Feliz ano novo!

Calendario 2014 / ReproduçãoComeçou. E já era hora.

Ok, eu sei que muita gente trabalhou na semana passada, eu também. Mas sei também que os dias andaram a passo de cágado, porque com a quantidade de gente que emendou a semana, não dava pra fazer muita coisa mesmo.

Agora não, hoje é diferente. Primeira segunda-feira de 2014. Não é uma maravilha? Não sei na sua cidade, mas aqui no Rio está tudo maravilhoso, aquele sentimento de algo novo que pode melhorar nossa vida, novos planos, novos sonhos, esperança. Ah, e claro que o trânsito já está uma bosta (mesmo sem as escolas funcionando) e o calor continua maltratando. Melhor, impossível, né não? Afinal, com tantas mudanças previstas e esperadas, é importante ter algo familiar ao nosso redor para nos sentirmos seguros.

A essa altura, todo mundo já sabe que 2014 vai ser um ano daqueles, “especial”, com todo o trabalho de um ano normal espremido nos poucos dias úteis de verdade que teremos pela frente. A quantidade de feriados e eventos vai fazer a alegria do povo e o desespero de empresários de quase todos os setores, especialmente comércio e indústria. Vejam só que maravilha.

Janeiro: o ano já começou com um superenforcamento, o réveillon de terça para quarta, com a quinta e a sexta mortas. No Rio, de quebra, ainda teremos o dia do padroeiro da cidade, São Sebastião, que cai numa segunda.

Fevereiro: ninguém é de ferro e o mês mais curto do ano será devidamente empurrado com a barriga, na preparação para a festa de Momo. E mesmo aqueles que não gostam do carnaval, são atingidos pela marcha lenta da turma ao redor (é bom lembrar que no Rio e em Salvador, isso já está acontecendo desde o réveillon).

Março: o mês começa com o carnaval e quase um terço se perde na festa que começa no dia 1º de março e só termina no dia 9, o famoso domingo de cinzas. O resto do mês, provavelmente, será perdido com o socorro e a solidariedade com aqueles que terão dificuldades por conta das chuvas que, como em todos os anos, pegarão todos os governos de surpresa.

Abril: o mês, provavelmente, começará no ritmo de recuperação das chuvas e na preparação para a supersemana santa. Quatro dias de dolce far niente, de 18 a 21. Para os cariocas, um bônus com o dia de São Jorge, 23, e a emenda do dia 22 porque ninguém é de ferro.

Maio: e assim como março, esse mês também começa com um feriado, viva o trabalhador que está dando tão duro nesse ano. E numa quinta-feira, mais um feriadaço. Além disso, a copa começa no mês que vem e temos que nos preparar, cidades-sede ou não. Enfeitar casas, decorar ruas, acompanhar a concentração da seleção e falar mal do Felipão, avaliar os botecos para decidir onde ver os jogos e outras coisas tão importantes quanto.

Junho e julho: todo mundo sabe que de 13 a 13, só se fala de futebol no país dos feriados. Fora a preparação – que começou em maio – e a comemoração pela vitória ou luto pela derrota, vá saber o que vai acontecer. De quebra, ainda tem Corpus Christi (quinta-feira) e todas as festas juninas, viva João, Pedro e Antônio (que em muitos lugares do Nordeste é feriado).

Agosto: o sujeito que criou a expressão “agosto, mês do desgosto” já sabia exatamente como seria 2014 no Brasil. Não há outra explicação para, em um ano tão atribulado, agosto ser o primeiro, efetivamente, dedicado ao trabalho. É sério, nenhum feriado, nenhum grande evento, 21 dias úteis seguidos só intercalados pelos fins de semana. Não há dúvida que depois de um período tão estressante, todos precisaremos de férias.

Setembro: mais um mês sem feriado (o dia da independência, 7, cai num sábado). Meu Deus, desse jeito ficaremos todos estafados. Ainda bem que as eleições estão chegando, as campanhas vão de vento em popa e – pelo menos isso – temos assunto para a cerveja gelada de sábados e domingos.

Outubro: esse será o mês mais importante do ano, depois do carnaval e da copa. Afinal, estaremos decidindo o futuro do Brasil (é preciso acreditar que temos chance de mudar a história, tenham ânimo). Não haverá feriado, o dia 12 cai num domingo. Mas quem precisa de feriado com dois turnos de eleições para presidente e governador? O país estará fervendo e, ao mesmo tempo, em compasso de espera pelos resultados. Ou seja, nenhuma grande decisão será tomada, nenhum grande esforço será feito até o dia 27, quando será publicado o resultado final dos pleitos.

Mas, independente dos resultados, é bom se preparar, se encher de esperança e amor nos corações. Pois o ano já está acabando, Natal e réveillon vêm aí, 13º caindo na conta, compras e mais compras… E você não vai querer perder isso né?

Novembro: é o penúltimo mês do ano, o auge da primavera, o amor está no ar. Mas, em boa parte do país não haverá feriados, o dia 15 cai num sábado. Ou seja, um mês inteirinho para trabalhar duro e justificar a mixaria do final do mês.

Pelo menos no Rio e alguns outros recantos, teremos a parada do dia 20. Uma quinta-feira para celebrarmos a consciência negra e fazermos loas a um dos maiores símbolos da negritude tupiniquim, líder da luta contra a escravidão, apesar de sabermos que tinha lá seus escravos. Viva Zumbi dos Palmares!

Dezembro: Ufa! O ano chegou ao fim. Todos se preparando para as festas, almoços e jantares de confraternização, corrida aos shoppings, fotos com Papai Noel. E pra compensar as semanas enforcadas de 2013, em 2014 teremos mais duas. Natal e réveillon serão comemorados de quarta pra quinta. Afinal, depois de um ano tão cansativo, é preciso alguns dias de descanso para se preparar para o ano novo.

2015E 2015? Bom, aí é outra história. E ainda falta muito para começarmos a fazer contas de festas, feriados e dias muito bem gastos numa rede. Não tenha pressa, aproveite 2014.

O Rio de Janeiro continua lindo

Reprodução / O GloboHoje de manhã, um sujeito usou um jet-ski para resgatar algumas pessoas ilhadas ou presas em carros quase submersos em Fazenda Botafogo. Outro usou um bote para retirar os passageiros de um ônibus na Pavuna.

Quem conhece o Rio sabe que a distância que separa esses bairros do mar é diretamente proporcional à que separa ex-bbbs da Academia Brasileira de Letras.

A essa altura, em rádios e TVs, o país inteiro (e boa parte do mundo, por conta da Copa e das Olimpíadas) já ficou sabendo que o Rio submergiu. De novo.

Há 20 dias, lembrei que o dia mais visitado do blog foi o mesmo do desabamento do morro do Bumba, logo depois de uma noite e madrugada em que o mundo desabou sobre a cidade e seu entorno.

As desculpas, sempre iguais, já estão circulando por aí: “choveu mais nessa noite do que o previsto para sei lá quantos meses”. Pombas, é sério isso? Como diria um amigo muito fino, educado, apaputaquiupariu!

Há fotos de 60 anos atrás em que o cenário era o mesmo. E a desculpa também! Até quando essa cagalhopança vai continuar acontecendo e essas chuvas vão continuar pegando todos de surpresa?

E que surpresa é essa que tem todos os institutos de meteorologia avisando que vem “tempestade” – sim, o termo usado por eles é esse – aí?

Só pra constar, é bom lembrar que o período das clássicas chuvas do Rio vai de março a abril. E sempre acontece um ou outro evento isolado durante o verão. Mas todos serão pegos de surpresa, não duvidem. E o cenário, pelo que aconteceu hoje e na última quinta-feira, é o pior. Afinal, nem começou o verão.

E olha que nessa noite nem foi tanto. A chuva foi constante e de intensidade média desde o fim da tarde de ontem, mas não passou nem perto das grandes trombas d’água que destroem tudo.

Esse é o tipo de coisa que desanima. Muito.

Chuva / Foto: João Torres

Foto do dia: João Torres

E daí?

Bombeiros retiram corpos de vítimas da chuva em Petrópolis / Foto: Gabriel de Paiva/Agência O GloboEm abril de 2010, só no Morro do Bumba, em Niterói, foram 267 mortes. Em janeiro de 2011, na região serrana do Rio, mais de 900 pessoas perderam a vida. De ontem pra hoje, foram 13 (e três desaparecidos) em Petrópolis.

Só 13? E daí?

Daí que não surpreende. Daí que é bom dar graças a Deus por terem sido só 13 vítimas (até agora). Daí que, três anos depois, ainda tem gente do Bumba dependendo da esmola do estado e encostada por aí. Daí que ninguém foi punido pelo desvio de verbas e doações na tragédia da serra. Daí que quase todo o dinheiro enviado para a reconstrução e investimentos em segurança nas cidades afetadas sumiu e quase nada foi feito.

Só 13 mortes. E daí?

Daí que todo ano chove muito no verão. Daí que todo ano um monte de encostas vem abaixo. Daí que a ocupação desordenada, ilegal mas permitida, não para de aumentar. Daí que todo ano vai morrer um monte de gente. Daí que todo mundo está cansado de saber disso. Daí que nunca, nenhum responsável foi obrigado a pagar indenizações a cada vítima e puxar uns anos de cana.

Mas ontem foram só 13 mortes. E daí?

Até que enfim

O Australiano Mark Webber saindo dos boxes / Foto: Red Bull/ Paul Gilham/ Getty ImagesPassei o ano passado inteirinho sem falar de Flamengo e F1. Sobre o primeiro, um desânimo sem fim pelos motivos que qualquer um que goste e acompanhe um pouquinho de futebol já sabem. Já sobre as baratinhas mais caras e rápidas do mundo, não sei dizer o que houve. Justamente num dos melhores anos da história, certamente o mais divertido, disputado e equilibrado entre os que eu vi.

O que importa é que hoje recomeça a bagunça, na Austrália. Na verdade, os motores já foram ligados e os carros já começaram a tirar a poeira da pista, nos primeiros treinos livres. Mas hoje (na verdade, madrugada de amanhã) acontece o primeiro treino de classificação.

A pré-temporada, com três seções em Jerez e Barcelona, foi absolutamente inconclusiva. Algo mais do que normal, levando-se em conta que cada equipe busca respostas específicas nos primeiros ensaios. Nas duas primeiras seções de Melbourne, Vettel e a Red Bull já deixaram todos de boca aberta. Será que essa superioridade vai se confirmar?

Minha expectativa é de que 2013 fosse um ano de disputas ainda mais apertadas. Como não houve grandes mudanças de regulamento, imaginava que as diferenças entre os times diminuiriam. Pelo cheiro, não. Já tem jornalista no padock apostando que o campeonato pode acabar em Monza. Será exagero?

Se o cheiro se confirmar, pelo menos na primeira corrida, se treinos e prova acontecerem nas condições normais de temperatura e pressão, a Red Bull ocuparia a primeira fila e escaparia para a vitória. Mas parece que a classificação será sob chuva e isso poderia, pelo menos, embaralhar o grid e gerar alguma emoção extra.

Na verdade, não estou preocupado não. Melbourne, historicamente, nos dá boas corridas de presente. Sou desses que sofre de abstinência. Então, o que importa de verdade, é que – sob sol, chuva ou granizo – vai começar a festa. 

I'm Shocked / Foto: Artur Braz

Foto do dia: Artur Braz

Trambolho

Tough day / Foto: Laurent AubléHá coisa de 3.400 anos, na Mesopotâmia, alguém teve a idéia brilhante de proteger do sol a cabeça de reis e afins. Depois de uma trajetória confusa, em que assumiu o papel de artigo religioso no Egito e algo exclusivamente feminino na Roma e Grécia antigas, foi finalmente popularizado pelos idos de 1.780, não por acaso, na Inglaterra da garoa.

O sujeito que fez o primeiro guarda-chuva (quase) como o conhecemos hoje foi Jonas Hanway, um comerciante que chegou a ser ridicularizado por adaptar o treco que antes era usado apenas pelas moças de boa família.

Pois eu tenho uma coisa pra dizer a vocês, minha meia dúzia de quatro ou cinco leitores quase fiéis: eu odeio guarda-chuva. E existem várias razões pra isso. Primeiro, em que pesem suas evoluções – dobrável, automático, cada vez mais leves etc. –, continua a ser algo nada prático para se carregar, principalmente quando chove. Afinal, de que adianta ele ficar tão pequeno para caber em bolsas e mochilas se, molhado, você não pode guardá-lo para não encharcar e estragar suas outras coisas? Está, então, configurado o trambolho.

Outro motivo para detestá-lo é a sua reconhecida ineficiência. Afinal, basta estar chovendo um tantinho mais forte ou estar soprando um ar pouco mais forte que uma brisa para que o tal trambolho (quando não quebra ou rasga) proteja apenas e tão somente a sua cabeça. Não sei vocês, mas gosto do resto do meu corpo tanto quanto da minha cabeça. Além disso, geralmente adoecemos (gripes, resfriados e afins) graças à roupa molhada, e não ao cabelo molhado.

Também há o caso da dimensão especial reservada ao fabuloso artefato. Todo mundo que conheço perde ou perdeu incontáveis guarda-chuvas ao longo da vida. Mas nunca vi o sujeito sortudo que os acha. Ou seja, uma equipe de duendes contratada por fábricas chinesas os rouba ou os faz desaparecer (quando não, as duas coisas) para manter o mercado aquecido.

Por último e, para mim, mais grave, é o risco de ficar cego. Ontem, fui quase ou atingido nas proximidades dos olhos uma dezena de vezes em um trajeto de pouco mais de 150 metros entre o prédio em que trabalho e a entrada da estação do metrô. Não importa se o guarda-chuva é o de tamanho normal ou gigante (no Rio, chamam de familião). O fato é que as pessoas, em geral, não se dão conta de quem ou o quê está ao seu redor, principalmente acima de suas cabeças.

Então, meus amigos, faço um apelo: abandonem seus guarda-chuvas e passem a usar casacos, capas, bonés, chapéus ou duas ou três dessas coisas combinadas. Suas vidas serão muito mais práticas, o trânsito de pedestres ficará muito mais ágil e seguro. E se isso não bastar, pensem em quantos empregos serão criados em nossa indústria têxtil. Até o PT ia gostar, vejam vocês. Já sou até capaz de imaginar o novo slogan do governo: país rico e que enxerga bem é país sem guarda-chuvas.

Rainy day, again / Foto: Giordnao Trabucchi

Foto do dia: Giordano Trabucchi

Vendedor de sonhos

O filme é maravilhoso, direção e direção de arte excelente e a história fabulosa. Tudo embalado por uma trilha sonora muitíssimo bem encaixada. Mais um daqueles filmes de formatura que eu adoro, esse da PrimerFrame.com.

O curioso deste filme é perceber, principalmente em época de chuvas, sua semelhança com as promessas e realizações de nossos digníssimos alcaides. Ou será que essa analogia é apenas um delírio?

Nulum die sine linea

Já fui um fiel seguidor dessa espécie de lema. “Nenhum dia sem uma linha”. Achava que, mais do que manter um hábito, fazia um exercício. E se fosse capaz de escrever quando não tinha o menor saco ou inspiração, seria capaz de produzir em qualquer situação.

Pois, como podem ver a meia dúzia de três ou quatro amigos e leitores que freqüentam o cafofo, meio que abandonei o lema. Não é por acaso que não pingava nada por aqui há quase um mês. E naqueles dias em que – nem profissionalmente – não precisava juntar palavras para formar frases, resolvi tirar folga.

Também sou obrigado a confessar que as atuações do Flamengo no final da temporada, aquele monte de corridas de F1 que não valiam nada, a vergonha em que se confirmou o governo – a manutenção de Pimentel e Negromonte em suas cadeiras é surreal – e a certeza de que as chuvas de verão arrebentariam tudo de novo, como sempre e como já está acontecendo, colaboraram bastante para aumentar o meu enfado. Parece que, de novidade mesmo, só o fato de Sérgio Cabral não estar em Paris ou sei lá onde na hora do aperto.

De quebra, as festas e toda sua rotina extenuante de compras e correria e jantares e obrigações de festas e comemorações mil… No final das contas, o mesmo de sempre. Virou o dia, virou o ano, e nada mudou. Mais ou menos como os fogos de Copacabana. Ou será que vocês realmente acreditam naquelas promessas de ano novo, que se repetem a cada 365 ou 366 dias?

É, não ando muito otimista mesmo, ao ponto de ter percebido numa frase dessas ouvidas por aí e publicadas em revistas (acho que foi na do Globo) a melhor definição sobre o estado geral de coisas que vivemos hoje: “se é verdade que o Natal aproxima as pessoas, no metrô é Natal todo dia” (reproduzo de memória e pode haver algumas diferenças em relação ao original).

Bom, daqui a pouco retomo a produção em ritmo normal. E enquanto não chegamos à conclusão sobre se o mundo vai acabar mesmo no dia 21 de dezembro, se a data marca apenas o fim de uma era ou se o calendário maia parou aí porque os caras ficaram com preguiça de continuar, desejo a todos – com quatro dias de atraso, eu sei – um feliz ano novo.