GVT (ou como perder um cliente antes mesmo de conquistá-lo)

Lá estava eu, uma noite de segunda-feira das mais comuns, sentado em meu sofá, tentando assistir os telejornais à espera do jantar. E tocou o telefone.

Do outro lado, em resposta ao meu ‘alô’ mais amistoso que o habitual, uma gravação absolutamente impessoal. Da maneira mais simpática que uma máquina é capaz de ser, o locutor avisa que é da GVT, explica que tem uma promoção de TV HD + internet de sei lá quantos megas e que, se eu quisesse saber mais detalhes, bastaria teclar ‘1’.

Vivendo aquela insatisfação comum de qualquer cliente NET, resolvi dar trela e quando achava que falaria com alguém de carne e osso, uma nova gravação avisa que, em breve, alguém ligará para mim. E ‘tu-tu-tu-tu…’.

Depois de alguns 10 ou 15 minutos, o Ricardo ligou. Começamos a falar sobre o serviço oferecido e lá pelas tantas, disse que queria saber da tal promoção. O sujeito confirmou meu CEP e, depois de um tempinho em silêncio para verificar a viabilidade técnica da minha solicitação, deu-me a notícia de que a GVT ainda não chegou à minha quadra.

Como é que é? Os caras me ligaram (duas vezes!) para me oferecer um serviço que não podem me vender? Não é brilhante a estratégia?

Agora, como é que eu, consumidor, vou confiar numa empresa que não sabe o que faz e já me incomoda antes mesmo de eu ser seu cliente? Como é que vou confiar que uma empresa com esse nível de (des)organização vai me atender bem?

P.S.: os roteiros desses teleatendimentos são terríveis, estamos todos cansados de saber. Nesse caso da GVT, por exemplo, é preciso avisar a turma que prepara o material que a GVT nunca vai chegar à minha quadra. Talvez seu cabo chegue até lá. Além disso, seria simpático, de bom gosto mesmo, adaptar as mensagens e roteiros aos regionalismos característicos do Brasil. Porque, no Rio, chamar quarteirão de quadra é gafe tão grande quanto, em São Paulo, chamar guia de meio-fio.

Perdidos

Adoro TV, gosto muito de seriados de TV, especialmente comédias e policiais. Mas acho graça quando um seriado provoca reações histéricas e flerta com a unanimidade. Com Lost, foi assim. Falar mal do programa era garantia de levar alguns foras, ver alguns bicos, romper amizades e – quem sabe – levar algumas bordoadas.

De tanto falarem do tal seriado, uma dia parei pra assistir. Não entendi bulhufas e nunca mais voltei.

Depois de seis anos, foi exibido ontem nos EUA o último episódio da série. No Brasil, se não me engano, vai ao ar amanhã (descontando todas as possibilidades de baixar o programa na internet, com legendas feitas por blogueiros e freqüentadores de fóruns especializados).

Trabalho com alguns aficionados, daqueles que desafiam o próprio senso crítico apurado pela profissão. Se é verdade que não deram o braço a torcer durante a última temporada, também é verdade que cheguei a ouvir várias críticas e reclamações em suas conversas sobre o tema. O que, na temporada de despedida, não deveria estar acontecendo.

E aí, rodando por aí em busca de notícias sobre o GP da Turquia de F1 que acontece no próximo domingo, encontrei o texto abaixo. Será que os apaixonados por Lost que passam por aqui concordam com o Capelli?

Perdidos no roteiro

Lost teve seu desfecho exibido há poucos minutos. Mas não se preocupe, não farei o papel de estraga-prazeres contando o final. O objetivo aqui é outro: agradecer aos produtores por todos os cheques sem fundo emitidos nos últimos seis anos.

Sim, porque o que se espera de um seriado baseado em mistérios é que eles se resolvam. Seja de forma pouco criativa, como nos desenhos do Scooby-Doo, seja de maneira extraordinária e impactante, como no filme “O Sexto Sentido”. O problema é que os roteiristas de Lost não foram nem para um lado, nem para o outro. Simplesmente abandonaram tudo o que construíram durante anos, deixaram para lá. Criaram um final plenamente coerente com a sexta e última temporada, mas ignorando completamente dezenas de pontas soltas em anos anteriores.

Não esperava e nem nunca esperei de Lost respostas fáceis ou um final no melhor estilo novela das oito, com tudo sendo explicado à exaustão. Mas, desde que a série começou, despendi meu tempo assistindo a seus episódios esperando entender que quebra-cabeça maluco era aquele. Várias vezes pensei: “Esses caras são geniais. Quero muito descobrir que história fantástica está por trás disso”. É lamentável, mas o final deixa claro que eles não sabiam o que estavam fazendo.

Parafraseando outra série famosa e reduzindo todas as temporadas a um episódio, o que foi feito em Lost seria como se um paciente do Dr. House tivesse os sintomas mais absurdos do mundo. Um sem relação nenhuma com o outro. A coisa vai piorando cada vez mais até que, no fim, House descobre que ele tinha uma gripe. Mas gripe causa cegueira? Gripe causa o surgimento de um segundo nariz? Gripe faz você falar romeno de trás para frente? Não, claro que não. Mas gripe causa febre. O paciente tinha febre, então era gripe.

Agora, conhecendo o final de toda a história, fica nítido para quem acompanhou a série que gigantescos equívocos de roteiro foram cometidos. Partindo da premissa de que o Monstro de Fumaça, de fato, estava preso à ilha, como ele apareceu no cargueiro – fora da ilha, portanto -, para Michael? Se o Monstro era mesmo a personificação do mal, por que quando Locke encontrou-se com ele no começo da série, disse que viu algo bem diferente da entidade maléfica retratada por Mr. Eko? Ben, durante um tempo, pareceu ser um homem rico e poderoso fora da ilha. Quem o financiava? Uma empresa gigantesca de biotecnologia recrutou Juliet para ir para a ilha. Quem eram essas pessoas? Que ligação tinham com Ben? Quando Locke foi baleado, quem o salvou foi o garoto Walt. Mas ele estava fora da ilha, então subentende-se que era alguém em sua forma. O único que assumia formas era o Monstro de Fumaça, mas ele só fazia isso com quem já tinha morrido. Então, a salvação de Locke não fez sentido algum.

Felizmente, tudo o que dediquei à Lost foram os minutos de cada episódio e alguns bate-papos com amigos bolando teorias. Lamento muito é por aqueles que dedicaram tempo fazendo blogs, participando de jogos de realidade alternativa, postando em fóruns e comprando produtos, pensando que estavam diante de um genial quebra-cabeças que, no fim, revelou-se um grande jogo de pistas falsas. E o espectador termina com a sensação de que foi enganado.

Suprema ironia: a série que contava a história de pessoas perdidas – na vida ou em uma ilha -, fez muita gente perder tempo. E, no final, a paciência. Já vai tarde o maior engodo da televisão nos últimos anos.

Capelli (fonte: Blog do Capelli)