A pior coisa que um não fumante pode dizer a um fumante é algo como “você não sabe como isso faz mal…” Sinto muito por estragar sua expectativa de superioridade sobre os pobres fumantes, mas se há alguém que sabe como o cigarro faz mal, é o fumante. Sim, todos.
Histórias trágicas também não surtem efeito e ainda pode servir para afastar as pessoas. “Dos meus 12 irmãos, 11 morreram por causa do cigarro”. O fumante dá no pé porque não quer ouvir esse tipo de história, o contador de causos se afasta porque se sente desrespeitado em sua dor.
Mas ninguém é pior do que o ex-fumante. Porque esse já passou pelo perrengue de parar de fumar e precisa contar pra todo mundo o que fez, como fez e como passou a se sentir maravilhosamente bem depois de largar o vício. E sempre tira uma puta onda de como foi fácil.
No momento em que escrevo, sinceramente não sei se sou um fumante, um fumante tentando parar ou um ex-fumante. Porque não sei se vou aguentar, juro. Na verdade, estou escrevendo pra tentar lidar com a ansiedade que está nas nuvens e com a abstinência, aquela coisa de tentar se ocupar pra não pensar no assunto.
Hahahahahahahahaha!!!
A motivação é puramente econômica (7,50 X 30 dias) e o negócio começou na quarta-feira da semana passada, aproveitei uma espécie de janela de oportunidade quando o cigarro acabou no fim do dia e eu resolvi não comprar outro maço. E apenas uma pessoa sabia o que estava acontecendo, o que eu estava tentando fazer, porque a pior coisa que podemos enfrentar numa hora dessas é a patrulha né: “pô, mas você não parou?”
Enfim, na quinta consegui empurrar o primeiro cigarro do dia até umas quatro da tarde, quando já não aguentava mais a dor de cabeça, fora a ansiedade de sempre. Ao fim do dia, foram três ou quatro cigarros e até consegui manter a média por todo o fim de semana, até segunda-feira. Até que ontem, primeiro dia inteiro em casa depois de alguns dois ou três meses, eu perdi a mão e disparei a fumar e destruí o pouco mais de meio maço que tinha em mãos.
Mas bateu aquela culpa de jogar fora o esforço dos dias anteriores e, às cinco da tarde, quando acendi o último cigarro do maço, decidi que não compraria mais.
Junte a ansiedade natural com um dia de notícias profissionais bem mais ou menos e uma noite bem difícil em família. Pelas 10 da noite estava com uma baita duma dor de cabeça. Dor que me acordou três vezes pela madrugada. E que está aqui comigo agora, forte, bem forte. Enjoado que só, já vomitei duas vezes. E já fui ao banheiro três vezes. Tudo isso em pouco mais de duas horas acordado.
Está uma bosta, uma grande bosta! E pelo jeito vou ter que conviver com isso por algum tempo ainda, já vi por aí que pode até piorar um pouco. Chama-se abstinência. Neste momento, se alguém me entregasse um maço, eu colocaria os vinte cigarros acesos na boca ao mesmo tempo.
Aquela história de que a gente sabe que tem uma conta pra pagar. E que conta. E o corpo cobra. Comecei a fumar com 16 anos, hoje já estou quase nos 43, façam as contas aí. Houve períodos de fumar mais de dois maços por dia. Então, é claro que tá difícil. Bagarai!!! Mas vamos ver onde isso vai dar…