Sim, ando pensando muito em dinheiro. Não, não o tanto que preciso pra colocar a vida em dia. Não me sai da cabeça a quantidade de grana que é necessária pra ter salvo-conduto na vida.
Não faz muito tempo, semanas, que ficamos muito putos com o fato de Daniel Alves ter pago, primeiro, uma multa pra diminuir sua sentença e, depois, uma fiança milionária pra ficar em liberdade. Gritamos e esperneamos, eu inclusive, que a Espanha botou preço no estupro…
Vamos combinar né gente, nada de novo nissaí, talquêi. E a Espanha nem é exceção.
Outra caso, agora de dias: Fernando Sastre Filho. O sujeito que matou um motorista de aplicativo com seu carro milionário, a cerca de 130 km/h, fugiu do local sem prestar socorro, se apresentou na polícia no dia seguinte, foi liberado de boa. Sim, é bom lembrar que, independente do resultado de um eventual julgamento sobre culpa ou dolo, ele é um homicida. Mas demoramos um tantinho pra ligar nome à pessoa né. Porque as manchetes falam em empresário, nos contam que “o Porsche que bateu…” (como se andasse sozinho), já sabemos até quanto custa seu IPVA e que ele não tem seguro.
Só fiquei imaginando se, ao invés de um empresário branco em um carrão, tivesse sido motorista negro em uma van que tivesse provocado o acidente. Como teria sido o tratamento dispensado nessa hipótese? Basta olhar com calma para o massacre dos últimos meses na baixada santista que a resposta aparece.
Mas esse caso também não tem nada de novidade né. Vocês lembram do Thor Batista e do ajudante de caminhão que ele atropelou (e matou) na Rio-Petrópolis, Wanderson? Pois é, houve alguns acordos, mas que sempre se resumiram a dinheiro, cascalho.
E como não se trata só de morte e violência, há muitos outros casos famosos pelo mundo, como o casal de irmãos Shinawatra, da Tailândia, numa boa em Dubai; Josph Lau, de Macau, numa ótima em Hong Kong; o chinês Guo Wengui, tranquilo nos EUA; o brasileiro-libanês Carlos Ghosn que vive em paz em Beirute. Sem falar na turma da CBF que não pode nem pensar em cruzar qualquer fronteira, mas vive nababescamente no Brasil. E o pessoal do Flamengo, dirigentes que deveriam ser responsabilizados pela tragédia do Ninho…
A lista, como sabemos, é infinita. E a prática não começou ontem. Todo mundo sabe que o dinheiro, o quanto você tem, sempre livrou todo mundo. Ou quase, pelo menos. Tipo o recheio da sua carteira dizendo se você tem ou não direito a habeas corpus preventivo.
Não sei vocês, mas em mim essas coisas doem muito. Ah, como dói…
Porque sujeito comum que sou, fico sonhando em ter metade, um terço, um décimo do cacau, dos caraminguás que essa turma esconde no cofre, só pra resolver dívidas, ajustar a saúde, cuidar das minhas filhas como elas merecem e ajudar mais uma pá de gente.
Mas aí, daqui uma semana, tem uma confusão nova, algum escândalo inédito, a bagunça mais barulhenta dos últimos dias, e já não lembramos de mais nada. E o baile segue…