Um cowboy bem diferente

Madrugada de domingo e já tem corrida de novo. E nem falei do que aconteceu na semana passada no, Japão.

Além da óbvia confirmação do bicampeonato de Vettel, a prova em Suzuka não foi lá essas coisas. Na verdade, tão tediosa quanto pode ser um grande prêmio numa pista excelente. Ou seja, melhor do que muitas outras que aconteceram durante o ano.

Button venceu, Alonso foi o segundo e Vettel, o terceiro. Todo mundo já está cansado de saber disso, notícia mais do que velha. Mas a corrida teve um detalhe muito interessante.

O time dos energéticos mostrou seu ponto fraco, o alto desgaste de pneus. E a McLaren realmente evoluiu muito. A começar pela Coréia do Sul (que já teve seus primeiros treinos livres sob chuva forte), serão quatro provas ‘amistosas’. Como as regras não mudarão (pelo menos em tese), poderão nos apresentar um bom cheiro do que vem por aí em 2012.

A Red Bull ainda é o carro a ser batido, mas a turma de Woking está cada vez mais perto. Até a Mercedes andou um pouco pra frente nos últimos tempos, mas a Ferrari segue estagnada.

Neste fim de semana, torço para que a chuva se mantenha, seria uma boa chance de ver Schumacher de volta ao pódio. E daria uma boa graça a uma corrida que vale pouco. A ver.

Já de olho em 2012, o vídeo abaixo é muito legal. Não é exatamente uma novidade, mas mostra um F1 em condições nada usuais. Além disso, o passeio pelo que será a pista de Austin já revela que a promessa de uma pista interessante e bem dinâmica por seu relevo parece que vai mesmo ser cumprida.

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Fim de férias

Alguém sabe aí de quem foi a bela idéia de voltar das férias em Spa? Sei lá, tava pensando em enviar um presente, mesmo que um regalo bobo tipo caixa de bombom, só pra não deixar de agradecer. A melhor pista do campeonato, quase sempre imprevisível (por causa do clima e porque é pista de verdade) e sempre promessa de corrida boa.

O final de semana tinha, a princípio, dois personagens óbvios: Schumacher, pelos 20 anos da estréia, e Senna. No final das contas, outras figuras acabaram aparecendo. Afinal, era Spa e a corrida, se não foi um espetáculo, cumpriu sua sina de nunca ser ruim.

O sobrinho

Começo, então, pelo brasileiro que – finalmente – pilotaria um F1 de verdade numa corrida. Já li por aí que no balanço final, a estréia de Bruno na Renault teve dois dias ruins e um excelente. Não concordo.

Na sexta-feira molhada e típica do circuito situado entre os vilarejos de Spa e Francorchamps, Bruno escapou no primeiro treino (nada estranho), em um ponto onde outros também saíram da pista, e fez um discreto 17º tempo à tarde. No sábado, sem dúvidas, brilhou. Não bastasse andar à frente do companheiro que já está a ano e meio na equipe, foi ao Q3 e abiscoitou a sétima colocação em dia de asfalto difícil por conta do molha-seca tradicional. Hoje, bobeou na largada, perdeu o bico, pagou penalidade e terminou numa comum 13ª posição, mas andando sempre no mesmo ritmo de Petrov.

É claro que poderia ter um resultado muito melhor e até conquistado pontos, mas eu diria que foi um cartão de visitas acima do esperado. Daqui a duas semanas, sua segunda prova será em outro circuito mítico e de largada muito difícil: Monza. Dependendo do resultado da briga da equipe com Heidfeld, na justiça, será sua última chance de se mostrar bom o suficiente para ter lugar no grid em 2012. O mais importante, agora, é não tirar conclusões.

O cara

Há 20 anos, a Mercedes colocou uma grana do bolso de Edie e o moleque apareceu pela primeira vez. Colocou o Jordan pouco mais que mequetrefe em sétimo no grid, mas a embreagem quebrou na primeira volta. Na prova seguinte, já estava na Benetton e o resto todo mundo já sabe.

Aí, chega o final de semana da festa. Festas, presentes, comprimentos de todos os pilotos, capacete especial e tal. Mas alguma coisa sai errado e o cara vai largar em último num carro que, como aquele, é pouco mais do que mequetrefe. E termina em quinto! Dizer que foi sua melhor corrida desde que voltou é óbvio. Dizer que, apesar da idade, pode fazer muito mais do que o carro permite, idem. Agora, tente se imaginar só por um segundo no lugar dele, ao final da corrida de hoje. Você acha que ele se divertiu?

Se durante as quatro semanas de recesso não foram poucos os boatos que poderia se retirar definitivamente ao final deste ano, não ficarei surpreso se – a depender dos resultados e do carro que tiver na mão em 2012 – acabe alongando seu contrato por mais uma ou duas temporadas.

Bicampeão

Acho que já não resta mais dúvidas né? Se alguém ainda achava que o jogo poderia virar depois das férias, o moço fez um corridaço e tratou de tirar as dúvidas. E desconfio que a foto dele no pódio nos mostra que a ficha já caiu pra ele também. Faltam só sete corridas e o que falta é a definição matemática da bagaça.

Button

Sempre foi um bom piloto, mas nunca foi muito longe. O que, de certa forma, mascarou bastante suas qualidades. Até que um dia, estava no lugar certo na hora certa e um foguete lhe caiu no colo. E foi campeão. E mudou de equipe. E tem nos dado várias aulas de pilotagem, em que pese não brigar pelo título de novo. E hoje não foi diferente. Saiu de 13º para o pódio. E apesar de brigar por posições durante muito mais tempo que seus adversários diretos, chegou ao fim com o carro mais inteiro. Se a dupla Vettel-Red Bull não estivesse em um ano abençoado, quem sabe o que poderia acontecer?

Eau Rouge

Desconfio que a ultrapassagem de Webber sobre Alonso, por fora, na curva que justifica quase todos os clichês de Galvão Bueno, já está na galeria das maiores da história.

Parabéns, mas…

Não há porque fazer qualquer consideração sobre estratégias ou outros detalhes técnicos sobre a corrida de ontem. Já em plena segunda-feira, e depois de assistir a corrida (apesar da Globo) e seu VT, tenho absoluta segurança de que o GP do Canadá deva ser considerado apenas como o espetáculo que foi: sensacional.

A pista de Montreal (quase) sempre nos proporciona grandes corridas. Com chuva, então… A disputa de ontem foi tão boa que até Massa, que deu uma bela pixotada (bateu sozinho ao tentar ultrapassar um retardatário com pneus lisos na pista molhada), se recuperou e teve direito ao seu brilhareco, conquistando a sexta posição na linha de chegada.

Outro destaque foi Michael Schumacher. O velho mostrou ontem que, se já não é mais o mesmo (e não é mesmo), se tivesse um carro um pouquinho melhor, poderia brigar pelas primeiras posições com alguma freqüência. Com a pista molhada e úmida, andou demais. Fez até uma ultrapassagem dupla, de almanaque. Mas no final, foi presa fácil para as asas abertas e terminou em quarto.

Button venceu na última volta, depois de andar em 21º. Brilhante, excelente, sensacional. Mas… Há três detalhes nessa vitória que deveriam ser olhados com um pouco mais de calma.

O primeiro, o acidente com Hamilton na reta dos boxes. Button disse que não viu Hamilton. Humm… Então ele saiu da linha normal por acaso, justamente quando era atacado? Humm… Ainda o acidente, deixando um pouco a patriotada de lado, penso que foi muito semelhante ao quase acidente da ultrapassagem de Barrichelo sobre Schumacher na Hungria, no ano passado. A situação foi idêntica, um piloto espremeu o outro contra o muro. Só que dessa vez, eles bateram. Nada aconteceu com Button, Hamilton teve apenas sua suspensão traseira quebrada, ninguém se machucou. Mas, e se…

Pelas cagadas que Lewis vem fazendo ao longo do ano, ficou fácil acusá-lo de agressividade exagerada e essas coisas. Pra completar, sua declaração infeliz sobre ser perseguido por ser negro, há algumas semanas. Pois tenho certeza que, se a situação fosse ao contrário, o garoto teria levado até bandeira preta.

O segundo ponto foi a soberba de Vettel e da Red Bull. Depois do último safety car, o alemãozinho teve a chance de abrir uma vantagem suficiente para vencer sem problemas. Mas eles acreditaram, piloto e equipe, que era melhor administrar. Só por isso, Button teve a chance de pressionar o líder da prova.

Por fim, Vettel errou. Quase rodou. Porque precisou forçar o carro no “limite extremo” (é assim, Galvão?). Andando muito forte, com pneus lisos, em um trilho ladeado por poças, o risco de dar errado era enorme. E deu. Não, não acho que Vettel errou porque sentiu a pressão. Errou porque errou, porque as condições eram dificílimas, porque todo mundo erra uma hora. E, a dois quilômetros da linha de chegada, era o único que ainda não tinha rateado. Acontece.

Mesmo assim, cinco vitórias e dois segundos lugares em sete corridas. Não, não tenho dúvidas de quem será o campeão (casos de cataclismas não estão previstos, claro). Mas, em que pese o domínio de Vettel sugerir o tédio, vale a pena acompanhar a temporada, corrida a corrida. Elas estão uma delícia de assistir.

Será que vai ficar sem graça?

Então teve corrida ontem. E está provado que a pista de Barcelona pode ser excelente para equipes e pilotos, técnica e tal. Mas para o espetáculo, é uma bosta. Não deu jeito nem com pneus de farelo e asa móvel. Uma prova muito inferior às outras.

Sobre o campeonato? Parece que estamos mesmo a caminho de um daqueles anos históricos, como 92 e 93 (Mansell e Prost na Williams) ou 2002 e 2004 (Schumacher na Ferrari). Aliás, se Webber estivesse em forma – no mínimo – razoável, a Red Bull poderia repetir o que fez a McLaren em 88. O detalhe é que os pilotos que venceram 15 de 16 corridas eram Prost e Senna.

No mais, destaque para Alonso que anda muito mais que sua Ferrari. Outro detalhe é que a Lotus (a verde) já começa a andar – de verdade – no meio do bolo, e não apenas como uma das três nanicas. Se continuar evoluindo nesse ritmo, já será uma boa média na próxima temporada. Por fim, parece que Hamilton (e a McLaren) são os únicos capazes de dar trabalho de verdade à dupla Vettel-Red Bull. Minha impressão é que até pode vencer uma aqui, outra ali, mas não tem condições de disputar o título de verdade.

Domingo que vem é a vez de Mônaco e a polêmica será a asa móvel, liberada para uso na reta que sai do túnel. Risco de muitos acidentes sérios. A ver.

Já era hora

Finalmente, começa daqui a muito pouco a temporada 2011 da Fórmula 1. Sim, adoro esse negócio, sinto falta de assistir treinos e corridas, de tentar entender as estratégias de corrida e suas conseqüências, de prestar atenção em um pit stop e perceber onde está a diferença que faz um ou outro ganhar ou perder uma posição etc etc etc.

Quem está acostumado a visitar esse meu canto deve ter percebido que não falo no assunto há dez dias. Simplesmente porque não aconteceu nada de relevante. Mas a aproximação da primeira prova revela alguns detalhes e ainda alimenta alguns boatos que valem registro.

A primeira coisa é uma entrevista em que Vettel, ainda discutindo o número de botões no volante e asa móvel, disse que os pilotos até poderiam se unir e não correr. Besteira, eles simplesmente não tem a união necessária para um movimento como esse, a maior parte não tem personalidade para assumir compromissos desse nível e, desconfio com quase certeza, nem autonomia para levar algo assim à frente.

De quebra, Schumacher (o cara que mais modifica o carro durante uma volta) e Alonso disseram que tudo isso é besteira, que pilotos de F1 tem capacidade para lidar com todos os botões do volante e que a pré-temporada serve para fazer esse tipo de adaptação.

Outra notícia é o quase arco-íris que a Pirelli resolveu instituir para identificar seus pneus. O esquema é o seguinte: laranja, chuva; azul, intermediário; vermelho, supermacio; amarelo, macio; branco, médio; prata, duro. Talvez dê um pouco mais de trabalho para nos acostumarmos do que com o sistema usado pela Bridgestone, mas a idéia é muito legal. O único senão foi a escolha do prata, que pode ser confundido com o branco. Poderiam ter escolhido verde ou violeta, só para citar duas cores do arco-íris.

Outra notícia que pintou por aí é que a Hispania está a um passo de quebrar. Ok, agora me digam uma novidade. Já me surpreendi com o fato dela dizer que vai correr esse ano, até apresentou um carro. Será que termina a temporada? Será que, com a regra dos 107%, conseguirá largar para alguma corrida?

Já a McLaren prometeu um carro quase novo para a primeira corrida. Tudo porque teve muitos e muitos problemas – principalmente hidráulicos – de confiabilidade durante os testes. Essa falta de confiabilidade certamente é fruto de um carro novo com tantas inovações, problemas que Red Bull e Ferrari não tiveram. Mas além do que vai por baixo da carenagem, que a equipe tentará resolver, haverá novidades à vista de todos, como um novo escapamento inspirado na Renault. O negócio é ver se vai funcionar.

Outra curiosidade é que, com o início das programações das equipes em função de GPs, também começaram as programações estranhas dos patrocinadores. Não é que mandaram Vettel pastorear e tosquear uma ovelha. Será mesmo que uma ação dessas, tão fora de propósito, alavanca os negócios? Publicitários e marqueteiros, favor discorrer sobre o tema.

Por fim, um pouco da corrida propriamente dita. A FIA definiu a área de monitoramento dos carros (entre as curvas 14 e 16) e ampliou a área em que será permitido o uso da asa traseira móvel para toda a reta dos boxes (contra os 600 metros iniciais). O interessante nessa história é que como é um trecho de média e baixa velocidade, há a possibilidade de quem estiver atrás forçar um pouco mais as freadas, principalmente na 15, para colar no carro da frente. Assim, poderia usar a asa para fazer a ultrapassagem. Em resumo, nada mais artificial, pois enquanto o carro de trás pode ganhar algo entre 10 e 14km/h, o da frente não usa a asa e vira presa fácil.

Outro ponto de atenção é que o desgaste dos pneus vai provocar estratégias diferentes e, em vários momentos da prova, veremos carros com rendimento muito díspares. Assim, naturalmente, o número de ultrapassagens já cresceria. Mas como essas manobras vão se misturar com as provocadas pelas asas, a corrida tem tudo para virar uma zona. E aquilo que era tão difícil, tão esperado e tão comemorado, vai perder a graça por sua banalização.

Mas o que importa mesmo é que, no final das contas, o favoritismo continua com a Red Bull. A Ferrari, ainda atrás, deve estar bem próxima. Daí pra trás… Mas se há uma corrida no ano que, mesmo sem chuva, pode provocar boas e grandes surpresas, é o GP de Melbourne. Vale se programar.

Resta 1

Novidades na F1, com a confirmação da Hispania de que o indiano Narain Karthikevan será um de seus pilotos no próximo campeonato. Apoiado pela Tata, montadora indiana, o piloto voltará a pilotar um carro de fórmula 1 justamente no ano em que seu país entra no calendário. Afinal, não se pode perder uma oportunidade de marketing como essa, mesmo que seu carro ande pouco mais rápido que um fusquinha 1973. Pra completar, o chefe da equipe Colin Kolles também avisou aquilo que todo mundo já sabia, que “Bruno Senna não vai correr pela Hispania. 100% não”.

Ou seja, como era previsto, dos quatro brazucas que correram no ano passado, apenas dois seguem no grid. Caíram justamente os dois estreantes. Se vão continuar por ali, como terceiro, quarto ou quinto piloto, ainda não se sabe. Lucas Di Grassi e Bruno estão em silêncio há tempos.

O que achei curioso sobre a F1 é que o dinheiro que move o negócio é todo de patrocinadores. No entanto, a comunicação dos caras é furada em alguns pontos. Por exemplo, a Virgin que será Marussia não mudou nada no seu site, a não ser o anúncio de Jerome D’Ambrosio como novo piloto, notícia que já é velha.

No site da Hispania, os patrocinadores de Senna ainda estão lá. E na Williams, Pastor Maldonado já foi anunciado, mas patrocinadores que deram no pé no final do ano ainda aparecem enquanto os novos (PDVSA à frente) ainda não.

Além disso, a lista oficial de pilotos no site da categoria ainda apresenta cinco cockpits vazios apesar de, na verdade só existir uma vaga indefinida e outra aberta de verdade. Vejam abaixo.

Observações sobre um jubileu de prata

E ontem eu consegui uma coisa que havia tempo não fazia. Assistir ao vivo a uma corrida inteira de F1. E eu cheguei a praguejar contra o senso de humor mórbido do que costuma-se chamar de destino que, fazendo das suas, reservou o GP da Hungria, um dos mais chatos e previsíveis de toda a temporada para o meu retorno. Ledo engano…

Como aconteceu bastante coisa interessante, vou por partes para tentar ser mais curto.

– Alguém precisa, urgentemente, calar a boca do Galvão. Além da chatice de sempre e de várias trocas de nomes de pilotos (também habitual), tentar comparar Vettel a grandes nomes da história é uma covardia com o garoto e mais um dos muitos desserviços que ele presta a quem assiste F1. E por causa dele, muita gente até agora não entendeu que Vettel não ultrapassou Alonso por falta de coragem ou habilidade. Sem que o espanhol cometesse qualquer tipo de erro, era simplesmente impossível ele se aproximar do carro da frente dentro da curva para forçar a ultrapassagem na reta. Pelo contrário, ao tentar se aproximar, quase saiu da pista duas ou três vezes e o mesmo aconteceria com qualquer um.

– Weber deu um show de habilidade e precisão, andando muito forte e sem cometer erros. Soube usar e abusar do fato de ter um carro equilibrado para consumir pouco pneu e – graças à punição de Vettel – vencer e assumir a liderança do campeonato.

– Será que as férias de verão ajudarão a McLaren a voltar ao campeonato. Do jeito que está, é melhor pensar no carro do ano que vem.

– Apesar da vergonha da semana passada, a Ferrari confirmou o bom momento e o fato de – por hora – ser o único time com alguma chance de lutar contra a Red Bull. Mesmo assim, a impressão é de que o time das latinhas mais perde pontos do que os outros ganham.

– Depois de cumprir a ordem da equipe na semana passada, Massa deu entrevista dizendo que enquanto houver chances matemáticas o fato não se repetirá, que o seu país é o mais importante pra ele, que isso e aquilo e coisa e tal. Mas para não dar passagem a Alonso, com ou sem ordem, é preciso estar à frente do espanhol, o que raramente conseguiu este ano. Depois de toda a confusão da semana passada, deve tomar um chá de sumiço durante as férias que só terminam no último final de semana de agosto, em SPA.

– Ao ver as cagadas de Renault e Mercedes nos boxes, não conseguir ficar sem cantarolar a musica dos trapalhões. Há muito tempo não via tamanha incompetência em um espaço de tempo tão curto.

– Antes de elogiar o brasileiro e meter o pau no alemão, é preciso entender porque Barrichelo conseguiu ultrapassar Schumacher, enquanto Vetel gramava atrás de Alonso. Rubens andava muito mais forte, com pneus novos e macios; Michael tinha problemas de equilíbrio e pneus desgastados, o que provocou uma pequena rabeada na entrada da curva que leva à reta dos boxes de Hungaroring. Por conta disso, Rubens conseguiu sair da curva embutido, apesar da turbulência, pegar o vácuo e colocar de lado para ganhar a posição e o pontinho que lhe coube.

– Ficar surpreso com a atitude de Schumacher é uma parvalhice. O sujeito tem a maior coleção de polêmicas e punições da história da F1. Some-se seu estilo Dick Vigarista à relação nada amigável com Barrichelo, e pronto. Agora, a punição que lhe foi dada é uma vergonha, não diz nada a ninguém.

– A ultrapassagem de Barrichelo foi sensacional, mostrando mais uma vez que é sim um grande piloto e não está na categoria até hoje por acaso. Uma pena apenas a sua postura e discurso (que a emissora oficial adora) depois da corrida, com lágrimas etc.

– Coincidência que ao comemorar seu jubileu de prata, o grande prêmio magiar tenha visto, como na primeira edição, um brasileiro a bordo de uma Williams ser o grande personagem da prova? A diferença é que em 86, Piquet fez sobre Senna a que é considerada a maior ultrapassagem da F1 moderna para vencer a corrida. Ontem, Rubens brigou para chegar em décimo. Sinal dos tempos.

Fórmula 171

Eu devia ter uns cinco ou seis anos quando ganhei um carro de fricção, preto com detalhes dourados, com duas asas. Provavelmente já sabia que aquilo era um Fórmula 1, o que não significa que entendesse o significado disso. Gostava do carro porque cruzava a sala de ponta a ponta, em alta velocidade.

Com o tempo, aquele carro ficou de lado e, acompanhando as corridas de Nélson Piquet, comecei a entender o que eram aquelas corridas e tive até a dimensão de quem foi Emerson Fittipaldi e o que era aquela Lotus.

Torci pelo Piquet. Mas me apaixonei mesmo pelas corridas. E com o tempo entendi como funcionava aquele negócio, a disputa dos pilotos e escuderias, o que era o jogo de equipe, quem eram os grandes ases e quais eram os grandes times. E com a aposentadoria de Nélson, deixei de ser um torcedor de pilotos e passei a querer assistir grandes corridas.

É claro que sempre se simpatiza com um ou outro, mas sempre olhei para os caras que ficavam atrás dos volantes sem me preocupar com o lugar onde tinham nascido. Nunca torci pelo Senna, por exemplo, apesar de apreciar seu arrojo.

Até que um dia apareceu um certo alemão que, com status de primeiro-piloto-praticamente-dono-da-ferrari, ao lado de Jean Todt e Ross Brawn, extrapolaram o conceito de jogo de equipe. O ápice foi o GP da Áustria de 2002, em que Rubens Barrichelo jogou a merda no ventilador ao quase parar seu carro a poucos metros da linha de chegada, permitindo a vitória do alemão. Foi um escândalo. E por conta disso, até novas regras foram criadas pela categoria.

2010 tem sido um ano especial na categoria. Apesar das dificuldades em se ultrapassar, pelas características de carros e pistas atuais, grandes duplas de equipes têm protagonizado disputas inesquecíveis, o caso de Vettel e Webber na Red Bull, Hamilton e Button na McLaren. E o mesmo se esperava de Alonso e Massa na Ferrari.

Até que o time italiano (Domenicalli à frente), o espanhol mimado e de caráter duvidoso, e o brasileiro fraco, sem atitude, sem hombridade, estragaram tudo.

Para mim, nos dois episódios, mais grave do que o jogo de equipe extremo foram as posturas dos dois brasileiros. Barrichelo expôs a farsa ao freiar quase na linha de chegada, mas depois se agarrou no discurso do “só um brasileirinho contra o mundo”. Massa, a despeito do que todo mundo viu e ouviu, primeiro fez cara de emburrado para depois dizer que foi uma decisão sua.

Não acho que a Fórmula 1 acabou ou vai acabar por causa disso. Assim como eu, milhões de pessoas continuam gostando das corridas. Mas episódios como o de domingo confirma a tese de que, mais do que um esporte, a F1 é um negócio. Um negócio que pode ser divertido para quem assiste.

Mas o que a Ferrari fez (de novo) pode sim espantar uma boa parcela de público, mesmo que temporariamente, que espera por disputas limpas e reais. Isso pode espantar patrocinadores que pagam as contas que garantem os carros na pista e tudo pode ficar muito mais difícil. Mas depois passa, como sempre.

E se você quer continuar ou começar a assistir corridas de F1, não esqueçam de não torcer por ninguém. Apenas apreciem o espetáculo. Porque da mesma maneira que nossa seleção não é a pátria de chuteiras, os pilotos brasileiros não são a pátria sobre rodas. Ou vão se decepcionar…

Alíneas

A melhor pergunta sobre o imbróglio que Schumacher aprontou na Rascasse, a penúltima curva da corrida de ontem, ouvi hoje de manhã: ‘o regulamento foi feito por brasileiro?’

Como a confusão aconteceu no final da última volta, falemos primeiro da corrida. Como esperado, nenhuma emoção. Os cinco primeiros a cruzar a linha de chegada foram os mesmo cinco (e na mesma ordem) que passaram pela primeira curva. Poucas coisas relevantes, como o fato de Sebastian Vettel ter ultrapassado Robert Kubica na largada e pulado de terceiro para segundo. Apesar de perder a posição na largada, o piloto polonês é – sem dúvida – o melhor do ano até agora. O que ele anda conseguindo com a Renault é para constar em almanaques.

Outro destaque foi Alonso, que saiu dos boxes porque bateu e não treinou. Com a entra do safety car na primeira volta, ele deu o pulo do gato. Fez sua parada e começou a ganhar posições na pista. Quando todos os outros resolveram parar, ele pulou para a sexta posição.

Mesmo assim, uma corrida chata e previsível.

Como qualquer adendo seria um exagero, basta dizer que a Red Bull finalmente fez valer, nos números, o fato de ter o melhor carro do ano. Agora, a equipe é líder do mundial de construtores com 156 pontos, 78 para cada um de seus pilotos. Surpreendente, apenas o fato de Webber estar em um momento melhor que Vettel quando todos esperavam que o alemão seria a estrela do ano enquanto o australiano, seu fiel escudeiro.

Voltemos, então, à ultrapassagem de Schumacher sobre Alonso. No que diz respeito ao regulamento, para analisar o que aconteceu é preciso se debruçar sobre o artigo 40. Vejam o que dizem algumas de suas alíneas:

40.7: …é proibido ultrapassar até que os carros alcancem a primeira linha do safety-car após o seu retorno aos pits.

40.11: Toda vez que o SC entrar nos pits, sem exceção, as placas que sinalizam sua presença são retiradas e luzes e bandeiras verdes entram em ação.

40.13: Quando, ao final de uma prova, o safety car estiver na pista, ele será recolhido aos pits no fim da última volta e os carros receberão a bandeira quadriculada sem que acontecem ultrapassagens

40.14: é permitido realizar ultrapassagens, quando o safety car voltar aos pits, depois de cruzar a linha (se referindo à linha do SC)

Pelos trechos do regulamento reproduzidos acima, há argumentos a favor e contra Schumacher. O problema é que, mais do que ir contra as regras, o alemão feriu o espírito do negócio. Não importa se a regra é dúbia e deixa a brecha, pois todo mundo que acompanha automobilismo sabe que, se em bandeira amarela, só se ultrapassa após a linha de largada. Então, sua punição foi justa.

Mas há algumas nuances na manobra que devem ser notadas. É claro que Schumacher conhece o regulamento. Sabendo que existe uma pequena margem, arriscou. Perdeu.

Outro detalhe (talvez, o mais importante) é que, independente do resultado da manobra, ele precisava fazer aquilo. Porque desde que decidiu voltar a correr, sua decisão e – principalmente – seus resultados tem sido contestados. Mas Mercedes e outros patrocinadores apostaram muito dinheiro no piloto e ele precisa mostrar que valeu a pena. Com todos os aspectos de seu retorno analisados, dão-se os descontos necessários pelos três anos parados e a necessária readaptação muito mais lenta do que seria normal em função da proibição de testes. A manobra, mesmo acompanhada de uma punição, mostra que ele não perdeu o espírito competitivo, continua aguerrido, sempre em busca da vitória. Ele precisa prestar contas e, com o barulho feito ontem, conseguiu.

La Côte d’Azur sur les pilules

Domingo tem corrida em Mônaco. Uma pista que praticamente não mudou em 70 anos, o que nos faz chegar facilmente à conclusão de que a F1 não cabe ali. Se compararmos então com todos os autódromos e suas exigências de segurança, não dá pra entender como é que a F1 ainda vai ao principado. Dá pra perceber isso no vídeo abaixo, em que Mark Webber apresenta a pista.

Mas há a tradição e a grana, e tudo o que pode derivar destes dois aspectos. Enfim, a corrida em que não se pode pensar em errar, devido à proximidade constante dos guard rails, pode até ter surpresas. Mas se o tempo estiver bom e a largada for tranqüila, sem problemas na primeira curva, quem completar a primeira volta na frente deve terminar a corrida na frente. Mas há algumas variáveis que devemos levar em conta.

A classificação pode embaralhar muito o grid. Não é por ter 24 carros numa pista pequena e apertada. É por ter quatro carros andando a passo de cágado e dois a passo de cágado centenário. Esse tráfego pode provocar surpresas. E, se dois ou três dos favoritos largarem no fundo, não necessariamente conseguirão escalar o pelotão. Porque para ultrapassar em Mônaco, o cara da frente tem que deixar, bater ou dormir. Para quem duvida, basta lembrar o que Enrique Bernoldi (com uma Arrows) fez com David Coulthard em 2001, segurando o escocês por mais da metade da corrida.

A chuva é outra variável importante e há grande chance dela dar as caras e animar bastante a corrida. Nesse caso, não se deve esperar nada de Massa, Rubinho pode andar bem, Hamilton é favorito à vitória e as nanicas…

Das nanicas, ninguém deve esperar nada em hipótese alguma. Quando se fala em chuva em Mônaco, é comum lembrar do que Ayrton Senna fez com a Toleman em 1984. Seco ou molhado, Mônaco é uma pista que pede um carro extremamente equilibrado, com forte aderência mecânica. Aquela Toleman tinha um chassi sensacional e um piloto excepcional. Nada parecido com o cenário atual.

Nas CNTP, Red Bull e Ferrari (Alonso) devem brigar pela primeira fila. Mas como tudo é muito lento e os grandes pilotos podem sobressair, não me assustaria se visse Kubica, Hamilton e Schumacher na briga. Para a corrida, em qualquer condição, não descartaria Button e Rosberg.

Petites mises

Infelizmente, não estou no principado. Mas boatos correm soltos por lá, é possível ouví-los do Rio. Não vou comentar todos os pilotos que foram indicados como substitutos de Massa na Ferrari nem a especulação sobre sua ida para a Red Bull. Mas vou fazer pequenas apostas para a temporada 2011 e depois veremos o que acertei:

– As equipes pediram para a Bridgestone continuar na F1 e a Michelin quer voltar, mas é a Pirelli quem calçará os carros a partir do ano que vem.

– Hispania terminará o ano na marra e não correrá em 2011.

– Para a vaga aberta e em substituição ao time espanhol, Epsilon Euskadi e Art Grand Prix disputarão a próxima temporada.

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