Alíneas

A melhor pergunta sobre o imbróglio que Schumacher aprontou na Rascasse, a penúltima curva da corrida de ontem, ouvi hoje de manhã: ‘o regulamento foi feito por brasileiro?’

Como a confusão aconteceu no final da última volta, falemos primeiro da corrida. Como esperado, nenhuma emoção. Os cinco primeiros a cruzar a linha de chegada foram os mesmo cinco (e na mesma ordem) que passaram pela primeira curva. Poucas coisas relevantes, como o fato de Sebastian Vettel ter ultrapassado Robert Kubica na largada e pulado de terceiro para segundo. Apesar de perder a posição na largada, o piloto polonês é – sem dúvida – o melhor do ano até agora. O que ele anda conseguindo com a Renault é para constar em almanaques.

Outro destaque foi Alonso, que saiu dos boxes porque bateu e não treinou. Com a entra do safety car na primeira volta, ele deu o pulo do gato. Fez sua parada e começou a ganhar posições na pista. Quando todos os outros resolveram parar, ele pulou para a sexta posição.

Mesmo assim, uma corrida chata e previsível.

Como qualquer adendo seria um exagero, basta dizer que a Red Bull finalmente fez valer, nos números, o fato de ter o melhor carro do ano. Agora, a equipe é líder do mundial de construtores com 156 pontos, 78 para cada um de seus pilotos. Surpreendente, apenas o fato de Webber estar em um momento melhor que Vettel quando todos esperavam que o alemão seria a estrela do ano enquanto o australiano, seu fiel escudeiro.

Voltemos, então, à ultrapassagem de Schumacher sobre Alonso. No que diz respeito ao regulamento, para analisar o que aconteceu é preciso se debruçar sobre o artigo 40. Vejam o que dizem algumas de suas alíneas:

40.7: …é proibido ultrapassar até que os carros alcancem a primeira linha do safety-car após o seu retorno aos pits.

40.11: Toda vez que o SC entrar nos pits, sem exceção, as placas que sinalizam sua presença são retiradas e luzes e bandeiras verdes entram em ação.

40.13: Quando, ao final de uma prova, o safety car estiver na pista, ele será recolhido aos pits no fim da última volta e os carros receberão a bandeira quadriculada sem que acontecem ultrapassagens

40.14: é permitido realizar ultrapassagens, quando o safety car voltar aos pits, depois de cruzar a linha (se referindo à linha do SC)

Pelos trechos do regulamento reproduzidos acima, há argumentos a favor e contra Schumacher. O problema é que, mais do que ir contra as regras, o alemão feriu o espírito do negócio. Não importa se a regra é dúbia e deixa a brecha, pois todo mundo que acompanha automobilismo sabe que, se em bandeira amarela, só se ultrapassa após a linha de largada. Então, sua punição foi justa.

Mas há algumas nuances na manobra que devem ser notadas. É claro que Schumacher conhece o regulamento. Sabendo que existe uma pequena margem, arriscou. Perdeu.

Outro detalhe (talvez, o mais importante) é que, independente do resultado da manobra, ele precisava fazer aquilo. Porque desde que decidiu voltar a correr, sua decisão e – principalmente – seus resultados tem sido contestados. Mas Mercedes e outros patrocinadores apostaram muito dinheiro no piloto e ele precisa mostrar que valeu a pena. Com todos os aspectos de seu retorno analisados, dão-se os descontos necessários pelos três anos parados e a necessária readaptação muito mais lenta do que seria normal em função da proibição de testes. A manobra, mesmo acompanhada de uma punição, mostra que ele não perdeu o espírito competitivo, continua aguerrido, sempre em busca da vitória. Ele precisa prestar contas e, com o barulho feito ontem, conseguiu.

Um comentário em “Alíneas

Comente