O Aurora da minha vida

Comecei a velejar meio por acaso, depois de passar anos dizendo algo do tipo “velejar? Eu? Nunca! Imagina sair de casa pra ficar fazendo força o dia inteiro, justo no dia de descansar”. É, esse negócio de dizer nunca é mesmo engraçado, porque a gente sempre (sempre!!!) paga pela língua, né não. E já faz mais de uma década que comecei nesse negócio. Na verdade, faltam poucas semanas para completar 11 anos desde que pisei em um veleiro pela primeira vez, tentando ser um tico mais exato.

Nesse tempo todo, perdi a conta de quantas regatas participei. Além do bravo Picareta – o Velamar 22 em que disputei estaduais, brasileiros e circuitos Rio – e do Fandango – Schaefer 31 em que corri duas Santos-Rio –, tive a oportunidade de conhecer outros muitos veleiros, incluindo aí o Brasil 1 em 2007, máximo da tecnologia embarcada e de construção da época. Mas nunca tinha estado em um catamarã. E nem foi falta de curiosidade não, só oportunidade mesmo. Até que apareceu o Aurora.

Um tapa

E foi mais ou menos assim:  voltas e voltas da vida, chegou a hora de encarar que o mundo mudou, que empregos como os que conhecemos praticamente não existem mais e tals. Num encontro feliz com dois amigos de décadas, a decisão: vamos dar um tapa na nossa vida. E nasceu a Tapa Digital.

Na hora de colocar o bloco na rua, naturalmente apontamos, primeiro, para os amigos. Avisar que nascemos, algo como “ó, tamo na pista, #vemdarumtapa!”. E depois de 10 anos velejando e construindo relacionamentos nessa nesga de mundo que é a vela, nem foi estranho que o nosso primeiro cliente fosse um velejador. Na verdade, mais que isso, um veleiro. O Aurora.

A experiência

Um dia, num chope com quem quiser, conto a história em detalhes. Mas, basicamente, a Tapa nasceu de manhã e na mesma tarde o sujeito ligou. “Tô realizando um sonho e acho que vocês vão gostar de sonhar junto comigo”.

Como não há forma melhor de comunicar uma experiência do que vivendo a tal, chegou o dia de conhecer e experimentar um catamarã. E tudo o que enrolei até agora foi pra falar sobre isso: como é sensacional estar em um catamarã. E sei que posso falar por mim – que sou velejador – e ao mesmo tempo pela turma que carreguei, que nunca tinha experimentado nenhum tipo de veleiro.

Primeiro, a sensação de paz absoluta. Mar, silêncio, vento. Desculpem, mas se vocês nunca viveram isso, aviso logo: não tem preço. A turma – crianças de 3, 5 e 7 anos, além da moça de quem sou consorte (com muita sorte, na verdade, apesar do trocadilho infame) – se sentiu à vontade e segura desde o início. E experimentaram tudo, desde deitar na proa sentindo os respingos da água salgada até pegar no leme e tocar o barco. E a mistura de sorriso com o dia vivido e a chateação do “ah, já acabou?” na hora do desembarque fala muito.

Da minha parte, velejador “experiente” de barcos que caturram como cavalos de rodeio… Putz, que sossego. A estabilidade (o bicho não balança, é incrível) e a facilidade pras regulagens são um alento. Foi mesmo um dia pra guardar na memória, uma daquelas coisas que você precisa transformar em hábito. Voltar e voltar e velejar e velejar…

Chapa branca

É, estava na dúvida se eu devia escrever isso. Você pode estar aí pensando “claro que ele só vai falar bem do Aurora, é cliente. Ainda por cima, é o primeiro cliente”. Talvez você tenha razão. Mas me convenci com a seguinte impressão: se fosse só um cliente comum, bastava seguir o manual, desenvolver as peças e campanhas, estratégias e tudo o mais. Seria simples, nem daria tanto trabalho.

Mas quer saber de uma coisa? Foi pessoal. É uma experiência pessoal, intransferível e inesquecível. Pra mim, pras minhas filhas e enteada, pra mulher que amo (que vira e mexe pergunta quando vamos voltar, “ó, o verão tá chegando”).

Talvez você leia isso tudo e nem me conheça. Não importa. Se chegou até aqui, me sinto no direito de dar uma ideia: vá conhecer o Aurora, vá #descobrirAurora. E se está na dúvida, se ainda está na dúvida, corra o risco. Aproveita que tá rolando uma promoção, a #primaveraAurora, vai que você ganha. Fica fácil fácil. Do meu cantinho, arrisco afirmar: você não vai se arrepender.

Vida nova

Apesar de adorar corridas, a Nascar nunca me apeteceu. Aliás, apesar de alguma antenção que dispense à Indy, corridas em circuitos ovais não me dizem muito ao coração, mais parecem circos romanos em alta velocidade somados a uma incrível vocação para a destruição de carros.

O negócio é que os estadunidenses adoram, vá entender. Ok, eles também gostam de baseball. Mas a questão é que eles são loucos pela Nascar, os autódromos vivem lotados e os pilotos são ídolos.

E no ruim de tudo, ainda é mais um mercado de trabalho para a turma do motor e da velocidade. Inexplorado, ou quase, pelos brasileiros. Até agora.

Miguel Paludo, que começou a carreira andando de Corsa no gaúcho de marcas e foi bicampeão na Porsche Cup, já correu algumas etapas da Truck Series em 2010, divisão de acesso da Nascar que anda a bordo de camionetes. Em 2011, fará sua primeira temporada completa.

Outro que confirmou hoje sua participação na mesma categoria foi Nélson Angelo Piquet, o mesmo Nelsinho que andou de fórmula tudo até ter sua carreira em monopostos interrompida após o escândalo de Cingapura, em que jogou sua Renault no muro de propósito para beneficiar seu companheiro de equipe, Fernando Alonso.

Nelsinho, que em 2010 correu de quase tudo o que foi possível, também fez algumas provas para experimentar o carro neste ano. E, naquele país um tanto estranho que fica entre o México e o Canadá, tenta realinhar sua carreira.

Não, não serei um aficcionado do negócio, mas sempre que tiver alguma notícia interessante, tentarei colocar aqui. Os dois merecem respeito e torcida, são bons pilotos que resolveram apostar em algo novo. Tomara que dê certo.

Quem quiser acompanhar a temporada de perto, já está aí ao lado em Na pista – blogs, o link para o Nascar Brasil.

É mentira, Terta?

Ainda bem que nem só das bandalheiras agora oficializadas vive o automobilismo, especialmente a Formula 1. Afinal, a confusão da equipe de Maranello não foi o único tema da pauta do Conselho Mundial da Fia. Mas antes de tratar do que foi dito e decidido na Praça da Concórdia, falemos da nossa querida terra brasilis.

O site Grande Prêmio publicou hoje uma matéria com o croqui do que seria o novo autódromo do Rio de Janeiro. Na verdade, imagem de um estudo conceitual do complexo que substituirá o destruído Jacarepaguá.

O desenho mostra um circuito misto de 4.715 metros, com 19 curvas, e um circuito oval (sem indicação de comprimento da pista, uma área onde haveria um complexo poliesportivo e um kartódromo de 1.344 metros. Sua localização: Deodoro.

Como disse um amigo, infelizmente pelas experiências anteriores, só vou acreditar que é real quando eu estiver sentado na arquibancada para assistir à primeira corrida, não importa de que categoria.

Levando-se em conta que é apenas uma apresentação conceitual de todo o projeto, não vou – agora – analisar o circuito ridículo que foi apresentado. Mas quero falar de Deodoro.

De acordo com o desenho, o complexo ficaria – na verdade – no bairro de Ricardo de Albuquerque, cerca de 40km do centro, com acesso apenas pela terrível Av. Brasil (que separa os dois bairros) ou por trem. Não há metrô, não há aeroportos nas proximidades (o Campo dos Afonsos é de uso militar), não há estrutura para hospedagem para as centenas (ou até milhares) de pessoas que formam os circos de qualquer grande categoria, rodeado por favelas perigosas dominadas pelo tráfico de drogas ou milícias, sem qualquer atrativo turístico. Ou seja, a pergunta que não quer calar é: alguém acredita na viabilidade desse projeto?

Pois é, eu insisto: só acredito vendo da arquibancada e vestindo meu colete à prova de balas.

•••

Voltando aos anúncios de ontem em Paris, a Fia publicou o calendário da próxima temporada, com as 20 provas sonhadas por Bernie Ecclestone.

Como vocês viram aí em cima, a novidade da hora é que a Índia (mais um cantão desse mundo de meu Deus que não tem qualquer história ou tradição automobilística) receberá uma etapa do mundial e o Brasil volta a receber a última corrida. Mas, sobre o calendário, é preciso lembrar que em 2012 voltaremos a ter o GP dos EUA. Qual circuito será abandonado? A ver.

Outra decisão apresentada ontem foi a não inscrição de uma nova equipe para ocupar a 13ª vaga disponível no grid da F1. Segundo a Fia, nenhuma das postulantes atingiu os requisitos necessários. O que, depois dos casos de Hispania e Virgin, soa ridículo que a espanhola Epsilon Euskadi não possa entrar. De qualquer maneira, ainda há rumores de ela possa fazer um acordo ou até comprar a Hispania. Outro postulante, a parceria Jacques Villeneuve e Durango também já dizem estar pensando em um plano B, como a compra de alguma outra equipe. Como há várias escuderias com problemas financeiros, não estranhem se tivermos novas equipes ocupando os boxes no ano que vem.

•••

Mas a Fia não cuida apenas da F1 e ontem também divulgou o calendário do WTCC, o campeonato mundial de turismo. Curitiba voltará a sediar uma prova, abertura do campeonato. E há rumores de que Cacá Bueno (que já correu uma etapa como convidado neste ano) faça parte de um projeto da Honda, em parceria com um piloto argentino. Por enquanto, tudo é boato. Mas será que é por acaso que a segunda prova do ano será, justamente, na Argentina? Outra coincidência: quando correu no TC2000, principal certame de nossos hermanos, Cacá foi piloto da equipe Honda-Petrobras, uma patrocinadora brasileira. Como a falta de grana também atingiu o campeonato, inclusive com a retirada de algumas equipes, como a oficial da Seat, será que os organizadores estariam tentando agradar alguém que quer investir? Hummm… Tudo isso é elocubração sobre alguns boatos. Mas com muitas coincidências envolvidas.

Anticlímax (ou por que a Globo faz isso?)

Há pouco tempo escrevi sobre o padrão global na transmissão de eventos esportivos, o ufanismo exacerbado da era Galvão Bueno, a desinformação absurda em detrimento do Brasil-sil-sil. Mas esse não é o único problema da Venus platinada. Não são raras as histórias de que a emissora compre alguns eventos que, para que sua grade básica não seja atrapalhada, acabam sem ser transmitidos ou oferecidos aos pedaços. Isso melhorou um pouco depois da criação dos canais SporTv, mas não acabou. E tivemos um grande exemplo no último final de semana.

Não sou fã da Stock Car, pelo menos da forma atual de se apresentar da categoria. Mesmo assim, como adoro corridas de automóveis, se estou em casa de bobeira e a corrida está na TV, paro pra ver. Mas aí, no último domingo, a Globo assumiu a transmissão da prova realizada no Velopark, previamente programada para a SporTv. E a transmissão foi assim: começou 20 minutos após a largada e foi encerrada a três voltas do fim.

Sobre isso, divirtam-se com o texto abaixo.

Saiam, meus amigos

A giornata é a 36ª e confronta em um de seus dez jogos deste fim de semana a agremiação da cidade de Catania, homônima, e a principal de Turim, a Juventus, uma velha senhora que vira velho senhor por conta da masculinização dos nomes de times, não só de caráter internacional. Ao Catania, resta nas últimas três rodadas fugir do rebaixamento, e à Juve, nada mais que uma difícil vaga na Champions League. Em suma, um jogo de nada com coisa alguma.

Mas o jogo está lá, SporTV, pimpão e imponente, 11 da matina, ocupando o lugar da corrida da Stock Car que estava programada, inclusive no site da emissora, para ser exibida ao vivo e, creio, na íntegra. Troquei para o SporTV2, e lá havia a final do Masters 1000 de Roma, que, óbvio, deve ser passada.

A Globo terminava de transmitir a maratona de São Paulo. Depois, as apresentadoras “jogaram a bola” lá para a África do Sul, onde o apresentador que geralmente divide o estúdio com elas dava início a uma interessantíssima matéria de futebol estilo livre no país da Copa. Entre devaneios e divagações, surgia a Stock Car na tela. Volta 20 de 50. Acionei o cronômetro.

O carro de segurança, que no mundo todo é o safety-car, estava em curso. Aí a gloriosa emissora foi tentar sintetizar o que havia acontecido em 2/5 da prova. Parecia aqueles resumos que o professor de Filosofia pedia para se fizesse em fichamento escritos dez minutos antes de entregá-lo. A largada, o toque ali, o carrinho amarelinho na ponta, seguido pelo carro todo rosa, tudo em microssegundos, e vamos em frente, porque corrida de carros segue uma lógica matemática, e talvez faltasse ali a presença do Dr. Stock, para nos explicar com exatidão, porque confesso que pouco estava entendendo, limítrofe que sou.

Dos primeiros raciocínios lógicos, concluí que aquela primeira curva do circuito do Velopark é, digamos, cretina. A área de escape é válida, mas um cotovelo daqueles espremido só podia resultar em problemas sequenciais — não à toa foram cinco entradas do SC —, também auxiliado pelo fato de que há uma meia dúzia de pilotos ali que destoa de um nível de competição mínima. A corrida em si recomeçava, e com ela o show de caracterização dos carros por suas cores e números, as apostas internas no bolão que não era o BRV e o posicionamento de que aquele era o mais novo autódromo brasileiro numa cidade da Grande Porto Alegre. E então vinha a explicação por Valdeno Brito estar em quarto: os boxes. Que, claro, passaram longe do esboço daquele resumo de porco.

Aos trancos e barrancos lá fomos nós para o fim da corrida, que segundo meu ágil cronômetro já durava 24 minutos, um múlti plus bônus de quatro minutos para todos os espectadores. E o carrinho amarelinho — prazer, equipe RC  — de Ricardo Maurício permanecia em primeiro, com Átila Abreu e Júlio Campos na sequência, e aí veio mais um toque naquele cotovelo de araque, mais uma paralisação, e aí a TV cansou. Já bastava, afinal o público já havia sido deveras agraciado e premiado neste domingo por uma luz incidental semidivina, e um minuto a mais na TV custa uma grana exorbitante. Mas faltavam três voltas ali para terminar a prova, pode ter ali lembrado um mero assistente de direção atento à indicação dos caracteres na parte superior da tela. Corta, corta, gritaram, já deu, e aí o coitado do bom Luis Roberto é obrigado a se ver na vexatória situação de, ao vivo, perguntar para seus tutores, “continuamos ou saímos, meus amigos?”, e “seus amigos”, que não são amigos de ninguém mais, hesitantes, cortaram para o estúdio para tivesse início uma aventura fascinante, formidável e estonteante nas corredeiras de um rio no Tocantins, pelo que compreendi.

Uns tantos minutos depois, a chegada foi resgatada em VT.

Quando eu já me preparava para desancar a falar mal desta patacoada que é o conglomerado Globo-Stock Car, Rubens Barrichello veio ao Twitter para ajudar. “Cortar a transmissão da Stock Car a 3 min do fim é muito frustrante. Até desliguei a TV”, disse, e Barrichello aproveitou o fim deste show de Truman para ir fazer exercício, talvez pensando aqui e ali como ele se põe na mesma posição de todos nós numa situação destas, a de trouxa e babaca, para ficar só neste nível, porque Barrichello poderia ter ido correr e fazer seus polichinelos antes, enquanto eu poderia ter aproveitado algum tempo de sono a mais, e os demais, a mesma coisa. É que nós, Barrichello, eu e todos, acabamos medidos em pontos, e somos poucos, 3 ou 4, e os pontos precisam ser maiores para uma emissora acostumada aos dois dígitos, e a Stock Car representa a escória e o resíduo de sua programação, e nós acabamos sendo nivelados a isto. Só que há uma diferença nesta questão: a Stock Car gosta de ser escória e resíduo.

Porque, no fundo, a Stock Car faz a mesma coisa que a Globo: trata todos os seus patrocinadores, incentivadores, apoiadores e afins como trouxas e babacas. E ao que noto, estes todos que vêm seguindo a categoria nos últimos anos assiduamente gostam de ser escórias e resíduos, embora muitos deles ali estejam porque a Stock funcione para elas como uma bela Brastemp.

Os pilotos, os chefes de equipes e os mecas até poderiam entrar nessa caracterização da merdificação e da babaquice, mas eles são uns coitados, na verdade, porque precisam e querem trabalhar num amplo país reduzido a uma categoria que é subordinada a esta emissora, já que a entidade que administra isso, a tal da CBA, é só o tempero deste prato que ninguém consegue digerir. Uma coisa nova pode vir em 2011, pelo que ouvi dias atrás, mas como o negócio ainda é incipiente, em fase de conversas com montadoras, trabalhemos com esta realidade: é um pecado esta gente toda, competente em sua maioria, depender da Stock Car.

O que aconteceu hoje, enquanto resultado que vi pela TV, não se deu pela primeira vez e talvez não seja a última. Então é simples, meus caríssimos: não vejam mais, não levem a sério a Stock Car, não sejam masoquistas funcionais atrás de uma esperança natimorta. Vão ler um livro, ir para o churrasco dos amigos, passear, correr, dormir, ocupar o tempo do qual todos reclamam em algum momento que é curto com uma alguma coisa útil e proveitosa. E se a questão é ficar na frente da TV, mais simples ainda: pegue gentilmente seu controle-remoto e acione os botões que permitam a troca de canal.

E ainda que não tenha sido feita para o público em geral, todo mundo se sente livre para se intrometer e responde à pergunta feita por Luis Roberto. Saiam, meus amigos.

Victor Martins (Blog Victal)

Frio, sol no parque e chocolate

Pode parecer estranho para muita gente, mas Karina Novaes quase detesta as férias, fica entediada vejam só. E pensar que quando acabam as minhas, a primeira coisa que faço na volta ao trabalho é marcar as próximas no calendário. Mas quem sou eu pra julgar os outros, ou como diria um sujeito que conheço, cada qual com seu cada qual.

Kika ainda está na faculdade e tem a benção de duas férias por ano. No recesso de meio de ano, conseguiu se livrar do tédio com uma viagem, que resolveu contar por escrito. Sei que já estamos em setembro e as férias foram em julho, mas o atraso foi meu. Segue abaixo.

Finalmente férias na faculdade. Muitos dias livre, sem precisar estudar, sem a preocupação se vai ou não passar nas matérias. Um tempinho para organizar os pensamentos e fazer só aquilo que a gente gosta. Tudo assim, bem fácil. Seria tudo perfeito se não fosse um probleminha que sempre teima em surgir em uma ou duas semanas de férias: o tédio.

Eu odeio o tédio, ele nos transforma naquela coisa jogada no sofá dias a fio. Isso me causa uma certa agonia. A sensação é de ter muita energia contida, muitas coisas que poderiam ser feitas e não são. Eu não gosto de férias, sofro já quando vejo que elas estão chegando.

Nessas férias de meio de ano a minha salvação foi o convite da minha irmã-madrinha para visitá-la em Porto Alegre. Eu nem pestanejei, era sinal de coisas diferentes, pessoas diferentes, lugares diferentes. Uma semana totalmente fora do meu contexto cotidiano. Arrumei minhas malinhas (malinhas é bondade minha) e fui feliz e sorridente para POA.

Eu sabia que o clima de lá era bastante frio, então levei todas as minhas roupas de inverno. Doce ilusão a minha achar que as minhas roupinhas de inverno carioca iriam servir para alguma coisa lá. Usei as roupas da minha irmã todos os dias. Eu saia com calça, duas meias, bota, duas blusas de manga comprida, dois casacos e luvas, gorro e cachecol na bolsa, caso o frio apertasse muito. Teve dias, como o passeio na Redenção domingo á tarde, que eu usei exatamente tudo. Sentia-me muito estranha com tanta roupa, meio fora de contexto. Porém era só uma sensação, pois todos na rua estavam do mesmo jeito que eu, embrulhadinhos.

Eu, assim como todo bom carioca, quando faz um solzinho, corro para praia. Em Porto Alegre os gaúchos correm para a Redenção para pegar um sol, para a Redenção e para os muitos parques espalhados pela cidade. E eles com suas roupas de inverno mesmo e, claro, o chimarrão. A primeira coisa que passou pela minha cabeça quando vi essa cena, foi de que aquilo era meio coisa de paulista. Sem querer ofender os paulistas, claro! Mas já no segundo dia me peguei sentada no sol na varanda da casa da minha irmã.

Tirando a grande atração que é pegar um sol na Redenção, a cidade de Porto Alegre é muito agradável e aconchegante. Como eu fui no inverno, tive a oportunidade de vivenciar uma cultura muito diferente da cultura carioca. Nosso inverno não é muito diferente do nosso verão, nossas vidas, nossos programas, nossas roupas não mudam por causa do frio. Já vi inúmeras vezes, e eu mesma sou uma delas, pessoas andando de havaiana ou sandália na chuva aqui no Rio.

Em Porto Alegre, no inverno tudo muda. Os cômodos da casa ganham aquecedores, as lareiras são acessas e não por uma questão de elegância. A comida se torna a parte mais importante dos programas turísticos, digamos assim.

Praia de Ipanema

Praia de Ipanema

Da noite gaúcha eu infelizmente não posso falar. Como viajei sozinha, não tinha companhia para sair à noite. Mas durante o dia pude fazer programas bem interessantes, como ir à Praia de Ipanema, praticamente uma afronta aos cariocas que passarem por lá. Só por causa do nome mesmo, porque o lugar em si é muito charmoso e muito calmo. E é banhada pelo principal rio de POA, o Guaíba. Fui também ao mercado público, um galpão com várias lojas, onde se vendia de tudo: artigos típicos de Porto Alegre e sua cultura (comprei duas alpargatas), muitas lojas que vendem artigos parecidos com os da Casa Pedro só que lá me pareceram mais fresquinhos. O galpão em si é bem bonito, parece que você está em um mercado público europeu, daqueles de filme. Eu também visitei as inúmeras lojas e fábricas de sapatos, é impressionante como se acha bons sapatos com preços mais baratos. Comprei uma bota de couro legitimo por R$ 80 e um sapato Hugo Boss por R$ 50. Eu deveria ter ido mais preparada financeiramente para isso. Para comprar casacos baratos e bons também é excelente. Eu só não comprei porque o inverno já está acabando. Eu teria comprado para usar só no próximo ano, mas aí todas as tendências já mudaram. Não valia a pena.

Saindo de POA, fui a Canela e a Gramado, na Serra Gaúcha. São duas cidadezinhas bem próximas uma da outra. Em Canela eu fiquei apenas alguns minutos, foi o tempo de almoçar e ver a catedral. Pelo pouco tempo em que estive lá, percebi uma cidade charmosinha, com construções de apenas um andar ou dois. Todas as casas muito bonitas, dando um ar de cidade bem cuidada mesmo. Tanto em Canela com em Gramado, é só colocar o pé na rua que os carros param para as pessoas atravessarem. As ruas são estreitas e não tem nenhum sinal de trânsito. Eu duvido que tenha acidentes por lá. Em Gramado a grande atração é o chocolate, comprei muito chocolate. Chocolate para todo mundo aqui no Rio. São muitas lojas de chocolate, uma perdição. É melhor esquecer a dieta antes de ir pra lá. Eu escolhi a loja mais tradicional de Gramado, a Planalto. Estou ouvindo os elogios sobre o chocolate até hoje.

A imersão em uma cultura diferente da que estamos acostumados é sempre uma boa oportunidade. No início achamos tudo estranho e quando voltamos para o nosso habitat natural sentimos saudades. Eu posso dizer, inclusive, que moraria em Porto Alegre sem problemas. De uma maneira geral é uma cidade bem aconchegante e os gaúchos são bastante educados e simpáticos.

Karina Novaes

PS 1: gostaria de deixar claro que a parte de chocolate que me coube foi muito pequena, insatisfatória mesmo, só serviu para dar mais água na boca.

PS 2: morar em Porto Alegre??? Uma carioca??? Como assim??? (com todo respeito aos gaúchos, claro)

PS 3: como brinde, a Kika mandou uma piadinha. Conhecida, mas excelente. Divirtam-se.

(mais) Carros de verdade

O Volvo C30 que participará do WTCC é flex e corre com bioetanol

O Volvo C30 que participará do WTCC é flex e corre com bioetanol

Essa notícia eu encontrei no A mil por hora e vem bem a calhar. Quem tem o hábito de passar por aqui e gosta de corridas, sabe que o Reginaldo Leme disse há alguns dias que a nossa Stock Car está entre as três maiores e melhores categorias de carros de turismo do mundo. Com o quê discordo e contrargumento.

Enfim, a nova é que a Volvo – pela terceira vez em três anos – vai participar de uma prova do WTCC, o mundial de turismo. Isso acontece na rodada dupla de Brands Hatch, no dia 19 de julho.

A marca sueca vai alinhar dois C30 (Robert Dahlgren e Tommy Rustad) que não correrão para marcar pontos, pois os carros são movidos a bioetanol, homologados para o STCC (Swedish Touring Car Championship ou sueco de turismo).

Segundo o diretor Derek Crabb, o objetivo é “provar que o STCC não deve nada a ninguém e pode ser considerado um dos melhores certames de carros de turismo do mundo”.

Só para constar, o STCC tem 10 provas realizadas em pistas da Suécia e Noruega. Como não achei o botão para a versão em inglês do site, não descobri se são rodadas duplas, triplas ou apenas corridas simples. Mas deu pra descobrir que entre os 24 inscritos há BMW, Volvo, Alfa Romeo, Peugeot, Seat, Honda, Chevrolet, Volkswagen, Audi, Opel e Mercedes.

Enfim, o STCC é apenas mais um exemplo para mostrar que o automobilismo brasileiro em geral está à míngua. Nossa principal categoria é uma disputa entre bolhas que não podem se comparar a nada que existe ao redor do mundo, a segunda maior disputa brasileira é de caminhões, nossas montadoras não investem nada em um campeonato verdadeiro de marcas e os monopostos praticamente acabaram. E ainda tem gente que tenta nos convencer do contrário.

Menos, Regi, bem menos

Reginaldo Leme é uma referência no jornalismo especializado em automobilismo no Brasil. Especialmente Fórmula 1. Além disso, e por isso, eu achava que era uma espécie de contraponto das megalomanias brazucas de Galvão Bueno. Sempre ponderado e, dentro do possível, corrigindo e até criticando as tresloucadas declarações e afirmações do locutor oficial da Vênus platinada. Mas aí…

Daí que nesse último final de semana não houve fórmula 1 e as novas novelas e futricas do circo máximo do automobilismo mundial ainda não embalaram o suficiente para tomar o noticiário. Eis que, em sua coluna publicada no site Grande Prêmio (entre outros veículos Brasil afora), Regi soltou a pérola: “já considerada uma das três mais importantes categorias de carros de turismo do mundo graças ao nível de equipes, pilotos e organização, a Stock Car brasileira procura aprimorar suas regras”.

Ou eu estou completamente louco – pois penso que existem muitas outras categorias de turismo muito mais importantes e melhores que a Stock – ou Reginaldo Leme se entregou ao pachequismo desenfreado de seu colega de trabalho.

Levando-se em conta que entre as três, Regi coloque a Nascar e a DTM ao lado do campeonato brasileiro, de memória e de sopetão (e pesquisando o suficiente apenas para encontrar os links oficiais de cada categoria), existem pelo menos seis categorias superiores à Stock brasileira (que de estoque, como o nome sugere, não tem nada há anos).

Vejam só a lista que fiz e algumas de suas características básicas:

WTCC

WTCC

WTCC (mundial de turismo): as marcas envolvidas são BMW, Chevrolet, Seat e Lada e o campeonato tem 12 rodadas duplas (Brasil, México, Marrocos, França, Espanha, República Tcheca, Portugal, Inglaterra, Alemanha, Itália, Japão e Macau). Entre os pilotos, os destaques são o líder do campeonato Yvan Muller, o brasileiro Augusto Farfus (BMW, 3º), além de Gabriele Tarquini, Tiago Monteiro, Andy Priaulx, Alessandro Zanardi e Nicola Larini.

BTCC

BTCC

BTCC (britânico de turismo): Vauxhall, Chevrolet, BMW, Honda, Ford, Seat e MG disputam dez rodadas triplas nos circuitos do Reino Unido, como Brands Hatch, Donington Park e Silverstone. Os destaques são Fabrizio Giovanardi, Mat Jackson, Jason Plato e Colin Turkington

American le Mans Series

American le Mans Series

Le Mans Series e American Le Mans Series: sem maiores comentários, o nome dos campeonatos europeu e estadunidense entregam o que é a categoria até para quem não freqüenta pistas e programas especializados. Filhotes da histórica prova 24 horas de Le Mans, as disputas têm seus carros divididos em quatro categorias (LMP1, LMP2, GT1 e GT2), protótipos e gran turismo das principais marcas, como Ferrari, Audi, Aston Martin, Peugeot e Porsche correm em circuitos tradicionais como Spa Francorchamps (Europa) e Daytona (EUA).

TC 2000

TC 2000

TC2000: talvez, para nos matar de inveja, até os hermanos tem um campeonato melhor, mais tradicional e muito mais importante, com participação real das fábricas representadas. No certame argentino os carros são Honda, Chevrolet, Renault, Ford, Toytota, Peugeot, Fiat e Volkswagen. São 12 provas em um calendário que ainda têm corridas endurance, com pilotos convidados (Cacá Bueno sempre presente) e carros sendo pilotados por duplas.

V8 Australian Supercars

V8 Australian Supercars

v8 Australian Supercars: Holden (subsidiária australiana da GM) e Ford entregam seus carros a 30 pilotos em 15 rodadas duplas. Além de competirem por suas equipes, os pilotos têm uma briga renhida pela disputa das fábricas, em um mercado que vitória é sinônimo de vendas.

De quebra, me reservo o direito de não falar sobre o FIA GT.

Agora, depois de ver as fotos e visitar os sites oficiais das categorias acima, dá pra acreditar que um campeonato disputado por carros de chassi tubular, com bolhas que representam duas marcas, motores iguais para todos fabricados por deus sabe quem e que não apresentam qualquer desenvolvimento tecnológico que possa ser aplicado em carros de rua e nem mudam nada na briga de mercado das fábricas representadas pode ser considerado um dos três mais importantes do mundo?

Menos, Regi, bem menos.

2ª Edição

Apenas para constar, foi disputada no último final de semana, no circuito de rua do Porto, em Portugal, a 50ª rodada dupla do WTCC. A primeira bateria, corrida 99, foi vencida pelo italiano Gabriele Tarquini (Seat). A outra, a centésima, foi vencida pelo brasileiro Augusto Farfus que, com a conquista, passou a ser o piloto com o maior número de vitórias da categoria: 11, desde 2005.

O detalhe é o público de 120 mil pessoas sem as torcidas uniformizadas bancadas pelos patrocinadores, prática comum na Stock Car. Como disse, apenas para constar…

Interlagos (ou ‘preparem-se que a história é longa’)

Na primeira vez que fui a um autódromo, tinha 8 ou 9 anos, em 1981 ou 82. Jacarepaguá. Fui com meu pai, um garoto da escola que já não lembro o nome e seu pai. Chegamos de manhã cedo e a programação tinha cinco ou seis corridas. A última delas, a sensacional Opala Stock Car.

Depois desse dia, foram muitos e muitos anos sem pisar em qualquer autódromo, até a volta ao mesmo Jacarepaguá na primeira corrida da Fórmula Indy no Brasil. A partir daí, voltei a freqüentar (se é que 2 ou 3 vezes ao ano podem ser chamadas de ‘freqüência’) corridas de várias categorias e conheci os circuitos de Curitiba e Interlagos.

Com o anúncio de que Emerson e Piquet correriam na GT3 Brasil, me animei a ver uma das corridas. Nélson até hoje não estreou, mas resolvi insistir. Combinamos (eu, Zé Luis e Rodrigo) de irmos a São Paulo. Além dos super-carros (tem hífen?), Copa Clio e F3 Sul-Americana, que nunca tinha visto. Perfeito.

As categorias têm rodadas duplas aos sábados e domingos e optamos pelo domingo. Como a programação começava às 8 da manhã, teríamos que sair do Rio de madrugada, para chegar a tempo.

Cocares

Antes de contar nossa ‘aventura’, é preciso abrir parênteses. Numa analogia às estrelas com que são classificados hotéis no mundo inteiro, como poderiam medir os programas de índio? Em cocares! Pois então…

cocarDeveria ter desconfiado que as coisas não seriam exatamente como imaginamos logo no início. Alugamos um carro e fiz a reserva com uma semana de antecedência para não ter problemas. Pedi um Fox, carro 1.6 para agüentar bem a serra, com bom espaço interno (meço 1,90) e diária relativamente barata.

Na hora de retirar o bendito, a surpresa: não havia nenhum Fox disponível e o outro veículo oferecido na mesma categoria foi um Prisma 1.4. Quando reclamei, o rapaz que me entregou o carro disse que poderia trocá-lo em qualquer filial. Eram quase 22h. Quando falei que tinha feito reserva uma semana antes e pegaria a estrada às duas da matina, ele só pôde fazer cara de bunda… Sobre o motor, poucos problemas pois seríamos três sem bagagem. Mas acabei dirigindo quase mil quilômetros com a cabeça batendo no teto e os joelhos no volante. Parabéns à Localiza pela grande demonstração de respeito ao cliente e meus sinceros agradecimentos pelas dores no corpo.

Dutra

Eu e Zé saímos do Rio e pegamos o Rodrigo na rodoviária de Sampa, que partiu de BH. Junto com o carro, alugamos um GPS para andar em São Paulo, chegar e sair de Interlagos. Desperdício. Rodrigo, um mineiro que vive no Rio, é o próprio GPS de São Paulo, no que diz respeito aos caminhos que levam a Interlagos.

Partimos às duas da manhã e a programação foi perfeitamente cumprida. Sem trânsito e duas paradas rápidas, encontramos Rodrigo às 7h15 e fomos direto para o autódromo.

O primeiro susto foi o estacionamento. R$ 30 e, depois, ainda descobrimos que foi barato. Frio da porra na terra da garoa (ao menos para cariocas) e, ao invés de entrarmos logo, comemos um belíssimo e saudável sanduíche de lingüiça com Coca-Cola a título de café da manhã. Grande decisão, porque dentro do autódromo…

Ingressos

Durante mais de um mês, tentamos – de várias maneiras – conseguir credenciais para visitar os boxes. Afinal, se estávamos ali pela GT3, queríamos ver os carros de perto, se possível sem as tampas dos motores. Não conseguimos e resolvemos ir assim mesmo, de arquibancada (R$ 15). Havia um ingresso que dava direito a visitar os boxes, mas com preço absurdo: R$ 150. Gostaria mesmo de saber quantos foram vendidos na bilheteria, fora os dos patrocinadores e suas ações de marketing com clientes.

Mesmo com sol, o vento não deixou a gente tirar os casacos

Mesmo com sol, o vento não deixou a gente tirar os casacos

Perdemos o aquecimento da Clio mas entramos a tempo de ver a GT3 acordando. Sem compromisso e ritmo de corrida, é possível prestar atenção em alguns detalhes interessantes. O mais óbvio, a diferença entre os motores, com Lamborghinis quase em silêncio (para o que se espera de um carro de corrida, claro) e os Ford GT com o ronco ensurdecedor.

Ficamos no começo da reta, em frente ao início da faixa que delimita a entrada dos boxes, de onde podíamos ver o final da reta oposta, quase todo o miolo, junção e a reta, até a freada para o S do Senna. Não havia lugar melhor. Porque, para quem não conhece autódromos, é preciso explicar que em nenhum, em qualquer lugar do mundo, é possível enxergar toda a pista. O que chegava mais próximo disso era Jacarepaguá, aquele lá do início da história e que César Maia e Carlos Nuzman destruíram.

Corridas

A F3 começou às 9h30. Apesar do sol, a neblina denuncia o frio

A F3 começou às 9h30. Apesar do sol, a neblina denuncia o frio

A primeira corrida do dia foi da F3, com apenas 14 carros (chassis Dallara e motor Berta). Corrida razoável, com disputas interessantes, mas – depois de toques e abandonos – terminada por apenas 10 pilotos. Além disso, sul-americana apenas no nome, pois só há brasileiros na pista. Mas quem quer acompanhar a temporada, tem que se contentar com a transmissão via internet (pela RaceTV, não sei se ao vivo) ou os VTs no Speed Channel (canal 97, Net Rio).

A segunda prova foi a melhor do dia. Não esperava muito da Copa Clio, mas é impressionante como é divertida. 24 carros no grid, pista cheia e com muitas disputas e, ao contrário do que estamos acostumados a ver na Stock Car, muito esforço de todos para que não haja toques. É claro que há acidentes e batidas, mas as brigas por posições são impressionantemente limpas. Palmas para os pilotos.

Na largada da Clio é possível ver que o carro de segurança comanda os pelotão até o último momento, para que nada dê errado. Mais um exemplo para a Stock Car.

Na largada da Clio é possível ver que o carro de segurança comanda os pelotão até o último momento, para que nada dê errado. Mais um exemplo para a Stock Car.

Um detalhe que ajuda a melhorar a corrida é que, depois de um terço de prova, o safety car entra para reagrupar os pilotos. Os cinco primeiros nesse momento recebem pontos de bonificação e, depois que recomeça, novas disputas. Algo que vale a pena acompanhar durante todo o ano (a ESPN Brasil transmite).

Público

Verdade seja dita, para o que estamos acostumados a ver nos autódromos brasileiros, até que tinha bastante público presente. E é preciso lembrar que Stock e Truck, que estão sempre lotados (muito em função da farta distribuição de convites pelos patrocinadores), ao contrário de ser regra em corridas no Brasil, são enormes exceções.

A arquibancada quase vazia é a regra do automobilismo brasileiro

A arquibancada quase vazia é a regra do automobilismo brasileiro

Mas não dá para esperar muito público mesmo. Pouquíssima publicidade, mesmo na cidade onde acontece o evento. E nenhuma estrutura. Se não tivéssemos comido aquele sanduíche, teríamos ficado o dia inteiro à míngua. Dentro do autódromo, apenas uma barraquinha de comes e bebes (pouquíssima variedade) e, claro, uma fila absurda.

Além disso, apesar de grandes marcas envolvidas, nada para o público. Nenhum estande onde se pudesse comprar lembranças de qualquer tipo. Em resumo, nenhuma atração para o público nos intervalos entre as provas. O meu sentimento é que a organização se incomoda com a presença de torcedores e fazem de tudo para que ninguém volte.

Os carros

Andreas Matheis tocou Walter Salles depois de ser ultrapassado. Dick Vigarista?

Andreas Matheis tocou Walter Salles depois de ser ultrapassado. Dick Vigarista?

Enfim, a corrida que nos levou a Interlagos. Apenas 14 carros na pista, mas algo que relevamos pois são máquinas muito caras em apenas seu segundo ano no Brasil. E aí é que está o problema: grana. Nitidamente, todos pensam 30 vezes antes colocar o carro em uma disputa de verdade e a corrida acaba sendo meio morna, com raríssimas ultrapassagens. Além disso, o trabalho de equalização dos carros, feito na Europa e antes de começar o campeonato, falhou e os dois Ford GT sobram na turma. E sem fazer qualquer esforço.

No final da corrida, não vimos a única disputa real e que acabou decidindo a prova: os dois Ford se pegaram no S do Senna e acabaram se tocando. Um ficou fora, o outro se arrastou até terminar em quinto. Em resumo, os carros são lindos mas corridas e campeonato são muito sem graça. Muita coisa pode melhorar, se o grid encher e os carros forem realmente equilibrados. Por enquanto, resta torcer para 2009 ser melhor que este ano. E quem quiser ver de casa, ao vivo pela RaceTV ou os VTs na faixa Grid Motor do SporTV.

The End

Do autódromo, direto pra estrada. Almoço no caminho, muito trânsito, cinco pedágios e algumas obras depois, conseguimos entregar o carro às nove da noite e, finalmente, descansar. A conclusão é que corrida é muito bom do sofá (a não ser que os organizadores sejam realmente organizadores) e, talvez, uma vez por ano, desde que haja corridas no Rio. Viajar de novo, só pra isso, nem pensar.

E, afinal, gostaria que me ajudassem: quase 12 horas de estrada, 10 pedágios, arquiba sem comida e bebida, corridas sem graça e um frio da porra. Quantos cocares valem esse programa?

PS 1: é claro que, pra quem gosta, ver e ouvir os carros ao vivo, discutir automobilismo entre amigos que realmente gostam e entendem e (mal ou bem) ter história pra contar, vale muito.

PS 2: além dos três originais, Marcos Lobo foi nos encontrar na pista, o que foi excelente. Matar a saudade de um amigo que, pela distância, é raro encontrar, não tem preço. Beijo na Zélia e nas crianças.

PS 3: é terrível chegar a Interlagos, ver os restos do circuito original e não ficar triste. Não dá para entender como foi possível atualizar o autódromo sem manter o circuito original como uma pista alternativa, por exemplo, para provas longas. Vale lembrar que um dos consultores técnicos do projeto foi Ayrton Senna.

PS 4: Que inveja… São Paulo ainda tem autódromo.

PS 5 (18h34): Fui corrigido nos comentários sobre os motores da F3. Esse é outro detalhe: ao chegar no autódromo, não existe qualquer tipo de informação sobre o que vai acontecer. Ao comprar ingresso, não deveríamos receber um folder com informações sobre as categorias, pilotos etc.?