Grana, bufunfa, patacos, mangos, bolada, dindim

Sim, ando pensando muito em dinheiro. Não, não o tanto que preciso pra colocar a vida em dia. Não me sai da cabeça a quantidade de grana que é necessária pra ter salvo-conduto na vida.

Não faz muito tempo, semanas, que ficamos muito putos com o fato de Daniel Alves ter pago, primeiro, uma multa pra diminuir sua sentença e, depois, uma fiança milionária pra ficar em liberdade. Gritamos e esperneamos, eu inclusive, que a Espanha botou preço no estupro…

Vamos combinar né gente, nada de novo nissaí, talquêi. E a Espanha nem é exceção.

Outra caso, agora de dias: Fernando Sastre Filho. O sujeito que matou um motorista de aplicativo com seu carro milionário, a cerca de 130 km/h, fugiu do local sem prestar socorro, se apresentou na polícia no dia seguinte, foi liberado de boa. Sim, é bom lembrar que,  independente do resultado de um eventual julgamento sobre culpa ou dolo, ele é um homicida. Mas demoramos um tantinho pra ligar nome à pessoa né. Porque as manchetes falam em empresário, nos contam que “o Porsche que bateu…” (como se andasse sozinho), já sabemos até quanto custa seu IPVA e que ele não tem seguro.

Só fiquei imaginando se, ao invés de um empresário branco em um carrão, tivesse sido motorista negro em uma van que tivesse provocado o acidente. Como teria sido o tratamento dispensado nessa hipótese? Basta olhar com calma para o massacre dos últimos meses na baixada santista que a resposta aparece.

Mas esse caso também não tem nada de novidade né. Vocês lembram do Thor Batista e do ajudante de caminhão que ele atropelou (e matou) na Rio-Petrópolis, Wanderson?  Pois é, houve alguns acordos, mas que sempre se resumiram a dinheiro, cascalho.

E como não se trata só de morte e violência, há muitos outros casos famosos pelo mundo, como o casal de irmãos Shinawatra, da Tailândia, numa boa em Dubai; Josph Lau, de Macau, numa ótima em Hong Kong; o chinês Guo Wengui, tranquilo nos EUA; o brasileiro-libanês Carlos Ghosn que vive em paz em Beirute. Sem falar na turma da CBF que não pode nem pensar em cruzar qualquer fronteira, mas vive nababescamente no Brasil. E o pessoal do Flamengo, dirigentes que deveriam ser responsabilizados pela tragédia do Ninho…

A lista, como sabemos, é infinita. E a prática não começou ontem. Todo mundo sabe que o dinheiro, o quanto você tem, sempre livrou todo mundo. Ou quase, pelo menos. Tipo o recheio da sua carteira dizendo se você tem ou não direito a habeas corpus preventivo.

Não sei vocês, mas em mim essas coisas doem muito. Ah, como dói…

Porque sujeito comum que sou, fico sonhando em ter metade, um terço, um décimo do cacau, dos caraminguás que essa turma esconde no cofre, só pra resolver dívidas, ajustar a saúde, cuidar das minhas filhas como elas merecem e ajudar mais uma pá de gente.

Mas aí, daqui uma semana, tem uma confusão nova, algum escândalo inédito, a bagunça mais barulhenta dos últimos dias, e já não lembramos de mais nada. E o baile segue…

Não tem tradução

Preciso contar uma coisa pra vocês: eu não frequento rooftops.

Tem muitos dias não, vi um texto do Millôr dando uma belíssima sacaneada naquele estrume do Aldo Rebelo, que um dia – lá pelos idos de 99, 2000 – apresentou um projeto de lei (que chegou até a ser aprovado na CCJ em 2007) limitando o uso de estrangeirismos.

Quero dizer que sou contra. Por muitos motivos, desde as discussões mais acadêmicas sobre a língua ser um organismo vivo até a liberdade de cada um fazer o que bem quiser com a língua que mais lhe aprouver.

Mas eu tenho o direito de achar isso, essas palavrinhas em inglês no meio de frases em português, um tanto cafona. Pra dizer o mínimo. Sempre imagino como seria a cena ao contrário, com alguém falando em inglês e, à toa, encaixando alguma coisa em português. Let’s talk about your trabalho and the ideias you’ve had.

E sim, trabalho com Comunicação e desde o primeiro período de faculdade fui obrigado a conviver com jobs e deadlines. Muito antes dos insights e quetais dominarem o vocabulário corporativo, imposição dos afetados paulistas que chegou ao Rio pela Barra da Tijuca, a filial de Miami (como podem ver, existe sim pecado do lado de baixo do Equador), e se espalhou tragicamente por nosso belo balneário.

E por que estou falando disso? Passou por mim no feed de uma dessas redes um vídeo de um rapaz com sotaque carioca apresentando o que seria o melhor rooftop do Rio de Janeiro. Pelo que entendi, fica em Ipanema, berço do Simpatia É Quase Amor que completa 40 anos em 24. Achei um assinte nada simpático. Também imaginei Albino Pinheiro, Ziraldo, Fredy Carneiro e Jaguar, em 1965, fundando a Banda de Ipanema no melhor espírito Let’s party!

E com o coração carioca de Vila Isabel aos pulos, só pensei em uma coisa: rooftop de c* é r*l@!!!!

Sei que isso aqui não passa de um desabafo e que nada vai mudar. E que toda essa afetação que só serve pra cobrar mais caro por qualquer coisa (alguém inventou que um rooftop vale mais do que uma laje ou um terraço porque é gringo. E quem acreditou, não sabe o que está perdendo) nem é novidade. Noel escreveu Não tem tradução em 1933.

Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone.

Por aqui, apesar dos jobs, pitches e storytellings com que sou obrigado a lidar, não me rendo. Pelo menos até alguém me convencer que arrumou palavras melhores que cumbuca e borogodó.

Duvideodó!

2024

Levando em conta os anos em que fiquei sem escrever aqui ou em qualquer lugar, dei-me o direito de fazer textão. E, como vocês sabem, papo de “ho-ho-ho” já era faz uma semana. Hoje é dia de “kkk”, “uhuuuu”, “tim-tim” e tudo o mais que pede uma boa festa.

É, festa, vocês sabem como é. Afinal, sobrevivemos de novo. Já pensaram sobre como a expressão “sobrevivemos a mais um ano” ganhou outro significado, outro peso (toneladas pra muita gente) desde 2020?

Hoje também é dia de muita gente olhar pra dentro de si e ficar pensativo. Ou fugir disso e se encontrar um tanto macambúzio (adoro essa palavra). Ciclos. “Ah, mas é só um dia no calendário…” É né, hoje é domingo, amanhã é segunda e vai a vida. Mas rituais são coisas boas, sua familiaridade nos dá o conforto que a máquina de moer gente em que a vida se transformou tenta nos roubar todos os dias. E não importa se é a praia no réveillon, o macarrão de domingo na casa da sogra ou os belisquetes com vinho de quinta-feira.

Rituais e ciclos. Também não é importante se o seu calendário pessoal começa em 1 de janeiro, na quarta-feira de cinzas ou em 29 de abril. Vale é dar aquela parada e – sem fugir – olhar pra dentro, quem sabe pegar caneta e papel, fazer a SWOT e rodar o PDCA da própria vida (sim, isso parece papo de coach de Linkedin, eu sei). Tô falando sério gente, não fui abduzido não.

Enfim, já faz uns cinco, seis anos, que #somostodoscomunistas (os bons, os bons!). E se chegou até aqui, eu te peço uma coisa em 2024: tenha “consciência de classe”. Olhe para o lado com amor e serenidade. Tente baixar a bola, diminuir o ritmo, falar mais baixo (eu sei como é difícil). Vamos lembrar que temos dois olhos, dois ouvidos e uma boca. E, assim, ouvir mais, olhar pro outro e ler com mais calma, e falar menos. Escutar ao invés de responder, reagir. E não, não estou falando só da sua casa, família. Tá todo mundo cansado de saber que amar o próximo, cuidar do próximo, não tem nada a ver com religião. É só ser humano.

Feliz Ano Novo!

…haverá sinais

Nesses dias me peguei pensando no prêmio da Mega da Virada. O bagulho está estimado em 570 milhões. De novo e por extenso, pra não restar dúvidas: quinhentos e setenta milhões de reais.

É dinheiro bagarai. Não consigo nem imaginar esse tanto de grana, concretamente, um substantivo comum ali na sua frente e ao alcance das mãos. E mesmo assim, se alguém ganhar sozinho, não estará entre os cerca de 2,5 mil brasileiros que têm dinheiro aplicado em fundos exclusivos e terão taxação especial, super ricos, esse papo. Vai vendo…

Outras coisas a pensar: se pretende jogar e espera ganhar, é bom abrir o olho e se precaver. Porque tem até reportagem sobre a “maldição da mega-sena”, sobre ganhadores que foram vítimas de crimes e assassinatos. Também não são poucos os ganhadores que – por se deslumbrarem e se descontrolarem – terminam absolutamente falidos e com dívidas até maiores do que o prêmio original. E esse é um fenômeno mundial (ainda pode falar mundial, ou é obrigado a usar global, a palavra da moda?).

Enfim, lembre-se do que sua avó dizia e Jorge Ben cantava: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Voltando ao prêmio deste ano, faltam poucos dias né, e já me peguei sonhando com a grana. E olha que nem tenho chance de ganhar sozinho. Porque entrei em um bolão. E mesmo assim, é grana. Então, além de se livrar de dívidas, melhorar a casa e organizar um fundo pra educação das crianças, sou obrigado a confessar que há aqui alguns fetiches né.

O bolão que entrei é de 100 cotas. Ganhando, pois, 5,7 milhões pra cada caboclo. Dá pra brincar um tico né. Aquela viagem romântica, atualização da coleção de discos, livros, legos, um veleiro… E se usar a cabeça, dá pra administrar direitinho e não chamar atenção, né não?

Será?

Eu queria ter uma rádio

É, tinha vontade mesmo. Uma rádio só com música brasileira. Não como a NovaBrasil que, ao contrário do slogan que repete cansativamente durante todo o dia, não é nova nem moderna. Só toca música velha e da mesma patota de sempre. E velha, nesse caso, não tem a ver com a data de lançamento. Sua única vantagem é que só toca música brasileira, o alento mínimo para quem gosta de rádio. Enfim…

Voltei a pensar nisso há algumas semanas, depois da vergonha que foi a posição da rádio em relação à Gaby Amarantos. E eu nem gosto da música que ela faz, mas não tem a ver com isso. Fui acostumado a ouvir rádio pra conhecer artistas, músicas, estilos diferentes. E isso é impossível hoje. Uma pena.

Sou desses que passa o dia trabalhando com música tocando o tempo todo. A cônge até diz que ouço muita música estranha (ela também, mas eu não conto essas coisas nem pra ela…). Não é verdade, acreditem, mas é que fico tentando encontrar coisas novas, fico futucando aplicativos e playlists, tentando driblar os algoritmos etc. E há muito tempo não vejo tanta gente produzindo tanto e tantas coisas diferentes por aqui. E com muita qualidade. Do funk ao sertanejo, passando pelos estilos que gosto de ouvir.

E não tem relação com eu gostar ou não disso ou daquilo. Mas eu queria ter uma rádio pra colocar esse povo que não tem espaço pra tocar, apresentar a turma, deixar quem ouve decidir se algo é bom ou não. E com muitos programas durante toda a programação, específicos para cada estilo. Com espaço pra todos os gêneros e programadores curiosos. E sem jabá.

Não, não sou idiota. Sei que tudo tem a ver com dinheiro. Apesar de acreditar que, com estratégia certa, tudo é viável.

Mas é isso, só queria contar pra vocês que tenho esse sonho mesmo. Eu queria ter uma rádio. Que desse créditos aos compositores. E seria feliz.

Movimento

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Quem passou por aqui antes, há poucos dias, lembra do meu bloquinho? Da lista de temas sobre o que escrever? Pois é, “movimento” era o primeiro. Mas é curioso como – sem mudar o ponto de partida – tudo virou de cabeça pra baixo na última semana. Melhor, ainda está virando.

É, muita coisa na minha vida quando comecei a lista estava me obrigando a me movimentar. E eu não gostava nada daquilo, daquela obrigação. Mas, ainda assim, tinha a intenção de pensar a respeito, de buscar o porquê daquilo tudo ser tão importante, o que havia de positivo etc etc etc. Mas…

Aristóteles falou sobre forças e movimento, Galileu o refutou e Newton resolveu tudo com sua primeira lei, a da Inércia. Resumindo, um corpo parado tende a ficar parado e um em movimento tende a ficar em movimento, até que alguma força seja aplicada sobre ele. E aqui eu quero contar o segredo: ainda que sem perceber ou entender o que fazia, eu apliquei uma baita força contra o que rolava, pra não ter que me mexer.

Outra coisa que vou contar: o nome dessa força contra que eu aplicava, em bom carioquês, é cagaço. É, não tão fino, mas muito preciso.

E se hoje eu consigo entender e nomear, é porque fui obrigado de tal forma a me mexer e a pensar a respeito que – agora posso dizer – funcionou. Não, eu não disse que resolveu, só que funcionou. Ser obrigado a me movimentar e a pensar funcionou.

E se falo disso hoje é porque reconheço não apenas o sentimento, mas cada passo.

Sobre tudo o que andei escrevendo e conversando nos últimos dias, ainda tem muita coisa pra resolver. Por exemplo, entrar em contato com algumas pessoas. Tive um bom almoço na semana passada, terei um grande encontro (mediado, combinado, arrumado) na próxima quarta. Respondi mensagem de gente com quem não falava há anos. Mas ainda há muita gente pra procurar. Será feito.

Por que a passo de cágado? Porque ainda é a velocidade que consigo. Porque é preciso lidar com muitos medos nesse processo.

Há outras mudanças sendo construídas, o que vai demandar muito movimento. E sabem quem está aí, de prontidão? O cagaço.

Racionalmente, é claro que eu sei que não tenho como controlar as reações das outras pessoas. Também é óbvio que não sei o que vai acontecer se eu tratar de me movimentar. Mas ficar parado, é aquilo né…?

Vi por aí que Exu nos ensinou a ser forte em 2023 para nos ensinar a vencer em 2024. Se tem alguém que sabe o tanto que preciso me mexer e que vitórias são essas que eu procuro… Sentinela e protetor, é o mensageiro e o Orixá da Comunicação. Acaso?

Que assim seja. Laroyê Exu!

50

No início do ano, foi ventilada a hipótese. Domingo, 26 de novembro, aquela roda bonita pra marcar a data. Mas, sabem como é né, aquele papo de noite longa e escura… Não rolou. Uma pena, mas também não é lá o fim do mundo. Agora, depois do retorno triunfal de ontem, dei com a cabeça perdida em tantas possibilidades de comemorar tão auspiciosa data do calendário mundial.

A verdade é que terei tantos cafés e chopes e almoços pela frente que vou tratar de colocar tudo no mesmo balaio, que ainda não sei se será o mês ou o ano inteiro celebrando tudo e todos.

50. E não dá pra reclamar da vida que tive até agora, essa é que é a verdade. Problemas, frustrações e arrependimentos, quem não os tem? E não quero nem lembrar dos dois piripaques que tive em dois anos pois, como podem ver, sigo devidamente desempacotado por aqui. E não precisa vir com papo de coach, pelamor heim. É vida o nome disso.

Como também é vida toda a parte boa do negócio. Amigos, amores, família (com a disfuncionalidade típica de qualquer outra família, não sou tão especial assim) e toda a diversão que vem no pacote. O tanto de show e filme e peças a que assisti, o tanto de música que ouvi e toquei e cantei, o tanto de gargalhadas que dei (no sábado, inclusive, teve uma que a cônge está tentando entender até agora a razão daquilo), o tanto de lágrimas que derramei, o tanto de mar que mergulhei, o tanto de estrada que já rodei, o tanto, o tanto, o tanto… Sim, é infinito.

50. Sim, quero parabéns, beijos e abraços, cafés e chopes. E quero mais um tanto de tempo tão infinito quanto o que já passou.

E festa. Assim, gostaria de avisar que o tema da roda do ano que vem já está até escolhido, originalíssimo. Esse mesmo que você pensou… Por hora, Juremá, é tocar reunir. Falta um ano e se organizar direitinho, todo mundo samba.

P.S. 1: não sou de fazer muita bagunça nem muita propaganda de aniversário como uns e outros por aí. Mas tenho cá os meus desejos. Na verdade, uma lista de desejos onde reuni coisas que preciso, que desejo e alguns fetiches. O objetivo era manter tudo organizado no clima “quando puder, resolvo isso, depois aquilo…”. Mas tá lá né, link aberto, cheia das ideias, a data é festiva, Papai Noel também passa já, vai que né…

P.S. 2: sabe aqueles vinis antigos que você ainda tem por aí, num canto da casa, sem vitrola pra tocar? Ainda tem? Pois eu aceito de bom grado, só marcar que vou buscar. E não é pra vender não, muito pelo contrário. É pra ouvir mesmo. E se algum deles não combinar comigo, eu levo para um dos sebos que frequento e que sempre precisam de ajudas e doações pra continuar existindo.

Salmo 30, 5

Eu tenho um bloquinho que passa o dia ao meu lado. Daqueles simples, pautado, com o tamanho de meia página de caderno. Ele fica ali o dia inteiro e me ajuda a trabalhar, vou anotando o que há de tarefas a fazer, recados a dar, mensagens a passar, ligações a fazer (é, eu sei que isso parece antigo, mas ainda há gente que se fala ao telefone…).

Sim, desse jeito simples e bem prático, vou produzindo. Sem scrums, kanbans, trelos, notions, planners ou coisa que os valha. Do que aprendi com uma certa @aproforganizada (vai lá, conheçam a moça), não há jeito certo ou perfeito para se organizar, mas o que funciona bem pra você.

Mas eu queria mesmo era falar do bloquinho. Porque nele há uma página com uma lista de temas sobre os quais quero escrever. Nada de fabuloso. Apenas temas, palavras soltas capazes de puxar um fio pelo qual eu possa derramar sentimentos, memórias, impressões corridas etc.

Comecei essa lista no início do ano, “movimento” o primeirão. Tinha relação – na época – com decisões, empurrões, trancos e barrancos que estava vivendo e que entendia importantes ao ponto de falar a respeito. Mas não falei. E a lista foi crescendo, mas não saía palavra. Sobre nada.

Não faz muito tempo, semanas, cheguei a desabafar sobre isso com o par com quem passo o dia a resolver os problemas que não são nossos com soluções que não são as ideais, rsrsrs. Enfim, falei sobre como escrever sempre foi o meu lugar, o meu porto, mas que há tempos e tempos não conseguia fazer nada brotar. Até ler um post do Anderson França (@blogandersonfranca) hoje cedo.

Salmo 30, 5. “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Lembrei de quando eu fiz EAC, 1987. Um casal palestrou sobre relacionamentos usou a mesma expressão de Anderson pra falar sobre as dificuldades: “suporte a noite”. Quase dez anos depois, em outra palestra no EJC de outra paróquia, o artista plástico com uma marca de tiro na testa que veio falar sobre dependências químicas falou o mesmo. “Suporte a noite”. Hoje, quase 20 anos depois, a mesma mensagem veio me visitar.

Como ele mesmo diz lá, quando conta sua história, o x da questão, o desafio é se manter lúcido durante as horas mais escuras e silenciosas. Porque a noite vai acabar, mas se você desistir e se entregar, quem a manhã vai encontrar quando chegar?

Não, não tenho essa resposta. Sinto que a manhã até está chegando (apesar de uma notícia difícil ter acabado de brotar), mas não sei dizer quem estará aqui pra receber o sol.

O que sei é que a noite é muito longa. E apesar de muitas vezes não perceber ou até não aceitar, nunca estive sozinho. Ela, apesar de mim, nunca deu um passo sequer pra se afastar. Os rapazes do GH, idem. A doida ranzinza (muito mais que eu, acreditem) e amada que deu um jeito de quebrar o muro. Amigos e amigas queridas, que também nunca desistiram, a quem devo um telefonema e um café, de Parati a Niterói, do Flamengo ao Grajaú, também davam um jeito de se fazer presença (mesmo e apesar de eu não ter respondido). Pai e irmã, então, nem sei como falar sobre.

Então, no fim das contas, tudo isso é pra contar pra vocês que estou voltando e pedir pra que vocês suportem a noite. E peçam ajuda. É sério. Eu tentei resolver tudo sozinho e é claro que não tem como isso dar certo.

P.S.: Só pra não esquecer, a tal lista do bloquinho vai sair do papel sem demora. Deu aquele estalo aqui. Só não sei se vai sobrar paciência pra vocês lerem.

Arrimo, bússola, inspiração

A vida mais separa que une. Essa é velha, vocês sabem disso. Mas a dor que lembrar disso traz não é menor a cada dia. E esse 2020 caprichou em nos lembrar disso. Que ano feladaputa, afinal de contas.

Apesar de tudo, com todo o cuidado, todo o radicalismo adotado por aqui – que até desgaste na família provocou – nos ajudou a levar em banho maria. Pra mim, ao menos, até novembro. Até 21 de novembro, quando aquela mensagem vinda de Fortaleza mudou tudo. “Nosso amigo querido faleceu”. E a maldita Covid bateu à porta.

Caius faleceu no dia 18, e o atraso da notícia dá bem a medida do afastamento que vivíamos já há algum tempo. Um amigo de quase 30 anos, calouros juntos que fomos. Passei uma noite inteira chorando, pensando na vó Geni e na Jorgete, que sempre me trataram como neto e filho, na Renata e no Gabriel. Porra Kaju!!!!

E depois dele, começou uma avalanche, amigos e amigas que perderam pais e avós em seguida, semanas seguidas de notícias trágicas, de velórios e missas de sétimo dia às quais não tive coragem e estrutura para comparecer. E desde então me fechei em silêncio na minha bolha caseira, sem acessar redes sociais, falando com pouquíssimas pessoas, com tudo agarrado dentro do peito mas sem força pra falar, pra escrever, pra qualquer coisa, ao mesmo tempo em que fazia força pra não receber mais notícias ruins. Até com vergonha de agradecer pelo quase milagre de que, em um país com quase 200 mil mortos, a família, em qualquer direção que se pense, não tomou nem um susto, todos bem e em paz.

Mas aí chegou a véspera de Natal e a primeira mensagem que piscou no meu celular foi da Isabel, “papai, é Natal, é Natal, é Natal!!!!”, uma alegria tão esfuziante e sincera que me obrigou a pensar no que sinto, no que acredito. Afinal, as partidas são sempre doloridas, como não, mas não é essa a vida, vir, viver, cumprir a missão (mesmo que não sejamos capazes de entender) e dar o fora? E o sentido da missão cumprida não deveria nos alegrar, nos deixar leves e orgulhosos por ter feito parte dessas missões?

Não sei mesmo responder.

E o que importa é que hoje é véspera de Natal. Dia de celebrarmos a vida, o nascimento de alguém tão especial que veio ao mundo, cumpriu sua missão, mudou a história do mundo e deu o fora.

É, admito que essa não é uma mensagem de Natal das mais festeiras. Mas o que desejo a todos é um Natal de paz, em casa, chorando nossas partidas e saudades, mas celebrando as vidas de quem passou por nossas vidas. E de quem está por aqui sendo, às vezes até sem perceber, nossos arrimos, nossas bússolas, nossas inspirações.

Espelhos e superficialidades

Como é bom falar sobre espelhos. E podemos começar com Rubens Ricupero. Lembram dele, ministro da Fazenda ali por 1994 e que foi pego por um sincericídio nos bastidores de uma entrevista que daria a Carlos Monforte e que, por azar (dele, claro) foi captado por parabólicas pouco antes de entrar ao vivo, não lembro se no Jornal Nacional ou da Globo.

Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde.

Pois bem, vivemos no país do “agora vai”, de ruptura em ruptura, de salvador da pátria em salvador da pátria, de mito em mito. Até que chegamos ao atual. Até um pombo seria melhor que ele, sabemos disso. E também sabemos as razões disso.

Mas lembrem-se que o objetivo é falar dos espelhos e da frase brilhante do ex-ministro.

O amigo Mario Leme, há alguns dias, disse aquele bom e velho óbvio ululante que, de tão óbvio, teimamos em não ver. Mesmo quando vemos.

Lula Livre não quer ser Lula Livre porque com Lula Livre não há Lula Livre.

Voltemos aos espelhos, pois.

Eliane Brum tem um texto brilhante. E escreveu trocentos artigos sobre o mito, todos desmontando o mito, todos (os que eu li) com muita razão. E todos compartilhados feericamente por muitos dos amigos que compõem minha bolha. Menos o último. Será por quê?

É da essência do maniqueísmo apagar as complexidades. Num país polarizado, o maniqueísmo serve aos dois polos. Ou é todo o mal, ou é todo o bem. (…) Nas entrevistas que Lula tem dado para preparar sua possível saída da prisão, ele deixa claro que seguirá apostando no fortalecimento do próprio mito.

Cliquem aqui e leiam o artigo. Inteiro. Até é sobre Belo Monte. Mas é sobre algo muito mais profundo que a maldita usina. E vamos enfiar nas nossas digníssimas cabeças, esses belos enfeites que balançamos sobre o pescoço: enquanto seguirmos na superficialidade, não chegaremos a qualquer lugar, seguiremos estacionados – como numa espécie de dimensão paralela – numa eterna Sucupira.