Duas perguntinhas

Constituição Cidadã. A nossa constituição de 1988 é cidadã porque apresenta pontos essenciais à manutenção e ao fortalecimento da democracia, protegendo os interesses do povo brasileiro contra o arbítrio, o casuísmo e o autoritarismo. Não é por acaso que a igualdade, a liberdade, a justiça e a alternância de poder são cláusulas pétreas.

E, então, chegamos a Elon Musk e seu chilique, siricotico, ataque de pelancas, chamem como quiserem.

A gente realmente sabe o que é liberdade de expressão?

É um princípio essencial que sustenta a democracia e promove o progresso social. Ok, definição básica e objetiva. Mas… Sim, há muitos “mas”. Porque, como diria o filósofo Mussum, “noé baguncis não!!!”.

Nesse contexto, ela é entendida como o direito de expressar opiniões, ideias e pensamentos sem censura ou interferência governamental ou privada. (…) No entanto, a liberdade de expressão não é um direito absoluto e enfrenta desafios e limites em diferentes contextos, como questões de incitamento ao ódio, discurso de ódio e desinformação.
(Brasil Escola – brasilescola.uol.com.br)

Sim, há formas diferentes de entender e lidar com o tema pelo mundo, especialmente nos EUA. Mas também é necessário entender que o moço mimado não está preocupado de verdade com o assunto. A questão é (sempre é) econômica. Ou, se preferir, como posso levar vantagem?

Por que é fácil dizer isso sobre rapaz? Porque, só um exemplo, uma das gigafábricas da Tesla fica na China, onde a internet sofre controle ferrenho do estado. Sites como Google, Facebook e – é verdade esse bilhete – X (Twitter, vocês sabem) são integralmente censurados. Este último, desde 2009, 15 anos.

Mas a China é um ponto central pra Tesla, pela proximidade da rede de fornecedores e a mão de obra barata. Então, o Twitter (X, vocês sabem) e a liberdade de expressão não são preocupações dele na terra da muralha. Hummmm…

Minha sugestão: de modo estrutural e institucional, deixem a justiça resolver o problema. De modo pessoal, façam o simples. Quem bate palmas pro sujeito e pra turma que ele apoia, continua usando sua plataforma. Quem discorda dele, passa a usar Threads. Ou fica menos tempo usando essas redes, mal não vai fazer.

Então, ao invés de respostas, vou deixar aqui duas perguntinhas:

  1. Por que será que pessoas como Elon Musk (ele é o mais barulhento, mas não é o único) apoia gente como Trump e Bolsonaro – que democratas já está mais do que provado que não são?
  2. Por que será que pessoas que acreditam em mamadeira de piroca e pisca-pisca de celular pra falar com E.T., e batem continência pra pneu apoiam gente como Elon Musk?

Grana, bufunfa, patacos, mangos, bolada, dindim

Sim, ando pensando muito em dinheiro. Não, não o tanto que preciso pra colocar a vida em dia. Não me sai da cabeça a quantidade de grana que é necessária pra ter salvo-conduto na vida.

Não faz muito tempo, semanas, que ficamos muito putos com o fato de Daniel Alves ter pago, primeiro, uma multa pra diminuir sua sentença e, depois, uma fiança milionária pra ficar em liberdade. Gritamos e esperneamos, eu inclusive, que a Espanha botou preço no estupro…

Vamos combinar né gente, nada de novo nissaí, talquêi. E a Espanha nem é exceção.

Outra caso, agora de dias: Fernando Sastre Filho. O sujeito que matou um motorista de aplicativo com seu carro milionário, a cerca de 130 km/h, fugiu do local sem prestar socorro, se apresentou na polícia no dia seguinte, foi liberado de boa. Sim, é bom lembrar que,  independente do resultado de um eventual julgamento sobre culpa ou dolo, ele é um homicida. Mas demoramos um tantinho pra ligar nome à pessoa né. Porque as manchetes falam em empresário, nos contam que “o Porsche que bateu…” (como se andasse sozinho), já sabemos até quanto custa seu IPVA e que ele não tem seguro.

Só fiquei imaginando se, ao invés de um empresário branco em um carrão, tivesse sido motorista negro em uma van que tivesse provocado o acidente. Como teria sido o tratamento dispensado nessa hipótese? Basta olhar com calma para o massacre dos últimos meses na baixada santista que a resposta aparece.

Mas esse caso também não tem nada de novidade né. Vocês lembram do Thor Batista e do ajudante de caminhão que ele atropelou (e matou) na Rio-Petrópolis, Wanderson?  Pois é, houve alguns acordos, mas que sempre se resumiram a dinheiro, cascalho.

E como não se trata só de morte e violência, há muitos outros casos famosos pelo mundo, como o casal de irmãos Shinawatra, da Tailândia, numa boa em Dubai; Josph Lau, de Macau, numa ótima em Hong Kong; o chinês Guo Wengui, tranquilo nos EUA; o brasileiro-libanês Carlos Ghosn que vive em paz em Beirute. Sem falar na turma da CBF que não pode nem pensar em cruzar qualquer fronteira, mas vive nababescamente no Brasil. E o pessoal do Flamengo, dirigentes que deveriam ser responsabilizados pela tragédia do Ninho…

A lista, como sabemos, é infinita. E a prática não começou ontem. Todo mundo sabe que o dinheiro, o quanto você tem, sempre livrou todo mundo. Ou quase, pelo menos. Tipo o recheio da sua carteira dizendo se você tem ou não direito a habeas corpus preventivo.

Não sei vocês, mas em mim essas coisas doem muito. Ah, como dói…

Porque sujeito comum que sou, fico sonhando em ter metade, um terço, um décimo do cacau, dos caraminguás que essa turma esconde no cofre, só pra resolver dívidas, ajustar a saúde, cuidar das minhas filhas como elas merecem e ajudar mais uma pá de gente.

Mas aí, daqui uma semana, tem uma confusão nova, algum escândalo inédito, a bagunça mais barulhenta dos últimos dias, e já não lembramos de mais nada. E o baile segue…

O que não pode ser, mas é

Hoje passei pra contar a história de uma multa que não deveria nem existir. Mas, como diria o filósofo Capitão Nascimento, “o sistema é foda!” E, de acordo com dois guardas municipais com quem conversei, não é confiável.

Daqui, resta a torcida (ingênua e tênue) de que a Ilustríssima Sra. Dra. Maína Celidonio, secretária de transportes da cidade do Rio de Janeiro, e o prefeito Eduardo Paes tomem conhecimento do ocorrido. Duvidodó, mas vai que… Ao início, pois.

No dia 9 de janeiro de 2024, minha cônje, namorida, companheira etc. recebeu a notificação de uma infração de trânsito cometida por mim, no dia 25 de dezembro de 2023, enquanto transitava pela nada bucólica Rua São Francisco Xavier, com minha irmã e minhas filhas, para o almoço de Natal. No mesmo dia, por meio de aplicativo, ela me nomeou como o real infrator e eu aceitei. Mas qual não foi minha surpresa ao identificar a infração cometida? Vejam as imagens.

Fui multado por transitar em uma faixa exclusiva para transportes públicos (ônibus etc.) em um dia em que a referida faixa não é exclusiva. Ou Natal não é feriado?

Aí você pensa: “Ah, moleza, erro técnico, fácil de resolver”. E foi nesse momento que o sistema, aquele é que é foda, sambou na cara da sociedade. Na minha cara.

Por vários dias, pelo passo a passo do portal Carioca Digital, eu era enviado para o Radar. Primeiro, a multa não aparecia. Depois, o condutor (apesar de eu ser indicado como real infrator) não era identificado. E por fim, o sistema estava fora do ar e não respondia mais nada. Até que chegou o prazo (deadline para os mais novos) para realizar a defesa prévia. Me dirigi à ao posto do Detran e à Região Administrativa de Vila Isabel, para buscar orientações. E fui encaminhado para a RA do Méier (que fica no Engenho Novo), onde poderia realizar os procedimentos presencialmente.

Ao chegar lá, qual não foi minha surpresa. Ao ser atendido por um rapaz até solícito, fui informado que era ali mesmo, mas que ele não conseguia fazer nada porque estava sem impressora e o sistema estava fora do ar. “Talvez você consiga em Irajá…” Pelo horário e circunstâncias do dia, nem tentei ir até lá, não havia tempo suficiente.

Tentei, de novo, pelo Carioca Digital, encontrar um caminho. Mas não encontrei orientações sobre como proceder, quais são os passos a partir de agora. O que se ouve por aí é terrível. “Agora só com despachante”, “Tem que arrumar advogado”, “Vai custar uma fortuna”.

Tudo isso por uma multa que não deveria nem existir. E agora voltamos aos GM com quem conversei. Um deles me disse claramente: “Não ande nessas faixas nem acredite nessas placas de sinal de trânsito que não funcionam de madrugada. Já tenho quase dois mil de multas pra pagar.” O outro, ao lado, completou: “Não mesmo, o sistema não é confiável. Fui multado no dia 3 de janeiro às duas e pouco da manhã. Tava lá a placa de que não tem multa das 22 às 6h. Agora tenho que pagar essa bomba”.

Claro que não vou citar seus nomes né… Então, além do desabafo, a história serve como aviso para os amigos. E se alguém tiver alguma dica ou forma de me ajudar, agradeço penhorado.

Não tem tradução

Preciso contar uma coisa pra vocês: eu não frequento rooftops.

Tem muitos dias não, vi um texto do Millôr dando uma belíssima sacaneada naquele estrume do Aldo Rebelo, que um dia – lá pelos idos de 99, 2000 – apresentou um projeto de lei (que chegou até a ser aprovado na CCJ em 2007) limitando o uso de estrangeirismos.

Quero dizer que sou contra. Por muitos motivos, desde as discussões mais acadêmicas sobre a língua ser um organismo vivo até a liberdade de cada um fazer o que bem quiser com a língua que mais lhe aprouver.

Mas eu tenho o direito de achar isso, essas palavrinhas em inglês no meio de frases em português, um tanto cafona. Pra dizer o mínimo. Sempre imagino como seria a cena ao contrário, com alguém falando em inglês e, à toa, encaixando alguma coisa em português. Let’s talk about your trabalho and the ideias you’ve had.

E sim, trabalho com Comunicação e desde o primeiro período de faculdade fui obrigado a conviver com jobs e deadlines. Muito antes dos insights e quetais dominarem o vocabulário corporativo, imposição dos afetados paulistas que chegou ao Rio pela Barra da Tijuca, a filial de Miami (como podem ver, existe sim pecado do lado de baixo do Equador), e se espalhou tragicamente por nosso belo balneário.

E por que estou falando disso? Passou por mim no feed de uma dessas redes um vídeo de um rapaz com sotaque carioca apresentando o que seria o melhor rooftop do Rio de Janeiro. Pelo que entendi, fica em Ipanema, berço do Simpatia É Quase Amor que completa 40 anos em 24. Achei um assinte nada simpático. Também imaginei Albino Pinheiro, Ziraldo, Fredy Carneiro e Jaguar, em 1965, fundando a Banda de Ipanema no melhor espírito Let’s party!

E com o coração carioca de Vila Isabel aos pulos, só pensei em uma coisa: rooftop de c* é r*l@!!!!

Sei que isso aqui não passa de um desabafo e que nada vai mudar. E que toda essa afetação que só serve pra cobrar mais caro por qualquer coisa (alguém inventou que um rooftop vale mais do que uma laje ou um terraço porque é gringo. E quem acreditou, não sabe o que está perdendo) nem é novidade. Noel escreveu Não tem tradução em 1933.

Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone.

Por aqui, apesar dos jobs, pitches e storytellings com que sou obrigado a lidar, não me rendo. Pelo menos até alguém me convencer que arrumou palavras melhores que cumbuca e borogodó.

Duvideodó!

Pra balançar o esqueleto e tratar bem os ouvidos

Uma das coisas que fazia por aqui era falar de música. E hoje o DJ acordou animado e separou 5 discos de soul-funk-r&b que vocês deviam ouvir. Pra sorrir, pra dançar, pra fazer o que der na telha.

E se eu posso dar um conselho não solicitado é o seguinte: ouçam os discos de ponta a ponta e na ordem em que foram feitos. Porque é assim, sem ficar pulando faixas de forma apressada, que entendemos os conceitos, as intenções. Divirtam-se

Shake it, The New Mastersounds (2019)
A banda de Leeds, Inglaterra, nasceu meio que por acaso no fim dos anos 90, quando o produtor e guitarrista Eddie Roberts organizava as noites em pubs locais. Hoje, o quarteto – Simon Allen, Pete Shand e Bob Birch, além de Roberts – já tem quase duas dezenas de discos lançados, entre discos de estúdio e ao vivo, coleções de remix e uma coletânea.
Nas 11 faixas de Shake it, além de arranjos ricos em progressões incríveis, também há as participações do vocalista Lamar Williams Jr. (filho do baixista do ‘Allman Brothers), do saxofonista Jason Mingledorff e do trompetista Mike Olmos, entre outros.

Back in Time, Judith Hill (2015)
Que voz!!! É isso o que há de mais importante a dizer sobre Judith Hill. Além disso, é filha da pianista japonesa Michiko Hill e do baixista Pee Wee Hill. Tem berço ou não tem? Com a voz e a formação que tem, não foi por acaso que antes de começar a lançar seus próprios discos, ela foi backing vocal de Michael Jackson e Prince. Só.
Seu primeiro álbum solo traz as canções da trilha sonora de Verão em Red Hook (filme de Spike Lee que recomendo fortemente). E Back In Time é o primeiro de canções originais. Produzido por Prince (de novo, só!). Com uma voz capaz de unir a ternura e a potência tradicionais das grandes cantoras negras norte-americanas, ela desfila (não é exagero, juro) pelas 11 faixas cantando tudo: soul, R&B, funk, hip-hop, jazz e gospel.

What We Got Together, Brother Strut (2016)
Imaginem que dois caboclos do Jamiroquai se juntam com uma pá de gente que já tocou com figuras como Van Morrison, Stevie Wonder, Sting e até Amy Winehouse. É fraco o elenco de referências? Pois essa é a história da Brother Strut (mais uma banda inglesa de funk e soul). Paul Turner (baixo), Frankie Tontoh (bateria), Rob Harris (guitarra), Sam Tanner (teclados e vocais), Karl Vanden Bossche (percussão) e Stevie Jones (saxofone/teclados) são os elementos que em 2023 completaram dez anos juntos com uma turnê que teve participações de Cory Wong (guitarra), John Thirkell (trompete) e a doce voz de Elkie Brooks. Um show que promete virar disco.
Por enquanto, falamos de What We Got Together, o título que provocava e entregava as (boas) intenções da turma. Afinal, o que esses caras seriam capazes de fazer juntos? Música muito boa, ora bolas. O disco já começa acelerado com Funk That Junk, passa pelo clima de reunião de amigos da faixa título e vai passeando por temas muito diferentes entre si, incluindo uma salsa digna das melhores gravações de Santana.

Hard Up, The Bamboos (2021)
Os caras começaram em 2000 com a formação padrão de soul e R&B: guitarra, baixo, bateria e Hammond. Hoje, é um mundaréu de gente, onze músicos e cantores que fazem um som sensacional.
Hard Up foi totalmente gravado em uma casa, em que a banda, produtores e técnicos ficaram internados até que o disco de comemoração dos 20 anos de carreira estivesse pronto. E no melhor clima de jam, os caras retomaram as bases do início, funk e soul raiz. Tudo pronto, turnê festiva agendada por toda a Austrália e a Nova Zelândia quando veio a pandemia.
Com tudo parado, os caras começaram a fazer gravações extras e novas canções foram sendo incluídas. E o resultado foi uma edição “De Luxe” com dois discos: um com as onze faixas originais e o segundo com seis extras, um EP. Por fim, a banda de Melbourne lançou Hard Up em maio de 2021 no Pacific Theatre. Além da voz rara de Kylie Auldist, Durand Jones , Joey Dosik e Ev Jones são os vocalistas convidados de outras três faixas.

Arcadia, The Buttshakers (2021)
O que canta a tal da Ciara Thompson é um desbunde. E a banda, compacta se comparada a outras do mesmo estilo (guitarra-bateria-baixo-trombone-saxofone barítono), é pra lá de excelente.
A moça que saiu do Missouri em 2008 pra se instalar em Lyon lidera o grupo que toca um soul e um funk mais cru, talvez até pela voz rasgada de Ciara. Resumindo, é música boa pra fazer o corpo mexer. E ele são muito bem conhecidos pelos shows que fazem tremer teatros, ginásios e festivais por toda a Europa.
Arcadia é o terceiro e último disco lançado por eles. E em dez faixas, é possível ouvir a fusão entre guitarras secas e riffs marcantes do rock de garagem com o groove e os metais do soul pré-Motown. Além disso, a produção do disco contou com uma seção de trompas, um toque de slide guitar e um órgão que oscila entre cortinas psicodélicas e tons gospel. De quebra, é a primeira vez que Ciara é acompanhada por backing vocals que emolduram um disco imperdível.

Depois vocês me contam se ouviram e gostaram. Eu já tenho mais alguns discos separados aqui pra novas edições. E se quiserem sugerir, agradeço penhorado. Adoro conhecer música.

2024

Levando em conta os anos em que fiquei sem escrever aqui ou em qualquer lugar, dei-me o direito de fazer textão. E, como vocês sabem, papo de “ho-ho-ho” já era faz uma semana. Hoje é dia de “kkk”, “uhuuuu”, “tim-tim” e tudo o mais que pede uma boa festa.

É, festa, vocês sabem como é. Afinal, sobrevivemos de novo. Já pensaram sobre como a expressão “sobrevivemos a mais um ano” ganhou outro significado, outro peso (toneladas pra muita gente) desde 2020?

Hoje também é dia de muita gente olhar pra dentro de si e ficar pensativo. Ou fugir disso e se encontrar um tanto macambúzio (adoro essa palavra). Ciclos. “Ah, mas é só um dia no calendário…” É né, hoje é domingo, amanhã é segunda e vai a vida. Mas rituais são coisas boas, sua familiaridade nos dá o conforto que a máquina de moer gente em que a vida se transformou tenta nos roubar todos os dias. E não importa se é a praia no réveillon, o macarrão de domingo na casa da sogra ou os belisquetes com vinho de quinta-feira.

Rituais e ciclos. Também não é importante se o seu calendário pessoal começa em 1 de janeiro, na quarta-feira de cinzas ou em 29 de abril. Vale é dar aquela parada e – sem fugir – olhar pra dentro, quem sabe pegar caneta e papel, fazer a SWOT e rodar o PDCA da própria vida (sim, isso parece papo de coach de Linkedin, eu sei). Tô falando sério gente, não fui abduzido não.

Enfim, já faz uns cinco, seis anos, que #somostodoscomunistas (os bons, os bons!). E se chegou até aqui, eu te peço uma coisa em 2024: tenha “consciência de classe”. Olhe para o lado com amor e serenidade. Tente baixar a bola, diminuir o ritmo, falar mais baixo (eu sei como é difícil). Vamos lembrar que temos dois olhos, dois ouvidos e uma boca. E, assim, ouvir mais, olhar pro outro e ler com mais calma, e falar menos. Escutar ao invés de responder, reagir. E não, não estou falando só da sua casa, família. Tá todo mundo cansado de saber que amar o próximo, cuidar do próximo, não tem nada a ver com religião. É só ser humano.

Feliz Ano Novo!

…haverá sinais

Nesses dias me peguei pensando no prêmio da Mega da Virada. O bagulho está estimado em 570 milhões. De novo e por extenso, pra não restar dúvidas: quinhentos e setenta milhões de reais.

É dinheiro bagarai. Não consigo nem imaginar esse tanto de grana, concretamente, um substantivo comum ali na sua frente e ao alcance das mãos. E mesmo assim, se alguém ganhar sozinho, não estará entre os cerca de 2,5 mil brasileiros que têm dinheiro aplicado em fundos exclusivos e terão taxação especial, super ricos, esse papo. Vai vendo…

Outras coisas a pensar: se pretende jogar e espera ganhar, é bom abrir o olho e se precaver. Porque tem até reportagem sobre a “maldição da mega-sena”, sobre ganhadores que foram vítimas de crimes e assassinatos. Também não são poucos os ganhadores que – por se deslumbrarem e se descontrolarem – terminam absolutamente falidos e com dívidas até maiores do que o prêmio original. E esse é um fenômeno mundial (ainda pode falar mundial, ou é obrigado a usar global, a palavra da moda?).

Enfim, lembre-se do que sua avó dizia e Jorge Ben cantava: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Voltando ao prêmio deste ano, faltam poucos dias né, e já me peguei sonhando com a grana. E olha que nem tenho chance de ganhar sozinho. Porque entrei em um bolão. E mesmo assim, é grana. Então, além de se livrar de dívidas, melhorar a casa e organizar um fundo pra educação das crianças, sou obrigado a confessar que há aqui alguns fetiches né.

O bolão que entrei é de 100 cotas. Ganhando, pois, 5,7 milhões pra cada caboclo. Dá pra brincar um tico né. Aquela viagem romântica, atualização da coleção de discos, livros, legos, um veleiro… E se usar a cabeça, dá pra administrar direitinho e não chamar atenção, né não?

Será?

Bobos, feios e chatos

Hoje acordei e lembrei de Clarice. Das vantagens de ser um bobo. De sua crônica ser a admissão de como se identifica. Na mesma hora, lembrei de Oswaldo Montenegro e O Chato. “Eu sou um chato e, meu Deus, não me aguento”.

Tudo isso antes das seis da manhã, por conta das confusões da família, e de como somos obrigados a engolir os sapos, eu e minha irmã, para lidar com os “adultos” ao redor. Não há nada de novo nisso, somos tão disfuncionais quanto qualquer outra família, cada uma à sua maneira. Já falei disso antes.

Mas tem semana, tem dia que tá foda. Logo depois das sete veio outra surpresa das boas. Mas agora tá tudo sob controle.

Não é por acaso que ando celebrando cada amigo, cada amiga, que leva suas crianças à terapia desde cedo. Porque lidar com adultos fora da casinha que se acreditam autossuficientes é de deixar a gente mais lelé do que já é.

Enfim, com todos os problemas, não acho que seja por acaso que – por aqui – estejamos nos identificando e até nos orgulhando de nos identificar tanto com o bobo e o chato.

P.S.: a parte do feio foi só pra compor o título mesmo. Porque os irmãos Sirelli são lindos. E modestos. Os do Rio, claro. Os outros são marromeno. Ah, e o Carpinejar tem uma crônica ótima, divertidíssima sobre os feios, procurem.

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando“. Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem à ideia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona.

Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar e, portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?“. Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importa que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

(Clarice Lispector, do livro “A descoberta do mundo”. [crônicas]. Rio de Janeiro: Rocco, 1984)

Eu queria ter uma rádio

É, tinha vontade mesmo. Uma rádio só com música brasileira. Não como a NovaBrasil que, ao contrário do slogan que repete cansativamente durante todo o dia, não é nova nem moderna. Só toca música velha e da mesma patota de sempre. E velha, nesse caso, não tem a ver com a data de lançamento. Sua única vantagem é que só toca música brasileira, o alento mínimo para quem gosta de rádio. Enfim…

Voltei a pensar nisso há algumas semanas, depois da vergonha que foi a posição da rádio em relação à Gaby Amarantos. E eu nem gosto da música que ela faz, mas não tem a ver com isso. Fui acostumado a ouvir rádio pra conhecer artistas, músicas, estilos diferentes. E isso é impossível hoje. Uma pena.

Sou desses que passa o dia trabalhando com música tocando o tempo todo. A cônge até diz que ouço muita música estranha (ela também, mas eu não conto essas coisas nem pra ela…). Não é verdade, acreditem, mas é que fico tentando encontrar coisas novas, fico futucando aplicativos e playlists, tentando driblar os algoritmos etc. E há muito tempo não vejo tanta gente produzindo tanto e tantas coisas diferentes por aqui. E com muita qualidade. Do funk ao sertanejo, passando pelos estilos que gosto de ouvir.

E não tem relação com eu gostar ou não disso ou daquilo. Mas eu queria ter uma rádio pra colocar esse povo que não tem espaço pra tocar, apresentar a turma, deixar quem ouve decidir se algo é bom ou não. E com muitos programas durante toda a programação, específicos para cada estilo. Com espaço pra todos os gêneros e programadores curiosos. E sem jabá.

Não, não sou idiota. Sei que tudo tem a ver com dinheiro. Apesar de acreditar que, com estratégia certa, tudo é viável.

Mas é isso, só queria contar pra vocês que tenho esse sonho mesmo. Eu queria ter uma rádio. Que desse créditos aos compositores. E seria feliz.

De volta aos alfarrábios

Ler é uma das coisas que consegui voltar a fazer neste ano. E olha, faz uma diferença danada. Leitura foi uma das coisas que a pandemia e tudo o que aconteceu comigo no período havia me tirado.

Eu tinha um ritmo bem bom de leitura, com média entre 40 e 50 livros por ano. E a minha rotina de vida ajudava nisso. Não necessariamente com bons gatilhos, mas funcionava pra isso. Lia a caminho do trabalho; no meio da manhã, parava pra fumar e carregava o livro; nos dias em que almoçava sozinho, o livro me acompanhava; no meio da tarde, mais uma parada pro cigarro, sempre com o livro na mão; e lia na volta pra casa. E quando era um livro daqueles que pegam a gente, lia em casa também. E lia sempre que viajava e nos finais de semana.

Resumo, eu lia um bom bocado todos os dias.

Mas aí, o mundo foi virando de cabeça pra baixo né. Primeiro, perdi o momento de ir e voltar ao trabalho. Depois, por conta do piripaque no coração, parei de fumar (o que é ótimo, já faz dois anos, feliz da vida) e os intervalos das manhãs e das tardes deixaram de existir. Pra completar, entrei no buraco sem fundo que durou uma vida e não fazia nada. Nem lia.

Mas aí, a cônge que é inteligente por demais (e lê como louca, muito mais do que eu lia nos anos bons, é só conferir a @aproforganizada) começou a colocar uns livros na minha mão, um “olha que interessante”, um “acho que você vai gostar” ou “esse aqui é demais, fala disso e daquilo”…

E começou a me desenferrujar com uns livros fofinhos, levinhos e românticos, daqueles que só desopilam fígado e alma. E funcionou viu. Enquanto estou aqui escrevendo, não sei se passei dos dez livros neste ano, só tenho certeza que não cheguei a 20. Mas o importante é a retomada. E esses tais que li, vou descobrir quantos foram e dividir com vocês no @gustavosirelli. Acho até que vou dar umas estrelinhas e usar uma ou duas palavrinhas pra cada um. Vai que vocês se interessam, se empolgam e a gente até acabe conversando sobre eles.

Já essa foto aí em cima é o seguinte. A pilha da direita, cinco livros começados e que interrompi por motivos bem diferentes. Serão retomados e devidamente terminados, claro. O monte maior, 12 livros, estão intocados. Presentes (alguns do aniversário do ano passado!!!), achados no sebo etc. Como 23 já tá no fim, desconfio que temos aí uma boa meta para o primeiro semestre, talvez quadrimestre de 24. Será?