Justa homenagem

Então teve corrida no final de semana. Cingapura… Ô corridinha chata da porra. Como não pode deixar de ser em uma pista ruim. Circuito de rua, travado, estreito. Se não fosse a tal asa móvel, ninguém passaria ninguém. Mas mesmo as ultrapassagens que aconteceram não deram graça à disputa.

Como esperado, Vettel será campeão no Japão. Venceu de novo, sem muito esforço, e agora só falta um ponto para o resultado ser oficial. Button em segundo, em um pista que exige demais dos pneus, não é surpresa. O sujeito anda pilotando o fino e chega a dar tristeza não vê-lo disputando o título de verdade.

E no mais, nenhum grande comentário a se fazer a respeito. Até porque, a essa altura, se você gosta de corridas já leu todas as notícias e colunas e blogs a respeito, sobre tudo o que aconteceu – desde o piti de Massa até o erro grosseiro de Schumacher.

Pra quem vê corridas só para torcer para brasileiros, é muito bom ver que Senna já colocou Petrov no bolso. Mas o dinheiro do russo não é pouco e se Kubica voltar… E Barrichelo está realmente dando adeus à categoria, pois parece ser – hoje – a última opção da própria Williams. E não faria sentido aceitar correr em qualquer time nanico só para completar 20 anos de F1. Porque é daí pra baixo.

Suzuka é uma das poucas pistas clássicas que ainda aparecem no calendário. Então, mais uma decisão de título por lá soa até como justa homenagem ao automobilismo. E falta menos de duas semanas.

Chili com vodka

Juntem uma corrida que terminou às quatro e meia da manhã, uma boa dose de decepção, um domingo de muito calor com a família e pronto. Sinceramente, não deu vontade de parar em frente ao computador para escrever sobre Fórmula 1. Acho que, como todo mundo que gosta do negócio, esperava muito da corrida de Melbourne. Afinal, um monte de novidades e uma pista que geralmente nos oferece bons espetáculos. Mas não foi o caso. Vou por partes.

– Asa móvel: o que prometia transformar as corridas em um festival desmedido de ultrapassagens acabou não fazendo nem farofa. Entre carros com desempenho semelhantes, a geringonça acabou não influindo em nada e quem defendia posição levava sempre vantagem. Para se livrar mais rápido de retardatários, talvez seja útil. Mas aí é preciso dar sorte de encostar no carro mais lento na área que o uso da asa é permitido. Talvez, em pistas com retas colossais, como o GP da Malásia que acontecerá em duas semanas, o dispositivo faça alguma diferença real na briga por posições.

– Pneus: o asfalto liso das ruas de Melbourne acabaram não surtindo o efeito esperado. A maioria dos pilotos fez duas paradas (o que já era habitual), alguns fizeram três e um conseguiu chegar ao fim da prova com apenas um pit stop. O rendimento dos pneus têm, realmente, quedas bruscas – principalmente os mais macios – mas as disputas de posição acabaram não acontecendo. Quando alguém se aproximava, o da frente logo jogava seu carro no box para a troca, sabendo que o outro sujeito também teria que parar e tudo voltaria ao normal. Resta saber se também haverá uma espécie de comportamento padrão em Sepang, onde o calor promete ser altíssimo e o asfalto é muito mais poroso.

– Massa: parece que o piloto que lutou pelo título de 2008 se aposentou. Sua classificação foi ruim, prejudicada por uma rodada bisonha quando saía dos boxes com aquele que deveria ser seu melhor jogo de pneus na briga pela pole. Na corrida, começou com uma largada brilhante, em que ganhou quatro posições, mas logo perdeu rendimento e acabou sumindo depois da boa briga com Button. Foi engolido por Alonso. Apesar do mesmo número de paradas, nunca conseguiu andar no mesmo ritmo do espanhol e terminou em uma melancólica nona posição. Se mantiver o padrão durante o ano, teremos mais um brasileiro desempregado em dezembro.

– Ferrari: para o que prometeu durante a pré-temporada, desempenho abaixo da crítica. Mesmo Alonso, que terminou em quarto, nunca teve condições de brigar pelo pódio. Alonso largou muito mal, enquanto Vettel e Hamilton dispararam desde o início. Apesar de uma boa recuperação, o espanhol chegou à quarta posição sem qualquer chance de atacar o russo Petrov, que levou sua Renault (ou Lotus Renault, já não sei mais) ao pódio.

– McLaren: impressionante a virada que a equipe deu em tão pouco tempo e sem a possibilidade de testar. Saiu da Austrália como a grande rival da Red Bull para o ano. Se outros times vão entrar na briga, ainda não se sabe. Mas o time de Woking, especialmente Lewis Hamilton, será a pedra no sapato dos touros vermelhos.

– Red Bull: falar o quê? Que foi estranho o tamanho da diferença entre Vettel e Webber? Tá foi, mas isso não deve ser tão comum, acho que foi uma circunstância. Que Adrian Newey é fodástico? Todo mundo já sabe. Pois é tanto que até o boato sobre ele é duca. A equipe não confirmou (nem vai), mas o projetista desdenhou do KERS e, dizendo que só faz diferença mesmo na largada, teria criado um ‘mini-KERS’ que só funcionaria quando as luzes se apagam. Se é verdade, além de não gerar tanto calor durante toda uma corrida, ainda permite que a diferença de peso entre o aparelho tradicional e a tal invenção sirva como lastro distribuído para melhorar o equilíbrio do carro. Será que isso é verdade?

– Barrichelo: fim de semana para esquecer, desde a rodada infantil na classificação até o acidente que provocou em uma tentativa de ultrapassagem otimista demais (para ser educado). Foi possível confirmar que a Williams é um bom carro, que pode incomodar. Mas a falta de grana crônica do time não permitirá um ritmo de evolução como de outras equipes e deve acabar ficando um pouco pra trás.

– Chili com vodka: os grandes destaques da corrida foram o mexicano Sergio Pérez e o russo Vitaly Petrov. O primeiro, estreante com a pecha de piloto pagante, mostrou que não tem nada de bobo. Fez andar o bom carro da Sauber e, com apenas uma troca de pneus, terminou em sétimo, à frente do companheiro Kamui Kobayashi. Uma pena a desclassificação da Sauber por medidas erradas na asa traseira. Petrov é outro que chegou à F1 como pagante. É verdade que foi discreto (ou pior) no ano passado, mas andou bem desde o início do final de semana. Engoliu o experiente Heidfeld e chegou ao pódio. Talvez, o bom desempenho seja reflexo da ausência de Kubica, de sua sombra de grande piloto e líder da equipe. Enfim, olhando para o resultado de ontem, impossível não imaginar o que o polonês não seria capaz de fazer com o mesmo carro.

Agora resta esperar por Sepang, por saber do que a Ferrari é capaz de fazer para melhorar, por saber quanto tempo a Hispania irá existir, pela desculpa de Massa por não conseguir andar sequer em ritmo parecido ao de Alonso, por saber qual o tamanho da surra que a Red Bull aplicará nos outros no próximo GP.

Resta 1

Novidades na F1, com a confirmação da Hispania de que o indiano Narain Karthikevan será um de seus pilotos no próximo campeonato. Apoiado pela Tata, montadora indiana, o piloto voltará a pilotar um carro de fórmula 1 justamente no ano em que seu país entra no calendário. Afinal, não se pode perder uma oportunidade de marketing como essa, mesmo que seu carro ande pouco mais rápido que um fusquinha 1973. Pra completar, o chefe da equipe Colin Kolles também avisou aquilo que todo mundo já sabia, que “Bruno Senna não vai correr pela Hispania. 100% não”.

Ou seja, como era previsto, dos quatro brazucas que correram no ano passado, apenas dois seguem no grid. Caíram justamente os dois estreantes. Se vão continuar por ali, como terceiro, quarto ou quinto piloto, ainda não se sabe. Lucas Di Grassi e Bruno estão em silêncio há tempos.

O que achei curioso sobre a F1 é que o dinheiro que move o negócio é todo de patrocinadores. No entanto, a comunicação dos caras é furada em alguns pontos. Por exemplo, a Virgin que será Marussia não mudou nada no seu site, a não ser o anúncio de Jerome D’Ambrosio como novo piloto, notícia que já é velha.

No site da Hispania, os patrocinadores de Senna ainda estão lá. E na Williams, Pastor Maldonado já foi anunciado, mas patrocinadores que deram no pé no final do ano ainda aparecem enquanto os novos (PDVSA à frente) ainda não.

Além disso, a lista oficial de pilotos no site da categoria ainda apresenta cinco cockpits vazios apesar de, na verdade só existir uma vaga indefinida e outra aberta de verdade. Vejam abaixo.

Maus lençóis

Começou mal a temporada 2011 da Fórmula 1 para os brasileiros. Muito mal, na verdade. A semana começou com uma entrevista de Stefano Domenicali, chefe de equipe da Ferrari ao Corriere della Sera, avaliando o campeonato que mal terminou e já analisando o próximo ano. Vejam só o que ele disse sobre Felipe Massa.

Ogni pilota sa che se non porta risultati è il primo a pagarne le conseguenze. Felipe deve affrontare la prossima stagione sapendo che è fondamentale per lui, come pilota e come uomo Ferrari. (Todo piloto sabe que se ele não traz resultados é o primeiro a sofrer as consequências. Felipe tem que enfrentar a próxima temporada, sabendo que é fundamental para ele como piloto e como homem da Ferrari).

Além disso, ainda há trechos em que se refere a uma espécie de reconquista dos membros da equipe e inclui um recado sobre parar de reclamar do aquecimento dos pneus ao fim de treinos e corridas. Se para bom entendedor um ponto é frase, o que se pode dizer de declarações assim, parágrafos inteiros?

A outra novidade foi o anúncio, agora há pouco, da lista de equipes, pilotos e seus números para o próximo ano.

Como podem ver, Senna e Di Grassi não aparecem na lista. Sobre o primeiro sobrinho, há uma série de circunstâncias que envolvem a sua não apresentação como piloto da Lotus no ano que vem. Em tese, estava tudo certo: acordo firmado, a Lotus vem de motor Renault e seria preta e dourada, remetendo à primeira vitória de Ayrton na F1, em Estoril 85, e aos vários anos em que o time foi patrocinado pela John Player Special. Mas…

A Lotus que vimos neste ano é, na verdade, 1Malaysia com a cessão de uso do nome Lotus que é de propriedade da Proton. O problema é que a proprietária resolveu entrar na brincadeira, negociando com a Renault, e quer proibir a equipe atual de continuar com o nome. A briga já está na justiça, mas parece que o time atual já está entregando os pontos. Na GP2, por exemplo, a Proton vai estrear como Lotus em 2011 enquanto o time de Tony Fernandes será o Air Asia. E como o acordo com o primeiro sobrinho não foi adiante…

O que pode acontecer com ele, então? Muita coisa e nada. Pode continuar na Hispania (se é que ela estará mesmo no grid), o que contiuaria não o levando a lugar nenhum ou pode tentar uma vaga em uma das equipes que ainda não definiram pilotos ou pode ir embora da F1 ou pode até dar um passo atrás para, quem sabe no futuro, dar dois à frente, assinando como piloto de testes de algum grande time (é o que acho menos provável).

Depois dos fiascos de Cristian e Nelson Angelo, Bruno parece ser a confirmação de que nenhum dos nossos três sacros sobrenomes terão descendentes à altura.

Outro brasileiro que ainda não sabe o que fará em 2011 é Lucas di Grassi. Sua equipe (ou arremedo) foi vendida para uma fábrica de carros esportivos russos e, em 2011, será a Marussia Virgin Racing. Ainda não se sabe se os donos do dinheiro vão querer um russo imediatamente (e Deus sabe no lugar de quem) ou se investirão na equipe com os pilotos atuais – Glock e di Grassi – até que a equipe se desenvolva de verdade para, então, apostar em um piloto da casa sem queimá-lo (seja lá quem for) em carros ruins.

No final das contas, o brasileiro em melhor situação – mesmo sem qualquer chances de disputar o título –  é o quase ancião Rubens Barrichelo. Na Williams, conseguiu desenvolver um carro muito limitado em um time com orçamento muito limitado e salvar um ano que começou muito mal, conseguindo resultados frequentes na zona de pontos, com atuações convincentes e até passagens épicas, como a ultrapassagem sobre Schumacher na Hungria.

O que é estranho é a não confirmação de Pastor Maldonado ao lado do brasileiro. Será que o dinheiro da PDVSA não chegou? E o que faria o time que já agradeceu a Hülkenberg pelos serviços prestados?

Entre todos os outros pilotos e equipes, poucas novidades. Como era esperado, os quatro times principais mantém sua dupla de motoristas. Na Renault, Petrov está quase confirmado ao lado de Kubica para sua segunda temporada, independente da confusão Lotus X Lotus. A Toro Rosso é outra que terá novidades. Apesar de oficialmente ainda não estar lá, vai continuar com a dupla Buemi e Alguersuari. Por fim, o único time que realmente está indefinido é a Force India, sobre a qual não me arrisco a fazer comentários, pois há boatos de que – mesmo contra a vontade da equipe – Liuzzi faria valer uma cláusula de seu contrato para continuar.

Vale lembrar que essa é só a primeira lista. Será que muita coisa muda até o início da pré-temporada?

2ª edição

Pastor Maldonado foi confirmado hoje como piloto da Williams para, em 2011, correr ao lado de Barrichelo. O acordo é de dois anos e, de acordo com Victor Martins,  a PDVSA vai desembolsar aproximadamente R$ 60 milhões pelas duas temporadas. Resta saber se o carro continuará azul e branco ou se vai assumir tons de vinho e quanto tem vai demorar para que Hugo Chavez resolva construir um autódromo e pleitear a presença da Fórmula 1 na Venezuela.

Pista de verdade, corrida de verdade

Uma pena que a corrida festiva de Barrichelo tenha terminado logo na primeira volta. Pena porque dava pinta que faria um bom resultado, o carro tem sido efetivamente consistente. Uma pena porque, da maneira que a prova se desenhou, Rubens poderia ter alcançado um excelente resultado.

Além da nota triste para o piloto brasileiro, o final de semana belga – pela enésima vez – confirmou que o primeiro item para se ter uma boa corrida é ter uma boa pista. Se, como em Spa, o clima aprontar, melhor ainda.

Entre os cinco que (ainda) lutam pelo título, o primeiro destaque vai para Alonso, que teve corrida pra apagar da história. Abalroado por Barrichello na primeira volta, foi aos boxes para consertar o carro e aproveitou, com a chuva chegando, para colocar pneus intermediários. Deu azar, porque a chuva no início foi apenas para dar um tempero e parou logo. O espanhol precisou retrocar pneus. Partiu como um louco do fundo do pelotão e fez uma belíssima prova até que, com a água que voltou no final, pisou além da zebra, bateu e deu adeus à disputa. Ainda tem chances, mas muito remotas. A não ser que os quatro que estão à frente tenham – pelo menos – dois finais de semana desastrados entre os seis que faltam para o campeonato.

O segundo destaque foi o acidente entre Vettel e Button. Muita gente tentou sacrificar o jovem alemão que, por erros bobos, está desperdiçando o campeonato. No acidente do domingo, no entanto, não vi tanta culpa do garoto. Ele estava lutando por posição, entrou no vácuo e… Várias possibilidades. Uma pequena tirada de pé de Button um pouco antes da hora obrigaria Vettel a tirar o carro de repente, de maneira brusca ao ponto de perder seu controle? Ao tirar o carro para tentar a ultrapassagem, a combinação perda de pressão aerodinâmica e pista úmida o fez perder o controle? Na verdade, não importa muito, foi mesmo um acidente de corrida e puni-lo por isso soa como um aviso da FIA para que os pilotos não tentem ultrapassar ou fazer qualquer manobra mais arriscada.

No final Button saiu da prova, como Alonso, e Vettel não pontuou. Como o espanhol, ainda têm chances, mas dependem de problemas dos dois que estão à frente.

E aí, vamos ao que interessa: com o resultado de Spa – e caso nada de anormal aconteça nas próximas provas -, o campeonato tende a ficar polarizado entre Hamilton, novo líder, e Webber. McLaren já deposita suas fichas no jovem campeão e já aponta o australiano como grande adversário. Curiosamente, apesar da distância de 28 pontos entre seus pilotos, avisou que ainda não vai priorizar ninguém. Surreal? Talvez. No fundo, mais uma confirmação de que o queridinho da equipe é mesmo Vettel. Mas Helmut Marko precisa entender que para tudo há limites, inclusive a teimosia. Ou corre o risco de perder o campeonato mais ganho dos últimos anos.

No mais, esperar duas semanas por Monza, a pista mais rápida do ano, mais um circuito clássico. Historicamente, uma corrida seca. Ou seja, motores e pneus serão fundamentais. Sinceramente, estou torcendo pelo título de Webber.

300


E finalmente volto a falar de coisas amenas. Porque depois das férias de verão, na Europa claro, a F1 volta à pista nesse final de semana. Em Spa, um dos últimos circuitos de verdade que restaram na temporada. Faltam sete corridas para o fim do campeonato e 20 pontos separam os cinco primeiros colocados. Mas neste final de semana, isso quase não é importante.

Rubens Barrichello (até hoje ainda não tenho certeza se é com um ou dois eles) alcançará a marca de 300 GP disputados. São 17 anos na categoria e, pelo andar da carruagem, o veremos em pelo menos mais um, pois já está com o contrato de renovação com a Williams praticamente assinado.

O tema será mais do que explorado ao longo do final de semana em todos os sites, TV e jornais, especializados ou não, que cobrem a F1. Então não vou tentar falar nenhuma novidade, notícias quentes vocês devem procurar por aí.

Poderia também, falar sobre a língua e o temperamento que se permitiu transformar no herdeiro e substituto de Senna, poderia falar de sua má sorte assustadora, poderia reclamar de novo do ufanismo surreal da Globo e de Galvão Bueno que há décadas presta um enorme desserviço ao brasileiro que gosta de qualquer esporte, torcendo ao invés de informar e formar novos amantes do esporte.

A verdade é que Rubinho é e sempre foi um puta dum piloto. Muito melhor, por exemplo, que Damon Hill que chegou a ser campeão mundial. Não é por acaso que está até hoje na categoria.

Guardo dois momentos especiais da carreira de Rubens. O primeiro, em seu ano de estréia, pela Jordan. Na corrida que dizem que Senna fez a melhor primeira volta da história, quando largou em quarto, caiu pra quinto e terminou o primeiro giro já na liderança. Donington Park, 1993, sob chuva. Barrichello largou em 12º e terminou a primeira volta em quarto.

O segundo foi a primeira vitória de Rubens na F1, em Hockenheim, em 2000. A prova ainda era disputada no traçado antigo, com suas enormes retas e em meio à Floresta Negra. A prova foi um tanto confusa, com entrada do safety car e até um invasor, mas a vitória foi marcada pela decisão de Barrichello por ficar na pista, com pneu para pista seca, quando começou a chover.

Apesar da decisão arriscada, Rubinho não tem nada de louco. Como o circuito era enorme, chovia em uma pequena parte, ao redor do estádio e próximo dos boxes, mas em toda a área da floresta a pista continuava seca. Todo mundo parou e o brasileiro se beneficiou por estar com pneus mais adequados aos trechos de maior velocidade. Só precisava se manter no traçado, mesmo que a passo de cágado, onde estava chovendo, justamente onde era mais difícil pelo número de curvas mas onde perderia menos tempo.

Além disso, os pilotos que trocaram pneus, tinham um grande desgaste na pista seca e também não conseguiam forçar a aproximação no trecho molhado. Como se fosse pouco, vale lembrar que Rubinho largou em 18º. Resumindo, uma corrida pra história.

Pra lembrar, um vídeo com as últimas quatro voltas daquela corrida e, o melhor, sem a narração do Galvão. Só não sei se vocês vão entender alguma coisa…

Observações sobre um jubileu de prata

E ontem eu consegui uma coisa que havia tempo não fazia. Assistir ao vivo a uma corrida inteira de F1. E eu cheguei a praguejar contra o senso de humor mórbido do que costuma-se chamar de destino que, fazendo das suas, reservou o GP da Hungria, um dos mais chatos e previsíveis de toda a temporada para o meu retorno. Ledo engano…

Como aconteceu bastante coisa interessante, vou por partes para tentar ser mais curto.

– Alguém precisa, urgentemente, calar a boca do Galvão. Além da chatice de sempre e de várias trocas de nomes de pilotos (também habitual), tentar comparar Vettel a grandes nomes da história é uma covardia com o garoto e mais um dos muitos desserviços que ele presta a quem assiste F1. E por causa dele, muita gente até agora não entendeu que Vettel não ultrapassou Alonso por falta de coragem ou habilidade. Sem que o espanhol cometesse qualquer tipo de erro, era simplesmente impossível ele se aproximar do carro da frente dentro da curva para forçar a ultrapassagem na reta. Pelo contrário, ao tentar se aproximar, quase saiu da pista duas ou três vezes e o mesmo aconteceria com qualquer um.

– Weber deu um show de habilidade e precisão, andando muito forte e sem cometer erros. Soube usar e abusar do fato de ter um carro equilibrado para consumir pouco pneu e – graças à punição de Vettel – vencer e assumir a liderança do campeonato.

– Será que as férias de verão ajudarão a McLaren a voltar ao campeonato. Do jeito que está, é melhor pensar no carro do ano que vem.

– Apesar da vergonha da semana passada, a Ferrari confirmou o bom momento e o fato de – por hora – ser o único time com alguma chance de lutar contra a Red Bull. Mesmo assim, a impressão é de que o time das latinhas mais perde pontos do que os outros ganham.

– Depois de cumprir a ordem da equipe na semana passada, Massa deu entrevista dizendo que enquanto houver chances matemáticas o fato não se repetirá, que o seu país é o mais importante pra ele, que isso e aquilo e coisa e tal. Mas para não dar passagem a Alonso, com ou sem ordem, é preciso estar à frente do espanhol, o que raramente conseguiu este ano. Depois de toda a confusão da semana passada, deve tomar um chá de sumiço durante as férias que só terminam no último final de semana de agosto, em SPA.

– Ao ver as cagadas de Renault e Mercedes nos boxes, não conseguir ficar sem cantarolar a musica dos trapalhões. Há muito tempo não via tamanha incompetência em um espaço de tempo tão curto.

– Antes de elogiar o brasileiro e meter o pau no alemão, é preciso entender porque Barrichelo conseguiu ultrapassar Schumacher, enquanto Vetel gramava atrás de Alonso. Rubens andava muito mais forte, com pneus novos e macios; Michael tinha problemas de equilíbrio e pneus desgastados, o que provocou uma pequena rabeada na entrada da curva que leva à reta dos boxes de Hungaroring. Por conta disso, Rubens conseguiu sair da curva embutido, apesar da turbulência, pegar o vácuo e colocar de lado para ganhar a posição e o pontinho que lhe coube.

– Ficar surpreso com a atitude de Schumacher é uma parvalhice. O sujeito tem a maior coleção de polêmicas e punições da história da F1. Some-se seu estilo Dick Vigarista à relação nada amigável com Barrichelo, e pronto. Agora, a punição que lhe foi dada é uma vergonha, não diz nada a ninguém.

– A ultrapassagem de Barrichelo foi sensacional, mostrando mais uma vez que é sim um grande piloto e não está na categoria até hoje por acaso. Uma pena apenas a sua postura e discurso (que a emissora oficial adora) depois da corrida, com lágrimas etc.

– Coincidência que ao comemorar seu jubileu de prata, o grande prêmio magiar tenha visto, como na primeira edição, um brasileiro a bordo de uma Williams ser o grande personagem da prova? A diferença é que em 86, Piquet fez sobre Senna a que é considerada a maior ultrapassagem da F1 moderna para vencer a corrida. Ontem, Rubens brigou para chegar em décimo. Sinal dos tempos.

Fórmula 171

Eu devia ter uns cinco ou seis anos quando ganhei um carro de fricção, preto com detalhes dourados, com duas asas. Provavelmente já sabia que aquilo era um Fórmula 1, o que não significa que entendesse o significado disso. Gostava do carro porque cruzava a sala de ponta a ponta, em alta velocidade.

Com o tempo, aquele carro ficou de lado e, acompanhando as corridas de Nélson Piquet, comecei a entender o que eram aquelas corridas e tive até a dimensão de quem foi Emerson Fittipaldi e o que era aquela Lotus.

Torci pelo Piquet. Mas me apaixonei mesmo pelas corridas. E com o tempo entendi como funcionava aquele negócio, a disputa dos pilotos e escuderias, o que era o jogo de equipe, quem eram os grandes ases e quais eram os grandes times. E com a aposentadoria de Nélson, deixei de ser um torcedor de pilotos e passei a querer assistir grandes corridas.

É claro que sempre se simpatiza com um ou outro, mas sempre olhei para os caras que ficavam atrás dos volantes sem me preocupar com o lugar onde tinham nascido. Nunca torci pelo Senna, por exemplo, apesar de apreciar seu arrojo.

Até que um dia apareceu um certo alemão que, com status de primeiro-piloto-praticamente-dono-da-ferrari, ao lado de Jean Todt e Ross Brawn, extrapolaram o conceito de jogo de equipe. O ápice foi o GP da Áustria de 2002, em que Rubens Barrichelo jogou a merda no ventilador ao quase parar seu carro a poucos metros da linha de chegada, permitindo a vitória do alemão. Foi um escândalo. E por conta disso, até novas regras foram criadas pela categoria.

2010 tem sido um ano especial na categoria. Apesar das dificuldades em se ultrapassar, pelas características de carros e pistas atuais, grandes duplas de equipes têm protagonizado disputas inesquecíveis, o caso de Vettel e Webber na Red Bull, Hamilton e Button na McLaren. E o mesmo se esperava de Alonso e Massa na Ferrari.

Até que o time italiano (Domenicalli à frente), o espanhol mimado e de caráter duvidoso, e o brasileiro fraco, sem atitude, sem hombridade, estragaram tudo.

Para mim, nos dois episódios, mais grave do que o jogo de equipe extremo foram as posturas dos dois brasileiros. Barrichelo expôs a farsa ao freiar quase na linha de chegada, mas depois se agarrou no discurso do “só um brasileirinho contra o mundo”. Massa, a despeito do que todo mundo viu e ouviu, primeiro fez cara de emburrado para depois dizer que foi uma decisão sua.

Não acho que a Fórmula 1 acabou ou vai acabar por causa disso. Assim como eu, milhões de pessoas continuam gostando das corridas. Mas episódios como o de domingo confirma a tese de que, mais do que um esporte, a F1 é um negócio. Um negócio que pode ser divertido para quem assiste.

Mas o que a Ferrari fez (de novo) pode sim espantar uma boa parcela de público, mesmo que temporariamente, que espera por disputas limpas e reais. Isso pode espantar patrocinadores que pagam as contas que garantem os carros na pista e tudo pode ficar muito mais difícil. Mas depois passa, como sempre.

E se você quer continuar ou começar a assistir corridas de F1, não esqueçam de não torcer por ninguém. Apenas apreciem o espetáculo. Porque da mesma maneira que nossa seleção não é a pátria de chuteiras, os pilotos brasileiros não são a pátria sobre rodas. Ou vão se decepcionar…

Muito além da Jabulani

Sei que o mundo não parou por causa da Copa. Mas quase. Um exemplo é a Fórmula 1, que sempre comentei aqui e para o quê não tenho dado a mínima desde que a bola começou a rolar na terra do Mandela.

Ontem, por exemplo, teve corrida. Mas com jogo às 11 e às 15h30, aproveito o pouco tempo que sobra no dia para cuidar de outras coisas, como passear com as cachorras e tomar caldo de cana com pastel na feira.

Sei que algumas coisas importantes foram decididas nos últimos dias, como a confirmação da Pirelli como nova fornecedora de pneus da categoria (antecipada aqui) e a volta da regra dos 107%, da qual discordo e vou comentar outro dia. Ontem, me dei por satisfeito por ver a largada e assistir, boquiaberto, Lewis Hamilton ultrapassar o safety car. E fiquei pasmo ao saber, horas depois, que Barrichelo e sua Williams cruzaram a linha de chegada na quarta posição. Pelo jeito, se não foi uma corrida para a história, parece ter sido animada.

Mas 11 de julho a Jabulani para de rolar e tudo voltará ao normal.

La Côte d’Azur sur les pilules

Domingo tem corrida em Mônaco. Uma pista que praticamente não mudou em 70 anos, o que nos faz chegar facilmente à conclusão de que a F1 não cabe ali. Se compararmos então com todos os autódromos e suas exigências de segurança, não dá pra entender como é que a F1 ainda vai ao principado. Dá pra perceber isso no vídeo abaixo, em que Mark Webber apresenta a pista.

Mas há a tradição e a grana, e tudo o que pode derivar destes dois aspectos. Enfim, a corrida em que não se pode pensar em errar, devido à proximidade constante dos guard rails, pode até ter surpresas. Mas se o tempo estiver bom e a largada for tranqüila, sem problemas na primeira curva, quem completar a primeira volta na frente deve terminar a corrida na frente. Mas há algumas variáveis que devemos levar em conta.

A classificação pode embaralhar muito o grid. Não é por ter 24 carros numa pista pequena e apertada. É por ter quatro carros andando a passo de cágado e dois a passo de cágado centenário. Esse tráfego pode provocar surpresas. E, se dois ou três dos favoritos largarem no fundo, não necessariamente conseguirão escalar o pelotão. Porque para ultrapassar em Mônaco, o cara da frente tem que deixar, bater ou dormir. Para quem duvida, basta lembrar o que Enrique Bernoldi (com uma Arrows) fez com David Coulthard em 2001, segurando o escocês por mais da metade da corrida.

A chuva é outra variável importante e há grande chance dela dar as caras e animar bastante a corrida. Nesse caso, não se deve esperar nada de Massa, Rubinho pode andar bem, Hamilton é favorito à vitória e as nanicas…

Das nanicas, ninguém deve esperar nada em hipótese alguma. Quando se fala em chuva em Mônaco, é comum lembrar do que Ayrton Senna fez com a Toleman em 1984. Seco ou molhado, Mônaco é uma pista que pede um carro extremamente equilibrado, com forte aderência mecânica. Aquela Toleman tinha um chassi sensacional e um piloto excepcional. Nada parecido com o cenário atual.

Nas CNTP, Red Bull e Ferrari (Alonso) devem brigar pela primeira fila. Mas como tudo é muito lento e os grandes pilotos podem sobressair, não me assustaria se visse Kubica, Hamilton e Schumacher na briga. Para a corrida, em qualquer condição, não descartaria Button e Rosberg.

Petites mises

Infelizmente, não estou no principado. Mas boatos correm soltos por lá, é possível ouví-los do Rio. Não vou comentar todos os pilotos que foram indicados como substitutos de Massa na Ferrari nem a especulação sobre sua ida para a Red Bull. Mas vou fazer pequenas apostas para a temporada 2011 e depois veremos o que acertei:

– As equipes pediram para a Bridgestone continuar na F1 e a Michelin quer voltar, mas é a Pirelli quem calçará os carros a partir do ano que vem.

– Hispania terminará o ano na marra e não correrá em 2011.

– Para a vaga aberta e em substituição ao time espanhol, Epsilon Euskadi e Art Grand Prix disputarão a próxima temporada.

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

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