Olho minhas moças em casa e o horizonte que se desenha, o país que se desenha, e fico apavorado. E entro em parafuso quando vejo a turma em volta (boa parte da turma, claro) não se dando conta. Será que estou ficando louco? Paranóico? Sei não…
Já ando desanimado há tempos. E quem me conhece bem, sabe o que significa o carnaval pra mim. Mas o deste ano, sincera e definitivamente, não terá o mesmo sabor. Vai que estou mesmo ficando velho e ranzinza, a descrição informal de um nível de realismo tão agudo que o mundo ao redor perde boa parte da graça.
Cinzas. E o carnaval nem começou ainda.
Quando Barroso e Zavascki foram nomeados, ninguém teve dúvidas que tudo não passava de encomenda, tudo decidido já. Foi algo tão gritante que nem os amigos dos (agora) co-autores tentaram negar. Silêncio.
Ontem foi apenas o desfecho (de uma etapa, vem mais por aí) esperado.
Não vou defender Barbosa, Aurélio, Fux, Mendes e Mello. Não é o caso nem precisam de mim, vamos combinar. E como qualquer outro, fazem (na minha opinião) suas cagadas. Também não vou tentar negar o ímpeto autoritário e os tons fora do tom do presidente do tribunal. Da mesma maneira que nunca acreditei que o tribunal fosse salvar nosso querido e trágico país.
Mas o sinal transmitido com as nomeações e confirmado ontem é que, hoje, estamos à disposição – sem qualquer opção de escape – do poder de plantão. E é essa a grande questão.
Será que, a esta altura, alguém com o mínimo de instrução não percebe (a não ser por escolha) que o que temos hoje é um projeto de poder? Tudo em causa e benefício próprio. Não, não acho que vivemos o mesmo caso da Venezuela e da Argentina e da Bolívia etc. Somos diferentes sim. Mas estar de mãos dadas que com essa camarilha diz muito. Ou não?
E se começamos a esticar a sanfona, então, não haveria tempo e papel suficiente para escrever a respeito. Pelo menos eu, que não vivo disso. Mas o que dizer de um governo, em um país com cerca de 120 milhões de eleitores, que montou um cabresto de mais ou menos 25 milhões de indivíduos?
O que dizer de um governo capaz de – ao mesmo tempo – quase destruir (a impressão é que vão chegar lá, tomara que não) a maior empresa do país e, ao mesmo tempo, não ter sequer nenhum acordo bilateral com o resto do mundo?
O que dizer de um governo que deixa o país parar completamente por falta de investimento adequado em infraestrutura e logística?
O que dizer de um governo que fez o que fez no rio São Francisco?
O que dizer de um governo que não só permite, mas estimula que alguns indivíduos sejam “mais iguais” que outros?
O que dizer de um governo que deixa seu país flertar com a barbárie?
O que dizer de um governo que não só não luta contra, mas estimula (inclusive financeiramente) o linchamento moral de qualquer um que tenha uma opinião diferente do status quo, dos amigos, dos aliados e dos co-autores?
A lista é interminável.
A resposta é curta: mal intencionado, incompetente e corrupto.
Sim, corrupto. Comprovadamente corrupto. Não apenas de nossa impressão geral construída ao longo dos anos sobre qualquer político. A turma ainda está presa e com a ficha suja. Pelo menos até conseguirem a revisão da pena (e eles vão conseguir, não tenham dúvida).
A lista é interminável. E a mulher será reeleita. E se ela corresse algum risco, o apedeuta se apresentaria e levaria de braçadas. Porque a nossa oposição é tão débil, tão sem sentido, que um dos candidatos se retiraria em apoio a Lula, se ele aparecesse.
Não, não vivemos hoje no país da piada pronta. Estamos construindo, já há 12 anos, o país da tragédia pronta.
E sim, esse texto lastimável e lastimoso às vésperas de um carnaval não pretende convencer ninguém a nada. É apenas um desabafo de um sujeito absolutamente desesperançoso e desesperançado. E que tem duas filhas neste país desgraçado, neste país que está sendo desgraçado.
Sim, uma hora eu desisto e vou-me embora (já respondendo ao eventual xiita que aparecer por aqui perguntando por que não dou no pé). Infelizmente, meu coração avisa que a contagem regressiva já começou.
Evoé.