, o mais importante, sua estranha e patética (como está no prefácio) relação com o poder.

O livro é envolvente e a sensação de “estar em casa” passa depois de algumas páginas, o que – pelo menos pra mim – só depõe a favor. É ficção, claro, o que está longe de impedir as muitas pinceladas na história que contribuem para a construção dos perfis dos personagens e outras respostas do livro. De quebra, o final é surpreendente.

Haverá um ‘lançamento 2.0’, em Ipanema, em breve, mas sem data confirmada. Quem gosta de ter a obra autografada e conversar com o autor, é só ficar de olho na página do país no Facebook.

Entre pai e filho

O drible / ReproduçãoO outro livro deste início de ano O drible (Sérgio Rodrigues, Companhia das Letras). A história da relação (ou falta dela) entre um pai e um filho que passaram mais de 20 anos sem se falar. Depois de décadas, o pai – desenganado pelos médicos – chama pelo filho. E toda a história é construída a partir dos encontros entre os dois, no refúgio do mais velho.

Acontece que Murilo Filho foi um dos grandes cronistas esportivos da história do país e todas as conversas que tem com Neto são permeadas de histórias de futebol. Uma delas é a que dá o nome (e muito mais) ao livro: o drible de Pelé em Mazurkiewicz.

O livro é sensacional e sei que estou longe de ser o primeiro a falar isso, não é por acaso que já foi vendido para vários países. Sérgio tem um texto brilhante e a trama é excelente. Se não bastasse, a descrição/narração de Murilo Filho do grande lance, enquanto para e adianta o vídeo tape, é coisa de maluco. O primeiro capítulo do livro, se gol fosse, mereceria – como Pelé – uma placa de ouro.

Leitura obrigatória

Resumindo: são dois romances curtos (134 e 224 páginas, respectvamente) e imperdíveis.

Mulheres de Hollande

O trocadilho do título, desculpem, foi inevitável. Da séria série ‘trocadalhos do carilho’. Até porque o cara é François. Daí, Francisco. Daí Chico. Daí o óbvio.

(Se mesmo com a piada explicada, você não é do Rio e não sabe do que estou falando, clique aqui)

O texto abaixo é do Veríssimo. E é preciso. Pombas, dá uma olhada no time do rapaz que é baixinho, gordinho e careca. Assim como aquele trocadilho, a pergunta é inevitável: o que é que ele tem que eu não tenho?

(É claro que estou falando de forma geral, talvez até hipotética. Afinal, sou um sujeito de sorte, a moça da minha vida é muito mais do que as três. E é bom eu deixar isso claro, antes que eu apanhe de forma injusta com uma vara de marmelo)

Voltando ao francês e sua escapadela, é impossível não fazer um paralelo imediato com nosso imperador e sua Rosemary. Lá, por muito menos – e até que provem contrário, tudo não passou de um problema pessoal e extra-conjugal -, a casa está quase caindo e na capa de todos os jornais. Aqui, apesar de tudo o que se sabe, foi-se tudo em brancas nunvens.

É, faz pensar. Né não?

Nosso herói

Mulheres de HollandeAcho que falo por todos os gordinhos sem graça do mundo, por todos os homens por quem ninguém dá nada, todos os com cara daqueles tios que nas festas de família ficam num canto e nem os cachorros lhes dão atenção, ou fazem xixi no seu sapato, todos os que se apaixonam, mas não têm coragem de se aproximar da mulher amada, quanto mais declarar sua paixão, todos os que são chamados de “chuchu”, mas não é um termo carinhoso, é uma referência ao legume sem gosto, todos os sem sal, os sem encanto, os sem carisma, os sem traquejo, os sem lábia — enfim, os sem chance — do mundo se disser que o François Hollande é o nosso herói. Ele é tudo que nós somos e não somos. É um dos nossos, mas com uma diferença: no caso dele era disfarce.

A companheira de Hollande, Valerie Trierweiler, que mora com ele no palácio presidencial e o acompanha em eventos oficiais e viagens, e que também é chamada de Rottweiler pela ferocidade canina da sua dedicação ao presidente, está internada com uma crise nervosa provocada pela revelação de que François tem uma amante, a atriz Julie Gayet, com quem costuma se encontrar num apartamento perto do palácio. Hollande já teve como companheira uma das mulheres mais interessantes da França, Ségolène Royal, com quem a fera teve quatro filhos. A pergunta que se faz na França é: o que exatamente esse homem tem que explique seu sucesso com as mulheres? A questão não tem nada a ver com direito à privacidade. Trata-se de uma curiosidade científica. Se o que ele tem, e disfarça com aquela cara, puder ser reproduzido em laboratório será um alento para a nossa categoria.

E nossa admiração só aumenta com os detalhes das escapadas de Hollande. Ele vai para seus encontros com Julie numa motocicleta. O Hollande vai para seus encontros com a amante montado numa motocicleta! Pintado no seu capacete, quem sabe, um galo, símbolo ao mesmo tempo da França e do seu próprio vigor. Ainda há esperança, portanto. Se ele pode, nós também podemos. Pois se François Hollande nos ensina alguma coisa é que biologia não é, afinal, destino.

Luis Fernando Veríssimo – O Globo, 16 de janeiro de 2014

Crônica de sexta-feira (12)

Eu aqui quebrando a cabeça, depois de mais uma vez abandonar o cafofo por alguns dias, tentando descobrir como ou o quê escreveria sobre o fim de ano, o feliz Natal e o tal próspero ano novo. E quando abro a bendita caixa de entrada, está lá piscando o texto de nosso mais assíduo quase único cronista de sexta-feira.

E o que resta, então? Muito obrigado meu amigo.

E muito obrigado a todos os amigos, próximos ou nem tanto, por mais um ano bom que está terminando. De quebra, todos aqueles desejos antigos, clichês mesmo, mas sempre muito sinceros: um Natal de paz, sorrisos e família para todos, e um 2014 muito melhor que 2013.Relogio antigo

O tempo

Eu não concordaria com alguém que afirmasse que o tempo é mesmo uma dimensão matemática e fisicamente medida, de preferência com a tecnologia suíça. Nada disso, para mim, as relações de convivência, de entendimento e de vida com relação ao tempo vão muito além da matemática, da física, da química e de outras ciências, exatas ou humanas.

E eu explico: são muitas as variáveis em nossas vidas que, na minha opinião, influenciam diretamente o nosso entendimento sobre o tempo: as coisas boas, as alegrias, as coisas ruins, as tristezas, as distâncias, os encontros, as saudades, as amizades perdidas e ganhas, alguém querido que se foi, alguém amado que chegou, encontros, desencontros, músicas dos anos 70, enfim, são muitas coisas que – acredito eu – possuem um significado de tempo diferente para cada pessoa. E não vejo nada de errado nisso.

De vez em quando me lembro de coisas que aconteceram na infância, com tanto realismo que “parece que foi ontem”. E também custo a lembrar de algum fato ou um nome que teve relação comigo há algumas semanas, ou até mesmo alguns dias. Também não vejo nada de errado nisso, ainda que já comesse a me preocupar com idade, um certo alemão e por aí afora.

Então, fica entendido: o tempo é diferente para cada um de nós. Mas encerro este texto afirmando que num determinado aspecto, o tempo pode e deve ser entendido e praticado por todos nós de forma única, se não idêntica, pelo menos parecida: é o tempo do fim de mais um ano, ou seja, é o tempo presente, é o hoje. “Se somos felizes e sabemos disso”, entre aspas por considerar esta citação já histórica, apesar da minha autoria, é porque sabemos viver bem o tempo de hoje, sempre nos lembrando do passado, o que nos dá a chance de corrigir ou aperfeiçoar algo em nossas vidas, e sonhando e planejando o futuro, desafio cada vez mais difícil, neste atribulado mundo. E eu prefiro mil vezes sonhar do que planejar, é mais gostoso.

Então, chega o fim de ano, com chuva, desastres nas estradas, muita confusão nas cidades, alguns com o hábito de comprar presentes e outros não, pois os últimos gostam de presentear as pessoas queridas o ano inteiro, sem motivo, como é o Natal e eu penso que estão corretíssimos, mas, enfim, o que quero escrever é que neste tempo de fim de ano o tempo parece o mesmo para todos nós: época de pensar, mas com moderação. Não deixe – nunca – a razão ser grande majoritária em seus pensamentos, não tem graça, precisamos sempre de uma boa dose de emoção; é época de amar; de viver a boemia; de divertir e de desejar um feliz Natal aos meus poucos e sagrados leitores e que em 2014 eu tenha o juízo de aprender a planejar melhor o meu tempo e nunca deixar de enviar uma crônica na manhã dos mais nobres dos dias úteis.

Então, pra terminar e mostrar que não precisamos ser diferentes na hora de escrever uma mensagem de fim de ano, que não precisamos de um texto mirabolante, cheio de efeitos especiais, para que o destinatário entenda a nossa mensagem, eu desejo a todos um feliz Natal e um próspero Ano Novo!

Rodrigo Faria

Verbertes e expressões (30)

Censura

s.f.
Exame crítico de obras literárias ou artísticas; exame de livros e peças teatrais, jornais etc., feito antes da publicação, por agentes do poder público.
P. ext. Órgão que realiza esse trabalho.
Condenação eclesiástica de certas obras.
Corporação encarregada do exame de obras submetidas à censura.
Condenação, crítica.

Fonte: dicionário online de português

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Censura / Ilustração: Eric DrookerEstava vendo essa tal discussão e jurando que não ia meter o bedelho no assunto, tão surreal é sua simples existência. Mas não resisti. Falo das biografias, claro, e essa tentativa de proibi-las. Me refiro às biografias sérias, documentos históricos sempre interessantes e muitas vezes fundamentais para entender melhor o mundo em que vivemos.

Millôr disse, todos sabem, que “imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. No mesmo espírito, digo que biografia com autorização prévia – seja lá de quem for – é autopromoção.

E porque essa enorme discussão que tomou de roldão a nossa imprensa é absolutamente surreal? Primeiro é preciso não tentar dourar a pílula como já vi em alguns artigos nos últimos dias: o que estão tentando fazer é instituir a censura sim.

Agora, vamos à Constituição:Promulgação da Constituição, em 1988

– Art. 5º, IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

– Art. 5º, V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

– Art. 5º, IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

– Art. 5º, X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

– Art. 5º, XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

Se não bastasse a Carta Magna, que garante tanto a liberdade de expressão quanto a penalização de quem abusa desse direito, o Código Penal é bem claro quanto aos crimes de calúnia (artigo 138), difamação (139) e injúria (140).

Minha pergunta, com tudo isso, é: pra quê uma lei específica pra tratar de biografias (que em sua essência é jornalismo), criando a censura prévia (proibida pela constituição) e só permitindo a publicação de obras previamente autorizadas? A desculpa é a defesa da privacidade. Mas, caramba!, pra isso já temos texto legal. Aí, Djavan solta a pérola:

– A justiça é muito lenta.

E um amigo com quem trabalho (que se quiser se identifica nos comentários) acerta na mosca em uma possível resposta:

– Ok, suas músicas também. Mas a justiça podemos reformar.

Bingo!

Não bastasse a questão legal, há o surrealismo conceitual. Vejam que não é o Jair Bolsonaro ou a família do ex-presidente Médici que inventou esse negócio. À frente do movimento, os mais notáveis são Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil (prefiro não comentar sobre Paula Lavigne – quem?! – e Roberto Carlos).

Esses três caras vivem até hoje às custas de uma obra (grande e bela, sim), que nasceu e ganhou visibilidade justamente no tempo da ditadura, quando os três davam voltas pra ludibriar a censura em suas canções. Tempo em que, oficialmente, lutavam por democracia e liberdade de expressão. Curioso, né? Não consigo pensar nesse cenário sem a estranha sensação de que no dos outros é refresco…

Pra encerrar o assunto, outro amigo me enviou o texto brilhante de Márvio dos Anjos. Seguem trechos:Chico Buarque / Divulgação

Já joguei bola com Chico Buarque, no campo do Politheama, no Recreio, zona oeste do Rio. (…) Logo na entrada havia uma proibição expressa contra a entrada de jornalistas e chatos em geral. Naquele campo, propriedade privada, fazia sentido.

(…)

Às vezes, eu me dava conta de que estava jogando ao lado daquele Chico, aquele poeta de tantas canções vigorosas, ídolo de meus pais, formador da identidade de tantas mulheres, burlador da ditadura, exilado político, referência minha para letras de música. “Caralho, é o Chico”, a mente me gritava.

(…)

O Politheama era uma panela típica, clássica de quem é o dono da pelada: Chico, Carlinhos Vergueiro e Vinicius França formavam a espinha dorsal, que se reforçava da melhor juventude disponível (um pouco como a carreira musical de Caetano, o que não reprovo: reciclar-se é uma arte). (…) E sim, os Politheamas saíam sempre felizes. Porque o Politheama é árbitro inconteste em seu próprio gramado. Todas as marcações são a favor deles, a fim de manter a lendária invencibilidade. Meu Deus, COMO roubam.

(…)

Escrevo sobre Chico Buarque porque a polêmica das biografias precisa ser situada também no espírito esportivo que favorece o espírito democrático. E porque sempre que tocarmos neste assunto falaremos da proibição estúpida que limitou por anos o acesso ao magnífico “Estrela Solitária”, relato de Ruy Castro sobre Garrincha. (…) Em suma, o país perde o direito à análise e à memória imediatas por caprichos de filhos, gente que, muitas das vezes, divide apenas DNA e olhe lá. Para mim, é o pior lado da nossa atual legislação das biografias. E é isto que Chico considera justo.

(…)

E claro, sou da opinião que a pelada revela o homem. Tudo que alguém é capaz de fazer por vontade de vencer numa partida amadora é reveladora do caráter, das posturas, do espírito nobre sobre o qual Coubertin estabeleceu as fundações dos Jogos Olímpicos.

Pra terminar, agora de verdade, é bom lembrar que todos esses grandes democratas da vida alheia sempre apoiaram as causas, grupos e partidos de esquerda, inclusive o que está no governo. Os mesmos que querem implantar o marco regulatório da internet e o controle social da mídia. Mas isso é apenas coincidência, só coincidência…

Quanto custa uma princesa?

Princesa / Foto: Gustavo Sirelli

A promessa de felicidade e realização se encerra imediatamente após o ato de consumir, seguido então por uma nova necessidade de consumo.

Por meio dos objetos consumidos os indivíduos se relacionam com o grupo ou dele se excluem. O valor de cada um está na sua capacidade de consumir.

(…)

A presença do consumo como categoria de inclusão dá-se então muito precocemente e a publicidade dirigida especificamente ao publico infantil só contribui para incutir esse sistema de representação simbólica através do qual o indivíduo ocidental registra a sua existência.

Os produtos consumidos, no entanto não se encerram em si como apenas objetos materiais, mas vem carregados de valores que realimentam o sistema e disseminam a cultura do consumo para além do ato de consumo isolado.

(…)

As princesas da Disney, no entanto, não são simples adaptações de contos de fadas. Elas são apresentadas às meninas como objetos de consumo, modelos de comportamento feminino e de um padrão de beleza (…) com poucas variações étnicas. As personagens (…) são agora apresentadas prontas, imutáveis e inflexíveis, independente do contexto do espectador.

Mariana Alcantara Gomes e Julia Novaes Silva

Clique aqui para ler o artigo na íntegra.

O STF e seu 11/9

11 de setembroO grande barato desse meu cafofo é que não tenho qualquer compromisso com qualquer coisa. Já escrevi sobre isso outras vezes. É quando quero, se quero, sobre o que quero.

Não é por acaso que já estou há semanas sem escrever, já não é a primeira vez que reclamo de enfado em relação ao que vem acontecendo nesse nosso Brasil de meu Deus.

Quando a atuação de Joaquim Barbosa como relator da Ação Penal 470, o processo do mensalão como sabemos todos, quase o transformou em pop star, isso não se deu por acaso. Apesar de todos os seus defeitos superlativos, viu canalizado para si e suas posturas a esperança de que, apesar e com toda a demora do nosso judiciário, haveria solução, haveria a chance de se começar a construir um país moral, ético.

Quando explodiram as manifestações de junho, em meio a um bom tanto de balbúrdia e à clara falta de foco, ficou patente que a grande demanda, o grande desejo era a necessidade de um país sem corrupção.

Então é sintomático e extremamente simbólico que Luis Roberto Barroso – recém empossado e claramente com a missão de torcer a realidade em favor de interesses pessoais contra os republicanos que deveria defender – tenha encerrado seu voto falando da necessidade de se dar uma resposta à sociedade. Bela resposta, diga-se.

A essa altura, mesmo que o plenário recuse por 6 a 5 os embargos infringentes (o que já não acredito mais), o que a turma de ministros a soldo terá feito é demonstrar que já não há mais esperança, que estamos mesmo entregues às querências de um projeto de poder, de um partido que – depois do maior estelionato eleitoral de nossa curta história -, usando todos os mecanismos democráticos, aplica sobre nós o maior golpe contra a democracia (plena) que o país terá vivido em toda sua história. E aos que acham que isso é fatalismo, preparem-se para o marco civil da internet e o controle social da mídia.

Então não é por acaso a imagem escolhida pra ilustrar esse post. Não é por acaso que a estátua da liberdade está ali, como que observando o mundo ruir e virar fumaça. Estamos entregues.

Impossível pois, com tudo isso, não se reconhecer como o tolo personagem de Raul.

Abaixo, um texto de Luiz Octavio Bernardes, um sujeito de pena brilhante como diriam os antigos.

O STF submisso

Nem uma virada histórica que determine o placar de 6 a 5 contra os embargos infringentes vai apagar a mancha na sua trajetória que o STF se autoimpôs hoje. Isto porque, por uma questão regimental, logo após o relator, que vem a ser o atual presidente Joaquim Barbosa, apresentar seu voto de não aceitar os embargos, fomos bombardeados com outros três acatando os tais, cada qual com uma lógica que enrubesce quem não é causídico como eu.

Invocando aspectos regimentais, Barroso e Zavarscki cumpriram com o que o PT os orientou, mas derraparam feio no Direito Constitucional.

O mesmo raciocínio foi usado pela ministra Rosa Weber, esta exibindo uma linguagem corporal de quem queria mesmo era passar totalmente despercebida e ponderando “sims” e “nãos” até, finalmente, pronunciar seu voto. Estava difícil entender onde ela ia terminar.

O ministro Fux, igualmente nomeado pelo PT, começou enumerando as incongruências pronunciadas pelos que o antecederam. E com uma fisionomia de ironia, como que transmitindo “vou votar, mas as cartas estão marcadas”. Ironia compartilhada por Marco Aurélio Mello, que chegou a falar “revisar deve ser melhor, afinal aqui somos todos juízes pouco experientes”.

Em seguida veio o cidadão que mais deve envergonhar o STF em sua história: Dias Toffoli. Abriu a boca e com cinco minutos de fala recebeu uma reprimenda e um devido desprezo de Joaquim Barbosa e nenhum aparte a seu favor. Este sujeito entende menos de Direito Constitucional que muito advogado de porta de cadeia. Ele realmente envergonha e mancha a reputação da corte máxima do país. Depois do puxão de orelhas, proferiu seu voto em mais cinco minutos, cortado por um “termina logo que eu tenho um compromisso inadiável, por favor” do Celso de Mello, o que demonstra o quanto seus pares o consideram.

Eu, que repito, não sou causídico, fiquei com a seguinte impressão: todos os ministros estão sob terrível pressão. Pressão esta que não se sabe nem a que nível chega, mas deve ser enorme. Isso justifica o comportamento da Rosa Weber, que acompanhou os votos do relator nas penas e agora defende uma “outra chance” de rever as mesmas penas que ela ajudou a definir. Visivelmente, cedeu à pressão.

Pressão de dois novos chegados, Barroso e Zavarscki que não participaram das 52 sessões do julgamento e estão livres para invocar qualquer baboseira que descobrirem no arcabouço legal para justificar seu voto agora. Um “penduricalho” como definiu o Ministro Fux, por exemplo. A mesma pressão que deu conforto a Luiz Fux para detonar, inclusive citando jurisprudências de outros países, os embargos, pois ele sabe que o resultado está definido e aproveitou para brilhar no palco.

Ocorre que um novo julgamento – e isso foi dito em plenário pelo ministro Gilmar Mendes – que “ninguém aguenta mais” vai ser muito mal recebido pela opinião pública e de certa forma diminuirá a envergadura do STF nos embates com o Legislativo e o Executivo que temos observado recentemente.

Somado à empáfia de alguns dos réus que não economizam em desafiar princípios do Direito Penal (como interferir no julgamento) com o respectivo beneplácito da velocidade quelônica da nossa justiça, a antipatia a tudo isso atinge o auge. O problema é que parece que o brasileiro se resignou em apanhar da polícia. E está desamparado juridicamente porque os legislativos criam mecanismos de autoproteção.

Por este motivo, depositava-se no STF um crédito no qual, se pelo menos pusessem um fim a esse famigerado mensalão sem se curvar ao partido que se apoderou do país, estaríamos ainda ouvindo os ecos de junho e quem sabe nos alimentaria para novas mudanças.

Mas não. O STF hoje escreveu uma das páginas mais obscuras de sua História hoje, 11/09/2013.

Inflação: já mandaram a conta da rebelião para o povo

O crescimento da inflação / Imagem: Jeremias

Usam as conquistas da sociedade como desculpa para as dificuldades econômicas que produziram com a incompetência, a corrupção e o desprezo pela população.

A rebelião dos brasileiros é vitoriosa. Não interessa se vai durar mais um dia ou um ano. Ela surgiu numa grande explosão, como uma estrela, sem pedir licença, e vai se apagar também como uma estrela, também sem pedir licença. Não deve satisfação.O Brasil já mudou para melhor. A sociedade não está mais calada e os que estão no poder estão tendo de ouvir e mostrar serviço. Esta é a grande conquista da rebelião. O desafio agora é resistir ao retrocesso.

Surpreendido no começo, o poder aposta no controle da rebelião e no retrocesso. Quer nomear lideranças para poder capturá-las. Lança manobras diversionistas, como pactos, constituinte e plebiscito. E executa a operação mais cruel e covarde: mandar a conta da rebelião para o povo na forma de inflação.

Depois de dez anos de governança ruim, de corrupção generalizada e de privilégios bilionários por conta do Tesouro, dilapidando a estabilidade econômica conquistada pela sociedade, o governo insinua agora que a inflação é o preço a pagar para reduzir tarifas e humanizar os serviços públicos.

Querem usar a rebelião como desculpa para as dificuldades econômicas que produziram. Que tratem de roubar menos, de cortar privilégios e de governar sem desperdícios. Este é o corte de gastos que têm de fazer. É assim que se controla o déficit público e se combate a inflação sem mandar a conta para o povo.

Altamir Tojal