Samir escorrega?

Samir escorrega? / Foto: ReutersTaí a torcida arco-íris toda feliz, mais preocupada em deitar falação sobre a desgraça dos outros do que sobre suas (mui parcas) alegrias. Ah, os ignaros… Não entenderam até hoje que, quanto mais se dedicam a nós, mesmo com todas as suas energias negativas, maior e melhor ficamos.

Vejam essa piada óbvia, infame e preconceituosa que dá título ao post. Foram trocentas vezes publicadas e compartilhadas em todas as redes sociais de ontem. Até em um dos meus grupos do Whatsapp. Tsc tsc tsc.

Pois eu respondo: três vezes.

Esses pobres de espírito até agora não entenderam que tudo o que está acontecendo com o Flamengo nessa superestimada copa continental faz parte de um plano maior de educação coletiva. Portanto, não se vangloriem, pois há um prato frio sendo preparado para nossa degustação.

Vocês, que tanto se dão ao desfrute ao invés de cuidar de suas próprias vidas, já prestaram atenção à tabela e aos nossos adversários? Já viram a classificação? E até agora não entenderam onde tudo vai acabar?

Em abril de 2012, aos 196 minutos do segundo tempo de sua última partida da primeira fase, esse mesmo time equatoriano com quem somos obrigados a nos bater na competição atual, fez um golzinho que nos eliminou da edição daquele ano. Então, Lanús somou 10 pontos e terminou em primeiro na chave. Esse tal de Emelec, por conta desse fatídico gol nos descontos, chegou aos 9 e terminou em segundo. E nós, representantes reconhecidos das forças do bem, terminamos em terceiro (e eliminados) com 8 pontos.

Pois sou obrigado a revelar que todo o nosso plano original está sendo seguido à risca. Aquele prato frio que vamos comer. O Flamengo, agora subestimado por seus adversários, os surpreenderá e vencerá seus dois últimos jogos, chegando aos 10 pontos. O León também chegará aos 10. E o onze equatoriano alcançará os mesmos 9 pontos daquele ano de triste memória e, em terceiro, será eliminado.

Duvida? Acha que estou louco?

Bom, não vou tapar o sol com a peneira. É claro que haverá sofrimento e suspense dignos de Hitchcock. Mas tudo já está escrito e partiremos serelepes e fagueiros rumo ao título. Preparem-se e não duvidem. Eu sei.

Adeus ao Olímpico

Gosto muito do Olímpico. Na verdade, gosto muito de muitos estádios (mesmo os que não conheço). Principalmente aqueles que, mais do que se confundir, carregam a história de algum clube. Especialmente os grandes.

O Olímpico, claro, é um deles, estádio do Grêmio. Como bem disse o Rica Perrone, jogar com o Grêmio no Olímpico sempre tem uma carga que vai muito além da qualidade do time deles. Tem a ver com alma.

É mais ou menos como jogar contra o Flamengo no Maracanã. Nosso time pode estar cheio de wellingtons ou bujicas. É o Flamengo no Maracanã.

No próximo domingo acontece o último jogo do estádio Olímpico, o Grenal da última rodada desse brasileirão. Um jogo que não vale nada para a tabela, mas que vale demais para os dois clubes. Os donos da casa se despedindo sem querer deixar a história manchada; o eterno rival querendo carimbar a despedida. O jogo vale a honra, o caráter, a alma.

Para a torcida, que no ano que vem terá um novo estádio, uma dessas arenas modernosas, será o adeus ao seu grande templo.

Mas o que é que eu tenho com isso, deve ter alguém (se é que veio alguém aqui) se perguntando. Tenho que pelo Olímpico, entre todos os grandes estádios do país, sinto um carinho especial e – na hora da despedida – até uma certa melancolia.

Afinal de contas, foi no Olímpico que o Flamengo ganhou o único dos seus seis títulos brasileiros fora do Maracanã. Abaixo, então, minha singela homenagem.

Outro vídeo, esse produzido pela Zeppelin. Bela homenagem, diga-se. Mas faltou o Renato.

Sete

Aproveitando que falei do Maracanã no post abaixo, lembrei do Flamengo. Que jogou alquebrado contra o Santos em uma partida em que, pelas circunstâncias, todos esperavam uma goleada do peixe. E todos viram que, mesmo jogando mal de novo, mesmo até merecendo perder, não foi o que aconteceu.

É verdade que houve um pênalti não marcado. Mas não por roubo, e sim por falta de coragem do juiz. Imagina, dois pênaltis seguidos contra o Flamengo no Engenhão… Basicamente, ruindade mesmo. Como no gol do Flamengo mal anulado por impedimento.

Cheguei a escrever na semana passada que, mesmo a derrota, não seria um grande problema. Nas sete rodadas, todos ainda vão perder pontos. E, olhando para quem ocupa hoje a ponta da tabela, ninguém me tira a certeza que o campeonato não está nem perto de se definir.

Cinco pontos para tirar do líder em 21 possíveis e ainda com o confronto direto. Já escrevi também: meu sonho é chegar à última rodada dois pontos atrás do Vasco.

Nossos próximos jogos serão os seguintes: Grêmio, Cruzeiro, Coritiba, Figueirense, Atlético Goianiense, Internacional e Vasco. Ainda acredito que perderemos 3 ou 4 pontos. Mais do que isso é ‘adeus hepta’.

Mas vocês já viram os jogos do Vasco? São Paulo, Santos, Botafogo, Palmeiras, Avaí, Fluminense e Flamengo. Pois o time da colina não vai ganhar nenhum dos clássicos e ainda vai deixar escapar mais um ou dois pontos.

Como descarto Botafogo e Fluminense, restaria a preocupação com o Corinthians. O time do amigo do Lula e do Ricardo Teixeira, o time que ganhou um estádio por conta da Copa, o time do cara que disse que vai sair mas quer fazer seu sucessor, o time do Ronaldo. O único time capaz de impedir que a taça continue morando no Rio pelo terceiro ano consecutivo, onde já se viu isso?

Até a festa de encerramento do campeonato acontecerá em São Paulo e já tem gente dizendo que isso é um sinal claro de que o título não escapa, por bem ou por mal. E a tabela? “É a mais fácil”, todo mundo grita. Vejamos então.

Avaí, América, Atlético Paranaense, Ceará, Atlético Mineiro, Figueirense e Palmeiras. Tirando os dois últimos, que já não querem mais nada com a hora do Brasil, todos os outros clubes lutam desesperadamente contra o rebaixamento. Jogarão suas vidas. Somando isso à pressão pelo ‘título fácil’ (já demonstrada na última coletiva destemperada de Tite), sinto dizer-lhes: já era. Os caras vão tremer e… Se bobear, já chegam na última rodada fora do páreo.

E na base do ‘vamo lá, porra’, seremos hepta. Só faltam sete jogos. O lado ruim é que vamos continuar aturando o Luxemburgo. Mas tudo tem seu preço, né não?

Entre clichês e paixões

Ontem fez 20 anos que Senna conquistou seu último título mundial, o terceiro. Na segunda, outra data importante para quem gosta de corridas, principalmente no Brasil: trinta anos do primeiro título do Piquet.

Mas a semana que começou no domingo teve duas notícias relevantes, para dizer o mínimo. A primeira, dadas as circunstâncias, menor. A nova vitória de Vettel no GP da Coréia do Sul e a conquista mais que esperada do bicampeonato de construtores pela Red Bull.

A outra nova, tão importante quanto trágica, a morte de Dan Wheldon no oval de Las Vegas, pela Fórmula Indy. Tão estúpida e desnecessária quanto qualquer morte que não seja por causas naturais, quanto qualquer morte por bala perdida ou explosão de botijões de gás.

Mas, assim como aconteceu com Senna e tantos outros pilotos, nos choca. Afinal, além de jovens e de sucesso, morrem ao vivo. Praticamente esfregada na nossa cara num momento em que estamos ali, diante da TV, assistindo a algo que pretendia nos divertir, nos fazer sorrir.

Já não assisto à Indy como antigamente, na época da CART, não sei dizer quanto bom ou ruim era Wheldon. Mas li e ouvi muitas referências à sua qualidade, ninguém é campeão de nada por acaso, ninguém vence duas vezes em Indianápolis – entre outras – à toa. Mas o que mais impressionou foi a reação de muitos e muitos pilotos, entre outras tantas pessoas mais ou menos envolvidas com o momento, desabando em lágrimas por ele. Não são atitudes, apenas, de respeito por um bom colega de profissão. Reações pela perda de um amigo.

Algo me deixou muito impressionado nas imagens que vi de Wheldon: em todas as fotos que encontrei, mesmo nas nitidamente não preparadas, ele estava sorrindo. Não deve ser por acaso e talvez ajude a explicar as reações gerais.

Mas, afinal, por que continuamos assistindo e dando valor a algo que é definido pelo clichê ‘esporte de alto risco’? Porque se é verdade que Senna foi o último a morrer na F1, muitos pilotos continuam morrendo (ou quase) todos os anos andando sobre duas ou quatro rodas por aí.

Um pouco sobre isso, talvez tentando uma explicação, André Forastieri escreveu artigo que vale ser lido inteiro. Segue um trecho:

Quem corre, corre risco de morte. É grande parte da sedução deste “esporte”. É por isso que atrai grande audiência, e corrida de kart ou bicicleta, não. No risco de acidente está a grana, o patrocínio, o faturamento. É para isso que pagam um dinheirão para os pilotos.  É por isso que Wheldon, ex-campeão, receberia dois milhões de dólares pela participação na corrida em que morreu.

Enfim, automobilismo é algo que nos apaixona. Talvez ou apesar, não sei, justamente pelo risco de morte. Como gosto de textos passionais, encontrei mais dois que valem muito a pena. O primeiro, do Victor Martins:

Duro, mesmo, é quando a gente não espera. Duro é quando se bate à porta, assim, como intrusa. Maldita oficiala de justiça, sem justiça, com a intimação do despejo em punho e que só dá o direito de levar a roupa do corpo e nada mais. Em vez de esperar, ela busca. A única certeza é cruel e invencível.

O outro, do Verde:

Vi as primeiras voltas nervoso, ciente de que um acidente violento era inevitável naquele oval de absurda inclinação de 20°. Em poucos minutos, ele aconteceu. Peças voando. Fogo. Tensão. Um piloto não está bem. Vamos aos comerciais. Retornamos. Dan Wheldon está morto. Perplexo, saio da sala. Vou ao quarto. Não costumo chorar por mortes, sou meio frio com essas coisas e, estupidamente, costumo pensar que chorar por um desconhecido é patético. Mas mandei a filosofia barata à merda.

Hora da verdade

Ganhamos do América!!! Que maravilha!!! Somos duca!!!!

Na verdade, a vitória de sábado era tão obrigatória que as únicas reações que vi por aí foram de alívio pelo fim dos quase dois meses sem ganhar de ninguém. E olhem que mesmo jogando contra o lanterna e já (virtualmente) rebaixado, foi difícil.

Boa parte da dificuldade foi criada pelo nosso próprio profexô, que saiu jogando na retranca, contra time pequeno e ruim, em casa. Dá pra entender? Pois é. E foi pro intervalo perdendo de um, que aquela altura era pouco. Ok, nenhuma novidade nisso, todo mundo já sabe o que aconteceu.

No segundo tempo, colocou a molecada em campo e soltou o time. E, mesmo que na bacia das almas, virou o jogo.

Mais uma vez (já estou ficando repetitivo), o problema é de atitude, de entender quem é quem, de saber que Flamengo só é Flamengo quando é time que ataca e quer vencer. Qual será a dificuldade de entender isso?

Passada a tempestade (tomara), há que torcer para que nosso treineiro seja iluminado e tome as decisões corretas. Porque até alguém dizer por aí que nossa tabela é, dos times que ainda brigam por alguma coisa, a mais difícil, já aconteceu.

Pois a lista de jogos é a seguinte: São Paulo, Ceará, Grêmio, Coritiba e Atlético Goianiense (fora); Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Figueirense e Internacional (casa); Fluminense e Vasco (os clássicos). E como podem contar, só faltam 12 jogos para o hepta.

Não tenho dúvidas de que vamos atropelar e vencer os grandes jogos. Meu medo – combinando a história recente com a conhecida vocação para levantar defuntos – está depositado nos jogos contra Ceará, Coritiba, Atlético Goianiense e Figueirense.

É claro que temos tudo para ser campeões – e é só ver quem é o líder provisório para saber qual é o resultado lógico do campeonato. Mas a turma precisa perceber que não pode nem pensar em repetir a atuação do último sábado. Porque se isso acontecer, não vai ganhar nem jogo de botão contra nenhum dos próximos adversários.

O recado, básico, é o seguinte: chegou a hora da verdade, é tempo de nossas vacas premiadas e muito bem pagas e de nosso profexô catedrático e milionário provarem porque valem tanto.

Justa homenagem

Então teve corrida no final de semana. Cingapura… Ô corridinha chata da porra. Como não pode deixar de ser em uma pista ruim. Circuito de rua, travado, estreito. Se não fosse a tal asa móvel, ninguém passaria ninguém. Mas mesmo as ultrapassagens que aconteceram não deram graça à disputa.

Como esperado, Vettel será campeão no Japão. Venceu de novo, sem muito esforço, e agora só falta um ponto para o resultado ser oficial. Button em segundo, em um pista que exige demais dos pneus, não é surpresa. O sujeito anda pilotando o fino e chega a dar tristeza não vê-lo disputando o título de verdade.

E no mais, nenhum grande comentário a se fazer a respeito. Até porque, a essa altura, se você gosta de corridas já leu todas as notícias e colunas e blogs a respeito, sobre tudo o que aconteceu – desde o piti de Massa até o erro grosseiro de Schumacher.

Pra quem vê corridas só para torcer para brasileiros, é muito bom ver que Senna já colocou Petrov no bolso. Mas o dinheiro do russo não é pouco e se Kubica voltar… E Barrichelo está realmente dando adeus à categoria, pois parece ser – hoje – a última opção da própria Williams. E não faria sentido aceitar correr em qualquer time nanico só para completar 20 anos de F1. Porque é daí pra baixo.

Suzuka é uma das poucas pistas clássicas que ainda aparecem no calendário. Então, mais uma decisão de título por lá soa até como justa homenagem ao automobilismo. E falta menos de duas semanas.

E aí profexô?

É claro que sete pontos de desvantagem é algo incômodo, mas em 48 a serem disputados e com tantos confrontos diretos na briga pela liderança ainda por acontecer, é o que menos me preocupa. Por enquanto. E sim, ainda acredito que seremos campeões, só faltam 16 jogos para o hepta.

Além dos chutões, da falta de jogadas, dos erros bobos, dos jogadores que não rendem nem um décimo do que podem, da mais que notória falta de opções no banco de reservas, dos cartões amarelos desnecessários, o que me incomodou demais ontem foi o discurso do profexô.

Primeiro é preciso enaltecer a parte da entrevista de ontem em que assumiu toda a responsabilidade pelos maus resultados. Apesar de todo mundo saber que ele não tem culpa das contusões, não tem culpa pelo Thiago Neves não estar jogando nada e outras coisas do gênero, não podemos esquecer que vivemos num país em que o comum é “eu venci, nós empatamos, eles perderam”.

Mas isso aqui é Flamengo. Que história é essa de que nosso objetivo é a vaga na Libertadores. A desculpa de que no ano passado escapamos do rebaixamento na última rodada não é válida. Porque o time era outro e porque o Flamengo não pode aceitar lutar por vaga nessa ou naquela outra competição. O Flamengo é grande demais para não buscar o título. O resto é conseqüência. E é isso que tem que ser dito diariamente, se possível três vezes ao dia. Pro jogador entender que isso aqui não é brinquedo.

Perder para o Corinthians no Pacaembu não é o fim do mundo. Mas daí a dizer que isso é normal, que não tem problema, é falta de entendimento do que é o Flamengo. É não se dar conta – e permitir que os jogadores também não percebam – que o Flamengo pode até ser rebaixado (não, nunca será, é só força de expressão) mas tem que entrar em campo buscando a vitória o tempo todo, do primeiro ao último minuto, contra qualquer adversário, em qualquer lugar do mundo. E, em caso de derrota, tem que ficar puto, não pode achar que é normal.

O Flamengo, ontem, entrou em campo com nove ou oito, em muitos momentos só parecia serem sete ou até seis em campo. Perder só de 2 a 1 foi sorte, portanto. E isso não pode acontecer, isso não pode ser normal, isso não pode ser aceito. Por ninguém.

Domingo, Atlético do Paraná em Macaé. Joguinho mole, adversário ridículo. Cenário perfeito para voltar a vencer, somar pontos importantes e continuar no bolo. Será que vão cumprir seu papel ou vão ressuscitar outro defunto?

Gustavo

O zagueiro, pelo que fez ontem, deveria ter seu contrato rescindido e ser demitido por justa causa.

Beócios

Daqui a uma hora começa o segundo turno do Brasileirão e, de repente, me bateu uma dúvida.

A CBF teve uma idéia brilhante para tentar evitar acusações de que time A entregou o jogo para o time B só para evitar que seu adversário regional não seja campeão. Marcou clássicos para a última rodada. Em tese, a rivalidade evitaria tais artimanhas. Ok, há gente que gostou da idéia, há os que não gostaram. Sinceramente, não acho que seja relevante.

Agora, baseado na classificação ao final do primeiro turno, imaginem a seguinte situação: Flamengo, Vasco e Botafogo chegam à última partida disputando o título e os confrontos são os seguintes: Vasco X Flamengo, Botafogo X Fluminense.

Levando-se em conta que todos os jogos das últimas rodadas devem ser realizados no mesmo dia e horário, o que aconteceria no Rio de Janeiro? Quem jogará no Engenhão? O estádio, afinal, é do Botafogo, que tem mando de campo. Vasco X Flamengo seria em São Januário? Nesse caso, alguém acredita que uma decisão de campeonato entre os dois cabe no estádio da colina? O Flamengo é obrigado a aceitar jogar no campo do Vasco?

E se o clássico dos milhões for marcado para o Engenhão? O vovô será em São Januário? O Botafogo é obrigado a abrir mão de seu estádio, com mando de campo, na hora de decidir um campeonato?

O que farão os beócios da CBF responsáveis por tão brilhante idéia? E os clubes, que aceitam tudo o que a fabulosa confederação manda?

Ou será que as teorias da conspiração são reais e não há a menor chance de um clube carioca vencer o principal campeonato do Brasil por três anos seguidos?

Três pontos

No final das contas, não é isso o que é importante? Depende do que você espera. Se quer ser campeão, e só isso, ótimo. Se gosta de futebol, se quer ver bons jogos e seu time jogando bem…

Independente da expectativa de quem torce, no entanto, é claro que ninguém joga bem o tempo todo, todos os jogos. E o fato é que, ontem, o Flamengo ganhou jogando mal.

Pode até parecer bobagem, mas o fato de um time ganhar até quando joga mal é algo muito importante quando se mede as chances de conquistar o título. O Flamengo, por exemplo, ainda não jogou bem de verdade neste campeonato. Por enquanto, na minha escala de valores, tivemos ‘mal’, ‘muito mal’ e ‘mais ou menos’.

Eu já cansei de dizer que não vejo mais do que dois ou três times capazes de disputar o título com o Flamengo (o que está longe de dizer que vamos ganhar fácil). Imagina quando começarmos a jogar bem.

A próxima partida será em São Paulo, contra o Palmeiras. O início de uma pequena maratona de 15 ou 16 jogos do Brasileirão e da Sulamericana. E um jogo de risco, pois há várias coisas envolvidas no duelo. A começar pelo atacante Kleber, pois os caras serão incendiados por Felipão e diretores e torcedores graças ao assédio rubro-negro.

Outro detalhe é o momento. Os caras estão ali por cima da tabela, o time não é tão ruim e o Flamengo vem de quatro vitórias seguidas e está invicto. O óbvio é que, cedo ou tarde, vamos perder um jogo. Além disso, quanto mais tempo invicto, mais perto estamos do tropeço. E ainda tem o possível excesso de confiança provocado pela boa fase.

Como não há moleques usando o manto, acho que tiram tudo isso de letra e trazem os famosos e queridos três pontos.

Kleber

Besteira essa novela. Todo mundo cansado de saber que precisamos de atacante, mas não acho que o sujeito seja uma boa opção. Além de muito caro, tem um histórico conturbado. Mesmo sabendo que o mercado não dá muitas opções e mesmo que estivesse nadando em dinheiro, não contrataria o Gladiador que é sinônimo de confusão.

Piada

Apesar de muita gente, técnico e jogadores do Fluminense, terem cansado de falar que o juiz não foi determinante para o resultado de ontem, ainda tem um monte de bobo chorando por aí. Feliz ou infelizmente, lances polêmicos existem em todos as partidas e ontem não foi diferente. Um cartão a mais aqui, uma falta invertida ali, e sempre será assim. Os caras tiveram trocentas chances de ganhar (e até golear), mas foram incompetentes e não saíram do zero. Achei que já tínhamos superado a época do chororô.

Branca de Neve

Nem a moça que comeu a maçã envenenada foi tão boa com os sete anões como a defesa do Fluminense no lance que definiu a partida. Tomar gol do Williams? Tomar gol de cabeça do Williams? E pensar que um dia eu reclamei de David e Wellington…

Scout neutro

Ok, o cara marcou o gol da vitória, é guerreiro, corre pra caramba, mas o profexô precisa dar uma atenção ao menino Williams. Ontem ele foi absolutamente perfeito: roubou oito bolas e deu oito passes errados. Que tal?

Contagem

Só faltam 29 jogos para o hepta.

O que passou e o que virá

De férias que estava, tentei não prestar atenção em nada que me lembrasse a rotina durante os últimos vinte e poucos dias. E entre as coisas a que não dei muita atenção estava a Fórmula 1. Principalmente, depois da desenxabida corrida de Interlagos. Como a decisão do campeonato ficou para o horroroso circuito de Abu Dhabi, em um dia em eu estaria velejando, larguei de mão.

Mas as férias acabaram e acabei lembrando que não publiquei sequer uma linha sobre a bagaça. E procurando algo interessante, passei pelo excelente Bandeira Verde.  Entre tudo o que li a respeito, não vi análise melhor.

Quem era o certo?

Ganhou o piloto errado. Mas quem era o piloto certo?

Vamos com calma, vamos com calma. Apesar de desejar muito, não sou o dono da verdade. Muitos realmente gostaram de ver o jovem Sebastian Vettel, da Red Bull, levando o caneco para a casa. Afinal de contas, aparentemente, quem mais mereceu foi ele. Dez poles em 19 fins de semana, cinco vitórias, mais voltas na liderança do que qualquer outro piloto e a impressão de que poderia ter feito mais se não tivesse tido tantos azares. Esta é a imagem que o alemão construiu e consolidou após a árida corrida de Abu Dhabi. O que diabos, portanto, esse esquizofrênico que escreve neste espaço está sugerindo?

Vamos ser honestos. A temporada 2010 foi uma daquelas em que o nível técnico geral não foi dos mais altos. Os pilotos erraram demais, ou simplesmente não conseguiram manter a consistência durante o ano. E quando a culpa não era deles, era do carro, que não conseguia se comportar bem em três corridas consecutivas ou simplesmente quebrava por aí. Tudo isso pode até parecer um enorme exagero, ainda mais considerando que a categoria já teve anos muito piores nesse sentido (1982 manda abraços), mas estamos falando de uma Fórmula 1 que diz ser extremamente profissionalizada e reunir os melhores pilotos e engenheiros do universo.

E o baixo nível técnico ficou refletido em alguns números. É realmente curioso ver que, em uma longa temporada de 19 corridas, o campeão tenha vencido em apenas cinco ocasiões. Cinco vitórias, por sinal, são, também, o que o vice-campeão conseguiu. Em 2008, Lewis Hamilton foi o campeão com as mesmas cinco vitórias. No entanto, Felipe Massa conseguiu seis, e só perdeu o título nos últimos instantes da temporada. Que, todos concordam, foi de baixíssimo nível técnico, repleta de erros e problemas que saíam literalmente das pistas. Além do mais, havia uma corrida a menos. Não estou pregando um domínio à la Mansell em 1992 ou Schumacher em 2002 e 2004, mas é igualmente chato ver um piloto ganhar um título sem convencer totalmente.

Após a vitória, Sebastian Vettel se transformou no melhor piloto do ano com folgas, jovem, genial, cool e cheio de atitude. É hora de celebrar com muita vodca misturada com o maldito energético azul e cinza. Os anais da história registrarão apenas o “SEBASTIAN VETTEL 2010 WORLD CHAMPION” ou o “YOUNGEST WORLD CHAMPION EVER”. Seus pecados foram definitivamente perdoados. E eles são muitos.

Primeiramente, desconsideremos os azares. Vettel perdeu três vitórias certas em Sakhir (motor falhou no final, deixando-o em quarto), em Melbourne (freios) e em Yeongam (motor estourado). Fazendo algumas contas, são 63 pontos que o RB6 tratou de jogar no lixo. Até aí, tudo bem. Mas e o quase acidente com Hamilton nos pits em Shanghai? E o acidente estúpido após uma frustrada tentativa de ultrapassagem sobre Webber em Istambul? E a escapada que quase lhe tirou a vitória em Valência? E a tentativa quase suicida de conter Webber na largada em Silverstone, o que acabou lhe causando um pneu furado? E a repetição do feito sobre Alonso em Hockenheim, que lhe custou duas posições? E a ridícula atitude de acelerar mais do que o necessário na relargada da corrida de Hungaroring, que lhe rendeu uma punição que custou a vitória? E o acidente grosseiro com Button em Spa-Francorchamps? E o erro que lhe custou a pole-position, e possivelmente a vitória, em Marina Bay? São erros demais para um piloto que, pelos pontos, foi coroado o melhor o ano.

O problema maior é que, da mesma maneira, nenhum dos seus três adversários mais diretos poderia ser considerado, convictamente, o melhor do ano.

Fernando Alonso? Herdou as vitórias de Vettel em Sakhir e em Yeongam e de Massa em Hockenheim (nesse caso, herdar é eufemismo) e foi dominante apenas em Monza e em Marina Bay. Nesta última, como dito acima, o erro de Vettel no treino oficial facilitou absurdamente as coisas. Nos outros fins de semana, uma inconstância assustadora. Teve problemas com sua igualmente irregular Ferrari F10 em Sepang e um deprimente lance de falta de sorte em Valência, quando foi obrigado a andar uma volta lenta atrás do safety-car enquanto todos iam para os pits. E errou em um bocado de ocasiões. Em Melbourne, causou uma bagunça na primeira curva e despencou para o fim do grid. Em Shanghai, queimou a largada. Em Mônaco, bateu em um dos treinos livres e ficou sem carro para conseguir escapar da última posição do grid. Em Silverstone, cortou uma chicane ao tentar ultrapassar Kubica e foi punido. Em Spa-Francorchamps, bateu sozinho. Cagadas demais para a conta do “fodón de las Astúrias”.

E é evidente que a Ferrari também tem sua parcela de culpa. Em Spa-Francorchamps, a equipe privou Alonso de usar pneus bons no Q1 e acabou o deixando em último no grid. Em Abu Dhabi, o espanhol foi chamado para parar na hora errada. Em Shanghai, a estratégia também falhou. E também não foram poucas as ocasiões em que o carro não rendeu porcaria nenhuma, como em Barcelona, Istambul e Interlagos. Foram em corridas assim, aliás, que Fernando apareceu melhor. Mas não dá pra dizer que ele ou a Ferrari tenham merecido qualquer coisa. Não mereceram, mesmo.

Mark Webber? Ah, a Cinderela da Red Bull. Todos nós estávamos torcendo pela redenção do coadjuvante contra sua própria equipe e seu pupilo teutônico. Queríamos ver Webber derrotando aqueles que, em tese, deveriam apoiá-lo mas que injustamente não o faziam. Seria algo como um revival de Nelson Piquet na Williams. Mas nós só nos esquecemos de um fato: Mark Webber não é um gênio, muito pelo contrário. É um ótimo piloto, experiente e de forte estrutura mental, mas muito pior do que todos gostariam.

Webber venceu em quatro ocasiões: Barcelona, Mônaco, Silverstone e Hungaroring. Aproveitou-se do domínio da Red Bull nas duas primeiras, fez uma excelente largada em Silverstone e virou um fim de semana na raça ao voar no momento em que tinha pneus macios na corrida húngara. Houve também algumas outras boas corridas, como em Interlagos, em Suzuka, Marina Bay e Sepang. Mas e no restante do tempo? Erros e problemas.

Mark errou em Melbourne (acidentes com Hamilton), Valência (tentativa precipitadíssima de ultrapassagem sobre Kovalainen que resultou em um acidente monstruoso) e Yeongam (rodada na segunda volta em bandeira verde). Teve problemas de câmbio nos treinos em Montreal, foi escandalosamente atingido por Vettel em Istambul e simplesmente andou mal em várias ocasiões, como em Sakhir, em Shanghai e em Hockenheim.  Longe de ter sido um ano meia-boca, também não foi uma temporada de campeão.

Lewis Hamilton? Era o franco-atirador da história. Para levar o caneco, precisava ganhar até par ou ímpar e torcer para seus três adversários contraírem ebola. O piloto da McLaren levou três vitórias para casa: Istambul, Montreal e Spa-Francorchamps, só pista legal. Na Turquia, herdou a vitória após o acidente entre os Red Bull e teve personalidade em conter um Jenson Button agressivo. Em Montreal e em Spa-Francorchamps, liderou de ponta a ponta. Na verdade, até Spa, vinha sendo o melhor piloto do ano e talvez o único dos quarto que, ao meu ver, fazia uma temporada de campeão. Mas a partir de Monza…

Na Itália, Hamilton bateu em Felipe Massa ainda na primeira volta e abandonou. Em Marina Bay, tentou ultrapassar Webber, bateu em sua roda, quebrou o carro e abandonou de novo. Em Suzuka, bateu forte nos treinos livres e teve problemas com o câmbio na corrida. Em Yeongam, teve problemas de freios e chegou a escapar da pista. Por fim, não tinha um carro decente para as últimas duas etapas. Uma pena, ainda mais considerando que Hamilton foi o showman do início do ano, com grandes ultrapassagens e sensacionais corridas de recuperação. Mas cavalo bom é o que corre no final, diz o ditado. E se Vettel disparou no trecho final, vencendo três das quatro últimas, Hamilton se complicou todo no mesmo período. Por isso, e embora tenha sido o que mais me convenceu entre os quatro, também não dá pra considerar que o inglês teve um ano de campeão.

No fim das contas, nenhum dos quatro era o piloto certo para ganhar esse título. Seja por erros, por azares ou por momentos de incompetência pura de suas equipes, ninguém conseguiu passar a impressão de ter feito o ano absoluto. Ganhou o cara que tinha o melhor pacote. O que tinha o melhor carro e que compensou seus erros e problemas com mais vitórias e boas atuações do que os outros. Mas convenhamos, é muito pouco.

Se eu tivesse de dar o título para alguém, arrancaria das mãos de Vettel e entregaria a Robert Kubica.

Sobre o que aconteceu depois da decisão e o que pode acontecer em 2011, um pequeno resumo: Lotus Racing (1Malaysia e Air Ásia) e Lotus Cars (Proton) estão brigando pelo direito de usar a marca Lotus a partir do ano que vem. E o time que correu este ano deve acabar mesmo mudando de nome. Mesmo assim, usará motor Renault e conjunto hidráulico e câmbio da Red Bull. E Bruno Senna será um dos pilotos. Em compensação, a Lotus Cars comprou as ações da fábrica francesa e deverá aparecer no grid 2011 como Lotus Renault.

Saiu Bridgestone, já chegou a Pirelli. E os primeiros testes, última chance de colocar o carro na pista antes da pré-temporada oficial, foi bem satisfatório. Os pneus reagiram razoavelmente bem e as equipes se preocuparam mais em colher informações para seus novos projetos do que em alcançar grande desempenho. Só pra constar, a Ferrari – com Massa e Alonso – fizeram os melhores tempos dos dois dias de ensaios. Parece que o time de Maranello está bem feliz com a mudança, pelo menos por enquanto.

As grandes equipes seguirão com os mesmos pilotos deste ano. As indefinições, como era de se esperar, estão nas médias e pequenas. A Hispania nem sabe se vai correr mesmo. A Virgin foi vendida para a Marussia, uma fabricante russa de carros esportivos, e ainda não definiu seus pilotos. Glock e Di Grassi continuam? Sauber, Toro Rosso e Force India também ainda têm vagas abertas e a grande novidade estará na Willians. Barrichelo renovou e correrá sua 19ª temporada. E o venezuelano Pastor Maldonado será seu companheiro de equipe, carregando uma mala cheia de dinheiro da PDVSA (como antecipou a revista Warm Up).

E no ano em que o campeonato terá 20 corridas, Valência tenta quebrar o contrato e deixar de sediar o GP da Europa. Ecclestone disse que é impossível, mas quem gosta de carros, corridas e circuitos de verdade, já torce que tudo se acerte e que o porto espanhol seja substituído pelo novíssimo e excelente autódromo do Algarve, em Portugal.

No mais, férias da categoria e só volto aqui pra falar sobre o assunto quando alguma notícia realmente importante surgir.