Foto do dia: por cima do muro

A foto é brilhante, não sei se é em Gaza, na Palestina ou na Cisjordânia. E apesar de tê-la encontrado totalmente fora do seu contexto original, me fez lembrar que Israel prometeu aliviar o bloqueio a Gaza, deixando passar a ajuda humnitária. Não, não acho que nada esteja resolvido, mas acredito que qualquer boa notícia deva ser celebrada.

Como se não bastasse o Irã e a Coréia do Norte

Será que depois de um dia como hoje, ainda haverá gente por aqui achando que tudo em Israel é ótimo, que tudo o que faz é em legítima defesa, que se o mundo ocidental (capitaneado por EUA e Inglaterra) apóia é porque está certo, que terroristas são apenas mulçumanos e esse tipo de besteira?

Será que ninguém vai propor qualquer penalidade ao terrorismo de estado praticado por Israel? Será que ninguém vai fazer nada contra esses caras que posam de pobres coitados da humanidade há 60 anos?

Mahmoud Ahmadinejad (3)

Quem diria que eu, um dia, iria reproduzir aqui algo publicado pela Veja? Pois é, às vezes a gente queima a língua.

Enfim, para tentar encerrar o assunto.

O discurso aparentemente mais ameno do bandido é ainda mais perigoso

O Ahmadinejad mais perigoso, por incrível que pareça, nem é aquele que nega com clareza o Holocausto — até porque ele percebeu que isso lhe gera alguns contratempos. O Ahmadinejad mais perigoso, por incrível que pareça, nem é aquele que financia o terrorismo. O Ahmadinejad mais perigoso, por incrível que pareça, nem é aquele que promete “varrer Israel do mapa” — ou o que trata divergências a bala, o que mata homossexuais, o que persegue mulheres, o que conduz um programa nuclear secreto… O Ahmadinejad mais perigoso é o que fala (…) mais manso. Porque esse discurso mais suave esconde o negador do holocausto, o anti-semita delirante, o aniquilador potencial de um país, o cão raivoso que criminaliza a diferença.
O Ahmadinejad mais perigoso é o que disfarça sua delinqüência belicista com palavras de aparente racionalidade, prontas a convencer ignorantes, a ganhar a adesão de desinformados, a receber o apoio daqueles que não percebem suas malévolas intenções sub-reptícias.
Nem o cumprimento de sua parte na conversa com o Brasil — a defesa de que o país tenha assento permanente no Conselho de Segurança da ONU — escapa a seu pensamento insidioso, às idéias travessas e perigosas que povoam aquele cérebro tumultuado. Ou como ler a afirmação de que as guerras nos últimos 60 anos tiveram a “intervenção” dos países que integram o Conselho de Segurança? Peguemos a maior de todas elas, a Segunda, e consideremos os cinco países que integram o CS: EUA, Rússia, Reino Unido, França e China. Pode-se condenar a pusilanimidade de governos em cada um desses países em face daquele conflito, mas foram eles os promotores do desastre? Sem o que ele chama de “intervenção”, qual teria sido o nosso destino?
Observem que ele continua a negar o direito de Israel existir, fazendo tabula rasa da história do Oriente Médio, como se a fundação de Israel, em 1948, tivesse obstado, em sua própria natureza, a criação do estado palestino. Os árabes que se mobilizaram em face da nova situação o fizeram para construir um novo estado ou para impedir o que estava sendo criado?
Ahmadinejad mente de maneira miserável quando afirma que dezenas de soluções foram apresentadas, todas rejeitadas. Está acusando Israel de intransigência. A verdade está justamente no contrário. Basta lembrar que Ehud Barack, então primeiro-ministro de Israel, ofereceu, em julho de 2000, quase tudo o que Yasser Arafat reivindicava: um estado palestino em Gaza e na quase totalidade da Cisjordânia, com a capital em Jerusalém Oriental. Arafat deu sinais de que aceitaria o acordo, mas decidiu romper as conversações unilateralmente. Por quê? Ora, o que teria sido dele — e daqueles que o sucederam — sem uma “causa” não é mesmo? Causa que, diga-se, fez de Arafat um dos homens mais ricos do planeta.
A delinqüência continua quando ele diz que os palestinos não podem pagar pelos “60 milhões de mortos da Segunda Guerra… Por vias tortas, nega o Holocausto de novo. Sem dúvida, os seis milhões de mortos que ele não reconhece integram os 60 milhões. Ao opor uma grandeza à outra, tenta retirar a especificidade da brutalidade nazista. Os que pereceram nos campos de concentração ou foram eliminados nas ruas não estavam em guerra com ninguém, não integravam um exército regular, nem mesmo estavam — porque, na maioria das vezes, não houve tempo para isso — numa força de resistência. Homens, mulheres, velhos, crianças… Morreram porque eram judeus. Só por isso. E outros porque eram ciganos, porque eram gays, porque eram considerados incapazes segundo os critérios de competência do nazismo.
O banditismo moral de Ahmadinjead é tal, que ele fala em 60 milhões de mortos para poder, assim, negar 6 milhões de mortos. Por que esse discurso é mais perigoso? Porque ele dificulta a reação.
Um dia, um vagabundo desta espécie irá para a lata de lixo da história, em companhia daqueles que o promoveram. “Lata de lixo da história” já é clichê como destino final das excrescências humanas. Mas essa gente não merece nada melhor do que isso.
Reinaldo Azevedo (veja.com)

A idade do mundo

Recebi de um amigo por e-mail, achei excelente e fui procurar autor, origem etc. Encontrei o cara e confirmei algo de que desconfiava, de leve: a Argentina tem mais coisas interessantes, além do futebol e dos chorizos.

Hernán Casciari nasceu em Mercedes, Buenos Aires, a 16 de março de 1971. Escritor e  jornalista argentino. É conhecido por  seu trabalho ficcional na Internet, onde  tem trabalhado na união entre literatura e blog, destacado na blognovela. Sua  obra mais conhecida na rede, Weblog de una mujer gorda, foi editada em papel  com o título Más respeto, que soy tu madre.

Li uma vez que a Argentina não é nem melhor, nem pior que a Espanha, só mais jovem. Gostei dessa teoria e aí inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no ‘sistema cão’. Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar sua idade biológica por 7. No caso de países temos que dividir sua idade histórica por 14 para conhecer sua correspondência humana.

Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplos reveladores. A Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividirmos esses anos por 14, a Argentina tem ‘humanamente’ cerca de  13 anos e  meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne. Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que têm um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho e jamais gravaram um disco.

A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Na realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com o Brasil que tem 14 anos e um membro grande. O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.

No outro extremo está a China milenária. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, cheirando a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem – ainda – dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem  um  neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana. Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e  mamãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos.

A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a  África do Sul. O Canadá é um mocinho gay emancipado,que a qualquer momento pode adotar o bebê Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão na moda. A França é uma separada de 36 anos, mais puta que galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mônaco, que vai acabar virando puto ou bailarino… ou ambas coisas. É a amante esporádica da Alemanha, um caminhoneiro rico que está casado com Áustria, que sabe que é chifruda, mas não se importa.

A Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos gêmeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha – por pouco tempo e tiveram a Suíça – mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (A Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar espaguete).

A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde em espontaneidade por usar tanto  perfume). É muito tetuda e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa foder pela Inglaterra e depois a denuncia. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas a perturbam quando têm fome, passam uma  temporada na sua casa e assaltam sua geladeira.

Outro que tem filhos espalhados no mundo é a Inglaterra. Sai de barco à noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra as alimenta. A Escócia e a Irlanda, os irmãos de Inglaterra que moram  no andar de cima, passam a vida inteira bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família.

A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com Coréia. Coréia  (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizóide. São gêmeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa.

Os Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, a vigia muito, não por medo, mas porque quer pegar suas pistolas. Israel é um intelectual de 62 anos que teve uma vida de merda. Faz alguns anos, Alemanha, o caminhoneiro, não a viu e a atropelou. Desde  esse  dia, Israel ficou que nem louco. Agora, em vez de ler livros, passa o dia na sacada jogando pedras na Palestina, que é uma mocinha que está lavando a roupa na casa do lado. Irã e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negócio para eles. Agora estão comendo lixo.

O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns  mongolóides, outros esquizofrênicos. Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, nós, habitantes sérios do mundo, descobrimos que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna… e até gente! Eu fico com  medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passar por ignorantes. Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?

Hernán Casciari