Otimizando o fluxo de ar

Termina hoje a primeira semana de testes da F1 em 2014. Nada, nenhuma impressão definitiva é possível e analisar os tempos de volta é inútil. Mesmo assim, algumas coisas são fáceis de notar: a Mercedes confirmou os boatos do ano passado e é a montadora melhor preparada (o que não quer dizer que as outras não tirem o atraso a tempo). Mercedes e Williams são bem nascidos. A Sauber tem cheiro bom. Alonso não reclamou de nada, apesar dos problemas, o que indica que a Ferrari também. A Renault tem problemas e ver a Red Bull ter que lutar para superá-los é interessante, por motivos óbvios.

Mas e a Lotus, que não apareceu? Que as coisas não vão bem por lá, todo mundo que acompanha um pouquinho o noticiário da categoria já está cansado de saber. O problema, como sempre, é a falta de grana. Não por acaso, perdeu Kimi para a Ferrari e mais um monte de gente boa da equipe técnica.

Lotus_assimetricoA outra notícia da Lotus, nessa semana, tem a ver com seu bico diferente de tudo o que apareceu até agora, uma espécie de plug de tomada. Mas aí apareceu essa foto aí, que eu ainda não tinha visto. E o Marcos Chavarria explica o porquê de algumas coisas (em relação ao regulamento) e especula sobre algumas das razões da ausência do time em Jerez (além da óbvia falta de grana). Desconfio que ele acertou em tudo. Mas não aprofundou um tema relevante.

Ele levanta a hipótese de, se a Lotus estiver certa, todas as outras a copiarem ou gritarem contra. Foi assim com o difusor duplo da Brawn, por exemplo. Mas qual a grande diferença ou vantagem que esse bico de tomada pode trazer?

Reparem que as pontas do bico vão bem à frente da asa. Esqueçam os ‘gonzos’ e pensem em Ferrari e Mercedes (os aspiradores de pó). Os bicos seguram a asa com dois pontos de apoio que formam a boca do aspirador. Agora, no caso da Louts, ela faz o mesmo. Mas, lançando as pontas, mesmo que de forma assimétrica, ela cria um túnel de aceleração do ar que passa pelo bico para debaixo do carro. Num mundo que briga por pentelhésimos de segundo, é uma boa sacada. Ao menos na teoria.

Não acho que cause o efeito do difusor duplo, mas vai que…

Bocas

Tagliatelle Foto: Ange KritsasHá quanto tempo não falo de F1 por aqui? Nem lembro mais. Ainda gosto da bagaça, muito. Ainda acordo domingo de manhã só pra ver corrida. Mas as corridas e o campeonato têm sido tão previsíveis que nem dá vontade de gastar tempo pra escrever a respeito.

Mas eis que Massa foi saído da Ferrari, Raikkonen largou a Lotus e voltou para Maranello, Felipe Nasr nem vai tão bem assim na GP2 e, depois de 40 anos, corre-se o risco de ficar sem pilotos brasileiros na categoria.

Sim, o risco existe mesmo, e já foi tema de conversas preocupadas entre Galvão Bueno e Bernie Ecclestone. E isso não tem nada de novidade. Porque o Brasil é sim um mercado importante. E porque, com o jeito ufanista que a Globo nos acostumou a seguir qualquer esporte, se nenhum piloto tupiniquim estiver na categoria o negócio (estimado hoje em R$ 40 milhões em cotas anuais) vai para o brejo.

No entanto, reza a lenda, o futuro não dá pinta de ser tão negro quanto parecia.

Bocas nem tão pequenas dizem que a Renault vai retomar a Lotus. Bocas enormes, além do número de carros vendidos nos últimos anos, garantem que o Brasil é um mercado fundamental para a montadora francesa. Bocas muito pequenas dizem que uma certa grande e inspiradora empresa brasileira vai entrar no negócio (já andam até testando produtos em conjunto em um grande laboratório de motores no sul do país).

Boatos indicam que haverá um grande jantar de comemoração. Além de representantes das empresas francesa e brasileira, haverá dois convidados especiais: Galvão Bueno e Bernie Ecclestone. Não consegui descobrir a data e o endereço do banquete, mas parece que o prato principal será massa.

Esportivas

Na água

Barla-sotaDói! Dói tudo e muito. O corpo moído, dos pés à cabeça. Sabe aquele dia seguinte da sua primeira ida à academia, depois de 20 anos sem fazer nem um polichinelo? È a sensação que tenho.

Quase um ano sem ir a bordo e lá fui eu correr o campeonato estadual de Velamar22 a bordo do Picareta. Três regatas barla-sota de seis pernas de cerca de uma milha cada, com vento médio de 15 nós e rajadas que variavam de 18 a 20. Intensidade total em três provas de mais ou menos 40 minutos.

Não lembro quantos barcos havia na água, se 9, 10 ou 11. O que importa é que num dia em que “o vento da verdade”, como diz o comandante Ricardo Timotheo, apareceu, a tripulação que variava entre o inexperiente e o enferrujado fez o foguetinho azul andar. Sempre brigando com o Smooth e o Focus (ex-Dona Zezé), fizemos 3º-2º-3º.

Então, apesar da dor, foi mesmo um dia muito bom.

Na Austrália

Kimi venceu a primeira corrida de 2013 / Foto: Getty ImageNão consegui ficar acordado de madrugada pra ver a corrida ao vivo nem pude assistir no horário alternativo, às 9h, pois estava a caminho do clube. Pra finalizar, as mais de três horas sem luz ontem à noite também me impediram de ver compactos ou matérias por aí.

Pelo que entendi, Kimi deu o pulo do gato com os pneus e levou a corrida na estratégia. Alonso em segundo e Vettel, apesar da pole e da pista seca, em terceiro. E fico pensando em alguns especialistas que depois dos dois treinos livres da primeira corrida já decidiram que o campeonato tinha dono e até data pra acabar. Gato mestre é isso aí né?

Na Gávea

Jorginho / Foto: Carlos Costa/LancenetDorival caiu e lá vem Jorginho. Juro que não sei o que é pior… A verdade é que o agora ex-técnico nunca foi o queridinho da nova diretoria, mas a grana da rescisão era alta demais. Também é verdade que, apesar da boa taça Guanabara, o índice de aproveitamento do time sob seu comando é muito ruim e só superou os 50% depois de um turno inteiro enfrentando os mágicos esquadrões de quissamãs, bambalas e arimatéias.

No fim das contas, contou-se a história para boi dormir do não-acordo pela diminuição dos salários e o clube se livrou de um técnico de médio pra ruim e uma conta entre o fabuloso e o escalafobético. O problema é que vem aí o Jorginho.

Não lembro de nada realmente relevante que tenha feito na sua ainda curta vida de técnico. E, pra completar, ainda arrumou uma confusão desnecessária ao tentar trocar o mascote do América. Tomara, tomara mesmo que eu queime a língua e o sujeito dê certo. Mas não acredito.

Mas espero, sinceramente, que ele não tenha diarréias mentais, que não tente trocar o Urubu Rei pelo periquito lilás de Aruanda.

Corrida (quase) maluca

E então haverá uma folga de três semanas até que o circo chegue à Turquia. E teremos, então, um pouco mais de tempo para tentar entender tudo o que aconteceu nas três corridas realizadas até agora e o que seus resultados podem significar para o andamento do campeonato.

Porque, para um desavisado qualquer que tenha parado para assistir ao GP da China, ontem, a Fórmula 1 está muito parecida com uma certa corrida maluca criada por William Hanna e Joseph Barbera.

Apesar de ainda um tanto confuso, é impossível dizer que o negócio não está mais divertido. Durante todo o GP da China houve disputa de posições, fosse pelos diferentes estágios de degradação dos pneus, pela asa móvel, pelo KERS ou por tudo junto.

Sobre o resultado em si, apenas algumas observações: Webber foi o cara da corrida, saindo de 18º para o pódio. Apagou a imagem ruim, de desmotivado e pré-derrotado das duas primeiras corridas e da classificação horrorosaem Xangai. Mostrou, mais uma vez, que a Red Bull tem o melhor carro. Da mesma maneira que Vettel, segundo, mostrou que o KERS da turma da latinha ainda é um problema. O equipamento fez muita falta durante a prova, especialmente na largada em que perdeu posição para as duas McLaren.

A largada ruim fez a equipe a mudar a estratégia e, com pneus duros e muito desgastados, permitiu a ultrapassagem de Hamilton a cinco voltas do final. O inglês, como quase sempre, pilotou o fino e não deixou mais dúvidas sobre a capacidade de recuperação da equipe que promete mesmo ser a pedra no sapato dos touros vermelhos.

Sobre a Ferrari, algumas ambivalências. O que Massa está largando bem neste ano é sacanagem. Em compensação, Alonso só anda largando mal. O brasileiro fez uma corrida bem honesta, acompanhando o ritmo de Vettel e Hamilton e boa parte da corrida, mas com os pneus duros a Ferrari ficou pra trás. De um pódio quase certo, Massa foi ultrapassado por uma fila de carros para chegarem sexto. Oúnico lado bom é que, mais uma vez, à frente do companheiro espanhol.

Outros destaques: a Mercedes ainda vai apanhar muito, não vai brigar por vitórias mas pode incomodar e tem potencial para beliscar alguns pódios. A Williams, que chegou a prometer, parece que não vai cumprir. Kovalainnen, quem poderia imaginar, chegou com sua Lotus à frente de Perez (Sauber) e Maldonado (Williams).

Para a corrida na Turquia, o início da temporada européia, quase todas as equipes devem apresentar muitas novidades e a Pirelli já avisou que em Istambul e Barcelona, logo a seguir, levará os mesmos pneus das três primeiras corridas. Em compensação, em Mônaco (circuito de rua, asfalto liso, pista curta, baixa velocidade), os carros calçarão – pela primeira vez – os supermacios. A outra opção será o macio.

A Red Bull tem potencial para bater todos os recorde possíveis e imagináveis. Mas terá que resolver o problema do KERS se não quiser passar aperto

T128, C30 e R31

Nada como ficar um dia fora do ar para perder o timing das notícias. Desde a madrugada, três equipes apresentaram seus carros para a temporada 2011 da Fórmula 1.

Quer dizer, quase isso. Porque a Lotus de Tony Fernandes, a verde, não mostrou o carro de verdade. Lançou uma espécie de revista digital, a Team Lotus Notes, e nela há algumas imagens do T128 (o carro se chamaria TL11 mas o nome foi modificado, provavelmente por causa da indefinição da briga pelo nome Team Lotus). Nesta terça, em Valência, começa a pré-temporada pra valer e devemos ver o carro na pista.

A princípio (e pelo pouco que deu pra ver na tal revista), um carro com muito potencial, com desenho próximo aos das principais equipes. A Lotus tem tudo para dar um grande salto de qualidade, pois terá o motor Renault e o câmbio da Red Bull. E para os brasileiros, a novidade é o baino Luis Razia como piloto reserva. Além de seu contrato prever sua participação em quatro treinos livres ao longo do ano, ele será um dos pilotos da Air Asia, uma espécie de time Junior da Lotus na GP2.

O segundo time a apresentar seu carro hoje foi a Sauber. O C30 é pouco mais do que um evolução (bem consistente, diga-se) do modelo anterior, e talvez isso cause estranheza nos mais afoitos, afinal há o dinheiro da Telmex à disposição. Mas vale lembrar que o acordo com Sergio Pérez foi fechado no final do ano. De qualquer maneira (e pela evolução que teve no final da temporada passada), o carro não parece nada ruim. Resta saber o que Kobayashi será capaz de fazer, pois já não pode mais ser chamado de surpresa.

Por fim, a Lotus Renault também mostrou seu carro. Este sim, um carrão. Pelo menos aparentemente. Para as fotos de hoje, algumas novidades não foram mostradas, como o novo escapamento, mas em várias outras áreas – como na asa traseira integrada ao difusor – nota-se a pretensão de tentar surpreender com algo realmente diferente.

A destacar, a confirmação de Bruno Senna “como um dos 732 reservas”, como disse Victor Martins. O detalhe é que, de todos eles, o brasileiro é o único que não vai correr em nenhuma outra categoria, ficando o tempo todo à disposição da equipe. Será que isso significa alguma coisa?

De negativo, a pintura ficou muito a dever às pinturas clássicas da Lotus preta e dourada das décadas de 70 e 80 que, em tese, seriam a referência.

Pouco antes dos primeiros treinos, Red Bull, Toro Rosso, Mercedes e Williams apresentarão seus carros. As outras equipes (McLaren, Force India, Marussia Virgin e Hispania) usarão carros híbridos – modelos do ano passado com um ou outro componente novo – nessa primeira bateria de testes.

Como será o amanhã?

Como adaptar a expressão “o que não tem remédio, remediado está” quando se espera uma decisão que não veio? Pois na primeira prova do ano, o GP do Bahrein, estarão alinhados quatro carros Lotus, dois pretos e dois verdes. Por que o julgamento que começaria hoje e terminaria amanhã foi adiado pela justiça inglesa para o dia 21 de março, uma semana depois da primeira corrida da temporada, uma semana antes da segunda, na Austrália.

E aí, o que esperar. Será que uma decisão judicial obrigaríamos a conviver com uma equipe com dois nomes diferentes no mesmo ano? Depois de iniciado o campeonato, um dos times poderia alterar seu nome oficial? Não acredito, sinceramente.

E o que não tem decisão, decidido está.

Então, aproveito o gancho para indicar o especial sobre Colin Chapman produzido em parceira entre o Faster F1 e o Café com F1 (já adicionado à lista Na pista – Notícias aí na barra lateral). Essa boa parceria está funcionando desde o final do ano passado e, até chegar ao criador da Lotus, já produziu excelente material sobre Bernie Ecclestone, Ron Denis, Frank Williams e os 30 anos de aniversário do primeiro título de Nelson Piquet. Se você ainda não viu, vale entrar em um ou outro site e encontrar as séries de cinco capítulos sobre cada um desses personagens.

Esquentou a briga

Na verdade, a discussão já havia começado e já está na justiça há algum tempo. A briga entre Lotus (Proton) X Lotus (1Malaysia).

Esse carro que vocês estão vendo aí na foto é o Renault pilotado por Kubica e Petrov em 2010 com a programação visual que será usada em 2011. A história está muito bem contada pelo Ico no texto que republico abaixo e vocês vão entender que desde a apresentação do carro até a presença do logotipo, tudo é pensado para esticar a corda, fazer pressão.

Além da confusão propriamente dita, há alguns detalhes na imagem, muito bem observados pelo Flavio Gomes. O logotipo da Lada não está no carro, o que pode significar a saída de Petrov da equipe. Outro detalhe é que foi confirmado pelo próprio site Grande Prêmio há algumas semanas que Bruno Senna estava fechado para correr pela Lotus em 2011 e, automaticamente, todo mundo achou que seria a estreante deste ano. Será que o primeiro sobrinho será o companheiro de Kubica na próxima temporada?

Socorro

É bastante complicado, mas vamos lá:

– O Lotus Group, fabricante de carros de rua, anunciou hoje um acordo de patrocínio com a equipe Renault pelas próximas sete temporadas. Os franceses venderam a parte que ainda tinham da equipe para a turma da Genii Capital (a de Gerard Lopez) e vão continuar atuando, de acordo com o release, como “fornecedora de motores e de know-how tecnológico e de engenharia”. A segunda parte da frase é uma maneira de manter o status de mesma construtora do time que disputou esse Mundial de 2010, para que eles possam ganhar o prêmio em dinheiro pela quinta colocação entre as equipes.

– Na prática, o time ficaria oficialmente registrado na FIA tendo a Renault como construtora, mas mudaria o nome para “Lotus Renault GP” ao invés do “Renault F1 Team”. Assim, mesmo com a montadora francesa deixando o barco, poderia alegar “interesses comerciais para atender a um novo patrocinador” para solicitar a mudança do nome sem a necessidade das outras equipes aprová-la. Até porque a outra Lotus, a de Tony Fernandes, certamente votaria contra. O fato da Renault ter vendido sua parte à Lopez para que ele a revenda depois ao Lotus Group é mais um mecanismo para legitimar perante a FIA que o time de 2010 é o mesmo que vai entrar na pista em 2011.

– O que surpreende é o fato do Lotus Group ter colocado o logotipo tradicional usado por Colin Chapman no bico do carro cuja imagem foi distribuída para a imprensa (abaixo). Há pouco mais de dois meses estive numa coletiva de imprensa em Cingapura na qual Tony Fernandes (o da outra Lotus) anunciava a compra dos direitos de usá-lo em 2011. Neste ano, o time dele usou um logotipo, digamos, híbrido. Aí que vem o lado interessante da história: quando Fernandes decidiu reviver o nome Lotus na F-1, conseguiu a licença para usá-lo do próprio Lotus Group (antes que batessem cabeças). Mas não usou o logotipo, provavelmente porque até os diretores do Group sabiam que ele pertencia a David Hunt e teria de ser negociado à parte.

– Fica a clara impressão de que o Group Lotus está forçando uma situação para clamar o direito de ser o “herdeiro” da equipe de Colin Chapman na F-1. Eles fazem os carros de rua, mas o dono dos direitos do nome da equipe de F-1 (sem falar no filho e na viúva de Chapman) se alinham com Fernandes.

– Para mim, tanto faz se um lado ou se outro sai ganhador. Tenho mais simpatia pela causa de Fernandes por conta do apoio que ele tem da família do fundador da Lotus, mas sempre foi claro para mim que a equipe dele é outra, assim como sempre soube que a Brabham de Bernie Ecclestone não era a Brabham de Jack Brabham.

– O certo é que dificilmente essa história vai terminar no estágio que estamos hoje, com duas Lotus-Renault de carros preto e dourado e usando o mesmo logotipo. Ninguém pode fazer um xarope preto e usar o logotipo da Coca-Cola, afinal. Há um processo em curso na justiça inglesa. E apostaria que Bernie Ecclestone vai entrar em ação para costurar alguma solução, já que o episódio só serve para confundir os fãs Fórmula 1 e isto é ruim para o show que ele administra.

– O único lado que saiu ganhando com isso foi a Renault. Já faz tempo que Carlos Ghosn queria se livrar do que considera um abacaxi e, não fosse o mal-estar causado pelo “Crashgate”, ele já teria puxado o carro no final de 2009. Agora, fabricando os motores campeões da Fórmula 1, a existência de um time próprio ficou completamente obsoleta e ele passou a bola prá frente.

Não se preocupe se não tiver entendido. Além de complicado, o assunto é chato. A Fórmula 1 é um ambiente comercial riquíssimo povoado por espertalhões. A maioria sabe preservar o que resta de DNA do esporte nela, mas sempre aparece gente que só pensa no lucro a qualquer custo.

Ico (Luis Fernando Ramos)

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Está na coluna do Ancelmo Gois de hoje, no Globo: “A Petrobras voltará a patrocinar uma equipe de Fórmula 1 no ano que vem”. Antes é preciso ter certeza, confirmar a informação. Mas partindo do princípio que a fonte é boa e que Ancelmo não é dado a barrigas, assumamos que é verdade.

Se ainda não é possível apontar em que equipe estará a estatal brasileira, não é tão difícil dizer para onde não vai.

Por contrato, qualquer motor Mercedes só usa Mobil (exclua a própria, a McLaren e a Force India), qualquer motor Ferrari só usa Shell (exclua a própria, a Sauber e a Toro Rosso). A Renault (equipe) e a Red Bull têm contrato com a Total. Sobram as novatas e a Williams. E das novatas, mercadologicamente, só faria sentido fazer uma parceria de desenvolvimento com a Lotus (que pode virar 1Malaysia ou Air Asia F1) ou voltar à Williams (pela tradição do time e por Barrichelo). Qual seria a eleita?

Maus lençóis

Começou mal a temporada 2011 da Fórmula 1 para os brasileiros. Muito mal, na verdade. A semana começou com uma entrevista de Stefano Domenicali, chefe de equipe da Ferrari ao Corriere della Sera, avaliando o campeonato que mal terminou e já analisando o próximo ano. Vejam só o que ele disse sobre Felipe Massa.

Ogni pilota sa che se non porta risultati è il primo a pagarne le conseguenze. Felipe deve affrontare la prossima stagione sapendo che è fondamentale per lui, come pilota e come uomo Ferrari. (Todo piloto sabe que se ele não traz resultados é o primeiro a sofrer as consequências. Felipe tem que enfrentar a próxima temporada, sabendo que é fundamental para ele como piloto e como homem da Ferrari).

Além disso, ainda há trechos em que se refere a uma espécie de reconquista dos membros da equipe e inclui um recado sobre parar de reclamar do aquecimento dos pneus ao fim de treinos e corridas. Se para bom entendedor um ponto é frase, o que se pode dizer de declarações assim, parágrafos inteiros?

A outra novidade foi o anúncio, agora há pouco, da lista de equipes, pilotos e seus números para o próximo ano.

Como podem ver, Senna e Di Grassi não aparecem na lista. Sobre o primeiro sobrinho, há uma série de circunstâncias que envolvem a sua não apresentação como piloto da Lotus no ano que vem. Em tese, estava tudo certo: acordo firmado, a Lotus vem de motor Renault e seria preta e dourada, remetendo à primeira vitória de Ayrton na F1, em Estoril 85, e aos vários anos em que o time foi patrocinado pela John Player Special. Mas…

A Lotus que vimos neste ano é, na verdade, 1Malaysia com a cessão de uso do nome Lotus que é de propriedade da Proton. O problema é que a proprietária resolveu entrar na brincadeira, negociando com a Renault, e quer proibir a equipe atual de continuar com o nome. A briga já está na justiça, mas parece que o time atual já está entregando os pontos. Na GP2, por exemplo, a Proton vai estrear como Lotus em 2011 enquanto o time de Tony Fernandes será o Air Asia. E como o acordo com o primeiro sobrinho não foi adiante…

O que pode acontecer com ele, então? Muita coisa e nada. Pode continuar na Hispania (se é que ela estará mesmo no grid), o que contiuaria não o levando a lugar nenhum ou pode tentar uma vaga em uma das equipes que ainda não definiram pilotos ou pode ir embora da F1 ou pode até dar um passo atrás para, quem sabe no futuro, dar dois à frente, assinando como piloto de testes de algum grande time (é o que acho menos provável).

Depois dos fiascos de Cristian e Nelson Angelo, Bruno parece ser a confirmação de que nenhum dos nossos três sacros sobrenomes terão descendentes à altura.

Outro brasileiro que ainda não sabe o que fará em 2011 é Lucas di Grassi. Sua equipe (ou arremedo) foi vendida para uma fábrica de carros esportivos russos e, em 2011, será a Marussia Virgin Racing. Ainda não se sabe se os donos do dinheiro vão querer um russo imediatamente (e Deus sabe no lugar de quem) ou se investirão na equipe com os pilotos atuais – Glock e di Grassi – até que a equipe se desenvolva de verdade para, então, apostar em um piloto da casa sem queimá-lo (seja lá quem for) em carros ruins.

No final das contas, o brasileiro em melhor situação – mesmo sem qualquer chances de disputar o título –  é o quase ancião Rubens Barrichelo. Na Williams, conseguiu desenvolver um carro muito limitado em um time com orçamento muito limitado e salvar um ano que começou muito mal, conseguindo resultados frequentes na zona de pontos, com atuações convincentes e até passagens épicas, como a ultrapassagem sobre Schumacher na Hungria.

O que é estranho é a não confirmação de Pastor Maldonado ao lado do brasileiro. Será que o dinheiro da PDVSA não chegou? E o que faria o time que já agradeceu a Hülkenberg pelos serviços prestados?

Entre todos os outros pilotos e equipes, poucas novidades. Como era esperado, os quatro times principais mantém sua dupla de motoristas. Na Renault, Petrov está quase confirmado ao lado de Kubica para sua segunda temporada, independente da confusão Lotus X Lotus. A Toro Rosso é outra que terá novidades. Apesar de oficialmente ainda não estar lá, vai continuar com a dupla Buemi e Alguersuari. Por fim, o único time que realmente está indefinido é a Force India, sobre a qual não me arrisco a fazer comentários, pois há boatos de que – mesmo contra a vontade da equipe – Liuzzi faria valer uma cláusula de seu contrato para continuar.

Vale lembrar que essa é só a primeira lista. Será que muita coisa muda até o início da pré-temporada?

2ª edição

Pastor Maldonado foi confirmado hoje como piloto da Williams para, em 2011, correr ao lado de Barrichelo. O acordo é de dois anos e, de acordo com Victor Martins,  a PDVSA vai desembolsar aproximadamente R$ 60 milhões pelas duas temporadas. Resta saber se o carro continuará azul e branco ou se vai assumir tons de vinho e quanto tem vai demorar para que Hugo Chavez resolva construir um autódromo e pleitear a presença da Fórmula 1 na Venezuela.

So long, farewell, auf Wiedersehen, adieu

Como escrevi ontem, quando resolvi comentar o episódio Ferrari-Massa-Alonso no último GP, sou apaixonado por corridas e a Fórmula 1 não vai acabar por conta do que aconteceu. Então, vou tentar tirar o atraso do tanto de tempo que passei sem tocar no tema por conta da Copa, da ressaca da Copa e da minha viagem no último final de semana.

Bernie Ecclestone deixou escapar que uma ou duas equipes não estarão no grid do ano que vem. E para tentar adivinhar qual ou quais seriam elas, me detenho a quatro times.

A primeira, e mais óbvia, a abandonar o barco seria a Hispania. Eu mesmo já tinha dito isso aqui. Sempre sem dinheiro, encerrou sua conturbada parceria com a Dallara. Mas nos últimos dias foi ventilado um possível acordo do time de Bruno Senna com a Toyota. A equipe passaria a ocupar o quartel general dos japoneses em Colônia na Alemanha, teriam o modelo nipônico de 2010 para usar como base para a próxima temporada e a fábrica de Corollas ainda daria apoio técnico. Para nos deixar ainda mais na dúvida sobre a veracidade desses boatos, o japonês Sakon Yamamoto começou a ocupar o cockpit espanhol a partir de Silverstone. Sinceramente, não arrisco mais uma previsão. Se o acordo for confirmado, o time fica. Se o boato for apenas isso, um boato, Bruno Senna ficará a pé no ano que vem.

A Virgin, do milionário Richard Branson, é outra incógnita. O cara tem muito dinheiro, o time não. Construiu seu carro inteiro no computador. E a barata é uma draga. O time não se sustenta, não tem grana para evoluir e não tem nenhum grande acordo ventilado. A favor de sua permanência, apenas a história de seu proprietário nunca desistir fácil de um negócio. Mas para que esta aposta faça sentido, o time teria que evoluir demais até o final do ano, sinalizando que em 2011 teria capacidade para, ao menos, brigar no meio do pelotão. Não sei se conseguirão.

Das três novatas, a única que conseguiu evoluir de maneira consistente, mesmo que lentamente, desde o início da temporada foi a Lotus. Não por acaso, fechou várias parcerias durante a primeira metade da temporada. Mais dinheiro, mais possibilidades de evolução. Acho que essa não corre risco.

Mas além das novatas, um nome tradicional corre o risco de desaparecer. Peter Sauber moveu mares e montanhas para recomprar sua equipe depois do anúncio de retirada da BMW. Conseguiu e garantiu a grana para cumprir a temporada 2010. Depois de uma pré-temporada alvissareira, os resultados foram péssimos e o carro parecia andar pra trás. O time não tem grana para correr ano que vem, pelo menos até agora. Mas há uma grande chance de se salvar. A Art Grand Prix, equipe mais que tradicional nas categorias de base européias e que tem Nicolas Todt (filho do presidente da FIA, Jean Todt) entre seus sócios, se inscreveu para concorrer à última vaga aberta no grid do ano que vem, mas desistiu. Só que há a possibilidade de um acordo entre os dois times. Isso resolveria dois problemas: evitaria o desaparecimento da Sauber e o enorme constrangimento caso a Art fosse indicada para entrar na categoria. Apesar do menino Todt negar, passarinhos verdes contaram que já foram realizadas algumas reuniões entre as cúpulas dos dois times. Pode não dar em nada, mas quem sabe…

E então, levando-se em conta que o velho tio Bernie não costuma errar ou jogar palavras ao vento, você arrisca dizer quem vai embora? E quantas?

Fórmula 171

Eu devia ter uns cinco ou seis anos quando ganhei um carro de fricção, preto com detalhes dourados, com duas asas. Provavelmente já sabia que aquilo era um Fórmula 1, o que não significa que entendesse o significado disso. Gostava do carro porque cruzava a sala de ponta a ponta, em alta velocidade.

Com o tempo, aquele carro ficou de lado e, acompanhando as corridas de Nélson Piquet, comecei a entender o que eram aquelas corridas e tive até a dimensão de quem foi Emerson Fittipaldi e o que era aquela Lotus.

Torci pelo Piquet. Mas me apaixonei mesmo pelas corridas. E com o tempo entendi como funcionava aquele negócio, a disputa dos pilotos e escuderias, o que era o jogo de equipe, quem eram os grandes ases e quais eram os grandes times. E com a aposentadoria de Nélson, deixei de ser um torcedor de pilotos e passei a querer assistir grandes corridas.

É claro que sempre se simpatiza com um ou outro, mas sempre olhei para os caras que ficavam atrás dos volantes sem me preocupar com o lugar onde tinham nascido. Nunca torci pelo Senna, por exemplo, apesar de apreciar seu arrojo.

Até que um dia apareceu um certo alemão que, com status de primeiro-piloto-praticamente-dono-da-ferrari, ao lado de Jean Todt e Ross Brawn, extrapolaram o conceito de jogo de equipe. O ápice foi o GP da Áustria de 2002, em que Rubens Barrichelo jogou a merda no ventilador ao quase parar seu carro a poucos metros da linha de chegada, permitindo a vitória do alemão. Foi um escândalo. E por conta disso, até novas regras foram criadas pela categoria.

2010 tem sido um ano especial na categoria. Apesar das dificuldades em se ultrapassar, pelas características de carros e pistas atuais, grandes duplas de equipes têm protagonizado disputas inesquecíveis, o caso de Vettel e Webber na Red Bull, Hamilton e Button na McLaren. E o mesmo se esperava de Alonso e Massa na Ferrari.

Até que o time italiano (Domenicalli à frente), o espanhol mimado e de caráter duvidoso, e o brasileiro fraco, sem atitude, sem hombridade, estragaram tudo.

Para mim, nos dois episódios, mais grave do que o jogo de equipe extremo foram as posturas dos dois brasileiros. Barrichelo expôs a farsa ao freiar quase na linha de chegada, mas depois se agarrou no discurso do “só um brasileirinho contra o mundo”. Massa, a despeito do que todo mundo viu e ouviu, primeiro fez cara de emburrado para depois dizer que foi uma decisão sua.

Não acho que a Fórmula 1 acabou ou vai acabar por causa disso. Assim como eu, milhões de pessoas continuam gostando das corridas. Mas episódios como o de domingo confirma a tese de que, mais do que um esporte, a F1 é um negócio. Um negócio que pode ser divertido para quem assiste.

Mas o que a Ferrari fez (de novo) pode sim espantar uma boa parcela de público, mesmo que temporariamente, que espera por disputas limpas e reais. Isso pode espantar patrocinadores que pagam as contas que garantem os carros na pista e tudo pode ficar muito mais difícil. Mas depois passa, como sempre.

E se você quer continuar ou começar a assistir corridas de F1, não esqueçam de não torcer por ninguém. Apenas apreciem o espetáculo. Porque da mesma maneira que nossa seleção não é a pátria de chuteiras, os pilotos brasileiros não são a pátria sobre rodas. Ou vão se decepcionar…