O Aurora da minha vida

Comecei a velejar meio por acaso, depois de passar anos dizendo algo do tipo “velejar? Eu? Nunca! Imagina sair de casa pra ficar fazendo força o dia inteiro, justo no dia de descansar”. É, esse negócio de dizer nunca é mesmo engraçado, porque a gente sempre (sempre!!!) paga pela língua, né não. E já faz mais de uma década que comecei nesse negócio. Na verdade, faltam poucas semanas para completar 11 anos desde que pisei em um veleiro pela primeira vez, tentando ser um tico mais exato.

Nesse tempo todo, perdi a conta de quantas regatas participei. Além do bravo Picareta – o Velamar 22 em que disputei estaduais, brasileiros e circuitos Rio – e do Fandango – Schaefer 31 em que corri duas Santos-Rio –, tive a oportunidade de conhecer outros muitos veleiros, incluindo aí o Brasil 1 em 2007, máximo da tecnologia embarcada e de construção da época. Mas nunca tinha estado em um catamarã. E nem foi falta de curiosidade não, só oportunidade mesmo. Até que apareceu o Aurora.

Um tapa

E foi mais ou menos assim:  voltas e voltas da vida, chegou a hora de encarar que o mundo mudou, que empregos como os que conhecemos praticamente não existem mais e tals. Num encontro feliz com dois amigos de décadas, a decisão: vamos dar um tapa na nossa vida. E nasceu a Tapa Digital.

Na hora de colocar o bloco na rua, naturalmente apontamos, primeiro, para os amigos. Avisar que nascemos, algo como “ó, tamo na pista, #vemdarumtapa!”. E depois de 10 anos velejando e construindo relacionamentos nessa nesga de mundo que é a vela, nem foi estranho que o nosso primeiro cliente fosse um velejador. Na verdade, mais que isso, um veleiro. O Aurora.

A experiência

Um dia, num chope com quem quiser, conto a história em detalhes. Mas, basicamente, a Tapa nasceu de manhã e na mesma tarde o sujeito ligou. “Tô realizando um sonho e acho que vocês vão gostar de sonhar junto comigo”.

Como não há forma melhor de comunicar uma experiência do que vivendo a tal, chegou o dia de conhecer e experimentar um catamarã. E tudo o que enrolei até agora foi pra falar sobre isso: como é sensacional estar em um catamarã. E sei que posso falar por mim – que sou velejador – e ao mesmo tempo pela turma que carreguei, que nunca tinha experimentado nenhum tipo de veleiro.

Primeiro, a sensação de paz absoluta. Mar, silêncio, vento. Desculpem, mas se vocês nunca viveram isso, aviso logo: não tem preço. A turma – crianças de 3, 5 e 7 anos, além da moça de quem sou consorte (com muita sorte, na verdade, apesar do trocadilho infame) – se sentiu à vontade e segura desde o início. E experimentaram tudo, desde deitar na proa sentindo os respingos da água salgada até pegar no leme e tocar o barco. E a mistura de sorriso com o dia vivido e a chateação do “ah, já acabou?” na hora do desembarque fala muito.

Da minha parte, velejador “experiente” de barcos que caturram como cavalos de rodeio… Putz, que sossego. A estabilidade (o bicho não balança, é incrível) e a facilidade pras regulagens são um alento. Foi mesmo um dia pra guardar na memória, uma daquelas coisas que você precisa transformar em hábito. Voltar e voltar e velejar e velejar…

Chapa branca

É, estava na dúvida se eu devia escrever isso. Você pode estar aí pensando “claro que ele só vai falar bem do Aurora, é cliente. Ainda por cima, é o primeiro cliente”. Talvez você tenha razão. Mas me convenci com a seguinte impressão: se fosse só um cliente comum, bastava seguir o manual, desenvolver as peças e campanhas, estratégias e tudo o mais. Seria simples, nem daria tanto trabalho.

Mas quer saber de uma coisa? Foi pessoal. É uma experiência pessoal, intransferível e inesquecível. Pra mim, pras minhas filhas e enteada, pra mulher que amo (que vira e mexe pergunta quando vamos voltar, “ó, o verão tá chegando”).

Talvez você leia isso tudo e nem me conheça. Não importa. Se chegou até aqui, me sinto no direito de dar uma ideia: vá conhecer o Aurora, vá #descobrirAurora. E se está na dúvida, se ainda está na dúvida, corra o risco. Aproveita que tá rolando uma promoção, a #primaveraAurora, vai que você ganha. Fica fácil fácil. Do meu cantinho, arrisco afirmar: você não vai se arrepender.

Hora de plantar

Fotos: Flávia Souza Rocha

Alguns dias, por mais simples que pareçam, entram para a nossa história. Fácil assim. Foi o caso da sexta-feira, feriado de Tiradentes.

A previsão não era das melhores e, a princípio, era apenas um compromisso de trabalho. Descobrir Aurora… Eu iria a bordo cedinho para conhecer o barco, ver o que era necessário fazer e preparar tudo para a sessão de fotos que estamos preparando. Mas aí…

– Armando, e se ao invés de passar lá correndo, déssemos um passeio. É fim de semana de crianças e acho que elas adorariam.

– Claro, vambora.

E lá foi a família tralalá ver o Rio por um ângulo diferente. Com o dia lindo, saímos do clube em direção a Copacabana. Até aí, nada demais. O detalhe é que foi a primeira vez das mocinhas a bordo. E foi incrível.

Depois do encantamento, da surpresa de como é um veleiro por dentro, de dar algumas voltas pelo convés, de se espantarem com o tamanho das velas e até por ver peixinhos ao redor, começaram a colocar a curiosidade pra fora. E foi um tal de “pai, o que é isso?” e “pai, pra que serve aquilo?” que achei que não teria mais fim. Bússola, cabos, anemômetro, estais, âncora, maré, as fortalezas, tudo era descoberta.

E Armando, que durante muitos anos trabalhou com crianças, não se fez de rogado quando Isabel, com seus quatro, quase cinco anos, decidiu: “quero dirigir o barco!”. Colocou a mocinha no leme e começou a explicar, mostrar no que precisava prestar atenção e tudo o mais. E ela aproveitou e ficou por ali quase meia hora. E até discutiu com ele pra que lado ir quando o vento deu uma torcidinha.

Helena também aproveitou a chance e ainda tirou onda com uma mão só na roda de leme, enquanto não parava de se espantar porque “estamos no oceano pai!!!” É verdade, que não ficou tanto tempo no timão, mas estava à vontade que só ela…

No fim do dia o vento merrecou, a maré atrapalhou e não conseguimos chegar a Itaipu pra parar e dar um mergulho. Sem problemas. Antes mesmo de desembarcar, Isabel já avisava que “agora quero correr regata com você” e Helena perguntava, de olho comprido para os optimists que passavam, se “a gente pode voltar toda semana?”.

Se a vida é plantar, a semente foi posta. E, pelo jeito, já está germinando. Agora é só cuidar. Com vento e água salgada, claro.

Sempre no vento

Leonardo Mauro, o MorcegãoMas é mesmo um picareta esse meu comandante, vejam vocês.

Hoje é o seu aniversário. Sinceramente não sei quanto, não importa. Aí, logo pela manhã, quase cedo, ele me liga. Foi a primeira vez no dia que o telefone tocou. Pra falar de trabalho, para – quem sabe – abrir mais um tanto de horizonte neste momento de tormenta da minha vida.

E como ligou para falar de trabalho e de futuro, não me deu tempo nem espaço para pensar no presente, no seu presente. Presente que ele deveria ganhar, mas que resolveu me dar.

E o dia passou com as correrias de sempre e algumas novas, naquele passo que não nos deixa pensar, muitas vezes, no que é importante de verdade.

Pois que esse tal meu comandante merece todas as homenagens do mundo, porto seguro que é, em todos e mais sentidos, pra tanta gente. E bota gente nisso, capaz de lotar alguns botecos, do 1 ao 794, do Grajaú à bela ilha de Santa Catarina, passando por Brasília e Mato Grosso.

É meu comandante, entre tormentas e calmarias, é dia de festa. E de seguir com as velas enfunadas, em frente como sempre foi. E, impressionantemente, sempre sorrindo. Não é por acaso que sua tripulação não abandona o barco.

Luiz Vela

Luiz VelaPerder é uma merda. E este foi um fim de semana muito duro. Perdi um amigo.

A sexta-feira já tinha sido estranha. Mas no final do dia, a impressão é de que mais uma borrasca tinha se dissipado.

“Amanhã de manhã ele liga de novo, pra pedir ajuda como sempre. E a gente vê o que faz”.

No sábado de manhã ele não ligou. Não ligaria mais.

Eu estava dirigindo, a caminho de um almoço na casa de uma amiga, quase família ou família há 28 anos.

É claro que soltei um palavrão. E do outro lado da linha o mais sensato e o pior conselho a se ouvir naquele momento: “não adianta praguejar. Do jeito que vinha, pensa bem, foi até melhor, parou o sofrimento”.

Puta que o pariu! O mesmo palavrão que disse na hora. É que tem hora que não dá pra racionalizar. Quando estacionei, saltei do carro sozinho, a turma ficou lá dentro. Sentei no meio-fio, acendi um cigarro e chorei. Como há muito não fazia por nada. De tristeza, de saudade, de se sentir impotente pensando que podia ter feito mais e não fez.

Pombas, será que eu fiz tudo o que podia? Não tive a dedicação do Armando, o desprendimento do Morcego… É, não sei lidar bem com algumas coisas, talvez tenha me afastado demais quando não devia, será? Não sei, não dá pra saber.

Há algumas semanas nos reunimos. Uma espécie de núcleo duro da turma do Rio. Duas, três horas de elucubrações em busca de uma saída. A conclusão óbvia. Se ele não quiser, não tem jeito. Não há o que fazer. Do jeito que vai, acaba logo, nem demora. Volta pra casa com a garganta fechada, ainda buscando um jeito de lutar contra a maré.

A maré venceu. Ontem. Sábado de aleluia. Trocadilho infame do caralho!!!

Ano passado foi um ano bom, horas de telefone, centenas de mensagens por todos os meios, produzindo. Construindo juntos. Degringolou justo na hora de fazer dar certo. Aquela nesga de sol que te deixa pensar ‘agora vai’. Não foi.

Que nó é esse que dá na cabeça de um sujeito com um cérebro tão brilhante? Fico entre as palavras da Claudia – de que decifrá-lo ia muito além da nossa vã filosofia – e do Morcego: sua tempestade pessoal nunca refrescou, nunca deu trégua, e ele foi arrastado até a que a nau fosse engolida pelas vagas.

Talvez seja isso, talvez nada disso.

Mais de um dia da notícia já se passou. Ainda em construção por aqui, ainda tentando aceitar que não há culpas de qualquer espécie. Ainda vai durar um tempo aquela sensação de buscar a brecha que perdemos, o passo que escapou.

Pouco mais de sete anos depois do primeiro encontro, num mês de abril, acompanhávamos os serviços funerários do homem que havia surpreendido a todos. Segundo o diagnóstico visual de qualquer um, a saúde era frágil. Não se tratava de males do fígado, como alguns diziam, mas da alma. Ele tinha 51 anos. Mas sua aparência era de, pelo menos, uns cinco anos a mais. O funeral teve lugar em um cemitério qualquer, sem pompa, como talvez previra o falecido em seus últimos dias. Não houve música, discursos ou salvas de tiros, e o caixão desceu ao seu endereço final.

(Livre adaptação sobre trechos do capítulo 10, págs. 125 e 126, de Sàn Guermin, de Luiz Octavio Bernardes)

Quando voltei pro carro, Helena – que o conheceu – perguntou: “papai, o Vela do Luiz Vela é por causa do barco?” É minha filha.

É meu amigo, sobe o pano e bota no vento, que agora é largo. Vai ter a paz que não conseguiu quando passou por esse porto.

Pinto no lixo

Tam Tum / Foto: Lúcia FerreiraComecei a velejar em 2006. Sempre como tripulante. Manza. Mas nesses poucos anos, já houve muitas boas histórias, em terra e mar, e muitos momentos especiais, especialíssimos. Como a primeira vitória, no Picareta. Ainda estava em recuperação da última cirurgia joelho e levei um tombo na cabine no meio de uma manobra. Como eu tinha aprontado na regata anterior e desperdiçado a vitória, caí com o cabo do balão na mão e não soltei nem por decreto. No final deu tudo certo, e apesar do susto, o joelho ficou bom.

Em 2007 não foi um dia, mas um fim de semana inteiro: a conquista do Circuito Rio. A tripulação estava azeitadíssima, velejamos demais e não erramos nada. E ganhamos o campeonato com uma regata de antecedência.

A Santos-Rio de 2008 também teve seus momentos, pro bem e por mal. Primeiro, a levada do Fandango de Ilhabela pra Santos, uma velejada maravilhosa num dia lindo. Eu e Armando fizemos a armação em trisail que usávamos no Picareta e surpreendemos até o Sergio, dono do barco e que já cansou de velejar nesse mundão de meu Deus. Minha primeira travessia em dia de gala.

Já na regata, o sábado à noite foi marcante. Íamos nos arrastando sem vento praticamente desde a largada e àquela altura já surgia a discussão sobre abandonar ou não, por conta dos compromissos da segunda-feira. E íamos nos revezando em turnos e no leme. E calhou do vento entrar, já noite fechada, com nuvens negras e um bom tantinho de chuva. Batismo dos infernos e eu no leme (eu que não tocava nem o Picareta dentro da baía de Guanabara). E toda aquela teoria na cabeça e bota o barco pra andar no escuro só tentando sentir o balando das ondas, e a velocidade aumentando e a turma ficando animada e… Depois de alcançar a velocidade máxima do fim de semana, o céu abriu e o vento foi embora. Meia hora depois do auge da adrenalina e excitação, o cúmulo da frustração. Fui voto vencido e abandonamos.

No ano seguinte, nossa segunda e última Santos-Rio, não foi fácil deixar Helena recém nascida, com menos de uma semana de vida, pra matar uma frustração tão grande. Mas valeu muito muito a pena, pela velejada e pelo resultado.

Esses foram só alguns e ontem eu tive outro dia especial. Finalmente, e depois de muitos meses, voltei a velejar. Minha estréia no Tam Tum, o barco mais novo da família Boteco 1. E eu estava ancorado há tanto tempo que o barco já está quase fazendo aniversário e ainda não tinha experimentado.

Não era dia de regata, houve uma revoada em protesto contra a poluição da baía. Basicamente um passeio. E lá fomos nós, eu, Oscar e (oh, captain, my captain) Morcegão. E nem lembro como, acho que estavam testando alguma coisa no motor que acabou de ser revisado, mas logo depois de sair do clube alguém gritou “Gustavo, fica aqui”. E lá fui eu pro leme. E depois que resolveram tudo, panos pra cima e vamos velejar. E eu lá, tocando o bicho como se tivesse feito isso a vida inteira.

Que barco gostoso da porra, que dia maravilhoso. Um tantinho de vento, um pouquinho de swell, mais ou menos 80 barcos juntos, e a gente se divertindo. Primeira vez que tocava um barco com roda, ao invés da cana de leme. E fora um episódio ou outro, tudo em casa e adaptação perfeita. E com aquele tantinho de vento, 10 nós no máximo, fizemos o bichinho andar no máximo de seu rendimento (pelo que os dois falaram): 6,5 a 7 no popa com asa de pombo, 4,5 a 5 no contravento. E ele lá, soltinho, confortável. E eu ali, pagando de almirante, todo pimpão, quatro horas felizes como há muito não vivia. Difícil vai ser alguém me tirar do leme na próxima velejada.

E o melhor é que, depois de chegar no clube, dava até pra ver o sorriso do barco. Duvida? Então tira a bunda da cadeira e vai velejar. Você vai entender…

Quarto

Recon / Foto: Gustavo SirelliPor tudo o que aconteceu na quinta, no sábado e até as 14h de domingo, essa foto seria o resumo mais que perfeito do 6º Campeonato Brasileiro da Classe Velamar 22. Recon em cima enquanto a comissão de regatas ficava parada ou zanzando de lá pra cá na enseada de São Francisco, em Niterói, à espera do vento ou tentando entender de que lado a brisa sopraria mais constante. Seria…

A programação previa a realização de oito regatas entre quinta, sábado e domingo, além da regata dos patrocinadores, extra-campeontato, na sexta. Pois no primeiro dia, niente, nadica de nada, zero. Três horas boiando a esmo e nenhuma largada foi feita, dia completamente perdido. E com uma boa dose de ironia de éolo. Pois a frente fria prevista chegou assim que encostamos no clube, coisa de 10 minutos depois das 16h, horário limite para largadas.

Já na sexta, com chuvisco e (de novo) sem vento, a programação também não foi a termo. Pra tentar compensar, a comissão de regatas alterou a instrução de regata e antecipou a programação de sábado para as 10h, contra as 13h previstas originalmente. Até que deu certo.

Logo de manhã, a primeira regata. Em condições normais, em 40, talvez 50 minutos, estamos acostumados a dar duas voltas no percurso em oito com bóias que obriga a flotilha a passar por todos os clubes da enseada. No sábado, com um brisa bem fajuta, foi apenas uma volta. E para nós, do Picareta, um bom terceiro lugar.

A partir daí, o ventinho que já era pouco diminuiu ainda mais, torceu pra lá e pra cá, e ficamos umas boas horas esperando pra ver o que ia acontecer. Quase a fórceps, com uma brisa incapaz de nos refrescar no sol que brilhava inclemente, ainda corremos mais duas regatas, dessa vez barla-sota. Um nada bom quinto lugar e mais um terceiro para fechar o dia. E chegou o domingo…

Desde manhã, nada de vento. E nós lá, com o barco pronto no píer esperando, esperando, esperando. Mas aí a comissão de regatas foi pra água. Roda pra cá, roda pra lá, uma brisinha interessante mas nada constante. Até que pelas três da tarde o sujeito chegou com vontade de tirar o atraso.

O pau comeu, a raia ferveu, o vento roncou e nós andamos bem demais. Com as condições, ninguém levantou o balão. E conseguimos um excelente segundo lugar, chegando quase junto do – àquela altura já campeão – Smooth, numa cena que (dadas as devidas e muitas proporções) poderia ser comparada à disputa entre Ryan Briscoe e Ed Carpenter na chegada do GP de Kentucky de 2009.

Naquele momento, estávamos em terceiro e disputávamos posição com Salina e Focus. Poderíamos terminar de segundo a quarto. Mas ainda havia uma regata…

O curioso é que, em relação à primeira prova, o vento deu uma pequena arrefescida. Pra nós e pra muita gente, isso não foi bom. A impressão, é que geral ficou confiante demais e arriscou coisas que na verdade não deveria. Como levantar o balão, por exemplo.

Nosso resultado começou a micar na hora da largada, com um probleminha na genoa que nos atrasou. Largamos em último, atrasados. E oito ou nove segundos fazem muita diferença. Fizemos um primeiro contravento bem razoável e na primeira bóia já tínhamos recuperado bastante. Nossos adversários disputavam a liderança e nós, aquela altura, já ganhamos algumas posições. Ainda dava. No popa, balão pro alto e manter o barco equilibrado não foi nada fácil. E os líderes abriram mais vantagem.

Não estava fácil pra ninguém. No segundo contravento, só pra ter uma idéia, dos cinco tripulantes do Catavento, o time de Brasília, quatro foram pra água em uma atravessada provocada por uma rajada mais forte. E o último popa foi o caos. Nós e mais outros três barcos tivemos problemas. Balão pro alto, jibe chinês. Ainda terminamos em quinto e, pelas minhas contas (não vi o resultado oficial), terminamos o campeonato em quarto.

É, podia ser muito melhor, mas nem foi tão mal. Agora é esperar o ano que vem. Muitos parabéns para as tripulações de Smooth, Focus e Salina e muito obrigado aos nossos caros e queridos patrocinadores que, SEM NENHUM INCENTIVO FISCAL (sim, é muito importante repetir e gritar isso), tornaram possível a realização de mais um campeonato: Yen Motors, Focus Brindes, Olimpic Sails e Cervejaria Noi.

Entre brigadeiros e celulares

Vida de pai é um negócio sensacional. Mas às vezes dá um trabalho danado pra organizar a agenda e conciliar os interesses da prole com o nosso desejo filosófico-esportivo-carnavalesco. Ontem, por exemplo, foi um dia daqueles.

Nico Rosberg / Foto: Getty ImagesA manhã até que foi tranqüila e consegui assistir o GP de Mônaco inteiro: a previsível vitória de Rosberg e sua Mercedes, a nova panca de Massa (quase um replay do que houve no treino de sábado), um mexicano deixar escancarado a guerra de bastidores na McLaren e Sutil fazer duas ultrapassagens magníficas na Lowes e Vettel, que terminou em segundo, sair do principado ainda mais líder do que quando chegou. No fim, uma corrida bem decente, dentro dos padrões Mônaco.

Viva Tony

Meus problemas começaram à tarde, com as 500 milhas e a estréia no brasileirão. Sobre a corrida de Indianápolis, enquanto arruma bolsa, dá mamadeira, veste uma, calça a outra, serve a ração pras mocinhas e tudo o mais que envolve sair de casa com duas crianças e deixando duas cachorras, ia acompanhando. Mas era domingo de festinha, das 15 às 19h30. Ou seja, justamente na hora da decisão, quando faltavam umas 30 voltas para terminar, hora de ir.

Tony Kanaan vence a Indy 500Soube depois que Kanaan venceu. Sinceramente, achei sensacional. Gosto do sujeito, já foi campeão e bateu na trave algumas vezes. Então, agora pode dizer que sua (longa) passagem pela categoria está, finalmente, completa. Castroneves chegou a liderar, mas no passa e repassa do grupo da frente, terminou em sexto. Pra esse, que já venceu três vezes no templo e já foi campeão da dança dos famosos no país do Tio Sam, falta o título da categoria.

Começou

E, enfim, chegamos ao mais importante evento esportivo do final de semana. A estréia do Flamengo no campeonato brasileiro. Como já disse, estava na festinha, acompanhado de outros pais rubro-negros que tentavam acompanhar o embate do planalto pelo celular. E o 0 a 0 nos deixou bem desanimados e desconfiados. Mas assisti o VT quando cheguei em casa e até que fiquei surpreso.

O Flamengo nem jogou mal, a defesa bem postada, o time organizado, todos sabendo o que fazer com a bola. No meio, a inoperância de Renato foi compensada por Elias, em tarde inspirada. Dominamos o jogo e tivemos muitas chances de vencer, pelo menos quatro reais. E Felipe, que nem foi incomodado, teve a chance de posar para a foto de despedida do Neymar ao defender (sem rebote para a marca do pênalti!!!) um falta cobrada pelo moleque.

Rafinha perde gol / Foto: Agencia O GloboAgora, a indigência de nosso ataque foi assustadora. Hernane, o artilheiro do carioca, mostrou que suas caneladas – salvadoras contra quissamãs e caxias – não serão suficientes no certame nacional. E Rafinha, que contra os bambalas e arimatéias chegou a ser melhor que o Neymar, se encolheu. Mas esse tem potencial e tende a melhorar quando se acostumar com os jogos grandes em grandes estádios. Moreno entrou bem e, com ritmo, será o dono do ataque. E Carlos Eduardo… Sei lá o que dizer sobre ele. Mas, no geral, o que importa é que não desgostei não. Mas o sentimento de que perdemos dois pontos jogando fora de casa amargou a boca.

O próximo jogo será “em casa”, contra a Ponte. A obrigação é vencer, claro, mas não será fácil. O campo acanhado e o gramado pererecante de Juiz de Fora estão a favor da macaca. Ou seja, preparem as unhas e calmantes.

Brasileiraço

Picareta no Campeonato Estadual de 2011 / Foto: Fred HoffmanSe o brasileirão começou ontem, no próximo fim de semana acontece o Brasileiraço, com letra maiúscula mesmo. Entre quinta e domingo, no Saco de São Francisco, ali em Niterói, serão realizadas as oito regatas do 6º Campeonato Brasileiro da Classe Velamar 22 com largadas previstas, sempre, a partir das 13h. Não sei quantos barcos estarão na água, isso não importa. O que importa é que a tripulação do Picareta – na qual me incluo – está na ponta dos cascos. A turma do foquetinho azul do Boteco 1 promete garra, dedicação, empenho eeeeee tentar corresponder em campo eeeeeeeee tentar realizar o que o professor determinou eeeeeeee agradar a torcida eeeeeeeee fazer de tudo pra levar o caneco pra casa.

Vale ressaltar que o campeonato – SEM NENHUM INCENTIVO FISCAL – é patrocinado pela Focus Brindes, Noi, a cerveja concebida sem pecado, Yen Motors, Olimpic Sails e Känga Box. Então, obrigado e parabéns às cinco empresas.

Merdelê

Picareta no Campeonato Estadual de 2011 / Foto: Fred HoffmanSe você não conhece a palavra, não se aflija. Merdelê não é nada além de um simples sinônimo de cagalhopança. E não termos melhores para definir o fim de semana esportivo. Pelo menos no que me diz respeito. E não, não estou nem aí para o título mundial de curling feminino conquistado pela Escócia.

Começando pelo mar, o sábado foi uma bosta. Mas que não deveria surpreender pelo menos três quartos da brava tripulação do Picareta. Sempre que os campeonatos da querida classe Velamar22 são disputados no belo e mavioso, porém viciado (falo da raia, claro) Saco de São Francisco, temos a certeza de pelo menos uma confusão certa.

Sempre no mesmo lugar. Não sei porquê, se é karma ou outra coisa, mas é infalível. Uma bendita bóia colocada nas proximidades do Clube Naval Charitas. Ali já atravessamos, já batemos na dita cuja, já colidimos com outro barco… Desta vez, entre orças e arribas e o indefectível “bota no vento Morcegão!”, arrumamos um fuzuê tal que o barco chegou a andar pra trás.

Começamos o dia em terceiro no campeonato e, nesse momento, estávamos em quarto na única regata do dia, justamente atrás do nosso adversário direto pela medalhinha estadual. O resultado do nosso merdelê na hora de montar a última bóia do dia foi que perdemos três ou quatro posições e o campeonato foi para o vinagre.

A última regata da contenda (que bonito) aconteceu no domingo. Dia bom, vento bom, percurso bom. Duas voltas em um X com bóias colocadas em frente a alguns dos clubes da enseada. Divertido, andamos em quinto, depois lideramos, fomos pra quarto, lideramos de novo e terminamos em terceiro. À frente do Marokau e Regatinha, adversários pela terceira posição no campeonato. Se não deu pra beliscar, foi suficiente para nos fazer esquecer do dia anterior.

Nem sei, no final das contas, em que posição terminamos. Mas depois de sete regatas, acredito que em quinto. Focus (ex-Dona Zezé) foi o campeão, Smooth o vice e Marokau o terceiro. Parabéns.

A melhor parte é que deu pinta de que – com Morcegão, Capitão Trocado, Ted Boy e este manza que vos escreve – encontramos uma tripulação que deu liga. E o Brasileiro vem aí. Vai que…

F1

A coletiva sorridente dos vencedores de Sepang / Mark Thompson/Getty ImagesA corrida em si nem foi essa coca-cola toda. Mas a turma caprichou. Um merdelê generalizado que terminou com um pódio absolutamente sem sorrisos. E olha que ninguém morreu. Briga na Red Bull, incômodos na Mercedes, reclamações na Force India, cagada de Alonso… A parte boa, engraçada mesmo, foi ver o Hamilton errar de boxe e entrar na McLaren com sua Mercedes. No mais, nada demais.

Fla

Jorginho em coletiva no Flamengo / Foto: LancenetAcho que o jogo de sábado foi suficiente para Jorginho entender o tamanho da roubada em que entrou. Se é verdade que não houve nenhum evento específico, nada de anormal aconteceu, nenhum merdelê, é fato que o jogo foi uma bosta (apenas para não fugir à escatologia).

Para o carioqueta, nosso tradicional ‘me engana que eu gosto’, nenhum pânico. Vamos nos classificar e até podemos ganhar. Mas teremos um ano sofrido pela frente. A ver.

2ª edição (12h)

Medalhas do campeonato estadual de Velamar22Acabei de ser informado que o Picareta terminou o campeonato em quarto. Ainda não vi o resultado oficial, não sei se foi no desempate ou se foi direto, não sei quem ficou em quinto. Mas fiz conta errada, é o que importa. Um merdelezinho, bem no espírito do post. Não sei por quê, nem lembro de ter acontecido antes, a Feverj resolveu premiar os quatro primeiros. Então e no fim das contas, os quatro supracitados e a corajosa Lúcia (que compôs a tripulação no primeiro fim de semana de disputa), levamos uma medalhinha pra casa. Como não pude ir à premiação, a minha ainda não está comigo. Mas as mocinhas vão ficar felizes quando chegar com ela em casa.

Foto do dia: Katalin Gerencsér

Sailing on the Seven Seas / Foto: Katalin Gerencsér

P.S.: com um abraço carinhoso aos comandantes Leonardo Mauro e Marcelo Gilaberte

Esportivas

Na água

Barla-sotaDói! Dói tudo e muito. O corpo moído, dos pés à cabeça. Sabe aquele dia seguinte da sua primeira ida à academia, depois de 20 anos sem fazer nem um polichinelo? È a sensação que tenho.

Quase um ano sem ir a bordo e lá fui eu correr o campeonato estadual de Velamar22 a bordo do Picareta. Três regatas barla-sota de seis pernas de cerca de uma milha cada, com vento médio de 15 nós e rajadas que variavam de 18 a 20. Intensidade total em três provas de mais ou menos 40 minutos.

Não lembro quantos barcos havia na água, se 9, 10 ou 11. O que importa é que num dia em que “o vento da verdade”, como diz o comandante Ricardo Timotheo, apareceu, a tripulação que variava entre o inexperiente e o enferrujado fez o foguetinho azul andar. Sempre brigando com o Smooth e o Focus (ex-Dona Zezé), fizemos 3º-2º-3º.

Então, apesar da dor, foi mesmo um dia muito bom.

Na Austrália

Kimi venceu a primeira corrida de 2013 / Foto: Getty ImageNão consegui ficar acordado de madrugada pra ver a corrida ao vivo nem pude assistir no horário alternativo, às 9h, pois estava a caminho do clube. Pra finalizar, as mais de três horas sem luz ontem à noite também me impediram de ver compactos ou matérias por aí.

Pelo que entendi, Kimi deu o pulo do gato com os pneus e levou a corrida na estratégia. Alonso em segundo e Vettel, apesar da pole e da pista seca, em terceiro. E fico pensando em alguns especialistas que depois dos dois treinos livres da primeira corrida já decidiram que o campeonato tinha dono e até data pra acabar. Gato mestre é isso aí né?

Na Gávea

Jorginho / Foto: Carlos Costa/LancenetDorival caiu e lá vem Jorginho. Juro que não sei o que é pior… A verdade é que o agora ex-técnico nunca foi o queridinho da nova diretoria, mas a grana da rescisão era alta demais. Também é verdade que, apesar da boa taça Guanabara, o índice de aproveitamento do time sob seu comando é muito ruim e só superou os 50% depois de um turno inteiro enfrentando os mágicos esquadrões de quissamãs, bambalas e arimatéias.

No fim das contas, contou-se a história para boi dormir do não-acordo pela diminuição dos salários e o clube se livrou de um técnico de médio pra ruim e uma conta entre o fabuloso e o escalafobético. O problema é que vem aí o Jorginho.

Não lembro de nada realmente relevante que tenha feito na sua ainda curta vida de técnico. E, pra completar, ainda arrumou uma confusão desnecessária ao tentar trocar o mascote do América. Tomara, tomara mesmo que eu queime a língua e o sujeito dê certo. Mas não acredito.

Mas espero, sinceramente, que ele não tenha diarréias mentais, que não tente trocar o Urubu Rei pelo periquito lilás de Aruanda.