O que não pode ser, mas é

Hoje passei pra contar a história de uma multa que não deveria nem existir. Mas, como diria o filósofo Capitão Nascimento, “o sistema é foda!” E, de acordo com dois guardas municipais com quem conversei, não é confiável.

Daqui, resta a torcida (ingênua e tênue) de que a Ilustríssima Sra. Dra. Maína Celidonio, secretária de transportes da cidade do Rio de Janeiro, e o prefeito Eduardo Paes tomem conhecimento do ocorrido. Duvidodó, mas vai que… Ao início, pois.

No dia 9 de janeiro de 2024, minha cônje, namorida, companheira etc. recebeu a notificação de uma infração de trânsito cometida por mim, no dia 25 de dezembro de 2023, enquanto transitava pela nada bucólica Rua São Francisco Xavier, com minha irmã e minhas filhas, para o almoço de Natal. No mesmo dia, por meio de aplicativo, ela me nomeou como o real infrator e eu aceitei. Mas qual não foi minha surpresa ao identificar a infração cometida? Vejam as imagens.

Fui multado por transitar em uma faixa exclusiva para transportes públicos (ônibus etc.) em um dia em que a referida faixa não é exclusiva. Ou Natal não é feriado?

Aí você pensa: “Ah, moleza, erro técnico, fácil de resolver”. E foi nesse momento que o sistema, aquele é que é foda, sambou na cara da sociedade. Na minha cara.

Por vários dias, pelo passo a passo do portal Carioca Digital, eu era enviado para o Radar. Primeiro, a multa não aparecia. Depois, o condutor (apesar de eu ser indicado como real infrator) não era identificado. E por fim, o sistema estava fora do ar e não respondia mais nada. Até que chegou o prazo (deadline para os mais novos) para realizar a defesa prévia. Me dirigi à ao posto do Detran e à Região Administrativa de Vila Isabel, para buscar orientações. E fui encaminhado para a RA do Méier (que fica no Engenho Novo), onde poderia realizar os procedimentos presencialmente.

Ao chegar lá, qual não foi minha surpresa. Ao ser atendido por um rapaz até solícito, fui informado que era ali mesmo, mas que ele não conseguia fazer nada porque estava sem impressora e o sistema estava fora do ar. “Talvez você consiga em Irajá…” Pelo horário e circunstâncias do dia, nem tentei ir até lá, não havia tempo suficiente.

Tentei, de novo, pelo Carioca Digital, encontrar um caminho. Mas não encontrei orientações sobre como proceder, quais são os passos a partir de agora. O que se ouve por aí é terrível. “Agora só com despachante”, “Tem que arrumar advogado”, “Vai custar uma fortuna”.

Tudo isso por uma multa que não deveria nem existir. E agora voltamos aos GM com quem conversei. Um deles me disse claramente: “Não ande nessas faixas nem acredite nessas placas de sinal de trânsito que não funcionam de madrugada. Já tenho quase dois mil de multas pra pagar.” O outro, ao lado, completou: “Não mesmo, o sistema não é confiável. Fui multado no dia 3 de janeiro às duas e pouco da manhã. Tava lá a placa de que não tem multa das 22 às 6h. Agora tenho que pagar essa bomba”.

Claro que não vou citar seus nomes né… Então, além do desabafo, a história serve como aviso para os amigos. E se alguém tiver alguma dica ou forma de me ajudar, agradeço penhorado.

Barqueata

Revoada do saneamento (barqueata)

Só vai piorar (2)

ExecucaoQuando discordo de alguém, a última coisa que faço é tentar desqualificar esse alguém. Tento entender seus argumentos e, então, rebatê-los. Seja com opiniões ou informações. É que fui educado para respeitar as pessoas e o direito de cada um à sua própria opinião. Mesmo que eu ache ridículo ou daí pra pior.

Agora, vejam o que estão fazendo com Rachel Sheherazade, a comentarista do SBT. Até a demissão dela e processo por apologia ao crime estão sendo “exigidos” por aí. Por quê, ora bolas? Porque ela tem uma opinião diferente do que é bonitinho?

Leiam o que ela disse sobre o caso do moleque que foi preso nu a um poste no Rio, depois de levar uma baita surra e até perder um pedaço da orelha.

O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que, ao invés de prestar queixa contra seus agressores, preferiu fugir antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que pau de galinheiro.

Rachel SheherazadeNo país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível. O Estado é omisso, a polícia é desmoralizada, a Justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem que, ainda por cima, foi desarmado? Se defender, é claro.

O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite. E, aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido.

Nos dois primeiros parágrafos, o que foi que ela disse diferente de mim, que sou um completo desconhecido? Que é fácil entender o que houve e por que houve? Ora, é claro que é. Eu, por exemplo, sou completamente contra a justiça pelas próprias mãos. E ela? Nem isso fica claro no texto. E mesmo que fosse (ou seja) a favor, ter opinião é crime? Façam-me o favor.

Capa ExtraE o seu último parágrafo, será que eu concordo? Não. Essa história de legítima defesa devolvendo a violência, eu chamo de barbárie. Mas ela tem o direito de pensar assim e dizer. E isso não dá a ninguém de fazer campanha contra a moça, pretendendo calá-la e acabar com a carreira e até com a vida da moça. Srs, todo mundo tem o direito de pensar diferente de nós e todo mundo tem o direito de dizer o que pensa. E, simplesmente, dizer o que pensa, não é nem nunca foi apologia a crime nenhum.

E enquanto está todo mundo gritando contra uma jornalista que disse o que pensa, perde-se tempo em cuidar do que se deve. Porque só vai piorar. E muito. Porque eu não tenho dúvidas de que a esquerda-caviar-politicamente-correta, que adora fazer discurso pelos direitos humanos, vai continuar gritando a favor do lado errado.ONG X PM

 

Só vai piorar

Pivete preso em poste no Rio  /  Foto: Yvonne Bezerra de Mello/ Arquivo Pessoal  /  Reprodução G1Foi só eu reclamar que andava faltando assunto, e pronto. A bola quicou na minha frente. Eu, que sempre fui um baita perna de pau, corro o risco de mandar a redonda na lua. Mas vamos em frente.

Primeiro é preciso dizer que não sou nada a favor da ‘justiça pelas próprias mãos’, ‘olho por olho, dente por dente’ e congêneres. Simplesmente porque posturas e comportamentos do tipo só fazem girar e acelerar a roda nada virtuosa. E, afinal de contas, somos pretensamente civilizados e temos leis.

Agora, antes de começar, peço a todos que me xinguem: facista, nazista e quaiquer outros nomes nada bonitos do tipo são aceitos. E sim, façam por antecipação.

Eu tenho ódio mortal dessa turma bonitinha e corretinha que vive a gritar por direitos humanos. Só porque em 95% dos casos, estão preocupados com os algozes ao invés de pensar nas vítimas. Nada demais, como se vê.

A grita do momento no Rio é por causa de um garoto que foi levemente surrado, perdeu um pedaço da orelha e foi amarrado nu, com uma tranca de bicicleta, em um poste. O garoto, que é menor (!!) e suposto praticante de roubos, já tem três anotações na polícia – justamente por roubos e furtos – e fugiu do hospital para onde foi levado. Um anjo de 15 anos que, é claro, não sabe o que faz. Mas nada disso justifica a violência com que foi tratado, embora um pouco de esforço permita entender porque aconteceu.

Fui jovem no Rio de Brizola, o que diz muito sobre o tipo de cidade que conheci. Fui assaltado com arma na cabeça, sem arma na cabeça, meu prédio foi atacado naquele esquema de render geral e fazer a limpa. Mas a última vez foi um assalto que sofri num ônibus quando voltava da faculdade, há mais de 20 anos.

Toda cidade grande tem violência, claro. Mas o perfil do Rio, com o apoderamento do tráfico, mudou. E a cidade se desacostumou a enfrentar essa violência de rua. Mas hoje, só na zona Sul, esses eventos quase dobraram. E não achei os dados sobre o resto da cidade (a Tijuca, onde moro, e os bairros ao redor estão perigosíssimos).

Pois viva as redes sociais. Apesar dos números oficiais não retratarem a realidade (porque ainda é pequeno o número de pessoas que faz o registro), é alarmante perceber que dia a dia só aumentam as histórias e postagens (boa parte com fotos) de roubos e furtos. E cada vez mais violentos, pontencializados pela praga do crack. E agora chegamos ao ponto.

Por causa da droga, tudo virou um problema social. Desculpem meus amigos, mas não é. Nem todo toxicômano é bandido, nem todo pobre é bandido, nem todo bandido é viciado, nem todo bandido é pobre (Brasília que o diga, mas isso é outro assunto).

Então, uma coisa é problema social. Outra é o problema de polícia, a violência. São sim coisas distintas que, muitas vezes se permeiam. Mas não necessariamente. O Rio, hoje, sofre com as duas coisas.

Sobre o problema social, muito discurso, debate e programas inteiros em vários canais de TV. Mas pouquíssima ou nenhuma ação. E a violência é problema de polícia, que também não é eficiente. E por isso estamos correndo o risco de chegar à barbárie.

Sobre a droga, quando o estado não age, a população não tem muito o que fazer. Mas sobre a violência…

O garoto que foi preso ao poste não é um caso isolado. Em vários pontos da cidade, há grupos se organizando para dar corretivos em marginais. Isso está certo? Claro que não. Mas se a polícia não age… A diferença do caso que foi parar no jornal é que amarraram o garoto e tudo aconteceu no paraíso da esquerda-caviar-politicamente-correta que adoram posar de salvadora e defensora da massa ignara, desde que ela nunca deixe de ser a massa ignara. E, de preferência, pobre pra justificar o discurso. Só por isso virou notícia de jornal.

O número de assaltos e agressões nas ruas, invasões de casas e condomínios, roubos de carro, assaltos a ônibus, roubos de bares e outros eventos do tipo só faz aumentar. E quando o estado não resolve, abre espaço para a reação da sociedade. Que pode ser a melhor possível, mas também pode ser a pior. Foi o que aconteceu com o menino do poste e vai continuar acontecendo enquanto as coisas não forem resolvidas. Infelizmente, é “natural”.

Enquanto o estado e a sociedade (ongs e outras entidades) continuarem a confundir problema de polícia com problema social, romantizando as coisas como se compusessem um belo samba, o horizonte vai ficar cada vez mais negro. Tenho dito que estamos no limiar dos anos Brizola e amigos dizem que sou apocalíptico. Sei não. Toda vez que ouço essa gracinha, infelizmente acerto. E agora, temos o agravante da reação. E a roda gira.

P.S.: sempre disse que as UPP eram um achado de marketing e que o Rio não tinha política de segurança séria. Pois agora que as meninas dos olhos já começam a fazer água – basta ver que o número de tiroteios e ataques a unidades de polícia em favelas ‘pacificadas’ só aumenta –, alguém viu por aí os srs. Beltrame e Cabral dando alguma explicação ou se importando com o aumento da violência? Pois é, apocalíptico…

Quase terra de ninguém

Usina_Calçada_IPra quem não conhece o Rio, há por aqui uma coisa estranha em muitos de seus bairros: os sub-bairros. Não sei se ocorre o mesmo em outras cidades, mas aqui é muito comum. Jacarepaguá, por exemplo, tem tantos que até parece uma cidade pequena, daquelas que têm suas fronteiras engolidas pelas grandes cidades.

Eu, por exemplo, moro na Tijuca, onde estão a (hoje pouco conhecida) Aldeia Campista, a Muda, a Usina e o Alto da Boa Vista. E informalmente há ainda o Alto Tijuca e a Praça Saens Peña (todos que moram próximo a ela dizem que moram nela).

Eu, mais especificamente, moro na Usina, que fica entre a Muda e o Alto. A região, que abriga algumas das favelas mais conhecidas e perigosas da cidade, como o Borel e Formiga. Durante décadas, a área foi relegada, abandonada mesmo. Mas, com a chegada das UPP, tudo ficou tranqüilo (ao menos oficialmente).

Estou lá há quase dois anos e nunca vi qualquer episódio de violência, de assaltos a trocas de tiros. Nada. E o lugar é bem agradável, perto da mata, temperatura amena, silencioso. Mas a cultura do abandono deixa suas marcas e a turma que vive ali, boa parte pelo menos, é mais relaxada e deseducada do que mandam os bons manuais de convivência.

Pensando em comportamentos cidadãos, é quase como terra de ninguém. Até hoje não sei se há cocô de cachorro espalhado por todas as calçadas ou se há calçada espalhada pelo cocô de cachorro. Também há o caso de casas e apartamentos que abusam do barulho além do horário recomendável. Avanços de sinais são o hábito, inclusive nas proximidades das escolas que há por ali. E não há a menor diferença entre ônibus, vans e carros, todos circulam e avançam em igual proporção. E o estacionamento nas calçadas…

Não há qualquer calçada do bairro em que não haja um ou muitos carros esparramados por elas. Como nas fotos. Nesse ponto da rua Conde de Bonfim, as calçadas são muito largas e os condomínios chegam a pintar vagas no chão. Mas, ainda assim, a turma abusa. Reparem nas imagens. Como é que se passa entre o Polo e o poste se você está de bengalas, carrega sacolas de mercado, empurra um carrinho de bebê ou uma cadeira de rodas?

Ah, é claro que já enviei mensagens para a prefeitura sobre os mais variados assuntos, alguns atendentes do 1746 já me conhecem tão bem que quase os convidei para a ceia de Natal. Mas você aí recebeu alguma resposta? Ou viu alguma atuação oficial por lá? Pois é, nem eu. E a verdade é que não há a menor perspectiva de melhora justamente porque não há atuação do poder público.

Aliás, a falta de ações da prefeitura é vergonhosa no Rio. Já há décadas que, se o sujeito não mora na Zona Sul, Barra ou um ou dois bairros da zona Norte escolhidos (Eduardo Paes ungiu Madureira), você está lascado. Mas e daí? Vamos levando, empurrando com a barriga, com ninguém reclamando e outros ninguéns não fazendo nada. Porque, como disse o Porchat, o lugar que a gente mora é legal pra caramba.Usina_Calçada_II

O Rio de Janeiro continua lindo

Reprodução / O GloboHoje de manhã, um sujeito usou um jet-ski para resgatar algumas pessoas ilhadas ou presas em carros quase submersos em Fazenda Botafogo. Outro usou um bote para retirar os passageiros de um ônibus na Pavuna.

Quem conhece o Rio sabe que a distância que separa esses bairros do mar é diretamente proporcional à que separa ex-bbbs da Academia Brasileira de Letras.

A essa altura, em rádios e TVs, o país inteiro (e boa parte do mundo, por conta da Copa e das Olimpíadas) já ficou sabendo que o Rio submergiu. De novo.

Há 20 dias, lembrei que o dia mais visitado do blog foi o mesmo do desabamento do morro do Bumba, logo depois de uma noite e madrugada em que o mundo desabou sobre a cidade e seu entorno.

As desculpas, sempre iguais, já estão circulando por aí: “choveu mais nessa noite do que o previsto para sei lá quantos meses”. Pombas, é sério isso? Como diria um amigo muito fino, educado, apaputaquiupariu!

Há fotos de 60 anos atrás em que o cenário era o mesmo. E a desculpa também! Até quando essa cagalhopança vai continuar acontecendo e essas chuvas vão continuar pegando todos de surpresa?

E que surpresa é essa que tem todos os institutos de meteorologia avisando que vem “tempestade” – sim, o termo usado por eles é esse – aí?

Só pra constar, é bom lembrar que o período das clássicas chuvas do Rio vai de março a abril. E sempre acontece um ou outro evento isolado durante o verão. Mas todos serão pegos de surpresa, não duvidem. E o cenário, pelo que aconteceu hoje e na última quinta-feira, é o pior. Afinal, nem começou o verão.

E olha que nessa noite nem foi tanto. A chuva foi constante e de intensidade média desde o fim da tarde de ontem, mas não passou nem perto das grandes trombas d’água que destroem tudo.

Esse é o tipo de coisa que desanima. Muito.

Olha o arrastão entrando no mar sem fim

Arrastão em Ipanema / Foto:  Marcelo Carnaval - Agência O GloboVoltamos a ter arrastões nas praias do Rio. E a tendência é que, assim como o calor, a situação piore nas próximas semanas. O movimento deu uma boa caída em algumas favelas e suas bocas, a turma precisa garantir o Natal. Sabem como é né…?

Pelo andar da carruagem, o bagulho (com trocadilho) vai ficar esquisito.

Boa parte da população não anda satisfeita com muita coisa (quase nada, na verdade). E surtos de violência passaram – de certa forma – a serem considerados normais desde que começaram as manifestações de junho. De quebra, a massa que faz arrastão, que dá a cara a bater, é formada por menores de idade (dos 10!!! aos 17) que, mesmo quando grampeados, são liberados em seguida. E aí a sensação de impunidade…

Junte tudo isso com cadeiras e pés de barracas de praia, tudo à mão, fácil de usar e brandir a esmo. Como diz uma amiga, vai dar merda, alguém vai morrer. E quando aparecer a turma indignada dos direitos humanos, ninguém vai bater palmas ou apoiar os caras. E olhem, já vi muita gente por aí torcendo para que isso aconteça.

Agora, uma perguntinha: onde está o querido e incensado secretário de segurança, o bravo Beltrame? Ninguém sabe, ninguém viu.

Arrastão em Ipanema / Foto:  Marcelo Carnaval - Agência O GloboPra terminar, vale dar uma olhadinha nas duas fotos aí em cima. Reparem no modo de atuação da Guarda Municipal, os marronzinhos do Eduardo Paes que têm largo histórico de sair no tapa com camelôs e congêneres. Reparem em como eles estão correndo e distribuindo cacetadas a torto e a direita. Na primeira, há um guarda pronto para arremessar uma cadeira. É ou não é de dar orgulho?

Resta, afinal, desejar boa sorte aos ratos de praia.

3 anos, 363 dias

 

Helena

Helena e Mariana

Passeata dia do professor

Helena e eu

Tentando desenhar

Violência após o ato pela educação, no Rio / Foto: Byron Prujansky/FacebookAcho que já escrevi a respeito, mas vou tentar desenhar. Tem gente que ainda não entendeu o porquê de tanta violência e a quem interessa a confusão. Vai em tópicos, pra ficar ainda mais fácil.

1. Desde junho, quando as manifestações começaram a crescer, o pau canta nas ruas.
2. Primeiro, foi nítido que as multidões estavam infiltradas (e eu assisti isso de perto).
3. Depois surgiram o Black Bloc, o Fora do Eixo e a Mídia Ninja. E até hoje há muitas pessoas acreditando que são todos muito independentes.
4. A pancadaria, claro, afastou as pessoas comuns das manifestações, que diminuíram clamorosamente de tamanho.
5. A quem interessa que a população se manifeste e defenda seus direitos?
6. A quem interessa esvaziar as ruas, amedrontando as pessoas para que elas não se manifestem e voltem ao estado bovino da massa?
7. De quebra, a pancadaria deixa um rastro de destruição (fora aqueles que se aproveitam pra roubar e saquear) que ajuda a aterrorizar e fortalecer o discurso contra as manifestações.

Quem acompanhou a transmissão do ato pela educação de ontem, no Rio, pôde perceber exatamente como as coisas acontecem. Após a passeata que reuniu algumas dezenas de milhares de pessoas chegar à Cinelândia, houve alguns pronunciamentos e começou a debandada de quem participou do ato. E pronto.

Apareceu a polícia (o choque, sempre o choque) e o encontro com os Black Bloc (aqueles que se dizem independentes) foi aquela alegria: bombas, gás, borracha, porrada, pedras e muita destruição.

Será que agora ficou fácil de entender?

Não, não estou discutindo métodos (por exemplo, sou contra ocupações). Mas daí dizer que não é legítimo que as pessoas se organizem (ou não) e se manifestem vai uma enorme diferença.

Agora, negar que há um grande esforço por esconder as verdades e pela manutenção do poder é fazer de conta que vive em Marte. E, sim, tem muita gente por aí que anda se escondendo da realidade.

O que vale um professor?

Sala de aula / Foto: Marcos Santos/USP ImagensEu ainda não consegui digerir direito o que aconteceu no Rio, na noite/madrugada de sábado para domingo.

Pra quem não sabe: os professores do município e do estado estão em greve desde agosto. Há algumas semanas, o alcaide apresentou algumas propostas e como sinal de boa fé, os da cidade voltaram a trabalhar. Como nada do combinado, foi cumprido, retomaram a greve.

Em nova rodada de negociações, o prefeito voltou à carga e apresentou um modelo de plano de carreira. Eu li a proposta que, em quase todos os aspectos, é indecente e alcança menos de 10% dos profissionais de educação da cidade. Mesmo assim, como sujeito democrático que é, enviou o plano para tramitação na câmara dos vereadores – onde tem maioria absoluta e aprova o que bem entende. Só pra se ter uma idéia, dos 51 vereadores, 41 (de 20 partidos!!!) formam a base de apoio. Os 10 da oposição são 4 do PSOL, 3 do DEM, 2 do PSDB e 1 do PV.

Na pauta, o tal plano recebeu 27 emendas, todas de vereadores da situação. E no meio da semana passada, os professores foram à câmara para tentar negociar com os vereadores. Em meio às discussões, o negócio desandou e o plenário foi ocupado por cerca de 150 dos 200 educadores presentes à sessão. E lá ficaram até sábado à noite, sem quebrar um copo sequer.

Porque apesar de sindicalistas, são professores. E aí está a questão: são professores.

Talvez isso seja besteira pra você. Mas ainda entendo que o professor cumpre uma função sagrada – em que pese todos os muitos problemas existentes.

Registros

Se procurarem por aí, encontrarão mil vídeos e fotos do que aconteceu no Palácio Pedro Ernesto: sem qualquer ordem formal, sem qualquer anuência do poder judiciário, sem qualquer documento, a PM foi enviada para a câmara pelo governador do estado que, teoricamente, atendia a pedido do presidente da casa – numa ação que foi contra o que o próprio Jorge Felipe disse dias antes.

O pau comeu na casa de Noca. Apesar da polícia afirmar que a ação não foi truculenta, 20 foram parar no hospital e até vereadores foram agredidos pelos policiais (foi registrada a frase “vereador também apanha”). Um dos professores, cardíaco, desmaiou. E caído no chão, foi chutado por policiais. E esse é só um exemplo.

Não, eu não sou a favor da ocupação e acampamento na câmara ou coisas do tipo. Mas há o jeito certo e o jeito errado de se resolver os problemas.

O nosso governador, abraçado ao prefeito e ao presidente da câmara, escolheu o errado. E nem preciso falar a respeito dos policiais, especialmente seu comando, que podem (e devem) se recusar a cumprir uma ordem ilegal, e não fizeram isso.

Indignação

Outra coisa curiosa, ainda que triste, pode ser vista nas redes sociais. Alguns discursos e imagens fazendo referência à “indignação da sociedade”. Infelizmente, uma baita duma mentira.

Boa parte da cidade nem sabe o que está acontecendo, não viu o que houve no sábado à noite. Não por acaso. Ao menos a parte da sociedade que é capaz de fazer barulho e até se organizar quando quer, não tem seus filhos em escolas públicas. Assim, não são afetadas pela greve nem tomam conhecimento de como as coisas estão caminhando. Ou você vai dizer que aí no seu trabalho ou na academia ou seja lá onde for não se fala em outra coisa?

E é claro que a chegada da polícia no sábado à noite, quando os jornais de domingo já estão fechados, quando a televisão não tem qualquer noticiário, quando boa parte das pessoas está na rua se divertindo ou até viajando, não foi por acaso. Como também não foi por acaso que a única matéria de O Globo no domingo falava sobre como as famílias estão tendo de apertar os cintos para cuidar das crianças sem aula (como se os alunos da escola pública estudassem em horário integral e não tivessem férias).

Perguntas

Por fim, de tudo isso, me faltam algumas respostas. Se alguém se sentir apto a respondê-las, sinta-se em casa.

  1. Em que tipo de sociedade vivemos e qual queremos construir ao violentar (em todos os sentidos) os professores?
  2. A escola pública, em greve, atende à maior parcela da população, mas a menos capaz de fazer barulho organizado. Qual a atuação do sindicato junto às escolas particulares? Por que os professores, todos, não entram em greve?
  3. Por que o Sepe e o SinproRio não trabalham em parceria?
  4. Com tantas imagens (vídeos e fotos), além dos relatos e hematomas de quem viveu e viu aquela noite, como é que governador, comandante da PM e presidente da câmara tem a desfaçatez de falar que tudo o que aconteceu foi legal e normal?
  5. Com tantas imagens (vídeos e fotos), além dos relatos e hematomas de quem viveu e viu aquela noite, como é que os principais órgãos de imprensa (a “mídia golpista”) continua apoiando e até defendendo (vejam as manchetes, interpretem as manchetes) prefeito e governador?
  6. Mais do que quanto, o que vale um professor?