O Aurora da minha vida

Comecei a velejar meio por acaso, depois de passar anos dizendo algo do tipo “velejar? Eu? Nunca! Imagina sair de casa pra ficar fazendo força o dia inteiro, justo no dia de descansar”. É, esse negócio de dizer nunca é mesmo engraçado, porque a gente sempre (sempre!!!) paga pela língua, né não. E já faz mais de uma década que comecei nesse negócio. Na verdade, faltam poucas semanas para completar 11 anos desde que pisei em um veleiro pela primeira vez, tentando ser um tico mais exato.

Nesse tempo todo, perdi a conta de quantas regatas participei. Além do bravo Picareta – o Velamar 22 em que disputei estaduais, brasileiros e circuitos Rio – e do Fandango – Schaefer 31 em que corri duas Santos-Rio –, tive a oportunidade de conhecer outros muitos veleiros, incluindo aí o Brasil 1 em 2007, máximo da tecnologia embarcada e de construção da época. Mas nunca tinha estado em um catamarã. E nem foi falta de curiosidade não, só oportunidade mesmo. Até que apareceu o Aurora.

Um tapa

E foi mais ou menos assim:  voltas e voltas da vida, chegou a hora de encarar que o mundo mudou, que empregos como os que conhecemos praticamente não existem mais e tals. Num encontro feliz com dois amigos de décadas, a decisão: vamos dar um tapa na nossa vida. E nasceu a Tapa Digital.

Na hora de colocar o bloco na rua, naturalmente apontamos, primeiro, para os amigos. Avisar que nascemos, algo como “ó, tamo na pista, #vemdarumtapa!”. E depois de 10 anos velejando e construindo relacionamentos nessa nesga de mundo que é a vela, nem foi estranho que o nosso primeiro cliente fosse um velejador. Na verdade, mais que isso, um veleiro. O Aurora.

A experiência

Um dia, num chope com quem quiser, conto a história em detalhes. Mas, basicamente, a Tapa nasceu de manhã e na mesma tarde o sujeito ligou. “Tô realizando um sonho e acho que vocês vão gostar de sonhar junto comigo”.

Como não há forma melhor de comunicar uma experiência do que vivendo a tal, chegou o dia de conhecer e experimentar um catamarã. E tudo o que enrolei até agora foi pra falar sobre isso: como é sensacional estar em um catamarã. E sei que posso falar por mim – que sou velejador – e ao mesmo tempo pela turma que carreguei, que nunca tinha experimentado nenhum tipo de veleiro.

Primeiro, a sensação de paz absoluta. Mar, silêncio, vento. Desculpem, mas se vocês nunca viveram isso, aviso logo: não tem preço. A turma – crianças de 3, 5 e 7 anos, além da moça de quem sou consorte (com muita sorte, na verdade, apesar do trocadilho infame) – se sentiu à vontade e segura desde o início. E experimentaram tudo, desde deitar na proa sentindo os respingos da água salgada até pegar no leme e tocar o barco. E a mistura de sorriso com o dia vivido e a chateação do “ah, já acabou?” na hora do desembarque fala muito.

Da minha parte, velejador “experiente” de barcos que caturram como cavalos de rodeio… Putz, que sossego. A estabilidade (o bicho não balança, é incrível) e a facilidade pras regulagens são um alento. Foi mesmo um dia pra guardar na memória, uma daquelas coisas que você precisa transformar em hábito. Voltar e voltar e velejar e velejar…

Chapa branca

É, estava na dúvida se eu devia escrever isso. Você pode estar aí pensando “claro que ele só vai falar bem do Aurora, é cliente. Ainda por cima, é o primeiro cliente”. Talvez você tenha razão. Mas me convenci com a seguinte impressão: se fosse só um cliente comum, bastava seguir o manual, desenvolver as peças e campanhas, estratégias e tudo o mais. Seria simples, nem daria tanto trabalho.

Mas quer saber de uma coisa? Foi pessoal. É uma experiência pessoal, intransferível e inesquecível. Pra mim, pras minhas filhas e enteada, pra mulher que amo (que vira e mexe pergunta quando vamos voltar, “ó, o verão tá chegando”).

Talvez você leia isso tudo e nem me conheça. Não importa. Se chegou até aqui, me sinto no direito de dar uma ideia: vá conhecer o Aurora, vá #descobrirAurora. E se está na dúvida, se ainda está na dúvida, corra o risco. Aproveita que tá rolando uma promoção, a #primaveraAurora, vai que você ganha. Fica fácil fácil. Do meu cantinho, arrisco afirmar: você não vai se arrepender.

Barqueata

Revoada do saneamento (barqueata)

E o carioca que se dane

Não, eu não vou falar mal da Rio +20, da sua completa inutilidade, de como tudo isso – na verdade – cheira mal, de como e quem vai pagar a conta da festa etc etc etc. Vou falar do Rio, só do Rio.

E de como é óbvio que a cidade – despreparada até para uma Feira da Providência ou um jogo de médio porte no Maracanã – arrebenta a vida de seus cidadãos.

E basta apenas um exemplo para mostrar isso: o feriado escolar que teremos nessa semana. Três dias sem aula de escolas, faculdades e qualquer cursinho livre. Três dias em que pais e mães terão que se virar para cuidar de seus filhos que deveriam estar na escola.

Todos sabemos que não são poucos os pais que precisam de creches e escolas em horário integral porque trabalham (essa coisa antiquada que quem está acampado ou fazendo passeatas pela cidade não cultiva muito, bancados por ONGs ou pelo próprio governo, mas isso é outra história e também não vou falar disso).

Pois bem, me digam aí, prefeito, governador, secretários e quaisquer outros envolvidos com a programação do evento: o que fazemos com nossos filhos? Contratar babás? Quem paga a conta? Deixar com as vovós e vovôs? E eles também não precisam trabalhar? Faltamos, os pais, ao trabalho?

Pois toda essa confusão é para diminuir o movimento e o trânsito na cidade que não tem capacidade para receber um evento como esse.

Aí, alguém soltará a pérola: “imagine então na Copa e nas Olimpíadas”. Pois é, imagine só… Sinceramente, não estou nem aí. Porque como sempre as coisas vão acontecer. Minha preocupação é um tantinho maior, porque nossa cidade não está preparada para nós, porque não temos estrutura viária correta nem metrô ou ônibus decentes, entre muitas outras coisas. Isso é que é grave.

Farms here, forests there

É, o blog tem amigos e colaboradores.

Já tinha lido a respeito e já tinha visto o tal documento, até distribuí entre alguns amigos. Mas aí, recebi o e-mail que reproduzo abaixo lembrando o tema. O que move o post é a notícia publicada no Valor Econômico no dia 26 de agosto: EUA devem superar Brasil nas exportações de etanol.

Cliquem nos links, leiam os textos e dêem atenção especial ao tal documento citado.

Um mostrou o documento, o outro mostrou que a “coisa” já está em andamento. Começou aqui.

Aí, deram um jeito de tentar esconder o documento, mas o Reinaldo publicou uma cópia, que ele não é bobo…

E então, o artigo do Klauber, mostrando, sem dizer, para que serve uma Marina Silva, um MST, um Lula e muitos ativistas bacanas.

Giorgio Seixas

Duas observações sobre Belo Monte

Não sei nada sobre Belo Monte, sobre o projeto da hidrelétrica, sobre como afetará a região em que será construída e qualquer outra coisa do gênero. Mas resolvi me meter no assunto assim mesmo.

Pode parecer loucura a relação que vou fazer: sabe aquela história de que ONU, OTAN, Deus e o mundo estão se metendo em um problema interno da Líbia? Pois é, que merda é essa da OEA (Organização dos Estados Americanos) fazer observações e se achar no direito de fazer exigências sobre a construção de uma usina no Brasil? Virou zona? Neguinho por aí pode até achar que a Amazônia é de todo mundo, que isso ou aquilo. Mas não é. Então, antes de se meter, é bom invadir, trocar bala e tomar posse de verdade. Se não for assim, é bom ficar de boca fechada, porque – até onde sei – não andamos nos metendo nos problemas dos outros, que não são poucos. Só espero que nossa presidenta e o Itamaraty dêem as respostas certas.

Agora, talvez misture alhos com bugalhos, mas não vou perder a oportunidade. Como disse lá em cima, não sei nada sobre Belo Monte. Mas sei que há por aí um monte de gente que simplesmente não quer nem discutir o assunto, simplesmente não quer que nem essa nem qualquer outra nova usina seja construída. Pois meus amigos, vocês precisam se decidir se querem viver no escuro ou não. Porque, simplesmente, não há como gerar energia em larga escala sem que haja conseqüências para a natureza. Preferem térmicas a carvão? Ou gás? Ou uma nova usina nuclear?

Foto do dia: não era redonda?

A foto do dia não é bem uma foto, como vocês já notaram. Mais precisamente, é um geóide, uma superfície projetada apenas se considerando a gravidade, sem a ação de marés e correntes oceânicas.

A imagem foi construída depois de dois anos coletando dados enviados por satélites. Em tese, o modelo será referência para medir a movimentação dos oceanos, nível do mar e dinâmica do gelo, o que – reza a lenda – contribuiria no entendimento das mudanças climáticas. E também pode ser usado para um estudo mais preciso da estrutura do planeta e, quem sabe, compreender os processos que levam à formação de terremotos.

Não sei se tudo isso é verdade, não sou cientista e – como leigo – nunca me dediquei muito ao tema. Mas gostei da imagem, que remete ao monte de coisas que aprendemos ou admitimos por osmose. “A Terra é redonda”. Pombas, não seria muito estranho que nesse universo infinito, o lugar onde vivemos – resultado de explosões e impactos com outros corpos – fosse uma esfera (quase) perfeita? E nunca pensamos nisso.

Agora, tenta lembrar de tudo aquilo que você ouve e aceita como verdade sem discutir porque alguém disse (ou não) que era ‘cientificamente comprovado’.

Clique aqui para ver uma animação do geóide.

26 de março, 20h30

Pet

E viva o RSS do blog. A Carla passou pra Carol que passou pra mim que cliquei e cheguei nO Buteco da Net, do Humberto Oliveira. O vídeo mostra um flash mob no canadá. O objetivo é a conscientização sobre a presença dos plásticos em nosso planetinha.

Pra mim, um vídeo como esse é muito mais eficaz do que boa parte das palestras que assistimos por aí. Sem contar que a turma que participou deve ter se divertido horrores.

Vale assistir.

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Flashmob, posted with vodpod

 

Ministério do vai dar merda

Não, não sou geólogo, sismólogo ou algo que o valha. Na verdade, não entendo lhufas do assunto. Mas acredito piamente que nada acontece por acaso, que – na verdade – os fatos se dão em cadeia. E isso vale pra tudo, mesmo que não se consiga identificar a ligação entre os acontecimentos imediatamente. Não é o caso dos terremotos e tsunami que estão devastando a costa nordeste do Japão desde sexta-feira.

Vocês já devem ter visto por aí, em qualquer TV ou portal, um especialista qualquer explicando como é que funcionam as placas tectônicas e como seus movimentos provocam os terremotos. E a tal placa do Pacífico deve ter sido a entidade pública mais comentada nos últimos dias.

Na verdade, o mundo tremer naquela região não tem nada de novo. Pelo contrário, tudo o que se constrói por lá já está pronto para agüentar, razoavelmente bem, o tranco. E tsunamis também não são novidade, mas não há muito o que fazer quando a onda é capaz de cobrir o prédio que suportaria o terremoto. Mas esse é o risco de viver por ali, e tanto japoneses quanto seus vizinhos administram esse risco desde que o mundo é mundo.

Mas sabem aquela história de que as coisas acontecem em cadeia? Pois é.

No dia 22 de fevereiro a Nova Zelândia tremeu. As ilhas estão localizadas bem no encontro entre a tal placa do Pacífico e a Sul-Americana. Na semana passada, o Kilauea – o vulcão mais ativo do mundo, localizado no Havaí – lançou lava a 20 metros de altura e foram registrados cerca de 250 sismos na região do vulcão. De quebra, dois dias antes do terremoto de 8,9 que causou a tragédia, aconteceram três tremores que variaram entre 6,5 e 7,2. Ou seja, com os milhares de anos de história e toda essa movimentação recente, não dá pra dizer foi tudo uma grande surpresa.

No final das contas, o número de vítimas e a grande destruição são conseqüências mais da onda gigante do que dos terremotos propriamente ditos.

A grande tragédia que está para acontecer é o vazamento nuclear na usina de Fukushima. E o que me espanta, apesar de toda a tecnologia, é como é que neguinho tem coragem de construir usina nuclear num lugar como o Japão, que treme mais forte ou mais fraco dia sim e outro também. Porque na minha cabeça de leigo, é óbvio que um dia vai dar merda.

Chico Buarque disse uma vez que Lula deveria criar o ‘Ministério do Vai Dar Merda’. Na hora de tomar qualquer decisão, o presidente chamaria o tal ministro que analisaria o caso e aprovaria ou não a tal decisão. Pois começo a achar que toda e qualquer nação deveria criar a tal pasta.

Incoerências

Priorizar a educação implica consolidar valores universais de democracia, de liberdade e de tolerância, garantindo oportunidade para todos. Trata-se de uma construção social, de um pacto pelo futuro, em que o conhecimento é e será o fator decisivo.

(…)

Estamos fazendo as escolhas certas: o Brasil combina a redução efetiva das desigualdades sociais com sua inserção como uma potência ambiental, econômica e cultural.

Esses aí são pequenos trechos do artigo de Dilma Rousseff, nossa presidente, na Folha de São Paulo. E há algumas coisas que não entendi.

Como é que um governo que investe tanto em cotas e outros incentivos para o acesso à universidade mas não cuida do ensino fundamental pode dizer que prioriza a educação. Porque o que acontece hoje é que boa parte dos jovens que chegam à faculdade, não tem condições de cursá-la da maneira que deveria e o resultado disso é uma entre duas opções: cai a qualidade do ensino para que se alcance um imenso número de profissionais de nível superior sem se importar a que custo ou o sujeito beneficiado entra, não agüenta o tranco e desiste.

E que história é essa de assumir esse papel de potência ambiental com o novo Código Florestal que está em vias de aprovação?.