O que não pode ser, mas é

Hoje passei pra contar a história de uma multa que não deveria nem existir. Mas, como diria o filósofo Capitão Nascimento, “o sistema é foda!” E, de acordo com dois guardas municipais com quem conversei, não é confiável.

Daqui, resta a torcida (ingênua e tênue) de que a Ilustríssima Sra. Dra. Maína Celidonio, secretária de transportes da cidade do Rio de Janeiro, e o prefeito Eduardo Paes tomem conhecimento do ocorrido. Duvidodó, mas vai que… Ao início, pois.

No dia 9 de janeiro de 2024, minha cônje, namorida, companheira etc. recebeu a notificação de uma infração de trânsito cometida por mim, no dia 25 de dezembro de 2023, enquanto transitava pela nada bucólica Rua São Francisco Xavier, com minha irmã e minhas filhas, para o almoço de Natal. No mesmo dia, por meio de aplicativo, ela me nomeou como o real infrator e eu aceitei. Mas qual não foi minha surpresa ao identificar a infração cometida? Vejam as imagens.

Fui multado por transitar em uma faixa exclusiva para transportes públicos (ônibus etc.) em um dia em que a referida faixa não é exclusiva. Ou Natal não é feriado?

Aí você pensa: “Ah, moleza, erro técnico, fácil de resolver”. E foi nesse momento que o sistema, aquele é que é foda, sambou na cara da sociedade. Na minha cara.

Por vários dias, pelo passo a passo do portal Carioca Digital, eu era enviado para o Radar. Primeiro, a multa não aparecia. Depois, o condutor (apesar de eu ser indicado como real infrator) não era identificado. E por fim, o sistema estava fora do ar e não respondia mais nada. Até que chegou o prazo (deadline para os mais novos) para realizar a defesa prévia. Me dirigi à ao posto do Detran e à Região Administrativa de Vila Isabel, para buscar orientações. E fui encaminhado para a RA do Méier (que fica no Engenho Novo), onde poderia realizar os procedimentos presencialmente.

Ao chegar lá, qual não foi minha surpresa. Ao ser atendido por um rapaz até solícito, fui informado que era ali mesmo, mas que ele não conseguia fazer nada porque estava sem impressora e o sistema estava fora do ar. “Talvez você consiga em Irajá…” Pelo horário e circunstâncias do dia, nem tentei ir até lá, não havia tempo suficiente.

Tentei, de novo, pelo Carioca Digital, encontrar um caminho. Mas não encontrei orientações sobre como proceder, quais são os passos a partir de agora. O que se ouve por aí é terrível. “Agora só com despachante”, “Tem que arrumar advogado”, “Vai custar uma fortuna”.

Tudo isso por uma multa que não deveria nem existir. E agora voltamos aos GM com quem conversei. Um deles me disse claramente: “Não ande nessas faixas nem acredite nessas placas de sinal de trânsito que não funcionam de madrugada. Já tenho quase dois mil de multas pra pagar.” O outro, ao lado, completou: “Não mesmo, o sistema não é confiável. Fui multado no dia 3 de janeiro às duas e pouco da manhã. Tava lá a placa de que não tem multa das 22 às 6h. Agora tenho que pagar essa bomba”.

Claro que não vou citar seus nomes né… Então, além do desabafo, a história serve como aviso para os amigos. E se alguém tiver alguma dica ou forma de me ajudar, agradeço penhorado.

Crônica de sexta-feira (17)

Aquela coisa de Facebook. A turma posta, a galera compartilha e chega a você, mesmo que não conheça quem contou a história. Essa aí embaixo foi publicada por Carolina Raro Schimidt. Já não sei mais se foi na terça ou quarta ou sei lá quando. Mas quando recebi o texto do Rodrigo, foi impossível não lembrar dela.

Trocador gentilNão sei infelizmente seu nome, mas esse trocador – junto com o motorista que não pude fotografar – forma uma dupla sensacional! Minha viagem começou na praia do Flamengo às 12h45, aonde eu fiz sinal para o ônibus 107 (Central-Urca). Gentilmente, o cobrador pediu para eu entrar pela porta de deficiente. Não entendi muito bem, mas obedeci. Logo depois, subiu uma cega. O motorista só andou quando o trocador se certificou que a senhora estava sentada e bem. Logo depois, perguntaram onde ela ficaria e, assim, seguiram seu percurso. Sempre pedindo pras pessoas entrarem pela porta de deficiente, pois a principal estava quebrada. Mesmo com o transtorno, seguiram viagem tranquilos, felizes, não deixavam de dar boa tarde e se desculpar pela porta quebrada uma vez se quer, além de serem extremamente pacientes com os idosos que demoravam mais pra subir pela outra porta. E simpáticos. Quando a senhora cega perguntou o segredo de tanta hospitalidade e bom humor aos dois, o motorista respondeu: “minha senhora, de estressante já basta o trânsito e o calor. De que adianta eu ficar de cara feia? Eu quero mais é felicidade!” Por fim, deixou a senhora em frente ao local desejado, independente de ser ponto, e coincidentemente onde também desci. Os dois esperaram ela entrar no local e seguiram. Fiquei assistindo aquela cena com o coração muito surpreso e feliz! Mesmo sem ar condicionado, mesmo sem lugar pra sentar, saí daquele ônibus leve e sorridente!!!! Incrível como um pouco de simpatia, bom senso e cidadania é capaz de contagiar pessoas de um ônibus inteiro, que automaticamente ao saírem dele, agradeciam e desejavam aos dois tudo de melhor. OBRIGADA senhor motorista e senhor trocador, vocês são um exemplo de seres que muitos humanos deviam ser!!!!!!!! TUDO DE BOM À VOCÊS!

E o nosso colaborador compulsório de quase todas as sextas mandou esse aqui.

Utilidade pública

Lá vai mais uma crônica que pode ser classificada como utilidade pública, até parece uma reportagem, pois trata-se de tema urbano, comum a todos nós, cidadãos metropolitanos.

É que eu decidi que não posso ficar guardando, só pra mim, algumas ideias, algumas iniciativas que penso em colocar em prática, mas não coloco. E quem sabe, escrevendo, tornando-as públicas, alguém pode abraça-las e tocar o barco pra frente. Outras ideias ainda manterei em segredo, por enquanto, mas, quem sabe, aos poucos, vou divulgando-as, pensando sempre no bem comum, no bem público, sentimentos tão raros hoje em dia, principalmente naquelas pessoas que foram designadas pela sociedade para justamente pensar, planejar, criar, implementar, acompanhar e controlar assuntos de interesse de todos, social, do cidadão.

Transporte coletivo urbano, este é o assunto e vou direto revelar minhas imaginações, nem todas idealistas, utópicas, pelo contrário, algumas bem práticas e realizáveis. Como vocês todos bem sabem, se o transporte coletivo melhorar, muitos carros deixarão de circular com uma pessoa. É uma conclusão óbvia e, acredito, unânime. Então, o que podemos propor aos órgãos que cuidam do transporte coletivo, aos vereadores, aos secretários, aos empresários, aos prefeitos e a quem mais de direito? Muita coisa, né, e da minha parte escrevo logo.

– ônibus com piso baixo: por que dois ou três degraus pra entrar no ônibus?

– roleta: parece um obstáculo a ser transposto, uma barreira. É preciso redesenhá-la, torná-la mais confortável para o passageiro.

– acabar com o trocador: calma, sindicalistas, não quero tirar o emprego de ninguém, pelo contrário. Todos para a sala de aula para treinamentos de gentileza urbana. A passagem deve ser paga com cartão, para segurança e conforto de todos. O trocador passa a ser um auxiliar, informando o itinerário, os pontos de parada, os horários. E dando algumas informações turísticas e sobre hospitais, escolas, empresas, conexões com outras linhas e, é claro, cobrando a passagem daqueles desavisados que não sabiam, que não leram e não foram informados que a passagem só pode ser paga com cartão. Este auxiliar pode, também, ficar em alguns pontos, ajudando os usuários.

– ar condicionado: é óbvio demais, né?

– pontos finais: acomodações simples mas dignas para os motoristas descansarem. Afinal, eles têm uma responsabilidade enorme, conduz pessoas!!!!! Uma salinha, uma água, biscoitos… Quem sabe uma massagem? É sonhar demais? Então um jornal pra ler e uma TV pra ver um pouco do futebol ou o noticiário geral.

Tudo isso não é pra ser feito de uma vez, por decreto. Impossível! Vamos escolher uma empresa-piloto e fazer as experiências. Vamos convidar os fabricantes de ônibus e conversar, vamos nos reunir com associações de bairros e moradores e trocar ideias. Cada um, com certeza, pode e deve contribuir, pois eu acredito que o interesse e a responsabilidade é de todos. E todos podem sair ganhando.

Meu(inha) prezado(a) leitor(a), se você conhece alguém que trabalha com transporte coletivo, conhece alguém que pode dar uma abrangência maior a este conteúdo, por favor, fique à vontade. O meu maior desejo é apenas contribuir para minimizar este problema crônico das metrópoles. Lá em cima está escrito: gentileza urbana. Sou louco por esta expressão, que eu conheci num jornal afixado num ônibus. O jornal é da BHTrans, órgão que cuida – ou descuida – do caótico e inexplicável trânsito da minha querida roça grande.

Gentileza urbana é o princípio básico para alcançarmos muitas soluções que todos nós precisamos urgentemente. É coisa séria, trata-se da qualidade de vida de todos nós.

Gentileza urbana. Como cidadão, jornalista, relações públicas e tentando ser cronista semanal, procuro fazer a minha parte, com a ferramenta que mais posso usar: as palavras.

Rodrigo Faria

Ah, quase esqueço da trilha sonora. Atenção para a vinheta de abertura, tudo a ver com o tema de hoje.

Barqueata

Revoada do saneamento (barqueata)

O Rio de Janeiro continua lindo

Reprodução / O GloboHoje de manhã, um sujeito usou um jet-ski para resgatar algumas pessoas ilhadas ou presas em carros quase submersos em Fazenda Botafogo. Outro usou um bote para retirar os passageiros de um ônibus na Pavuna.

Quem conhece o Rio sabe que a distância que separa esses bairros do mar é diretamente proporcional à que separa ex-bbbs da Academia Brasileira de Letras.

A essa altura, em rádios e TVs, o país inteiro (e boa parte do mundo, por conta da Copa e das Olimpíadas) já ficou sabendo que o Rio submergiu. De novo.

Há 20 dias, lembrei que o dia mais visitado do blog foi o mesmo do desabamento do morro do Bumba, logo depois de uma noite e madrugada em que o mundo desabou sobre a cidade e seu entorno.

As desculpas, sempre iguais, já estão circulando por aí: “choveu mais nessa noite do que o previsto para sei lá quantos meses”. Pombas, é sério isso? Como diria um amigo muito fino, educado, apaputaquiupariu!

Há fotos de 60 anos atrás em que o cenário era o mesmo. E a desculpa também! Até quando essa cagalhopança vai continuar acontecendo e essas chuvas vão continuar pegando todos de surpresa?

E que surpresa é essa que tem todos os institutos de meteorologia avisando que vem “tempestade” – sim, o termo usado por eles é esse – aí?

Só pra constar, é bom lembrar que o período das clássicas chuvas do Rio vai de março a abril. E sempre acontece um ou outro evento isolado durante o verão. Mas todos serão pegos de surpresa, não duvidem. E o cenário, pelo que aconteceu hoje e na última quinta-feira, é o pior. Afinal, nem começou o verão.

E olha que nessa noite nem foi tanto. A chuva foi constante e de intensidade média desde o fim da tarde de ontem, mas não passou nem perto das grandes trombas d’água que destroem tudo.

Esse é o tipo de coisa que desanima. Muito.

Os sinais e a resposta vazia

Sou morador da Tijuca. Especificamente, da Usina. Pra quem não conhece, um sub-bairro que o Alto da Boa Vista e a Muda (outro sub-bairro). Um pedaço de terra que virou sinônimo de horror por conta das favelas nos morros do Borel, Formiga e Casa Branca.

Farra do boi

As favelas estão pacificadas (Deus sabe até quando) e o bairro é bem aprazível, com temperatura amena (para os padrões cariocas, claro). Aos pouquinhos, vai voltando a ter vida, comércio reabrindo etc. Mas ainda é uma espécie de farra do boi.

O povo é mal educado e não é raro termos problemas com barulho de festas, muitos edifícios estão mal tratados por puro desleixo, há casas antigas abandonadas e andar nas calçadas é como uma espécie de gincana fugindo de cocos de cachorro que muitas vezes parecem bombas (até hoje não entendo qual a dificuldade das pessoas em levar um saco plástico para recolher sua sujeira e jogar no lixo).

O trânsito não é diferente e os sinais, na maior parte do tempo, são meros ornamentos. Quase tratados como luzes de Natal que piscam o ano inteiro. E como na maior parte da cidade, motoristas de carros fazem cagada. Mas vans e ônibus capricham, se superam dia a dia.

Os sinais

UsinaNa imagem acima, há três sinais marcados. O número 1 fica na esquina de Conde de Bonfim e Santa Carolina. Durante o dia, ainda há algum (pouco) respeito, mas à noite é o caos. Quem circula pela via principal, só para se for obrigado. Com sorte, diminuem a marcha. Pela transversal, os carros ainda param. Mas os ônibus avançam insistentemente. E ainda ficam ofendidos quando um pedestre atravessa à sua frente.

O número 2 é um sinal de pedestres que fica em frente a uma escola. Se não há alguém na beirada da rua pra atravessar, ninguém (ninguém mesmo!) para. De dia e de noite.

O número 3, esquina de São Miguel com São Rafael, também fica em frente a uma escola e a 40 metros de uma creche. E sofre do mesmo problema do segundo. Não há diferença entre carros, vans e ônibus.

Quase atropelamento

Tive um probleminha no número 2, na segunda-feira à noite. Depois do trabalho, saí a passear com Adriça e Joana. Como faço diariamente, parei na beirada da rua (se parar na calçada, ninguém te vê) e fiquei esperando o sinal fechar. E na hora certa, comecei a atravessar. E quando estava no meio da rua, lá veio o ônibus. Nem aí. Se eu estivesse distraído, teríamos ido os três pro beleléu.

Só pra constar, já vi a cena acontecer outras vezes, inclusive com crianças, e a única solução real é instalar radares em cada um dos sinais.

Resposta vazia

Como o ponto final era perto, fui até lá e reclamei com o fiscal que prometeu tomar alguma providência. Não sei se algo aconteceu. Também tratei de ligar para o 1746 (Central de Atendimento ao Cidadão) e fiz o registro. Ônibus da linha 604 (integração Usina – Metrô Saes Pena), numeral A50131, Auto Viação Tijuca, às 19h11 do dia 1º de abril de 2013, na rua Conde de Bonfim, em frente ao Colégio Regina Coeli.

Cinco dias esperando a resposta que chegou hoje. Resposta vazia como vocês podem ver abaixo, sem qualquer tipo de definição sobre o assunto, nenhuma providência específica.

Resposta 1746Como vivo em uma área da cidade que não será afetada diretamente por nada relativo à Copa ou Olimpíada, nada vai acontecer. Como não morri atropelado, como a história não foi noticiada em grandes sites, jornais ou TVs, nada vai acontecer. Como a agência reguladora não faz seu trabalho (tai o metrô e as barcas que não me deixam mentir), nada vai acontecer. Como a CET-Rio é ineficiente, como vemos diariamente nos engarrafamentos da cidade, Porque o Rio – fora dos canteiros de obras para os grandes eventos – está abandonado. E continuará assim.

E daí?

Bombeiros retiram corpos de vítimas da chuva em Petrópolis / Foto: Gabriel de Paiva/Agência O GloboEm abril de 2010, só no Morro do Bumba, em Niterói, foram 267 mortes. Em janeiro de 2011, na região serrana do Rio, mais de 900 pessoas perderam a vida. De ontem pra hoje, foram 13 (e três desaparecidos) em Petrópolis.

Só 13? E daí?

Daí que não surpreende. Daí que é bom dar graças a Deus por terem sido só 13 vítimas (até agora). Daí que, três anos depois, ainda tem gente do Bumba dependendo da esmola do estado e encostada por aí. Daí que ninguém foi punido pelo desvio de verbas e doações na tragédia da serra. Daí que quase todo o dinheiro enviado para a reconstrução e investimentos em segurança nas cidades afetadas sumiu e quase nada foi feito.

Só 13 mortes. E daí?

Daí que todo ano chove muito no verão. Daí que todo ano um monte de encostas vem abaixo. Daí que a ocupação desordenada, ilegal mas permitida, não para de aumentar. Daí que todo ano vai morrer um monte de gente. Daí que todo mundo está cansado de saber disso. Daí que nunca, nenhum responsável foi obrigado a pagar indenizações a cada vítima e puxar uns anos de cana.

Mas ontem foram só 13 mortes. E daí?

O metrô e a virtude

Não é todo domingo que consigo ler jornal. Na verdade, é algo cada vez mais raro hoje, infelizmente. Ontem, por sorte, foi um dia de leitura. E no Globo, há duas colunas que merecem degustação e multiplicação.

A primeira é bem carioca. O texto de Artur Xexéo sobre o nosso metrô, o que e como era, o que se tornou.

Artur Xexéo / DivulgaçãoQuem está chegando agora pode pensar que foi sempre assim. Não é verdade. Durante quase 20 anos, a extensão de nosso metrô cresceu e a limpeza e eficiência continuaram funcionando. O caos se implantou a partir da concessão para uma empresa privada em 1998. O carioca nunca foi conhecido por cuidar de sua cidade. O metrô era uma exceção. Tornou-se exemplo de civilidade. Ninguém tinha coragem de jogar um papel de bala no chão. Com ele, aprendemos que, quando o serviço é bom, o usuário cuida e respeita. Hoje, o usuário trata mal o metrô. A culpa é do serviço. Ninguém gosta de pagar caro — e o metrô é caro à beça — por um produto medíocre.

O segundo é de João Ubaldo, o Ribeiro. Com a ironia que lhe é peculiar, disserta sobre o espírito público de nossos eleitos. Enfim, leitura obrigatória nesse começo de semana.

João Ubaldo Ribeiro / DivulgaçãoNo Brasil, os políticos são virtuosos, ou procuram ser virtuosos? Engabelados pelo noticiário leviano, venal, deturpador, difamador, caluniador, injurioso e irresponsável de praticamente todos os veículos de comunicação, muitos de nós diriam que não. Afinal, todos os dias mais um capadócio público é exposto, mais uma quadrilha é desmantelada, mais um ladrão se revela e um incompetente se evidencia. Solerte imprensa, antro de patifes, súcia de mentirosos. Pois basta livrar nossa visão dessa fumaça maledicente para logo vermos que a realidade desmente os detratores. Que a política e o poder demandam extraordinários sacrifícios é afirmação universal, postulado nunca discutido. Entretanto, nossos políticos jamais querem deixar o poder ou abandonar cargos de influência, estão dispostos a arrostar indefinidamente esses sacrifícios penosíssimos. Negar que isso é virtude, só com muita má vontade.

O sentido das coisas

Protesto de rodoviários na Av. Brasil / Foto: Renata Soares/G1Essa é a foto de um “protesto” dos rodoviários do Rio sendo dispersado pela PM. Entre aspas porque, quando alguém quebra algo ou joga algo em alguém, é vandalismo e violência. Pois foi o que aconteceu hoje, pouco depois do meio-dia, antes da assembléia que seria realizada em clube de Guadalupe.

Tentaram evitar que alguns ônibus que passavam pelo local continuassem a circular. Conseguiram quebrar o retrovisor de um (não sei como) e jogaram ovos em outro (ou outros, sei lá).

Mas a questão aqui é outra, é a foto e a compreensão de que o sentido das coisas está em tudo.

Por exemplo, jamais iria ao Maracanã torcer pelo Flamengo de smoking. Da mesma maneira, não poderia ser padrinho de casamento de alguém usando bermuda e chinelos. Além de eventos específicos, não se pode esquecer que a roupa que usamos sempre diz muito sobre nós mesmos, quem somos, até o que pensamos. Donde se conclui que o cuidado com ela – a roupa e sua apresentação – não é apenas um detalhe.

Com a máxima de que, muitas vezes, uma imagem vale mais do que mil palavras, olhem a foto outra vez e reparem na camisa que o rapaz em primeiro plano, no canto direito está usando.

Não é mesmo uma beca absolutamente adequada para alguém que está em greve?

Pra constar, os 10 mandamentos do baiano são os seguintes (mesmo que em ordem diferente da camiseta do moço):

1 – Viva para descansar.
2 – Ame a sua cama, ela é o seu templo.
3 – Se vir alguém descansando, ajude-o.
4 – Descanse de dia para poder dormir à noite.
5 – O trabalho é sagrado, não toque nele.
6 – Nunca faça amanhã, o que você pode fazer depois de amanhã.
7 – Trabalhe o menos possível; o que tiver para ser feito, deixe que outra pessoa faça.
8 – Calma, nunca ninguém morreu por descansar, mas você pode se machucar trabalhando…
9 – Quando sentir desejo de trabalhar, sente-se e espere que ele passe.
10 – Não se esqueça, trabalho é saúde. Deixe o seu para os doentes.

Nessa data querida

Sabe aquele papo de purgatório da beleza e do caos? Pois é, a beleza está no post anterior, uma pequena galeria de 12 fotos sobre a cidade. Os 40 graus deram um tempo e a temperatura tem estado bem amena nos últimos dias. Sobrou o caos.

Greve  de ônibus deixa Rio confuso / Foto: Reynaldo Vasconcelos/Futura Press/Estadão ConteúdoO Rio amanheceu com greve de ônibus. Aí, já viu né. Trens e metrô mais que lotados, naturalmente. Parece que os caras prepararam uma operação especial pra dar conta do aumento de passageiros, mas no negócio não tá fácil não. No caso do metrô, é claro que se os trens novos tivessem chegado no prazo, não seria tão difícil. Mas… Só pra ter uma idéia de como a coisa anda frouxa, só no dia 31 de janeiro é que uma multa pelo tal atraso aplicada em 2011 foi ratificada pela agência reguladora. Sabem como é, recurso daqui, recurso dali, empurra com a barriga, aplica o dinheiro e deixa render…

E é engraçado porque, se na zona norte os trens estão cheios, na zona sul o metrô está vazio. Com duas estações fechadas por conta das obras de expansão e dependendo de ônibus para cobrir o buraco, deu zica. As pessoas simplesmente não conseguem chegar ao metrô. O mesmo acontece com quem vem da Barra. Afinal, o Rio é tão especial que tem o único metrô do mundo que para em sinal de trânsito.

Mudando de assunto, a outra notícia do dia é que está rolando uma baita queima de estoque no Caju. Pra quem não sabe, é um dos bairros do complexo portuário do Rio, abriga um dos maiores (se não o maior) cemitério do país e um complexo de 13 favelas que serão ocupadas no próximo domingo. Claro que sem disparar um tiro (podem esperar os discursos festivos do governador e do secretário de segurança). Nem prender ninguém.

Rio se preparar para instalação de nova UPP / Foto: Pablo Jacob/GloboPorque a turma que manda na boca já deu no pé. E os vapores foram incumbidos de vender tudo o que podem, da maneira que der, pra diminuir o prejuízo. O resultado é que a pedra de crack sai por R$ 0,50 e a maconha, pra quem é local, sai de graça. Isso mesmo, de graça.

Agora, se todo mundo sabe disso, se está publicado nos maiores jornais da cidade, é claro que a polícia sabe, o que nos leva ao óbvio ululante de que ninguém é preso porque ninguém quer prender. E você, surpreso com essa revelação, faz um ‘ohhhhh!’ e depois canta assim: “parabéns pra você, nessa data querida…”

Piada de muito mau gosto

Pane elétrica no Metrô do Rio / Foto: O DiaPouco mais de 24 horas depois de uma tragédia daquelas, em que a falta de procedimentos de segurança adequados ajudou a matar mais de 230 pessoas, a concessionária que opera o metrô do Rio de Janeiro contou a sua triste piada.

Imaginem vocês que por causa de uma pane elétrica, quase todas as estações da zona sul do da cidade ficaram cerca de duas horas sem operar, entre 8 e 10 da manhã. Por conta do problema, alguns trens ficaram parados nos trilhos, entre as estações.

O tempo de evacuação dos passageiros dessas composições que estacionaram a meio caminho foi de cerca de 50 minutos. Isso mesmo, 50 minutos. E os caras tiveram a cara de pau de dizer que todo o procedimento foi normal.

Como ontem falei da omissão habitual das esferas de governo, gostaria de que alguém me respondesse o que será feito nesse caso. Que atitudes a agência reguladora, Agetransp, tomará? Pelo horário, é possível imaginar como estavam cheios os trens.

Agora, pensem o que teria acontecido se um incêndio tivesse acontecido.

Pois é…